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A jornada do Passanda
A jornada do Passanda
A jornada do Passanda
E-book233 páginas3 horas

A jornada do Passanda

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Sobre este e-book

A vida de Pierre mudou depois que ele sofreu um acidente na floresta amazônica e acordou na toca dos cachorros-vinagres, onde descobriu que podia falar com os animais. Lá, ele recebeu a importante missão de convencer os adultos a protegerem a natureza. Ele cumpriu a missão? Como conseguiu falar com os animais? Aventure-se em A Jornada do Passanda e descubra essas respostas.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento5 de set. de 2022
ISBN9786525425672
A jornada do Passanda

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    Pré-visualização do livro

    A jornada do Passanda - Fernando Carvalho Filho

    PARTE I

    I – O que vou fazer nessas férias?

    "Nessas férias vou jogar um jogo de aventura no meu videogame novo, junto com meus primos, falou Pedrinho, com um grande sorriso no rosto. Meus pais prometeram me levar para visitar o maior zoológico do nosso país, citou Marcinha, com um brilho contagiante nos olhos. Eles disseram que vou ver animais incríveis de todas as partes do mundo, acrescentou a menina. Já eu vou voar de asa-delta com meu tio, mencionou Arthur, com o peito estufado. Uau!, falaram várias crianças em coro. Eu vou construir uma casa na árvore junto com meu pai, disse Tati. Eu vou acampar com toda minha família", frase da aventureira Juliana. E, assim, cada criança da turma da professora Edilamar cumpria a tarefa que finalizava o último dia letivo: responder, em voz alta, a seguinte pergunta: o que vou fazer nas férias?

    Esta foi a única tarefa de classe executada por todos os alunos unanimemente, sem que um reclamasse ou demonstrasse insatisfação. No entanto, naquele dia, um boné azul, acuado no canto da sala, indicava que nem todos teriam férias aprazíveis.

    — Pierre! Chegou sua vez. Diga para os seus coleguinhas o que você irá fazer nestas férias – pediu a professora.

    Ele ergueu a cabeça, olhou para os lados e notou uma plateia com olhares arregalados, esperando pela resposta que os iria liberar para as primeiras horas das tão aguardadas férias.

    — Nada não, professora – balbuciou Pierre.

    — Como assim, nada? Vamos lá, só falta você – encorajou a professora Edilamar.

    Pierre ficou alguns segundos calado, esperando que o seu silêncio despertasse na professora um desinteresse súbito pela resposta. Mas isso não aconteceu e ela ameaçou: Só vamos sair daqui depois da resposta do Pierre. Um zum-zum-zum tomou conta do recinto, forçando-o a expulsar as palavras mágicas que libertariam os seus colegas:

    — Vou viajar para visitar meu pai.

    — Que ótimo, Pierre! – exclamou a professora.

    — Ótimo nada – retrucou Pierre.

    — Como assim? Você vai viajar e ainda vai encontrar o seu pai. Isso é maravilhoso – manifestou a professora.

    — Você não tem ideia de onde ele está.

    — Então nos diga. Agora estou muito curiosa para saber.

    — Ele está vivendo no meio da floresta amazônica.

    — Ele é índio? Pesquisador? O que ele está fazendo lá?

    — Ele trabalha em uma base de extração de petróleo...

    — Petróleo? No meio da floresta?

    — Sim, professora. Muita gente não sabe, mas há muitas áreas sob o chão da floresta que são ricas em petróleo.

    Falando ao mesmo tempo, todos os alunos começaram a expressar suas opiniões sobre o assunto, resultando em uma balbúrdia que impossibilitava a compreensão de uma única palavra.

    — Silêncio! – pediu a professora, em um tom mais enfático.

    O silêncio reinou novamente. A professora, curiosa sobre a profissão do pai do seu aluno, continuou o breve e amigável interrogatório:

    — E o que exatamente ele faz nessa base petrolífera?

    — Não sei exatamente, professora, só sei que ele tem um cargo importante e trabalha na produção de projetos e na análise de pedras – tentou explicar o menino.

    — Acho que já sei o que você quer dizer, Pierre – falou a professora, empurrando com o dedo indicador os seus óculos, com lente fundo de garrafa, sobre o nariz. – Ele deve ser geólogo!

    Pierre sacudiu a cabeça para cima e para baixo, indicando ter entendido o que a professora tinha dito, mesmo sem saber se seu pai realmente era geólogo. Ela, então, tentou animar o seu aluno, informando as possíveis vantagens dessa viagem:

    — Isso vai ser muito divertido. Você terá a oportunidade de ver a floresta de perto e respirar ar puro. Além disso, poderá ver de perto várias espécies de animais e plantas, muitas entre as quais são raras e pitorescas.

    — E o que tem de legal nisso? – respondeu o menino. – A floresta é um lugar sem graça, sem nada para fazer. Além disso, não poderei levar meu videogame, não terei ninguém para brincar, já que serei a única criança por lá. E quem se importa com um monte de bichinhos?

    — Mas e sua mãe e irmã, elas não irão com você?

    — Sou filho único – informou Pierre, com uma cara de você deveria saber disso. – Além disso, minha mãe é separada e, exatamente por isso, vou ficar com meu pai, pois ela irá trabalhar em tempo integral durante as minhas férias e não terá como cuidar de mim.

    Um silêncio desanimador tomou conta do recinto e todas as crianças passaram a compartilhar da tristeza de Pierre.

    II – Bem-vindo à selva

    Por horas, a única paisagem que Pierre via pela janela era a de um infindo tapete com todos os tons de verde, produzindo nele um efeito hipnótico, já que era acostumado apenas com a monótona paisagem cinzenta da selva de pedras. Por isso, o garoto dormiu durante quase todo o trajeto até o local onde passaria suas férias ou, como ele costumava dizer, o local das piores férias do mundo. No entanto, um solavanco bruto e súbito o fez despertar assustado. Logo em seguida, vieram outros solavancos, em uma sequência aparentemente contínua, causando a impressão de que o avião estava passando por uma série de lombadas. O piloto pediu para que todos apertassem o cinto, pois estavam passando por uma nuvem carregada. Pierre não entendeu o que ele quis dizer e nem sabia que estavam prestes a pousar. Torceu para que a situação passasse o mais rápido possível, já que estava ficando enjoado com o chacoalhar do avião. Numa tentativa de amenizar os efeitos do enjoo, começou a respirar fundo e a pensar em coisas agradáveis, mas essa artimanha rapidamente fracassou, pois, com frequência, lembrava que passaria o resto de suas férias aprisionado em uma base petrolífera, isolada no meio da selva. Antes que acontecesse o que ele mais temia – que o enjoo culminasse na vontade de vomitar –, o avião tocou a pista de pouso. Pierre respirou aliviado e saiu o mais rápido que pôde.

    — Bem-vindo à selva, meu querido filho! – exclamou Roberto, de braços abertos para receber Pierre na entrada do pequeno aeroporto, o qual parecia ter sido improvisado no meio da densa floresta.

    — Oi, pai... – falou Pierre, sem muita empolgação: efeito do enjoo misturado com uma pitada de desânimo.

    — O que houve? A viagem não foi boa?

    — Com certeza não.

    — Isso sempre acontece na primeira vez. Eu também senti muito enjoo. Viagens em aviões pequenos também causam isso em mim.

    — PEQUENO? – Falou Pierre com tom irônico. – Eu estava em uma caixa de fósforo com asas!

    — Crianças são sempre muito dramáticas. Eu tenho algo para você – mencionou o pai de Pierre, apontando para uma caixa que estava no colo de um homem misterioso, que estava parado perto dele e mais parecia um agente secreto do Estados Unidos.

    Pierre, ao perceber que se tratava de um presente, arregalou os olhos e deu um sorriso. Após Roberto fazer um movimento sutil com a cabeça, o homem misterioso aproximou-se e entregou a caixa ao garoto. Depois de cumprir sua tarefa, ele se tornou ainda mais misterioso, porque desapareceu subitamente, como se tivesse evaporado. O menino, sem hesitar, abriu a caixa imediatamente. A expressão facial de Pierre mudou rapidamente e Roberto percebeu.

    — Qual é o problema? – perguntou Roberto, um tanto preocupado. – Você não gostou dos presentes que escolhi com tanto carinho?

    — Eu odeio futebol! – retrucou Pierre, emburrado.

    — Como assim? Todos os meninos adoram bolas de futebol – esclareceu o pai do garoto, movendo as mãos para cima e para baixo, como se fosse um guarda de trânsito.

    — Você não gosta de jogar uma pelada com seus colegas? Como você se diverte no final de semana? Você não pratica esporte nas aulas de educação física? – interrogou Roberto.

    — Eu não tenho muitos amigos – esclareceu Pierre, cabisbaixo e com um olhar triste. – Além disso, eu odeio esse jogo! – Pierre tentara várias vezes participar de uma partida de futebol em sua escola, mas geralmente era vetado devido ao seu porte físico (gordinho), considerado como desvantajoso pelos garotos que organizavam os times.

    Roberto ficou calado por alguns segundos, tempo suficiente para perceber que fora um pai ausente e, por isso, não conhecia muito sobre seu filho.

    — Não tem problema, nem todo mundo precisa saber jogar futebol, eu mesmo sou um perna-de-pau. – acrescentou o pai do menino, com um sorriso amarelo no rosto, tentando quebrar o silêncio perturbador que reinava naquele instante. – Mas aposto que você vai gostar do próximo presente!

    Pierre olhou para o fundo da caixa e avistou um livro e uma caixinha. Ele, então, pegou o livro e rapidamente leu o título em voz alta:

    — A-NI-MA-IS-DA-A-MA-ZÔ-NIA.

    Animais da Amazônia, guia de identificação – complementou Roberto. – Esse livro é muito legal. Com ele, você vai aprender muita coisa! E as figuras vão ajudar você a identificar os bichos que encontrar por aí.

    — Mas eu moro em uma cidade grande, onde os únicos bichos que eu vejo todo santo dia são pombos, gatos e cachorros... Às vezes, algumas grandes ratazanas, revirando os lixos nas ruas ou correndo de um esgoto para outro – esclareceu Pierre, folheando rapidamente o livro, sem entusiasmo.

    — Eu sei disso tudo, mas o livro é para ser utilizado aqui mesmo!

    — Aqui? Você está louco se pensa que eu vou me aventurar nessa selva cheia de monstros – reclamou o menino.

    — Realmente é perigoso andar sozinho pela selva. Principalmente aqui, onde ainda há muitos animais selvagens. No entanto, podemos marcar um dia para caminhar em uma trilha mais aberta, que fica próxima do alojamento.

    — Não tenho muito interesse... – retrucou Pierre – Além disso, por que ele é tão pequeno? Nunca tinha visto um livro que cabe em um bolso!

    — Esse tipo de livro é do tipo guia de bolso, ou seja, é um livro pequeno que pode ser guardado em locais de fácil acesso, como um bolso mesmo. Dessa forma, você pode pegá-lo rapidamente, se necessário – esclareceu Roberto.

    Pierre colocou o livro novo no bolso de trás da sua bermuda, comprovando que a explicação do seu pai estava correta.

    Os presentes de Roberto não tinham surtido o efeito esperado, até então: fazê-lo achar que tinha um pai atencioso e que as férias em uma base petrolífera no meio da floresta amazônica iriam valer a pena.

    — Vamos lá, abra o terceiro presente! – falou Roberto, apontando para uma caixinha que agora repousava solitária dentro da caixa de presente.

    O menino pegou a caixinha com delicadeza e a examinou atentamente antes de abri-la. Pelo tamanho e pelo tipo de embalagem, o presente não parecia algo que iria salvar o dia, e Pierre ainda continuava com seu semblante de decepção.

    — Um colar?! – questionou o menino.

    — Sim, mas não é um colar qualquer – tentou amenizar o pai. – Esse é um colar mágico e protetor. Eu o comprei de um pajé, quando fiz uma visita a uma tribo no mês passado.

    — Fala sério, pai! Você realmente acreditou nessa baboseira? Você sabe quantos anos eu tenho? Tenho 13 anos e já passei da fase de acreditar em fadas, Papai Noel e coisas mágicas... – falou Pierre, balançando a cabeça de um lado para o outro, como sinal de reprovação.

    — Está bem, gente grande. Você poderia, então, me dizer a partir de qual idade as crianças deixam de acreditar nas coisas mágicas? – questionou Roberto.

    Pierre ficou sem palavras e profundamente envergonhado. Pegou o colar e o colocou no pescoço. Só nesse momento ele percebeu que havia um pingente achatado e triangular, esculpido em um mineral verde-piscina, o qual, na sua imaginação, parecia um sapinho com olhos arregalados.

    — Vejam só! O colar caiu bem em você! – disse Roberto, tentando fazer seu filho se sentir melhor.

    — Vamos torcer para ele me trazer boa sorte enquanto eu estiver aqui... – retrucou Pierre, baixinho.

    Após as boas-vindas, pai e filho começaram a caminhar pela área residencial da base petrolífera, ou seja, a área onde estavam localizados os recintos utilizados pelos operários fora do horário de trabalho, tais como alojamentos, refeitórios, academias e salas de lazer. Havia muitas pessoas indo e vindo por todos os lados, mas poucas estavam vestidas com os trajes e as indumentárias típicas de uma área como essa: macacão alaranjado, botas de borracha, óculos protetores – que mais pareciam óculos de mergulho – e capacete branco. Ao ver tudo aquilo, o garoto logo imaginou que era como se houvesse uma pequena cidade perdida no meio da floresta amazônica, com uma civilização diferente, que logo seria descoberta por algum arqueólogo aventureiro, como o Indiana Jones, ou por um garoto curioso e entediado durante suas férias de julho.

    — Onde estão as máquinas que retiram o petróleo do fundo da terra? – questionou o curioso garoto. – Estava esperando encontrar muitas daquelas máquinas gigantescas que são parecidas com imensos cavalos metálicos.

    — As máquinas ficam em um setor restrito, afastado da área residencial da base. Ou seja, em uma área onde você não poderá ir. Além disso, aqui nós não utilizamos essas máquinas que se parecem com cavalos, que, na verdade, são bombas de sucção – esclareceu o pai de Pierre, com um pequeno sorriso. – Essas bombas são utilizadas somente em locais onde não há pressão no interior da jazida para fazer o petróleo subir.

    — Entendi – respondeu o garoto, sem ter entendido muito bem.

    Após fazerem um tour pela área residencial, Roberto parou na frente de uma porta de madeira e abriu-a.

    — Esse é o nosso quarto – falou Roberto empolgado.

    Pierre observou com atenção o pequeno recinto, com um beliche, sem televisão e com banheiro, cuja porta estava na parede oposta aos beliches. Naquele momento, ele percebeu que suas férias iriam ser piores do que imaginava: estava preso em uma cidade isolada, sem televisão, sem nenhuma criança e com uma bola – o pior brinquedo do mundo para alguém que não sabe jogar futebol.

    — Não sei como vou conseguir sobreviver – falou o menino em voz alta, enquanto deixava seu corpo cair de costas na cama, com os braços abertos.

    Em uma tentativa de animar seu filho, Roberto decidiu contar-lhe um segredo:

    — Filho, posso contar um grande segredo para você? Algo que mudará nossas vidas para sempre.

    Curioso para saber o segredo que supostamente mudaria a vida da sua família, Pierre ergueu o tronco e falou:

    — Claro que sim!

    — Mas você tem que prometer que não contará para ninguém, nem para sua mãe. Promete?

    — Prometo que não contarei nada.

    — Muito bem – falou Roberto, após apertar a mão de seu filho. – Certo dia, estava estudando umas imagens de satélite e encontrei uma curiosa mancha em forma de X em uma delas. No início, pensei em se tratar de uma falha da imagem, mas depois descobri que aquela mancha, na verdade, era uma formação rochosa com um formato muito incomum. Por isso, fui até o local, levando meu equipamento para coleta de amostras. A área era de difícil acesso, mas consegui chegar até lá e recolher umas amostras da rocha. O lugar também era sombrio e perigoso. Você acredita que, enquanto estava realizando as coletas, escutei um rugido ameaçador que arrepiou todos os pelos do meu corpo? Quando olhei para o topo das rochas, vi uma imensa pantera olhando para mim. Ela olhou fundo nos meus olhos e meu sangue congelou, mas consegui correr em segurança até o helicóptero que estava pousado em uma clareira próxima.

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