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Sexo Urbano
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E-book180 páginas1 hora

Sexo Urbano

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Sobre este e-book

Principais acontecimentos do final da década de oitenta cruzam a vida da personagem anônima, entre encontros amorosos e cenas de rua, construindo, como registro, um mosaico poético/erótico de nossa memória.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de fev. de 2014
Sexo Urbano

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    Pré-visualização do livro

    Sexo Urbano - Gloria Horta

    1

    Sumário

    Prefácio ................................................................................................. 7

    Anêmica cidadania ............................................................................. 11

    Ele está pronto e você continua nua .................................................. 13

    Quase não beija na boca .................................................................... 20

    Recital no bandejão ............................................................................ 25

    Um mendigo louco mora na sua esquina ........................................... 27

    Camburão ........................................................................................... 28

    Como se fosse um bebê, tira a sua roupa .......................................... 30

    O segredo da invisibilidade................................................................. 32

    Um corpo voa no ar como um morto digno ....................................... 34

    Menino pobre sobre rasgado de feltro .............................................. 36

    O homem de ontem à noite ............................................................... 39

    Não está achando o buraco? .............................................................. 43

    Ela guarda os seios e ajeita os cabelos ............................................... 47

    2

    Ela mora num conjugado .................................................................... 53

    O joelho do Zico .................................................................................. 57

    Alguém liga oferecendo pó ................................................................ 61

    Com todo respeito .............................................................................. 62

    Abaixo a ditadura! .............................................................................. 64

    Livro dá barata .................................................................................... 65

    Cocô .................................................................................................... 66

    Greve dos lixeiros ............................................................................... 69

    Paixão não existe ................................................................................ 71

    Salários e preços congelados .............................................................. 74

    A morte de um amigo ......................................................................... 74

    A perversão sempre vai existir ........................................................... 77

    Você fala seus poemas num bar de Búzios ........................................ 79

    Uma instituição pública ...................................................................... 81

    Vida de cachorro magro ..................................................................... 82

    Seus cheques sem fundo .................................................................... 83

    Madame, qualquer moedinha serve .................................................. 84

    3

    Manifestação contra o aumento das passagens de ônibus ............... 85

    Experiência sexual múltipla ................................................................ 87

    Sua amiga foi presa com maconha ..................................................... 88

    Tiras, advogados e madames ............................................................. 91

    Por que a gente chora com falta de mãe? ......................................... 92

    Finge que goza .................................................................................... 95

    Diretas já! ........................................................................................... 97

    Ele começa pelas cuecas .................................................................. 100

    Cada dia ele encaixota um pouco as coisas ...................................... 103

    Um grito vindo da cidade ................................................................. 105

    O telefone foi cortado ...................................................................... 107

    Propriedade particular ..................................................................... 108

    Os vizinhos dos fundos discutem alto .............................................. 110

    Ladras pedem socorro ...................................................................... 112

    O proprietário pede o apartamento ................................................. 115

    Obrigada por morarmos com a vovó................................................ 116

    Bruni Ipanema .................................................................................. 117

    4

    Falência ............................................................................................. 120

    Camelôs e pivetes ............................................................................. 123

    Duas toneladas de esterco no sítio do ministro. .............................. 125

    Duas mil pessoas vaiam o tríplice presidente .................................. 130

    Vinte mil latas de maconha boiam em águas brasileiras ................. 132

    Papai Noel aguarda vocês ................................................................ 134

    Ônibus em greve ............................................................................... 138

    Compro ouro. Pago na hora ............................................................. 141

    Grades agora cercam os prédios ...................................................... 143

    Os aeroportos estão em greve ......................................................... 144

    Ele está muito só .............................................................................. 145

    Flamengo ganha o tetracampeonato ............................................... 148

    Você começa a sangrar no natal ...................................................... 150

    Homeless .......................................................................................... 152

    Você salta na Rodoviária Novo Rio ................................................... 153

    Pedreiro se apaixona por pedra radioativa ...................................... 155

    No próximo Natal, dê este livro de presente ................................... 156

    5

    O ano chega ao fim ........................................................................... 160

    Sobre seu SANGRIA .......................................................................... 162

    Artur da Távola ............................................................................. 162

    Doc Comparato ............................................................................. 163

    Artur Xexéo ................................................................................... 164

    Sobre BORBOLETA SUMARÍSSIMA ................................................... 166

    Doc Comparato ............................................................................. 166

    Elisa Lucinda ................................................................................. 167

    Sobre FINITA COMO FLORES ............................................................ 174

    Marcia Cardoso ............................................................................. 174

    Leila Alvarenga Barbosa ............................................................... 177

    Lilia Trajano .................................................................................. 179

    6

    "- Meu caro, você conhece meu terror de cavalos e

    de carruagens. Agora mesmo, quando eu

    atravessava a avenida, apressado, pulando daqui

    prali na lama, através do caos movediço onde a

    morte chega a galope de todos os lados de uma só

    vez, meu halo, num movimento brusco,

    escorregou de minha cabeça e caiu no lamaçal.

    Não tive a coragem de pegá-lo de volta. Julguei

    menos desagradável perder minhas insígnias do

    que me fazer quebrar os ossos. E depois, eu me

    disse, para alguma coisa serve a desgraça. Agora

    eu posso passear incógnito, cometer baixezas, e

    me entregar à libertinagem, como os simples

    mortais. E eis-me aqui, como você vê, igualzinho a

    você!"

    Baudelaire, Petits Poèmes en Prose

    7

    Prefácio

    É o fim. Era uma vez o mundo. A cidade esgotou

    seu papel na história da humanidade. Criadora de

    multidões, ela inventou a solidão grupal e o

    estilhaçamento do indivíduo. Ela é o labirinto, a

    vertigem e uma metáfora profana para o inferno.

    Perdidos do rosto do real, só nos resta inventar

    uma nova face. Estamos diante dos espelhos da

    cidade como quem busca uma utopia.

    Tudo é ninguém. E Sexo Urbano está no epicentro

    desse esquartejamento. Desgovernados, sem

    perspectivas, inauguramos uma certeza: vivemos

    num mundo desumano.

    Sexo Urbano é como se fosse o registro de uma

    câmera implacável. Uma câmera que seguisse um

    ser no seu dia-a-dia em sua rotina urbana. Uma

    câmera que perseguisse seu desnorteado vaivém

    entre engarrafamentos, mendigos, amores, risos,

    8

    crises, supermercados, praias, contas, filhos, pais,

    mães, falências, cheques, fundos, inflação,

    agendas e transas descontínuas.

    Sexo Urbano é uma anunciação. Parece que o ser

    humano chegou ao fundo se suas potencialidades.

    Estamos em plena mutação. Num mundo sem

    deus nem magia, num mundo que tem como

    referencial a precariedade de todos os sinais, num

    mundo entregue a seu próprio fim.

    Sexo Urbano é uma antena tentando captar a dor,

    a poesia e o humor de nossa média existência.

    Ler Sexo Urbano é como caminhar entre ruínas de

    moral, valores e costumes que agonizam. E se

    desesperar por não poder ver - como num

    espelho, como num filho - nossa futura face.

    Seja bem-vindo ao inferno de ser igual a todo

    mundo.

    Robson Achiamé. 1988

    9

    10

    Ilustração: Julian Stenzel Martins, aos 6 anos

    11

    Anêmica cidadania

    Um barulhinho de nada, como se alguém

    tivesse deixado cair uma sacola bem no meio da

    rua, a multidão não se juntou pois em plena

    Copacabana nunca está dispersa, parou e olhou

    curiosa. Primeiro os objetos espalhados na

    calçada, depois a mulher; uma mulher como você,

    estirada no chão, perto do rosto uma poça de

    sangue. Tão rápido que nem doeu, só a terrível

    solidão dos que caem no meio da rua, nenhum

    grito, nenhum sofrimento.

    Desperta uma mistura de curiosidade e

    compaixão. Surgem guardas e você ouve sirenes,

    alívio. Medo de ter que tomar alguma providência

    no multidão insana: ver se é alguém que você

    conhece, chamar uma ambulância, não tocar no

    corpo, ver se há vida, cobri-lo do sol do inferno,

    recolher os objetos e recolocá-los na bolsa,

    procurar documentos, um telefone amigo, um

    filho, um que receba a notícia do atropelamento.

    Você segue. O trânsito engarrafa, a multidão se

    condensa, ávida de qualquer e aconteça e a tire do

    burocrático torpor, da anêmica cidadania. Também

    você atravessou a rua no momento exato, viva por

    um fio.

    12

    O ônibus não vem cheio e você senta no

    último banco. O rapaz mal-vestido a seu lado

    espicha o pescoço pra ver os movimentos de uma

    moça pegando o dinheiro na carteira. Vai assaltar.

    Você se lembra da gringa que viu ser

    assaltada na esquina casa. Viu tudo: os meninos

    se espalhando, um perto da gringa, dois mais

    atrás, um crioulão forte dando cobertura do outro

    lado da calçada, a bolsa distraída, o tolo cordão

    que talvez fosse de ouro, boba vaidade atraindo

    violências.Você poderia ter feito qualquer coisa

    teatral que impedisse o roubo, pedir informações à

    gringa, aos próprios meninos.

    - Onde fica a farmácia? Que horas são?

    Como é o nome dessa rua?

    Não perguntou, qualquer coisa que

    dispersasse o time, que desarmasse o clima. È se

    você... zás, cadê o cordão da gringa?

    Vai assaltar. A moça estupidamente

    inocente com uma bolsona meio aberta vai passar

    na roleta. O assaltante espera o momento exato

    de agir, você pode sentir seu nervoso, seus olhos

    atentos, o ônibus para, ele faz menção de se

    levantar, e mais rápida você também faz, com a

    súbita idéia de se colocar suavemente entre os

    dois, mas o ônibus anda, ele volta a sentar-se,

    13

    prevenido, e mecanicamente você também volta a

    sentar-se, o coração aos pulos.

    Estúpida. Imitou os gestos do assaltante.

    Ele sabe que você sabe, agora. Antes que o

    coração salte pela boca você se levanta e passa

    pela roleta atrás da mulher de bolsa aberta,

    salvas.

    - Acabei de evitar que você fosse

    assaltada.

    Você não diz, ela toca o sinal e desce,

    segue alheia a tudo que se passa. Mais dois pontos

    e você esquece a mulher, a bolsa, o ladrão.

    Sente um cheiro forte de transpiração,

    vem de você mesma, passa as mãos no rosto

    suado e limpa o suor na barra da saia. Um calor de

    fritar ovos, por que você sempre senta no ônibus

    do lado do sol?

    Ele está pronto e você continua nua

    Chega na loja dele, naturalmente, como

    se não houvesse sumido há quase um mês. Ele te

    espera ansioso na porta. Nem dois beijinhos, só os

    olhos trazem afeto, é um homem maduro, louro,

    bonito que quase não ri, está encabulado com o

    seu olhar atento, passa as mãos no cabelo, cruza e

    14

    descruza os braços, é mais alto que todos os

    outros, hoje não fez a barba, você sente que está

    cansado.

    -Tudo bem?

    - Cansado.

    - O dólar caiu.

    -É?

    - Vou ter que demitir dois funcionários.

    Fico chateado com isso.

    Você passa aponta dos dedos nos seus

    cabelos louros, lisos, ralos. Já não é tão jovem. Ele

    arregala os olhos e você o vê ansioso, esperando

    que você diga algo fatal.

    - Os negócios vão mal? - você pergunta.

    - O país inteiro. Acho que vendo a loja.

    - Pena.

    - Vamos viajar com

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