A ordem flamejante de Curitiba: Origens, história e extinção. Baseado no texto original do Prof. Antônio Paredes Neto
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A ordem flamejante de Curitiba - Daniel Falcon Lins
Origens
AOrdem não é antiga. Como quase tudo o mais no Brasil, ela é a confluência de coisas que vieram antes e de outros lugares. O único sinal distintivo de seus membros é um diminuto frasco de prata contendo iodo que carregam preso a um cordão ou a uma pulseira, como um amuleto. Seu único ritual envolve o consumo de grandes quantidades de álcool, o recitar de uma cantilena e um sacrifício.
Seus fundadores têm origem na violência e na derrota. Ainda adolescente, o pai de Fujiwara tinha auxiliado a operação de uma bateria antiaérea em Tóquio. Não lhe incomodara tanto o incessante bombardeio norte-americano quanto o arroz com abacaxi em conserva que os vencedores lhe serviram por meses a fio após a ocupação. Esse estado de coisas era para ele de um doce atroz, o que o fez decidir-se por emigrar para o Brasil, plantar batatas e nunca mais comer abacaxi. O pai de Simões tinha desbravado o interior do Paraná e o do Mato Grosso na década de 1960, sem dar com fama ou fortuna. Voltara dessas aventuras com bagagem que incluía um tanto de ouro, um ferimento a bala no tórax e o mal de chagas. Diz-se que, talvez por excesso de cautela, evitava hospitais e cemitérios. Sabia que a morte o buscava e não queria facilitar-lhe a tarefa.
Os antepassados de Gonçalo escaparam de Mântua pouco antes da chegada do exército imperial com destino a Portugal e de lá, finalmente, para o sul do Brasil. Como entendessem sobretudo de cavalos, fizeram-se tropeiros e, como uma metáfora para seus infortúnios, passaram a depender de mulas. As rotas mais proveitosas passavam pelo Paraná, onde o frio, a umidade e o estado precário das estradas cobravam seu preço. Com o tempo, as vicissitudes do novo mundo dizimaram a família, e dela só restou um, o tataravô de Gonçalo, cujo primeiro nome era Ercole. E havia a concorrência. A carestia que muitas vezes se abatia sobre a tropa podia assumir diferentes formas: falta de víveres nos entrepostos ao longo do caminho, doenças com os animais e até enchentes. Dessa falta muitas vezes vinha o desespero, quando não a pura e simples maldade, e a tentação de tirar do outro. Ercole era novo e não tinha família nem para cima nem para baixo, o que atiçava a ousadia da concorrência. Sabedor de seu predicado, andava sempre munido de três ou quatro armas diferentes que sabia usar com destreza. Por ocasião da última de suas viagens, a tropa amanheceu em campo aberto nas redondezas de Curitiba cercada por névoa densa. Andaram pouco mais de dois quilômetros se esforçando por manter a proximidade possível diante do pouco que se enxergava. Em algum momento passaram a ouvir outras vozes, zurros de animais estranhos e barulho de ferragens, o que instilou a inquietação na tropa, que temia uma intervenção do mais além. O dia avançou, e a névoa foi afrouxando a ponto de que se desfizesse o mistério. Na confusão da neblina, duas tropas tinham se misturado ao dar com o campo aberto. Ercole não tardou a perceber que a outra tropa era a de Sebastião, gaúcho virulento que já o ameaçara um par de vezes. Ninguém sabe quem começou o tiroteio, que abatia homens e animais sem distinção. As mulas, enlouquecidas pela confusão, davam coices e passavam por cima dos tropeiros, que as abatiam para se proteger. A névoa rala piorava tudo, escondendo lama e buracos, confundindo amigo com inimigo, fazendo da sobrevivência algo mais ao amparo da providência que da habilidade. Ercole atirou-se ao lado da primeira mula que viu tombada ao solo e fez alguns disparos até se dar conta da inutilidade de tudo aquilo; o risco de ferir um dos seus era grande, e tiros atraíam outros tiros, sempre no sentido contrário. Sem mais o que fazer, decidiu esperar. Os tiros, gritos e zurros foram rareando, até darem lugar a gemidos esparsos. Perto do meio-dia a névoa era já ausente; corpos de homens, caixas de mercadorias e restos de animais se estendiam a perder de vista pelo campo iluminado por um sol frio que se projetava desimpedido por nuvens no céu. Ercole recarregou suas armas sem alvoroço e aguardou. Viu que dois homens desconhecidos se levantavam a uns 50 metros dele. Calculou que fossem gente de Sebastião. Os homens iam se agachando pelos corpos, fazendo-se com os pertences que encontravam. Escutou um disparo e vislumbrou facadas que podiam ser interpretados como gestos de misericórdia ou de maldade a depender do gosto do freguês. Quando se aproximaram o suficiente dele, coisa de cinco ou seis metros, Ercole ergueu-se e disparou suas armas. Tomados pela surpresa, os homens nem sequer esboçaram reação. Recolhido novamente atrás da carcaça da mula, ele recarregou suas pistolas o melhor que pôde e seguiu observando os abatidos. Quando se convenceu da segurança de sua posição, levantou-se e foi dar com seus oponentes, um homem e um menino. Este último tinha uma ferida feia na junção do pescoço com o tórax e não respirava mais. O primeiro fora atingido no abdômen e ainda