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A Teia Dos Sonhos
A Teia Dos Sonhos
A Teia Dos Sonhos
E-book199 páginas1 hora

A Teia Dos Sonhos

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Sobre este e-book

Júlia e Laura são duas adolescentes, de 16 anos, que, para eternizar a forte amizade que as une, decidem tatuar uma Teia dos Sonhos em seus braços. A euforia pela tatuagem única, desenhada por Júlia, esvai-se no dia seguinte, quando ela recebe a notícia de que Laura suicidara-se na noite anterior, atirando-se da janela do 13º andar. Júlia vê seus dias tomados pelo caos, em um misto de saudade e de raiva, sem saber os motivos que levaram Laura a tirar a própria vida. Júlia, então, embarca em uma busca que a leva a perceber os fantasmas que invadiram a cabeça de Laura e a refletir sobre sua própria vida. No meio de todo esse turbilhão, a presença de Bernardo representa a dúvida se o amor pode mesmo ser mais forte do que uma grande mentira.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de abr. de 2016
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    Pré-visualização do livro

    A Teia Dos Sonhos - Karine Aragão

    1

    2

    Para minha família

    3

    "Na verdade ela sempre fora duas, a que sabia ligeiramente que era e a que

    era mesmo, profundamente."

    (Clarice Lispector, Perto do coração selvagem)

    4

    Arte da capa por Cecília Barreto

    5

    A Teia dos Sonhos

    Prólogo

    O mundo é injusto, você concorde ou não. Não há uma regra exata que

    determine que as coisas ruins apenas acontecem com as pessoas ruins. Você

    pode ser bom aluno, bom filho, bom irmão, bom amigo, e, mesmo assim,

    existirão horas em que a vida parecerá se voltar contra nós e nos deixará sem

    saída. Nem todos os talentosos alcançam o sucesso. Nenhuma solução.

    Nenhuma vontade de continuar. Nenhum motivo que seja tão importante a

    ponto de valer a pena ser forte e resistente. Uma sala escura se forma em

    nossa frente, o olhar nada mais consegue ver, qualquer barulho se torna um

    zunido interminável. A cabeça dói, o corpo quer apenas deitar na cama. Se

    pudesse chorar, talvez fosse mais fácil, mas as lágrimas estão perdidas em

    algum canto dos olhos. Um grito que também não consegue sair. Silêncio.

    Silêncio. Silêncio. Porque ficar calada parece a melhor atitude diante de tantas

    escolhas ruins.

    A gente se sente cada vez mais sozinho, cercado de pessoas que não

    nos compreendem. São pais, professores e avós que não param de falar que

    nossa vida é perfeita, que somos ingratos, que deveríamos agradecer a Deus

    por tudo o que ele nos oferece, que a gente não tem problema, que problema

    de verdade têm as pessoas que estão no Hospital ou que moram na África,

    abandonadas.

    Daí as coisas começam a piorar. Você pensa onde está Deus no meio de

    tudo isso. Se ele existe de verdade, por que deixa acontecer todas essas

    desgraças no mundo e não atende aos pedidos de tantas pessoas que rezam

    pela paz, ou pra conseguir um emprego, ou pra tirar boa nota nas provas. Por

    que crianças morrem de sede? Esse era o destino delas? Será que Deus

    6

    escolhe os desejos que vai atender? O que eu tenho que fazer pra ser

    merecedor de ter um pedido atendido? Quantas vezes eu tenho que entrar na

    fila?

    A sensação de vazio nos domina, porque tudo que a gente faz tem um

    motivo que só vamos alcançar lá no futuro, nada é pra agora. Por que temos

    que acordar cedo pra estudar? Por que temos que fazer vários cursos que,

    muitas vezes, não gostamos? Simplesmente, porque o mundo é assim...

    Quando você for adulto, vai precisar ter terminado o colégio e feito uma boa

    faculdade pra poder se manter financeiramente. A não ser que você dê sorte

    de ganhar na Mega Sena, ou, seja um jogador de futebol fenomenal...

    Mas e no presente? O que temos no presente? O que nos deixa com

    vontade de acordar, de sermos felizes? O que fazemos por prazer e não por

    obrigação? Quando somos adolescentes, ninguém nos pergunta sobre isso...

    Parece que somos induzidos a só refletir sobre o futuro...

    Ano passado, pensei muito sobre um garoto da minha turma que pediu

    transferência e saiu da escola no meio do ano. Ele era aluno novo, tímido, a

    professora dizia que ele vinha de uma escola menor e, por isso, estava tendo

    problemas para se adaptar à nova rotina. Mas não era ele que tinha

    dificuldades, eram os outros alunos que tornavam os dias dele insuportáveis.

    Adão era seu nome. A piada já começava por aí, bastava que Adão

    entrasse na sala e vinham as perguntas Cadê a Eva? "Trouxe sua maçã pro

    lanche hoje?". Se fosse eu, no segundo dia, já levaria uma maçã e enfiaria na

    garganta deles, só que Adão não sabia se defender. Fingia não ouvir e sentava

    num canto, isolado. A professora brigava, tudo parecia que ia se resolver, e as

    zoações continuavam durante a troca de professores. Não bastasse o nome,

    Adão ainda era vesgo. A maldade das pessoas da sala parecia não ter limites.

    Perturbavam o menino falando pra ele olhar para esquerda, depois pediam pra

    ele olhar pra direita. Perguntavam se era muito difícil enxergar com aqueles

    olhos esquisitos. Adão abaixava a cabeça até que outro professor entrasse em

    7

    sala. Alguns riam, eu sentia pena dele e raiva dos meninos que achavam estar

    fazendo graça, mas não me metia pra não parecer defensora dos oprimidos.

    Nos intervalos, às vezes, tinha curiosidade de saber onde ele ficava, porque

    não o via em nenhum momento.

    Há pouco tempo, descobri que ele passava todo o recreio sentado quase

    à porta da sala dos professores, com seu biscoito Maizena e um suco da Kapo.

    Um dia, Adão não apareceu e ninguém notou, logo achariam o novo alvo das

    supostas brincadeiras, porque era apenas isso o que ele significava. Já reparou

    como a cada dia as pessoas se tornam mais substituíveis? Pergunte pra você

    mesmo se seu melhor amigo do ano retrasado é o mesmo do ano passado e se

    é o mesmo desse ano...

    Quando Adão sumiu, eu me senti culpada, porque em nenhum

    momento fui capaz de ajudá-lo. De certa forma, fui egoísta. Me importava

    mais com todos os meus compromissos, meus amigos, minhas tarefas, e, em

    segundos, esquecia o menino vesgo. Mas agora eu me pergunto o que Adão

    fez de tão ruim pra merecer passar por essas constantes humilhações. Por que

    ele tinha que ter nascido vesgo? E será que a mãe dele precisava ser tão sem

    noção assim na hora de escolher o nome? De quem é a culpa pelos problemas

    de Adão? Não tenho resposta pra essas perguntas...

    Adão fugiu. Não sei onde foi parar, pra que colégio foi, se passou a

    estudar em casa. Mas hoje senti vontade de dizer pra ele o que não tive tempo

    de dizer pra Laura: diante de qualquer problema, a vida sempre é a melhor

    opção. Antes que eu pudesse entender isso, Laura pulou pela janela do 13º

    andar. Os problemas de Laura, que nem eu, na posição de melhor amiga,

    conhecia entraram numa luta diária com ela e a venceram na madrugada do

    dia 13 de abril de 2015. Laura escolheu a morte, esse foi o modo que ela

    encontrou pra acabar com a dor de viver. Porque viver dói, e muito.

    Desde esse dia, eu vou dormir pedindo a Deus, de joelhos, que tudo

    isso não passe de um pesadelo. Que eu possa acordar, olhar pela janela e ver a

    8

    luz do quarto de Laura acesa. Só que, mais uma vez, Deus tapa os ouvidos pra

    mim. Nunca mais consegui chegar nem perto da janela quando o despertador

    toca de manhã. E a dor de viver vai se tornando maior pela saudade que eu

    sinto da minha amiga. Que ninguém venha com essa ideia de destino, de que

    o que tem que acontecer está escrito. A minha vida sou eu que faço. Quem

    sabe, um dia, alguém invente a tal máquina do tempo e eu possa voltar pra

    algum instante da vida de Laura e dizer a ela que se sentir triste é normal. O

    mais importante é saber que a tristeza é como as nuvens, sempre está de

    passagem.

    9

    Capítulo 1

    _Ai, ai, ai... Para.... um minuto!

    Enquanto eu gemia de dor, Laura estava na cadeira do meu lado,

    apertando os lábios, mas sorrindo. Às vezes, dava gargalhadas que eram,

    na verdade, os momentos de maior dor. O desespero tem dessas coisas...

    No intervalo entre as picadas, eu respirava fundo e até conseguia sorrir

    também, apesar do pouco

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