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O Grimório do Guardião: O Guardião
O Grimório do Guardião: O Guardião
O Grimório do Guardião: O Guardião
E-book668 páginas32 horas

O Grimório do Guardião: O Guardião

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Sobre este e-book

Dylan achou que era um homem normal, com um emprego ruim e sem grandes aspirações. Quando encontra um livro preto com palavras e marcações peculiares, ele descobre que o universo é maior do que imaginava. O Guardião da Terra, que mantivera o livro e seu poder imenso seguros para que não caíssem nas mãos erradas, fora assassinado. Agora, a Terra precisa de um novo Guardião. 

A batalha para proteger o livro começa cedo para Dylan, que precisa confiar nos poderes recém-descobertos para derrotar as criaturas enviadas para pegá-lo. A vida de Dylan passa a ser cheia de aventuras, perigos e magia. 

Para proteger o livro e o mundo que agora depende dele, Dylan precisa aprender a sobreviver em um mundo estranho, lutar contra horrores ferozes além da imaginação, dominar as artes mágicas e, no fim, lutar contra um deus sombrio que já destruiu um mundo. 

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento17 de ago. de 2023
ISBN9781667461656
O Grimório do Guardião: O Guardião

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    O Grimório do Guardião - Rain Oxford

    O Grimório do Guardião

    O Guardião - Livro 1

    Rain Oxford

    Traduzido por Christiane Jost

    O Grimório do Guardião © 2015 Rain Oxford

    Todos os direitos reservados

    ~~ Dedicatória ~~

    Para meu pai, que fez de mim tudo o que sou.

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Extra

    Sobre a autora

    Capítulo 1

    Só pode ser brincadeira...

    Ouvi uma respiração pesada atrás de mim e não tive coragem de me virar para olhar. Mais uma vez, corri com todas as forças que ainda tinha. Meu tornozelo machucado tornava o exercício agonizante mais lento, mas mandíbulas enormes eram um motivador fantástico. A fera mal corria. Ela estava brincando comigo.

    Não demorou muito para que eu desse um passo em falso com o tornozelo machucado e caísse com força no chão. Rochas pequenas e afiadas se enterraram nas minhas costas, mas não consegui me levantar antes que a fera me prendesse. Olhei diretamente para os olhos vermelhos.

    A criatura tinha a aparência geral de um lobo enorme, com pelos pretos e um focinho achatado. As orelhas estavam abaixadas contra a cabeça por causa da raiva, mas o rosnado parecia mais um sorriso. A fera sabia que eu estava ferido e sem forças.

    O sangue escorreu da boca da criatura para o meu ombro e uma boa parte da pele ficou amortecida. Com um rosnado alto, o animal abriu a boca e...

    — Sr. Carter! Pretende se juntar a nós hoje? — A voz do sr. Luis me acordou do sonho com toda a sutileza de um martelo batendo no vidro. Pestanejei por causa da luz intensa e tentei me lembrar do sonho que acabara de ter.

    — Não, senhor — respondi. Quando ele me encarou friamente, resisti à vontade de dar de ombros. — Qual foi a pergunta?

    — Quais foram as deficiências e as conquistas de Freud?

    — A teoria psicanalítica de Freud foi derrubada porque não previa nada, as ideias dele eram implausíveis e foram invalidadas. No entanto, ele chamou atenção para o inconsciente, a luta para lidar com ansiedade e sexualidade, e o conflito entre os impulsos biológicos e o controle social.

    — Muito bem. Eu deveria chamar você mais vezes.

    — Como quiser, senhor. — Como ordenar, sr. Satã. Minha alma é sua por mais... Olhei para o relógio e resmunguei. Por que diabos o tempo anda para trás nesta masmorra? Juro, é o purgatório.

    A aula de psicologia do sr. Luis era uma palestra de duas horas que parecia durar quatro horas nos melhores dias e sempre tinha cheiro de metal e mofo. O cheiro de mofo certamente se devia ao fato de o sr. Luis ter pelo menos trezentos anos e o cheiro metálico era proveniente de todo o sangue que ele bebia entre as aulas. A única janela era pequena e alta na parede à direita e, naquela hora do dia, deixava o ambiente na penumbra. As luzes piscavam às vezes, dando a todos a sensação de estar em um filme de terror previsível.

    A não ser que uma pergunta estivesse sendo feita ou respondida, a sala permanecia em silêncio, como um túmulo. Os alunos logo começaram a preferir o silêncio, pois a alternativa era a lenga-lenga sem sentido do sr. Luis. O sotaque britânico pesado, que fora engraçado no primeiro dia de aula, rapidamente se tornou um martírio. Meu corpo reagia a ele congelando e tremendo de forma incontrolável. Uma pobre garota, Amy, foi dispensada da aula na primeira semana porque a voz dele a fazia desmaiar. Não ajudara o fato de ele tê-la xingado em um idioma estrangeiro por ser mulher.

    As distrações mais interessantes na sala eram as histórias e os desenhos nas mesas, que, à medida que o semestre progredia, envolviam cada vez menos bilhetes de amor e desenhos de animes, e cada vez mais ilustrações e planos homicidas. Ainda havia alguns desenhos experimentais interessantes de quando estudáramos distúrbio de personalidade antissocial. Obviamente, éramos todos adultos responsáveis muito dedicados aos nossos estudos.

    Eu devia ter caído no sono de novo, pois a próxima coisa que senti foi que alguém me sacudia. Levantei a cabeça com um sobressalto e vi-me sozinho com minha namorada. — Oi, Vi.

    — Fiquei preocupada. Achei que talvez Drácula tivesse finalmente pegado você.

    Eu me levantei e espreguicei-me. Vivian tinha vinte e três anos, um ano a mais que eu, e tinha quase um metro e setenta de altura. Os cabelos ruivos grossos eram longos, lisos e sedosos. Eles deixavam seus olhos verdes ainda mais suaves e a pele de porcelana ainda mais perfeita. Ela tinha o corpo alto e naturalmente magro de uma modelo e ficava linda com a camiseta camuflada que usava com frequência com uma jaqueta jeans, calça jeans e botas de salto alto.

    — Está com fome? — perguntei.

    Ela suspirou. — Sim, mas não tenho tempo para comer. — Peguei minha mochila, coloquei o braço sobre os ombros dela e saímos andando da sala. — Tenho que chegar à biblioteca antes da multidão de novatos. Mas escolha algo para mim. Irei à sua casa hoje à noite e estarei com fome.

    Vivian era uma surpresa e um tesouro. Ela era linda, brilhante e talentosa. Diferentemente da maioria das pessoas que se encaixava em uma dessas descrições, ela também era extremamente gentil, humilde e generosa.

    Assenti e andamos até a cachoeira do campus, que era simples, muito grande e barulhenta. — Estarei lá. — Eu a beijei por alguns segundos até que ela se afastou com um sorriso. O fluxo da cachoeira foi subitamente perturbado, mas nós dois ignoramos.

    — Tchau. — Ela foi embora, puxando a jaqueta para cobrir mais o corpo. Aquela jaqueta grossa era o motivo de eu odiar o inverno. Andei lentamente em direção ao meu apartamento no campus.

    Destranquei a porta, entrei, fechei-a e joguei-me no sofá. Meu apartamento era a representação depressiva do meu salário minúsculo. Quem diria que trabalhar em uma lanchonete não era a melhor forma de ficar rico?

    Estendi a mão no escuro para procurar o controle remoto. Quando não o encontrei, suspirei e coloquei as mãos atrás da cabeça. A televisão ligou sozinha e olhei para ela, que passava o noticiário. Como eu não gostava muito de shows de horror, sentei-me, peguei o controle remoto que estava sobre a mesinha de centro e mudei para um canal de desenho animado.

    Um gato cinza grande pulou sobre a mesa e fez um som que reconheci como choro... mais como uma exigência por atenção. — Ei, Dorian. Encontrou uma parceira? — Eu o acariciei e fui recompensado com um ronronar leve. — Vi virá hoje à noite, portanto, fique bonito. — Levantei-me e fui até a cozinha. Alguns segundos depois de ligar o interruptor, a luz acendeu preguiçosamente.

    Um frigobar verde dos anos setenta fazia barulho sob um micro-ondas antigo precariamente equilibrado. No meio do longo balcão, havia uma pia de metal enferrujada. Em um lado da pia, havia uma fritadeira elétrica que funcionava pelo menos metade do tempo e, no outro lado, uma cafeteira elétrica que funcionava quase dois dias por mês.

    Peguei o pote de metal de comida de Dorian e a comida no armário acima do frigobar. Normalmente, a fera temperamental estaria aguardando impacientemente que eu colocasse a comida. Porém, quando enchi o pote e coloquei-o no chão, o gato não estava à vista. Fui até a porta e liguei a luz da sala de estar. Dorian estava no sofá, sibilando para a porta com as costas arqueadas, os pelos eriçados e as garras para fora. — Qual é o problema? É a Mãe? Não ouvi trovões nem senti cheiro de enxofre.

    A porta rangeu ameaçadoramente e a luz do crepúsculo encheu a sala, mas ninguém, nem uma pessoa nem uma aparição, estava na entrada do apartamento. Saí com cautela.

    O complexo de apartamentos era certamente mais seguro do que os mais baratos, pois era muito perto da universidade. Morar tão perto significava também que eu não precisava de um carro. De qualquer forma, eu não tinha dinheiro para ter um carro. Graças às minhas bolsas de estudo, ao meu emprego seguro e à falta de vida social, eu era um dos raros alunos que não tinham dívidas. Viver à base de macarrão instantâneo valia a segurança extra, pois eu podia sair para o corredor ou ficar no meu quintal minúsculo sem ser atacado nem assediado. Morar no térreo era certamente um bônus, pois o prédio não tinha elevador.

    O vento uivou e eu estava prestes a entrar no apartamento quando algo chamou minha atenção. Um livro preto fino e pequeno estava inocentemente sobre a grama em frente aos degraus do meu apartamento. Ele parecia inofensivo, mas tive vontade de correr para dentro do apartamento e deixar o livro lá. Era como um filme de terror, em que se sabe que está em um lugar maligno ou que algo maligno está à espreita. Portanto, naturalmente, eu o peguei.

    Minha pele ficou arrepiada, mas não necessariamente de uma forma ruim. Não havia título nem nada escrito na capa de couro preto, que era flexível, mas não mole. As páginas eram incomumente rígidas e frias, a maioria delas em branco. Apenas as dez primeiras páginas tinham alguma coisa, mas não era uma história nem um diário. Elas estavam cheias do que pareciam ser palavras. Apesar de algumas palavras serem em idiomas familiares, a maioria era incrivelmente bizarra. Fechei o livro, olhei em volta e voltei para o apartamento.

    Dorian saiu correndo para o meu quarto quando entrei. Eu não queria incomodá-lo enquanto ele estava agindo de forma tão estranha, portanto, apenas coloquei o livro na prateleira ao lado da televisão. Meu estômago vazio, que agora parecia ter um nó, roncou e peguei meu casaco. Não olhei novamente para o livro perturbador nem parei para pensar por que o guardara.

    Depois de alguns dias, esqueci-me completamente dele.

    *      *      *

    — Enquanto as mortes aumentam, as pessoas procuram autoproteção. A taxa de crimes é a mais alta em uma década em Dallas. Apesar de ainda estarem sendo investigados, as autoridades acreditam que os incêndios em duas delegacias, em Dallas e em Fort Worth, são criminosos. Duas pessoas foram presas depois de tentarem roubar um banco. No entanto, os criminosos estavam ocupados demais discutindo entre si para ficarem de olho em testemunhas... pois não estavam trabalhando juntos, apenas escolheram o mesmo banco para roubar. Eles também estavam em desvantagem porque o banco que tentavam roubar estava sendo investigado por seis policiais.

    Não foi difícil não rir, apesar de que, se fosse outro dia, eu teria rido. Eu achava divertido, se não hilário, quando idiotas eram pegos fazendo algo de errado por causa de erros imbecis. Desta vez, no entanto, eu queria a TV desligada ou, pelo menos, silenciada.

    Minha cabeça latejava com uma dor que transformava as palavras em uma confusão sem sentido. A sensação do balcão laminado frio contra minha bochecha era ótima, mas não compensava a parede de ruído que me sufocava. O calor febril que fazia eu me coçar e suar era horrível o suficiente sem o coração batendo forte, a desidratação e a náusea insuportável. Desejei não ter sentado tão perto da TV, mas alguém estivera no meu lugar normal e eu não tinha forças para me mover. Era uma péssima ideia ir ao restaurante na minha condição, mas, mesmo assim, acabei indo até lá. O vampiro do meu professor de psicologia não me procuraria em um local público como aquele.

    — Oi. — Não olhei para Vivian quando ela se sentou ao meu lado. — Você está bem? — perguntou ela. Eu me forcei a sentar direito e tentei abrir um sorriso reconfortante. O melhor que consegui foi olhar para ela friamente antes de voltar ao meu lugar. — Ah, não, já são três horas? Tenho que ir. — Ela pulou da cadeira, olhando para o relógio. 

    Não sei como encontrei forças nem equilíbrio, mas estendi a mão e segurei o pulso dela antes que Vi desaparecesse. Em seguida, puxei-a para que se sentasse no meu colo enquanto mexia desajeitadamente em seu relógio. — O horário de verão começou ontem à noite. Você não está atrasada. — Acertei o relógio dela e virei-me novamente para a mesa, empurrando Vi para que saísse do meu colo. Notei que ela tinha uma pilha de pastas na mão. — Trabalhando muito?

    — Sim. Parece que algumas pessoas ricas se mudaram para cá e começaram a arrumar confusão, portanto, o vampiro teve que se oferecer para receber o dinheiro delas. — Vivian era assistente de um advogado. — Porém, não está tão ruim como ficará em breve.

    — Por quê? O que vai acontecer? — perguntei. Ela me olhou como se eu estivesse sendo ridículo, mas não reclamei. Até onde eu sabia, a área de Wernicke no meu cérebro estava frita, portanto, não tinha ideia do que estava dizendo.

    — Bom, com a onda de assassinatos e de crimes chegando mais perto, só vai aumentar minha carga de trabalho.

    — O quê? Que assassinatos? Que crimes? Do que estamos falando? — Ok, eu estava um pouco devagar, mas fora um dia difícil. As segundas-feiras eram horríveis e, depois de cinco horas de provas e redação de artigos, sobrara muito pouco na minha cabeça. Tentar ter uma conversa com Vivian enquanto ela estava no modo de trabalho era como tentar solucionar um cubo mágico com os olhos fechados.

    Ela suspirou. — Você é impossível nas segundas-feiras. Os noticiários estão falando sobre isso o tempo inteiro. Houve um aumento grande nas mortes e o pior é que elas estão chegando perto daqui — respondeu ela. Eu sabia que a minha expressão não era nada polida, mas eu não tinha muito controle sobre funções musculares sem sentido, como as do rosto ou da boca. — Todas as mortes são iguais.

    — São? — Aquilo não soou certo.

    — Sim. Todas são acidentes.

    — Explique novamente como isso torna as mortes assassinatos. — De novo, eu estava um pouco devagar, mas Vivian era o tipo de pessoa que mantinha uma conversa que tinha na cabeça. Infelizmente, com frequência, eu não sabia se ela estava ou não fazendo isso.

    — O número de assassinatos confirmados não mudou muito e qualquer correlação positiva pode ser atribuída ao medo. Isso porque todo mundo consegue ver o que está acontecendo. Houve um aumento grande de acidentes envolvendo de tudo, de incêndios a prédios desabando e acidentes de trânsito. Não é uma coincidência, mas não dá para rastrear. Ao mesmo tempo, as pessoas serão culpadas e terão que gastar dinheiro. Como foi sua prova?

    Demorei um segundo para perceber que ela mudara de assunto. — Que prova?

    — Todas elas.

    — Bom, minha prova de anatomia foi bem e a de psicologia também. A prova de história da Europa e dos Estados Unidos foi horrível. E, depois que ela terminou, mal consegui ler as perguntas da prova de biologia.

    — E a prova de química?

    Olhei para o meu relógio. — É daqui a uma hora. Eu estava tentando cochilar quando você chegou.

    — Não cochile no restaurante. Vá para casa, coma um pedaço de pão e beba uma coca-cola.

    Tentei me sentar e fui recompensado com uma nova onda de náusea. — Não vou sair desta cadeira. Faça-me um favor e traga-me uma das provas. — Ela já estava de pé tentando me levantar. Normalmente, eu lutaria contra ela, mas não valia a pena naquele momento.

    Consegui pegar minha mochila antes que saísse do meu alcance. Ela me deu um beijo leve e empurrou-me. Por sorte, consegui chegar em casa com tempo suficiente para comer antes de ir para a próxima aula. Foi só muito depois que fiquei incomodado com o que ela dissera sobre os acidentes.

    *      *      *

    Havia alguém à porta. Olhei para o despertador e pulei da cama como se ela estivesse pegando fogo. Eram sete da noite e eu estava meia hora atrasado para o trabalho. Meu hábito de desligar o despertador dormindo ainda faria com que eu fosse despedido. Peguei as calças e vesti-as por cima da bermuda larga. Ao chegar à porta, eu ainda estava vestindo a camiseta. Tentar atender a porta e vestir-me enquanto ainda estava meio dormindo e atrasado para o trabalho era a receita para o desastre. Havia quatro aberturas na camiseta, e era uma operação simples vesti-la.

    A batida soou leve e incerta, portanto, abri a porta esperando alguma garota bonita. Em vez disso, era um homem.

    Ele tinha cabelos castanhos desgrenhados, nenhum pelo facial e os olhos castanhos mais escuros que eu já vira. A pele tinha um tom ambíguo que tornava difícil determinar a raça. Imaginei que ele tivesse trinta e poucos anos. Ele tinha cerca de um metro e oitenta e cinco de altura, bem mais alto que eu, e uma compleição atlética. Era difícil notar isso tudo com o senso de estilo dele. O homem vestia uma túnica bege grossa com calças pretas folgadas do mesmo material, e botas reforçadas. Sobre o ombro direito e pendurada na altura do peito no lado esquerdo, havia uma mochila de livros de couro preto. Claramente, era um aluno da universidade.

    Ele abriu um sorriso forçado. — Olá. Sou Edward.

    Obviamente era. A voz dele era surpreendentemente gentil para a aparência feroz, apesar de ser profunda. O sotaque parecia quase asiático. Havia autoconfiança suficiente em seu tom para parecer que o jeito gentil era falso, como se ele estivesse tentando atrair um animal desavisado.

    — Que bom. Sou ateu. Não quero nenhuma bíblia hoje — disse eu. O sorriso dele diminuiu por causa da confusão e tive a sensação de que talvez ele não estivesse vendendo bíblias. Suspirei. — O que você quer?

    — Só conhecer meus novos vizinhos.

    Ele disse conhecer ou "comer? E isso importava? O cara parecia um predador. Não do tipo pedófilo, mais como um lobo em uma fazenda de ovelhas. Não ligue para mim, só estou lendo o cardápio.

    — Bom, estou atrasado para o trabalho. Foi um prazer conhecer você. A gente se vê por aí. — Tentei fechar a porta, mas ele me impediu. Edward não tinha mais aquele sorriso forçado nem estava olhando para mim. Apesar disso, o olhar furioso e empolgado dele me fez estremecer. As pessoas normalmente não causavam isso em mim, exceto pelo sr. Luis. Em seguida, ele voltou o olhar para mim e seu semblante ficou gelado... juntamente com todos os órgãos do meu corpo.

    — Encontrei você — disse ele. Meu corpo estremeceu violentamente. Ninguém podia soar tão psicótico e não estar prestes a me devorar. Pelo menos, ele me pegou antes do sr. Luis.

    Não sou a ovelha que você procura. Eu estava prestes a dizer alguma coisa, provavelmente ininteligível, quando ele me empurrou de lado e foi até minha prateleira. Percebi que ela fora o foco do olhar dele. Ele pegou o livrinho preto e começou a folheá-lo. Em seguida, fez uma pausa na inspeção e franziu a testa para mim, confuso.

    — Você não escreveu seu nome nele?

    — Por que escreveria? — Minha voz saiu um pouco instável.

    — Você não sabe o que foi que encontrou? — Ele olhou para o livro. — Não, acho que não.

    Olhei para a porta com expressão suplicante, silenciosamente implorando que ela o expulsasse. Ela não o expulsou. — Sr. Edward, você realmente precisa ir embora. Tenho que ir para o trabalho.

    — Há questões mais importantes no momento. Alguém mais sabe sobre este livro? — perguntou ele com expressão calma.

    — Não, só estou com ele há umas duas semanas. Nem pensei nele nesse tempo. O que é? Algum tipo de herança de gangue ou algo parecido?

    — Espero que não esteja mentindo. Eles conseguiriam farejar o livro em você e em qualquer um com quem tenha entrado em contato recentemente. É uma infelicidade para você, mas logo perceberão que o livro desapareceu e a matança parará. — A voz dele lentamente passara de gentil para rígida.

    — Do que você está falando?! — As luzes piscaram violentamente com a minha frustração.

    — Você... — Ele olhou para a lâmpada no teto por um momento. — Você fez isso? — perguntou ele, com a voz subitamente gentil de novo.

    — Quem diabos são eles e o que é uma infelicidade para mim?

    — Talvez este livro não tenha chegado até você por acidente.

    Eu fiquei furioso naquele momento. Não gostei de ele estar falando consigo mesmo, em vez de comigo, nem do fato de ignorar minhas perguntas. Fechei a porta e tentei me acalmar, sem querer provocá-lo até que ficasse furioso antes de ter minhas respostas. Ele reconheceu meu conflito colocando o livro sobre a mesinha de centro com um suspiro.

    — Sabia que há feras atrás de você?

    Fiquei atônito. — Que feras? Por quê? — Ele ficou parado como se não tivesse me ouvido. — Não, eu não sabia.

    — Há três delas. Não sei o que são, mas elas querem este livro. Elas o rastrearam até esta área e, logo, encontrarão você e matarão quem tiver o cheiro do livro até que o encontrem. Este lugar inteiro tem o cheiro do livro.

    — E você simplesmente o pegará e fugirá para um lugar seguro?

    — Eu ia, sim, mas agora não sei ao certo. Se você é um feiticeiro, não é tão simples assim.

    Aquela era a última coisa que eu esperaria que ele dissesse e fiz uma pausa. Eu não era realmente ateu, apenas agnóstico, portanto, não tinha motivos religiosos para rejeitar a ideia, mas aquilo beirava o ridículo. Imaginei que, se houvesse monstros atrás de um livro, aquele homem não estaria ali. Nada de interessante jamais acontecia comigo.

    Por outro lado, caso ele estivesse falando a verdade... — Se não sou um feiticeiro, você pegará o livro e irá embora? Quanto tempo levará para que parem de matar pessoas aqui?

    — Elas pararão quando perceberem que o livro sumiu, quando todos que tiverem o cheiro dele estiverem mortos. Você é um feiticeiro? — Meu primeiro instinto foi rir da cara dele, mas permaneci em silêncio. O que ele faria se eu dissesse que era? — Responda à minha pergunta!

    Eu rosnei. — É uma pergunta idiota. Não existem feiticeiros.

    Edward assentiu. — Então vou embora agora. — Ele começou a andar em direção à porta e bloqueei seu caminho, ficando mais furioso.

    — Se querem tanto este livro, posso usá-lo para acabar com elas!

    — Não deixarei que ele caia nas mãos delas. É meu trabalho proteger o livro — argumentou ele.

    O tom leve na voz dele me fez estremecer de raiva. A luz finalmente desligou e ficamos mergulhados na escuridão. Minha raiva sumiu com a luz e abri a porta para iluminar um pouco a sala. Fiquei atônito ao perceber que Edward sorria.

    — Então, você é um feiticeiro. Não posso tirar o livro de você se ele o escolher. E se você o aceitar.

    Parte de mim queria apenas sair porta afora e ir para o trabalho, deixando-o ali. A outra parte queria voltar para o quarto e dormir um pouco mais. Eu não tinha a menor intenção de dar àquele homem mais do meu tempo, mas as palavras saíram da minha boca antes que pudesse impedi-las. — E, se eu o aceitar, o que acontecerá?

    — Sua maior prioridade na vida se tornará a proteção deste livro. No entanto, também é minha finalidade proteger os livros, portanto, não terei opção a não ser proteger você e o livro até que seja totalmente capaz de protegê-lo por conta própria, o que poderá levar vários anos. Em outras palavras, você se tornaria meu aprendiz de magia.

    Eu o encarei. Eu queria dizer alguma coisa, só não sabia o quê. Magia. Claro que o homem era louco. As luzes não tinham nada a ver com magia, a companhia de energia elétrica só gostava de brincar comigo. No entanto, sempre achei que isso explicaria as coisas. Também explicaria as mortes recentes.

    — O que esse livro tem a ver com magia? Por que aquelas feras estão atrás dele?

    — Não tenho permissão de lhe dizer, a não ser que seu nome esteja nele.

    Percebi que ele estivera segurando o livro quando o ergueu e abriu-o para que eu o assinasse. O diabo quer que eu assine seu livro preto. Eu estudei o livro, como se ele pudesse me dar as respostas que Edward não dava.

    — É falta de educação me fazer esperar — disse ele impacientemente.

    Balancei a cabeça negativamente. — Não vou assinar nada sem saber no que estou me metendo.

    Ele fechou o livro e colocou-o dentro da mochila ao lado de outro livro idêntico. — É muito sábio da sua parte — disse ele, como se estivesse esperando aquela resposta.

    — Aquele é outro livro?

    — Sim, é. Sou o Guardião deste livro. — Ele puxou ligeiramente o outro livro antes de escondê-lo novamente. — O Guardião do livro que você encontrou morreu e fui designado para coletá-lo. Eu deveria encontrar um novo Guardião para ele, mas agora parece que o próprio livro escolheu um.

    — Você fala como se o livro tivesse personalidade própria.

    — Ele tem. Leve três coisas em consideração antes que eu lhe diga algo mais sobre a escolha que precisa fazer: esses livros e seus mundos são mágicos, as criaturas que estão atrás deles são muito fortes e tenho uma paciência minúscula. Fico feliz por você estar relutante em assinar seu nome em um dos livros sem saber no que está se metendo, mas precisa decidir rapidamente para podermos partir.

    — Então comece a explicar. — Olhei para meu relógio quando ele suspirou irritado. — Ah, merda. Explique no caminho até o meu trabalho. Vão comer meu fígado. — Edward me lançou um olhar muito confuso. — Vamos! — Ele me seguiu porta afora e eu a tranquei. Edward me acompanhou com facilidade enquanto eu atravessava o campus rapidamente.

    — Tem certeza de que quer se envolver?

    — Já estou envolvido, certo? As feras me matarão se eu não me envolver.

    — Há perigos muito piores do que elas.

    Parei e virei-me para ele. — Como o quê? Espere, o que você quis dizer antes sobre os mundos dos livros?

    Ele me observou com expressão gentil e paciente. — Explicarei tudo a você, mas prefiro não fazer isso na frente de testemunhas — respondeu ele. Era a multidão normal da universidade na noite de um dia de semana, mas ninguém estava perto de nós. — Além disso, você realmente precisa ter certeza de que quer se envolver com isto.

    Começamos a andar de novo. — Achei que você não queria perder tempo.

    — Nunca é perda de tempo pensar antes de decidir sobre algo que mudará o seu futuro. Eu simplesmente não quero ficar aqui por muito tempo. Quero que você decida agora. Estou sob muita pressão porque, enquanto eu estiver aqui, o livro em questão e o meu livro estão em perigo.

    — De onde você vem?

    — Você nunca ouviu falar.

    — O seu traje é comum lá? — Senti-me mal-educado quando ele olhou para as próprias roupas com a testa franzida. Chegamos à lanchonete e os arcos amarelos brilharam sobre mim, como se estivessem zombando de mim e do meu pagamento ridículo.

    — Não é anormal. Faz muito tempo desde que visitei este mundo — respondeu Edward finalmente quando chegamos às portas.

    — O que quer dizer? Está me dizendo que você não é deste mundo? — perguntei em tom cético.

    — Obviamente.

    Ah, claro, como sou idiota.

    — Um livro pode representar apenas um mundo, portanto, evidentemente o meu livro é de outro mundo. É razoável que eu seja daquele mundo. Sinceramente, isso é tão estranho para você, considerando todo o resto?

    O alienígena tinha razão. — Vá se sentar. Irei até você quando meu turno terminar. Estou cobrindo alguém, portanto, só demorarei umas duas horas. — Ele se sentou sem discutir, mas consegui sentir a impaciência emanando dele. Fui para trás do balcão. — Oi, Jean — disse eu. Ela levantou a cabeça por trás do forno e sorriu.

    Jean tinha dezessete anos em um corpo de quinze anos. A silhueta pequena combinava muito bem com a personalidade dela. Os cabelos naturalmente loiros platinados e longos emolduravam o rosto redondo. Os olhos eram azuis e a pele era ótima para uma adolescente. Apesar dos hábitos alimentares de um caminhoneiro, a energia inumana que a tornava incapaz de agir como uma pessoa normal também mantinha seu peso saudável.

    — Malcolm estava procurando você. Eu disse a ele que você teve uma consulta de emergência com o dentista.

    — Obrigado. Muito melhor do que a varíola que você disse a ele que tive na semana passada ou raiva na semana anterior. — Ela voltou a atenção para o forno e recolocou os fones nos ouvidos. A saia curta de escolar balançou quando ela começou a dançar. Jean era interessante. Era esperta, sem ser espertalhona, tinha uma imaginação selvagem e gostava de algumas das coisas de que eu gostava. Infelizmente, ela tentava demais deixar as pessoas felizes.

    Ainda assim, ter que trabalhar com ela era difícil, pois Jean tinha tendência a esquecer que era uma colegial menor de idade e que eu era universitário. Mesmo assim, eu tinha namorada e era muito mais velho que ela, mas Jean tinha como objetivo na vida sair comigo.

    *      *      *

    Três horas infernais mais tarde, finalmente rastejei de trás do balcão e sentei-me à frente de Edward, que parecia fascinado com os carros. Ele me observou quando apliquei pomada em uma queimadura na minha mão, onde as batatas fritas adoravam cuspir em mim. As batatas fritas me atentavam o tempo inteiro.

    — Então? Comece a falar.

    — Está completamente certo disso?

    — Mais uma hora disto e vou implorar para que aqueles caçadores de livros acabem com o meu sofrimento. Fale depressa antes que eu desmaie.

    — Eu preferiria que você não desmaiasse. — Ele observou os carros novamente por um momento antes de voltar a atenção para mim. — Começarei com uma aula de história.

    Ai, meu Deus.

    — Aguente firme — disse ele, como se tivesse ouvido meus pensamentos. — Antes mesmo que os mundos tivessem vida, os doze deuses, os Iadnah, tomaram doze mundos e tornaram-nos capazes de sustentar a vida. Para cada mundo, eles criaram um livro em que escreveram seus nomes verdadeiros. Entendeu até aqui?

    — Doze deuses, livros, nomes verdadeiros. Entendi. Por quê?

    Ele pestanejou. — O quê?

    — Por que eles precisam dos livros? São deuses — disse eu. Ele riu, completamente aberto e sincero, o que foi inteiramente contrário à primeira impressão que eu tivera dele.

    — Acabei de lhe contar algo que poucas pessoas no seu mundo engoliriam, mesmo se eu tivesse provas, e você quer questionar os motivos dos deuses? Os livros são... — Ele hesitou, pensando nas palavras. — Eles representam, protegem e controlam o poder dos mundos. — Eu estava prestes a pedir que Edward esclarecesse melhor, mas ele ergueu a mão. — Por favor, guarde as perguntas para o fim.

    — Vou tentar.

    Edward assentiu. — Um dos Iadnah, Vretial, decidiu que o mundo dele não era poderoso o suficiente. Ele era o mais perigoso, psicótico e malicioso dos Iadnah, enquanto que o irmão dele, Avoli, era muito gentil, mas também muito fácil de enganar. Vretial roubou o livro de Avoli e apagou todos os nomes, exceto o dele mesmo. O mundo se tornou dele. Por medo, os outros dez deuses esconderam seus livros com diferentes guerreiros de cada mundo.

    — Um para cada mundo? Ou vários?

    — Há apenas um guerreiro para cada mundo e eles nasceram com grandes poderes da mente. Pelos deuses, somos chamados de Noquodi, mas o nome mais comum é Guardião. Os dois mundos que pertencem a Vretial são chamados de Terras Distantes, ou mundos externos. O poder dos Guardiões foi passado para os filhos deles, que eram conhecidos como feiticeiros. Apesar de todos conseguirem fazer magia, todas as pessoas com o dom natural são feiticeiros verdadeiros e descendentes dos guerreiros.

    — Então, se sou um feiticeiro, no que você parece acreditar, eu sou descendente de um Guardião?

    — Sim. E, quando assinar seu nome, você se tornará muito mais poderoso do que é agora. Qualquer pessoa que escreva seu nome em um livro dos Iadnah será marcada com o símbolo daquele mundo e poderá aprender a viajar sem o livro. O poder dela ficará muito maior e ela será vinculada àquele mundo pelo resto da vida. A pessoa assume uma pequena parte da responsabilidade de proteger aquele mundo, pois sua magia está ligada a ele. Quando a pessoa morre, o nome dela permanece no livro e ninguém sabe o que acontece com ela.

    — Você pode apagar o nome de uma pessoa do livro para que ela não possa mais usar o poder? Por exemplo, se ela estiver abusando do poder ou algo assim?

    — Somente um dos Iadnah ou um dos Guardiões pode apagar o nome de uma pessoa de um dos livros, mas, se fizer isso, a pessoa desaparecerá.

    — E se outra pessoa escrevesse meu nome?

    — Somente a pessoa pode escrever o próprio nome nos livros. É como assinar um contrato que não pode ser falsificado.

    — Então, se eu escrever meu nome neste livro, serei o Guardião dele e poderei viajar pelos mundos?

    Edward balançou a cabeça negativamente. — Você só pode viajar para o mundo cujo livro tem seu nome. Poderá viajar por todos os mundos se assinar todos os livros. Eles estão espalhados e escondidos, portanto, será algo difícil de fazer. Agora, você não precisa ser Guardião do livro para assiná-lo. E todos os livros, exceto o de Vretial, têm apenas um Guardião.

    — Então, este livro pertence ao Guardião da Terra, correto?

    — Sim, pertence.

    — Como o Guardião deste livro morreu?

    — Vretial recentemente atacou de novo. Ele mandou servos muito poderosos para rastrear os livros remanescentes. Eles só encontraram um Guardião, que descartou o livro antes que o matassem.

    — Era o Guardião do livro que encontrei? O Guardião da Terra? E os servos são os monstros que estão atrás de mim?

    — Não exatamente. Os feiticeiros, servos de Vretial, mataram o Guardião anterior da Terra, Ronez. O que está atrás do livro descartado não é um servo, mas uma fera. Há três delas, até onde sei. Quando Ronez foi morto, os deuses me mandaram para a Terra para pegar o livro e protegê-lo até que eu encontrasse um Guardião adequado. Pelo jeito, terei que criar um.

    — Espere um pouco. Se os livros são necessários para viajar entre os mundos, e as feras são do não-sei-quem, como chegaram aqui? E como os servos chegaram aqui?

    — É onde reside o mistério. Os deuses negam completamente a capacidade de viajar sem os livros, mas não dão explicações.

    — Então as feras conseguiriam farejar até aqui? — perguntei. Ele balançou a cabeça negativamente.

    — Quando o livro foi descartado, ele começou a emitir um pulso de energia para ser encontrado por seu novo Guardião. Quando chegam perto o suficiente, elas conseguem rastrear o poder do livro como se fosse um cheiro. O sinal não parará até que uma pessoa adequada o reclame e torne-se o novo Guardião.

    — Então, se eu assinar o livro e tornar-me seu aprendiz de magia, o que isso envolveria? — perguntei.

    — Você teria que encerrar sua educação, pois aqui não é um lugar adequado para estudar nem fazer magia. Você teria que morar comigo no meu mundo.

    Eu arregalei os olhos. — Você quer que eu saia da Terra? É o único lugar que conheço. Largar a faculdade e o meu emprego não é um problema. Tenho certeza de que aguento nunca mais ver meu professor de psicologia psicótico de novo, mas e a minha namorada?

    — Ei, vai me apresentar ao seu amigo? — perguntou Jean, subitamente parada ao meu lado. Eu estava tão envolvido com a ideia de deixar a Terra que a voz suave e doce dela me fez dar um salto. Virei-me para ela e Edward se levantou.

    — Ahm... este é Edward. Edward, esta é Jean. — Jean estendeu a mão para apertar a dele e tive um medo irracional de que ele não saberia o que fazer. Eu nunca conhecera um alienígena. Foi um grande alívio quando ele estendeu a mão e apertou a dela educadamente. — Vou buscar alguns hambúrgueres — disse eu, levantando-me.

    Jean deu um passo para longe da mesa. — Não, não, eu busco. Sente-se. — Ela correu para a cozinha e eu me sentei novamente.

    Edward pareceu mais cauteloso ao se sentar, como se tivesse medo de que outra garota indisciplinada surgisse do nada. — É essa a namorada que você não quer deixar?

    — Não. E tenha cuidado perto de Jean, ela pode ser bem esperta quando quer alguma coisa... como um namorado. Como são as mulheres no seu planeta?

    Ele a observou por cima do meu ombro. — Ah, há todos os tipos de mulheres. Como as mulheres no seu mundo, elas tendem a ser mais ferozes que os homens quando estão bravas. Meu mundo, em geral, não é muito diferente do seu, exceto por ser mais simples em algumas coisas.

    — Como assim? — perguntei. Jean voltou e colocou quatro hambúrgueres sobre a mesa, um para mim, um para Edward e dois para si mesma. Antes que conseguisse se sentar, o celular dela tocou e ela suspirou. — Já volto.

    Ela se afastou e eu olhei para Edward, que fazia uma careta de desgosto para o hambúrguer ainda embalado.

    — O que é isto?

    Revirei os olhos, pois eu mesmo me perguntara aquilo inúmeras vezes. — Comida.

    Ele olhou para mim. — Não, sério, o que é isto?

    Peguei meu hambúrguer e dei uma mordida. Ele pareceu ainda mais desgostoso, o que, por algum motivo, fez a comida ter um gosto ainda pior. Engoli a carne falsa e o pão cheio de açúcar. Eu não era um bom conhecedor de comida, mas havia algo sombrio em hambúrgueres de um cardápio de um dólar. — Como é a comida em seu planeta?

    — Comestível.

    — Parece divertido. Conte-me sobre o lugar onde mora.

    — Bem, meu mundo não tem tanta gente que nem o seu. Não temos carros nem gasolina. Muitos lugares não têm eletricidade e...

    — Não tem eletricidade?! — perguntei em um tom alto demais. Por sorte, não havia clientes que pudessem nos ouvir.

    — As pessoas no meu mundo aceitam a magia e maioria delas é praticante, mas a magia pode interferir com a eletricidade. Nosso mundo é mais simples na vida do dia a dia. Com isso dito, a tecnologia que usamos é muito melhor que a sua. Como no seu mundo, há escolas e trabalhos, bem como cidades pequenas e grandes. No entanto, muitas pessoas são como eu. Não trabalho para o público. Tenho uma cabana pequena em uma floresta grande e moro sozinho, exceto por Tibbit.

    Eu pestanejei. — O que é um Tibbit?

    Ele sorriu. — Tibbit é meu animal de estimação. Ele é um pássaro, um cray, que é similar ao falcão do seu mundo.

    — Como você conhece o meu mundo?

    — Nunca viajo para um mundo sem saber o que esperar. Tenho vários milhares de anos, vivi o suficiente para aprender sobre o seu mundo. Mas, principalmente, porque eu era muito próximo do Guardião da Terra.

    Vários milhares de anos. Então ele estava vivo quando o sr. Luis era criança. Pelo menos, os séculos tinham sido melhores para Edward. — E eu aqui achando que você tinha apenas algumas centenas de anos. E como é o casamento? Deve ser difícil ficar casado para sempre.

    — Os Guardiões são encorajados a ter filhos, especialmente em outros mundos, para misturar o sangue. Somente os Guardiões são imortais, mas as pessoas no meu mundo vivem mais do que as da Terra. O casamento normal no meu mundo é igual ao de vocês, exceto que só dura certo tempo, que é cerca de vinte anos, e não há divórcio.

    — E você disse que a magia é usada abertamente no seu mundo?

    — Sim. Ela é até mesmo respeitada. Muitos feiticeiros aqui na Terra usam seus poderes abertamente.

    — E por que você tem a aparência de humano?

    — A maioria dos mundos tem uma forma similar. Depois de muitos experimentos, os deuses descobriram que esta forma é muito eficiente. Na verdade, meu mundo usa esta forma há mais tempo que o seu. No entanto, o corpo da minha espécie é mais adaptado ao meu mundo. Temos instintos de sobrevivência melhores e podemos aguentar mais tempo sem comida ou sem água. A expectativa de vida média das pessoas no meu mundo é de cem anos. Obviamente, um feiticeiro poderoso que usa sua magia de forma sábia consegue viver várias centenas de anos. E há outras diferenças pequenas.

    — Então seu mundo é mais difícil?

    — Não, só temos ameaças diferentes. Não temos a mesma tecnologia, portanto, temos que viver sem a proteção dela, e isso normalmente é feito com magia. Pelo menos, é o que fazem as pessoas que a praticam. Não temos armas nucleares. Temos máquinas que conseguem destruir o sol, mas não as usamos em nós mesmos.

    — E religião?

    — Ela existe. Todos sabem sobre os deuses e os outros mundos, mas não sobre os livros. Eles acreditam que as pessoas podem viajar apenas com a ajuda dos deuses. A religião não é mais tão importante no meu mundo. No entanto, muitos dos nossos costumes são baseados nas antigas religiões.

    — Há continentes e países em seu mundo?

    — Não, não como no seu. Há oito grandes ilhas e cada uma tem um rei. Não há cidadania nem impostos sobre a terra exceto em Mokii, mas cada ilha tem os próprios meios de coletar fundos para coisas como escolas. Meu mundo é ligeiramente maior que o seu e há muito mais terra, mas também muito menos pessoas. As ilhas Canjii e Anoshii são inadequadas para plantar alimentos, portanto, Anoshii é principalmente para comércio e vida na cidade. A magia é ilegal na maioria das áreas de Anoshii. Canjii é usada para prisões e experimentos biológicos. Canjii é um excelente lugar a evitar.

    — É bem inteligente manter as coisas biológicas prejudiciais e as pessoas más longe dos outros. Onde você mora?

    — Shomodii. Ela é menos populosa do que as outras ilhas porque o clima é muito imprevisível. E ela tem mais feiticeiros, que precisam de um espaço pessoal muito maior.

    — Como você sabe inglês?

    — Tive muito tempo para aprender.

    — E germes? Como os germes do meu planeta não matam você?

    Ele sorriu novamente. — Acha que os deuses seriam incompetentes o suficiente para deixar que isso acontecesse? — Subitamente, ele se recostou na cadeira. Percebi que nós dois tínhamos ficado inclinados para a frente.

    — E a sua atmosfera?

    — As atmosferas em todos os mundos são praticamente as mesmas, exceto Enep, Mulo e Dios. A sua atmosfera é mais seca, tem muito mais poluição e é menos densa que a minha, mas elas têm relativamente a mesma composição. Não se preocupe com isso, você se adaptará. Há três mundos em que as pessoas precisam morar no subterrâneo por um motivo ou outro.

    — Diga-me, de verdade, quer que eu seja seu aprendiz?

    Ele franziu a testa. — O livro...

    — Eu sei o que o livro quer. Quero saber o que você quer — retruquei. Edward suspirou.

    Quando ele permaneceu com uma expressão de concentração extrema no rosto por cerca de três minutos, comecei a duvidar de mim mesmo. Ocorreu-me que ele nem mesmo considerara se queria mesmo ser meu mentor. Olhei para o relógio e fiquei chocado ao perceber que só o conhecera poucas horas antes.

    Ainda assim, absorvi tudo o que ele dizia como se acreditasse naquilo, quando nada fazia sentido. A magia não existia, alienígenas que pareciam humanos certamente não existiam e Dorian ficaria furioso se eu não fosse logo para casa para alimentá-lo. Mas a ideia de partir para um mundo novo era divertida e eu sempre suspeitara de que a magia realmente existia. Com frequência, parecia que coisas estranhas aconteciam para o meu benefício ou ficavam malucas quando eu estava furioso. Talvez eu apenas quisesse acreditar naquilo tudo.

    Antes que Edward conseguisse decidir, Jean voltou, sentou-se à mesa e abriu um sorriso largo. — Desculpem. — Ela franziu a testa ao ver o hambúrguer de Edward. — Não está com fome?

    — Não, não estou. — Ele se levantou novamente. — Foi um prazer conhecer você, mas preciso ir. — Ele encostou na mochila como que para ter certeza de que ainda estava lá e olhou para mim. — E você?

    Eu sabia que ele estava, na verdade, perguntando se assinaria o livro. Eu sorri. — Quer que eu vá com você? — Ele me lançou um olhar irritado. Talvez não fosse muito sábio irritar meu possível futuro mentor.

    Eu me levantei e segui-o para fora, acenando para Jean, que comia o hambúrguer intocado de Edward. Eu provavelmente deveria ter me despedido melhor dela, pois não sabia quanto tempo se passaria até que a visse de novo... mas ela poderia achar que era um truque para pegar sua comida, o que resultaria em um protesto violento. Ficar entre Jean e a comida era algo que só se fazia uma vez.

    Quando chegamos ao lado de fora, Edward se virou para mim. O luar lançava um contorno assustador à volta dele, deixando seu rosto nas sombras. — Meu último aprendiz era alguns anos mais jovem que você. Eu estava ansioso para lhe ensinar até que descobri que ele era assustadoramente chato e não tinha nem mesmo uma criatividade básica. Claro, ele fazia tudo o que eu dizia e praticava muito, mas não conseguiu se adaptar. Ele não conseguia pegar algo que aprendera e aplicar em outra coisa.

    — Onde ele está agora?

    — Ele é o que você chamaria de advogado. — Ele se virou e começou a andar de volta para o campus. — Não deu certo. Por mais que eu quisesse ensinar, não consegui. Ele nunca confiou em mim e logo percebi que nunca confiaria nele. Ele tinha uma maneira diferente de ver as coisas e, depois de algum tempo, decidiu que não gostava da forma como eu ensinava. Portanto, é fácil entender por que estou hesitante em aceitar um novo aprendiz. No entanto, meus outros aprendizes foram todos escolhidos por decisão exclusivamente minha. Nenhum deles era um novo Guardião.

    — Bom, não posso prometer que não serei chato e sou extremamente preguiçoso. Também sou sarcástico, irritável pela manhã e praticamente um acidente esperando acontecer. Mas não vou dar uma de Darth Vader para cima de você. Pelo menos, acho que não. O poder corrompe, o que é ruim se você não tem poder nenhum.

    Edward parou, subitamente rígido, e percebi que estávamos completamente sozinhos. Não havia ninguém nem nenhum carro à vista. Em Houston, sempre havia alguém por peto. O único ruído era o vento e o alarme de um carro distante. — Precisamos ir embora. — A voz dele estava muito baixa.

    — Elas estão aqui, não estão? — perguntei baixinho.

    Ele assentiu. — Já estão caçando o cheiro.

    — As pessoas que estiveram perto de mim? Como... — Meu sangue gelou. Vivian. — Minha namorada. Elas a matarão.

    — Sim. — Ele estava tirando o meu livro da mochila e dei um passo atrás. — Não há mais tempo para decidir. Escreva seu nome ou irei embora — advertiu ele, claramente irritado pela minha falta de cooperação.

    — Vou aceitar. — Minha voz saiu mais suave e trêmula do que eu gostaria. Ele estendeu o livro, mas não o peguei. — Quando minha namorada estiver em segurança. Eu o aceito e ele me escolheu, portanto, você não pode levá-lo. Terá que me ajudar a proteger Vivian.

    O rosnado dele me fez estremecer. — Você estaria colocando o livro em perigo.

    — Eu estaria salvando Vivian!

    — É o sacrifício de alguns humanos pela vida de bilhões.

    — Seria o sacrifício de humanos inocentes que, para começo de conversa, não mereciam estar em perigo! A vida envolve riscos. Algumas vezes, o caminho seguro é o errado. É preciso cuidar dos pequenos. Alguma parte disto está entrando na sua cabeça?! — Achei que ele me derreteria com o olhar, mas, quando guardou o livro novamente na mochila, vi um toque de humor bem no fundo de seus olhos gelados.

    — Você vai ser um pé no saco, não vai? Se formos até sua namorada e as feras chegarem, elas nos verão indo embora. Talvez não vejam para onde iremos. Elas não teriam motivo para matar sua namorada.

    — Nenhum motivo? Isso não significa que não a matarão! — disse eu. Ele suspirou, mas não negou. — Não assinarei o livro antes que ela esteja segura. Não haveria nada que o impediria de me arrastar para fora daqui sem garantir a segurança de Vi.

    — Você não confia em mim?

    — Não tenho motivos para confiar — respondi. Ele não pareceu furioso nem divertido, mas apenas pensativo. — Talvez eu confie algum dia, e consigo entender como seria difícil para mim ser seu aprendiz, mas não posso confiar em você cegamente. Nós nos conhecemos há poucas horas.

    — Está bem. Como sugere que salvemos sua namorada?

    — Vamos lutar contra as feras. Assim que acabarmos com elas, iremos para o seu planeta. Quando o deus malvadão mandar mais capangas para caçar o livro, Vivian não terá o meu cheiro. Mas... se o bandidão é um deus, por que ele precisa mandar servos para nos pegar? Ele já não deveria saber o que vamos fazer?

    — Os livros são protegidos contra ele pelos outros deuses. Ele não consegue ver onde nem com quem os livros estão. Imagino que o poder de evasão do deus que permite que os servos cruzem os mundos não funciona para alguém tão poderoso.

    Subitamente, percebi o que estivera incomodando-me no subconsciente.

    — Espere. Se o livro que eu assinar é o da Terra, e o livro é um portal para a Terra, isso não faria... tipo... nada? — perguntei. Ele riu para mim, parecendo orgulhoso. — Você sabia disso, só queria ver se eu conseguiria descobrir por mim mesmo.

    — Você também terá que assinar o meu livro. Você é rápido em descobrir furos nas minhas informações. É uma qualidade muito boa para um Guardião.

    — Então, você estava me testando? — perguntei, soando mais chocado do que realmente estava. Tínhamos começado muito bem: desconfiança e enganação. Ah, merda, estou recriando o relacionamento que tinha com a Mãe.

    — Preciso saber o máximo possível sobre como você pensa, bem como seus talentos e falhas. Como seu mentor, estarei sempre testando você.

    Que divertido. — Você me avisou que o livro é perigoso, portanto, estou avisando agora para pensar bem no assunto. Tenho uma sorte horrível. Sou muito sarcástico e fico entediado com facilidade. Erros acontecem quando estou entediado. Se não me quiser como aprendiz, não aceitarei o livro. Você poderá encontrar outro Guardião, mas ajude minha namorada enquanto decide. Como matamos essas coisas? Com magia?

    — Precisaremos de mais do que magia para matá-las. Precisamos de armas e de um plano. E minha magia é limitada neste mundo. Todos os praticantes têm um ou dois mundos que não são adequados para suas necessidades de magia. Este mundo simplesmente não é certo para mim. A energia mágica dele é... fina e delicada demais. As feras são muito fortes, mas provavelmente conseguirei destruir uma delas em uma luta justa, mesmo neste mundo.

    — Você não parece muito seguro.

    — Excesso de confiança não é uma virtude.

    — Sua magia não está tão forte como normalmente é, você acha que talvez consiga destruir uma criatura e precisamos lutar contra três? Bem, então, não há nada com que se preocupar. — Ponderei se ele entendera o sarcasmo, mas a expressão dele era ilegível. — Elas têm algum ponto fraco?

    — Durante o tempo em que eu as cacei, elas não lutaram, portanto, não sei. Se acontecesse uma tempestade, eu poderia usar os raios. A maioria das feras de magia é fraca contra raios.

    Olhei para o céu

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