Kira E O Caminho Dos Deuses
De Rita Santos
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Kira E O Caminho Dos Deuses - Rita Santos
Kira e o caminho dos Deuses
Trilogia – Magia do Egito – Vol.2
Rita Santos
Kira e o caminho dos
Deuses
Trilogia – Magia do Egito – Vol.2
Rita Santos
Copyright © 2017 Rita Santos
Todos os direitos reservados
Revisão: Alexandre Soares Santana
Entre em contato/visite:
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A todos aqueles que acompanham o meu trabalho e
principalmente a Marília Torres de Azevedo, que me
incentivou em cada etapa desta trilogia. A Aline Davanço e
Thayna Cristine da Silva, que fizeram a leitura crítica.
A Fé é o caminho que transforma em realidade o
conhecimento de fatos, quando as probabilidades
são inaceitáveis.
1. Esperança
Após o jantar, Kira foi para o quarto.
Precisava ficar sozinha, queria pensar em tudo, absorver
o que havia ouvido nas explicações do professor Edward.
Sentia que sua vida estava de cabeça para baixo, tudo
estava muito confuso.
Não queria preocupar Beth. Via-lhe no rosto
o pânico, como se ela, sua sobrinha, fosse desaparecer
como André. Será que havia algo que o professor não
tinha lhe contado, ou era somente um excesso de
proteção por parte da tia?
Foi para a varanda. Sentia muita falta de
André, tinha medo de começar a esquecer o rosto dele, os
olhos, o sorriso, o cheiro. Só de pensar nisso o seu
coração se apertou, já não conseguia escutar o som
daquela voz.
Começou a lembrar pequenas coisas, como
quando ele a ficava esperando para tomar o café da
manhã com panquecas de chocolate e morangos só para
poder lambuzar seu nariz. Ela conseguia ver o sorriso
maroto que o rapaz lhe lançava antes de sair correndo
para a sala de aula...
Lembrou-se
de
André
correndo
enlouquecido (apenas porque ela havia torcido o
tornozelo) e a carregando no colo como se fosse um bebê;
do carinho com que ele a olhava.
Lembrou-se do primeiro beijo, na verdade o
único beijo de André; do sabor que ainda fazia seu
coração acelerar.
Viu-se na casa da árvore estudando sobre o
Egito antes da viagem de André e, depois, no dia do baile;
quase conseguiu sentir a emoção da sua primeira dança,
o beijinho roubado e, na sequência, a decepção que a fez
ir embora da fazenda para a casa de sua tia Beth.
A saudade que sentiu de André, a separação
e depois o reencontro, quando se viram pelo chat na
internet, a formatura dele, em seguida a sua, o
sentimento de medo de perdê-lo caso ele descobrisse que
ela o amava, sem saber que ele também a amava...
Quanto
desperdício
de
tempo,
de
sentimentos! Se ao menos Kira soubesse antes, talvez
não tivesse acontecido aquela discussão que resultou na
abertura
do
portal
e,
consequentemente,
no
desaparecimento de André.
Lembrou-se em detalhes da discussão entre
eles, a culpa corroía-lhe a alma; como ela pôde dizer-lhe
tudo o que dissera, como pôde magoá-lo daquele jeito?
As lágrimas começaram a rolar-lhe pelo
rosto de forma incontrolável e, quando percebeu, os
soluços lhe chacoalhavam o peito. Ela precisava
desabafar, precisava lavar toda a angústia, já fazia tanto
tempo que não conseguia sentir a presença dele. Por que
isso estava acontecendo? Era como se ela o estivesse
abandonando.
Quando Kira olhou para o céu e viu uma
estrela brilhar de forma mais intensa, sentiu um aperto
no peito. Não demorou para o brilho se intensificar outra
vez, aquele era o código entre eles, era o sinal que ela
esperava.
– É você, André?
E o brilho da estrela intensificou-se
novamente. Aí, sim, a jovem pôde suspirar e sorrir;
agradeceu a André por poder sentir a esperança voltando,
mas mesmo assim estava triste, pois queria vê-lo.
Após o jantar, Beth ficou com os amigos.
Sabia que tinha que dar um tempo a Kira, mas estava
muito preocupada em deixá-la sozinha, mesmo depois de
o professor Edward ter dito que o perigo maior seria
quando estivesse dormindo, uma vez que os pesadelos
dela poderiam transportá-la para outra época. Mas e se
ela cochilasse, e se ela entrasse em transe, e se ela...
O olhar triste de Beth também devastava o
coração de Edward, mas ele não podia sufocá-la. Ainda
mais porque agora ela estava começando a adquirir um
pouco de confiança nele, e ele não podia estragar tudo.
Quando se iniciou a expedição do grupo
para o Egito, o principal objetivo era ver se iriam
conseguir se conectar e fazer a abertura de portal para
trazer o André de volta.
Naquele
momento,
todos
estavam
pensativos, cada um perdido em um ponto de sua própria
vida, de seu próprio medo, de seu próprio desafio. Afinal,
no dia seguinte o treinamento teria início, o verdadeiro
treinamento. Lá existiam mestres, existiam alunos, mas
nada se comparava ao que estava por vir; os mistérios
que o Egito prometia eram suficientes para deixar todos
com os nervos à flor da pele.
O transe que Kira havia vivenciado os tinha
deixado inseguros. Apesar de terem conhecimento,
aquela energia lhes era totalmente desconhecida.
2. Egrégora
Naquela noite, Beth subiu para o quarto e
encontrou Kira escrevendo em seu diário. A jovem estava
serena, mas com o olhar ainda triste. Sorriu para a tia e
disse:
– Estava esperando sua chegada; sei que
não quer que eu durma antes de você chegar.
– Desculpe, querida, se demorei. Queria lhe
dar um pouco de privacidade.
– Não se preocupe. Foi bom pensar um
pouco e, sabe, acho que ele me mandou um aviso de que
está com saudade.
Ela disse isso com um sorriso no olhar, o
que fez Beth se alegrar.
– E o professor? Ele não vai subir, Beth?
– Acho que já vem. Vai dar um tempo para
eu poder trocar de roupa e me deitar.
– Parece que agora vocês estão se dando
melhor.
– É, até que, quando quer, ele não é tão
desagradável.
– Beth, reparou como você olha para ele?
– Kira, não comece. Acho-o um homem
inteligente. Além disso, você sabe que admiro gente com
força de vontade, e sei que ele é uma pessoa lutadora.
– Sei, e ele também a admira, já me disse
isso.
– Pare de ver coisas onde não existe nada.
Nosso interesse é nos problemas que envolvem a
expedição e agora no treinamento, que ainda não sei bem
se vou conseguir fazer.
Nesse momento Edward entrou no quarto e
pegou o final da conversa.
– É claro que vai conseguir. Na verdade,
acredito muito na sua sensibilidade.
– Está vendo, Beth? Sempre a achei muito
sensitiva – disse Kira com um sorriso nos lábios.
– Não sei, não, sou muito medrosa.
–
Isso é
somente
uma
questão
de
conhecimento, Beth, mas não vamos antecipar as coisas.
Amanhã começaremos com as nossas compras: vamos
achar coisas muito interessantes, vocês vão ver.
O professor tentava animá-las, mas também
estava pensativo e preocupado.
– Agora é melhor dormirmos, porque temos
que estar descansados, vamos andar muito.
Com um sorriso encantador, desejou-lhes
boa-noite e foi deitar.
Beth deitou, sentiu Kira adormecida a seu
lado na cama, mas o simples fato de saber que Edward
estava dormindo a poucos metros dali já era suficiente
para deixá-la nervosa. A atração que sentia por ele era
algo que há muito tempo não sentia por ninguém. Ficou
um longo tempo pensando, mas acabou conseguindo
dormir.
No dia seguinte, após o café da manhã, o
grupo se reuniu para fazerem as compras.
Peter, Kenia, Adrianne, Johnny, Cassy,
Beth, Kira e Edward saíram do hotel com destino às
pequenas lojas entulhadas de suvenires e amuletos,
entre outros utensílios utilizados pelos habitantes da
região e comprados por turistas.
A primeira coisa que o professor disse que
teriam que comprar era uma bolsa de lona impermeável,
cheia de divisórias e de um material leve; também tinha
que ter uma alça comprida para ser colocada de forma
transversal na frente do corpo. Todos acharam que seria
muito feia, o que fez o professor ficar bastante irritado,
principalmente com as mulheres.
Depois ele pediu que cada um escolhesse
uma varinha. Poderia ser de vários materiais – osso,
madeira, aço, ouro, prata –, mas, fosse qual fosse, seria
curvada e cada um teria que sentir a sua força. Algumas
estavam com símbolos desenhados, outras eram lisas,
mas isso não teria tanta importância, porque Edward iria
explicar os símbolos. O mais importante seria o
sentimento que a varinha iria despertar em cada um.
Depois eles teriam que escolher um bastão,
obedecendo às mesmas orientações.
Depois um espelho de Hathor, uns rolos de
fitas coloridas, um rolo de linho, cera de modelar, quatro
vasos de cerâmica pequenos, três caixas, um punhal, três
pedras, sendo um citrino ou cristal, uma ametista e uma
pedra da qual o olhar não conseguisse escapar, uma
espinha de Osíris, um mangal, um gancho, giz, uma
palheta de tinta, uma pena, um amuleto ou joia e, se
encontrassem, um material ou arma pelos quais eles se
encantassem.
Além desses materiais, pediu que Beth
providenciasse roupas de linho. Ela, porém, perguntou se
não seria melhor comprar peças de linho e contratar, no
hotel, costureiros para confeccionar as roupas, que
passariam a ser uma espécie de uniforme.
Edward concordou imediatamente com a
ideia de Beth. Combinaram procurar os materiais para o
uniforme juntos, após a expedição de compras do grupo.
Todos o ouviram passar a relação de
materiais de olhos arregalados, sem saber como
encontrar tantas coisas.
O professor passou por eles e simplesmente
começou a entrar em ruelas. O grupo o seguia,
verificando tudo o que ele olhava. Então Edward se pôs a
escolher alguns dos artefatos.
Beth e Kira buscaram deixar a coisa mais
divertida e descontraída, pois viram que todos estavam
tensos e preocupados.
A primeira a encontrar as bolsas de lona foi
Beth. Com um olhar inquisitivo, chamou Edward para
que verificasse se o modelo encontrado era adequado. Ela
estava em dúvida sobre como seriam utilizadas, pois a
lista de materiais era grande e certamente aquilo tudo
não caberia numa bolsa daquelas.
Ele explicou que a bolsa serviria para
carregar apenas alguns dos objetos; quanto aos outros,
não seria preciso carregar, mas somente aprender a
utilidade. O esclarecimento os deixou menos tensos. Em
pouco tempo, estavam todos se deixando levar pela
intuição e pela atração sensitiva dos objetos.
Kira já possuía boa parte deles, uma vez que
André lhe havia presenteado com muitos dos itens, com
os quais ela estabelecera forte ligação emocional. Estes a
jovem não os substituiria por outros de jeito nenhum.
Beth, mais uma vez, foi a primeira a
encontrar a varinha. Estava em uma loja e, ao examinar
uma caixa de que havia gostado, encontrou a varinha em
seu interior e imediatamente se apoderou dela,
dispensando qualquer outra. O mesmo aconteceu com o
bastão, que ela viu em um canto de uma loja de
antiguidade, muito parecida com aquela onde Kira havia
adquirido a sua.
Após terem conseguido encontrar todos os
itens – o que levou, na verdade, quase o dia todo –,
retornaram para o hotel. Beth foi até a gerência e
indagou sobre o serviço de costura para a confecção dos
uniformes. Foi informada de que um par poderia ficar
pronto para o dia seguinte, os demais jogos seriam
entregues dali a dois dias.
As peças de linho, Beth e Edward saíram
para comprar. Ele lhe disse que seriam necessárias cores
neutras – branco, bege e preto seriam o ideal – e que
precisariam de muitas peças, pois, além de serem oito
pessoas, havia as trocas de roupas. Ela fez um cálculo
rápido e acabou decidindo que seria mais fácil se fosse
padronizada uma roupa unissex para todo o grupo: calça
e quimono ou bata. Para as mulheres poderiam ser
colocados alguns bordados ou até mesmo alguns
acessórios no estilo colar.
Além de um caderno para cada um dos oito,
Beth providenciou o kohl, que seria utilizado para a
pintura dos olhos e também para a reprodução de alguns
hieróglifos de poder.
Foi providenciada ainda uma sala no hotel,
com um projetor, uma lousa de sala de aula e uma mesa
grande para que todos ficassem confortavelmente
instalados.
Beth estava cansada quando foi para o
quarto no final do dia. Encontrou Edward e Kira na
varanda conversando animadamente. Eles olharam para
ela com um sorriso no rosto, mas, ao ver seu olhar
cansado, perguntaram se estava tudo bem.
A mulher se limitou a balançar a cabeça e
entrou no banheiro para um banho. Acabou cochilando
na banheira, e sua demora em aparecer deixou Edward
um pouco inquieto.
– Kira, será que está tudo bem com Beth?
Acho que ela está demorando demais no banheiro.
– Não é nada; acho que ela deve estar
relaxando.
Continuaram a conversar, mas o professor
estava ansioso, e a jovem começou a perceber que seu
interlocutor não conseguia ficar quieto. Em cada
movimento, ele chegava perto da porta do banheiro,
tentando escutar e dando a desculpa de pegar algo. Esse
comportamento começou a incomodar Kira.
– Kira, não acho normal. Ela está
demorando demais, e não escuto nada no banheiro. Acho
que vou entrar.
– Não, deixe que eu entro.
Kira tentou empurrar a porta, mas estava
trancada do lado de dentro. Então chamou o nome da tia,
mas Beth não respondeu. Bateu à porta e também não
houve resposta. Antes mesmo de ela pensar em outra
possibilidade