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Lifehackers: 30 depoimentos de gente que abraçou a disrupção em sua própria vida
Lifehackers: 30 depoimentos de gente que abraçou a disrupção em sua própria vida
Lifehackers: 30 depoimentos de gente que abraçou a disrupção em sua própria vida
E-book254 páginas3 horas

Lifehackers: 30 depoimentos de gente que abraçou a disrupção em sua própria vida

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Sobre este e-book

Lifehackers é um livro que exige fôlego. Não pela extensão da obra, mas pelo impacto. São 30 histórias de transformação radical da própria vida. Gente que topou dividir com o Draft mais do que exemplos do que considera sucesso. Os convidados dessa coletânea aceitaram revelar, sem capa de "super-heróis", suas viagens internas (e como saíram de lá completamente diferentes), os desafios de se reencontrar em uma nova atividade quando já se tem uma carreira consolidada e as descobertas que fizeram ao largar tudo para ir morar fora. É papo reto de pessoas que hackearam suas vidas e têm algo a compartilhar. Quem sabe agora esses aprendizados facilitem também o seu caminho. Boa leitura!
IdiomaPortuguês
EditoraDraft
Data de lançamento7 de nov. de 2022
ISBN9788584743025
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    Lifehackers - Phydia de Athayde

    — PARTE 1 —

    NOVOS MUNDOS

    As histórias de quem viajou para

    dentro de si mesmo e voltou de lá

    completamente diferente

    Empreender foi muito mais duro para a minha autoimagem do que eu podia imaginar

    Ele empreendeu um sonho que se mostrou bem diferente da realidade. Teve que vender a empresa e acaba de se tornar pai. Está feliz, vulnerável, sem planos – e com todos os planos do mundo.

    André Melman

    Há cerca de seis meses, segui para um retiro numa reserva florestal no interior da Bahia. O objetivo era permanecer sozinho, isolado no mato, sem comida por quatro dias e quatro noites. Um tipo de vision quest, ou busca da visão, uma experiência que indígenas de diferentes regiões na América encaram como um ritual de passagem, de um ciclo de vida para um novo.

    Pouco tempo antes dessa viagem, eu tinha decidido vender o Farofa.la, empresa que fundei e ajudei a construir nos últimos quatro anos – a venda se concretizou oficialmente algumas semanas antes de escrever este texto.

    E eu via esse retiro como uma possibilidade de fluir naturalmente num momento de profundas mudanças.

    Sonhei, por anos, que iria empreender com propósito, que faria a diferença no mundo e na vida de pessoas...

    Que inspiraria muitos na construção de uma visão mais consciente, coerente e integrada sobre si mesmo e do mundo.

    Sonhei que ajudaria a estabelecer vínculos verdadeiros entre consumidores, os alimentos e seus produtores. Que apoiaria um movimento de regeneração do solo e das relações por meio do incentivo aos ingredientes naturais e orgânicos, por meio do amor pelo que se cria, por meio de trocas justas e conectadas.

    Morei em fazendas orgânicas, visitei negócios inspiradores pelo mundo, tive anos de experiência como executivo em bancos de investimento, já havia até mesmo empreendido com amigos um projeto inspirador da estaca zero que resultou no filme Eu Maior (do qual me orgulho muito).

    Tudo isso para dizer que havia muita energia e expectativa antes de iniciar o Farofa.la: sonho, pesquisa, confiança, sócios iniciais e amigos investidores.

    Praticamente fundi quem eu era com a identidade sonhada pelo negócio.

    Só não percebi, na época, que era eu quem estava em construção.

    Da mesma forma que o negócio não era o que sonhei, eu também não era aquele empreendedor e gestor idealizado, que iria liderar e semear uma transformação na sociedade moderna. Não era nem mesmo o gestor que traria essas sementes para o próprio time que eu fazia parte.

    Mas eu não sabia.

    Empreender foi muito mais duro para a minha autoimagem do que eu poderia imaginar.

    Foi sofrido para um empreendedor que queria ser parte de um time cooperativo e engajado trazer retornos financeiros multiplicadores para todos os envolvidos, inspirar muita gente para uma vida com sentido, com vínculos saudáveis e nutridores.

    Que bom isso tudo, do ponto de vista de quem vai para um retiro para mergulhar nas verdades mais profundas sobre si mesmo.

    E tem também um pequeno detalhe, bem pequeno, na verdade. Ao mesmo tempo em que eu vivia as decisões sobre a venda do negócio, soube que seria pai de uma menina, pela primeira vez. Seria pai da Flora – que faz 1 mês agora quando escrevo.

    Sempre achei que seria pai em um momento de estabilidade e tranquilidade profissional. Estou aqui, rindo, enquanto escrevo isto.

    Minhas reservas financeiras já estão no fim, emoções à flor da pele. Ah, mas tem a venda da empresa, André! Na verdade, a venda foi uma saída estratégica por uma participação na empresa compradora: boa para o momento, mas não o sonhado. Nada de caixa para a transição.

    Mas, voltando ao retiro, havia muita expectativa minha com esses dias solo na floresta. Eu queria me conectar com a natureza em mim, encontrar o fluxo de vida.

    Tantas desidealizações, mas eu continuava idealizando que esse retiro seria como um sonho bom.

    E claro que não foi.

    Depois de três dias no meio da floresta, sozinho em jejum, me sentia tão conectado com tudo quanto uma mosca presa na teia de uma aranha. Eu estava infestado por carrapatos e coceiras na pele.

    Na terceira noite, caiu uma chuva torrencial, absurda, daquela que faz árvores caírem por perto. A minha barraca foi invadida por água pelo teto.

    Senti que aquele era o meu limite. Resolvi voltar antes do planejado. Saí pela trilha escura de chinelo (pois o tênis estava encharcado), com uma capa de chuva, uma pequena lanterna e um bastão de madeira para espantar cobras. Comecei a andar com muito cuidado, pois era difícil enxergar com aquela chuva toda no foco de luz.

    O que eu ainda não sabia é que no meio da trilha minha lanterna iria apagar. Lá, no meio, eu já não tinha como voltar para a barraca pela trilha fechada, e seguir em frente sem critério se mostrou um tanto desafiador quando pisei em um formigueiro.

    À noite, no meio da floresta, eu não tinha alternativas. Precisei aceitar que permanecer no mesmo lugar era a melhor escolha.

    No escuro, na chuva. Rezei rezas que achei que nem lembrava mais, dancei como índio para afugentar bichos e medos internos. Segui em frente somente horas depois, quando as nuvens foram se dissipando, com a luz da lua, e depois com os primeiros raios de sol.

    Agora escrevendo na madrugada, entre trocas de fralda, mamadas e choros da Flora, entendo melhor a minha vivência no mato. Há momentos em que a dor e o medo são muito intensos e você já não pode voltar para o que era antes, mas a clareza dos caminhos pela frente ainda não chegou. É o momento de aceitar, respirar, olhar para o que mais importa. Rezar e dançar também valem. Também é bom escrever e compartilhar. É o momento em que estou hoje.

    Neste momento, a beleza de uma recém-nascida é maior do que o medo de ainda não saber ser o pai generoso e aberto que quero ser.

    Neste momento, a riqueza dos aprendizados de um empreendedor sonhador é mais ampla que as dores das minhas frustrações e limitações.

    Sigo em frente para mais um re-start sem volta, me observando para seguir novos caminhos, já não tão idealizados. E que sejam alinhados com quem sou hoje, com humildade, e com todos os sonhos que continuam a brotar.

    E a vida se abre, para eu poder me acolher. E, quem sabe, acolher outros que se percebem sem lanterna no meio da travessia, com verdade no coração.

    André Melman, 43, é formado em engenharia civil. Trabalhou em bancos de investimento antes de empreender com propósito. Foi fundador do Farofa.la e coprodutor do documentário Eu Maior e atualmente é integrador nacional da Rede Dinheiro e Consciência.

    Para sobreviver à morte, tive que decidir se eu queria voltar a viver

    Ela estava de casamento marcado com o amor de sua vida quando um diagnóstico fatal mudou seu destino para sempre. A seguir, fala da experiência e de como foi difícil escolher seguir em frente.

    Flávia Duarte

    Em novembro de 2017, completaram-se quatro anos da minha morte. Morri sem direito a velório ou enterro. Tampouco fui cremada. Morri e tive que continuar vivendo. Passei, então, os últimos anos tentando renascer e recomeçar. Arrumei minhas malas, escolhi o destino e chegou a hora do meu parto. Deixei minha família, meus amigos, meu trabalho no Brasil e desembarquei em Barcelona há pouco mais de quatro meses. Na minha tentativa de ressurreição, achei que um novo endereço ajudaria a lapidar a essência de uma nova identidade.

    Deixei de ser jornalista, subeditora do maior jornal da capital do país, para virar uma estudante latina na Europa. Vim com planos de ficar por um ano, me dedicando a um mestrado em criação literária em universidade catalã.

    Depois que morri, aprendi a viver, e uma das lições que levo comigo é a de não me permitir a ousadia de fazer planejamentos a longo prazo.

    Por hora, só me permito desenhar esse horizonte. O que vai acontecer nos próximos 365 dias, não posso controlar, assim como me vi de mãos atadas naquele 1° de outubro de 2013.

    O anúncio de minha morte veio em forma de um diagnóstico fatal: um tumor de cérebro incurável e agressivo. A doença não estava na minha cabeça, mas ela adoeceria meu corpo e minha alma também. Era meu marido, de 36 anos, quem padecia de uma enfermidade letal. Junto com ele, naquele dia, eu me preparava para uma batalha com desigualdade de forças e sem chance de vitória.

    Foi naquele dia que ele morreu. Perdeu o gosto pela vida. O sorriso que eu tanto amava, no seu último ano e seis meses de vida, não vi mais. Foi ali que me despedi do amor que eu tinha, ao menos da forma que eu conhecia. Foi ali que também me preparei para a minha própria partida.

    Quando alguém que você escolheu para dividir sua vida vai embora, seus planos se vão junto.

    Naquele exato momento, acabava meu sonho de compartilhar uma casa e, quem sabe, construir uma família com ele. Estávamos juntos há 14 anos, mas só tínhamos nos casado em cartório e nos mudado para o apartamento recém-comprado quatro meses antes daquela madrugada em que fui acordada pelo ruído agudo provocado por uma convulsão. O tremor descontrolado do corpo dele era o primeiro sintoma de uma doença que, há anos, suspeitam os médicos, já carcomia o seu cérebro.

    Nosso casamento na igreja estava marcado para o mês seguinte, resultado da insistência dos meus pais. Da parte de minha mãe, por ela ser extremamente religiosa. Da do meu pai, porque ele queria fazer o gosto dela. Mas, no fundo, eu estava mesmo era adorando a ideia de celebrar aquela tão esperada união com direito a festa e a exibir um belo vestido de noiva.

    No dia em que descobrimos a doença, já estava tudo pago. O meu lindo vestido, comprado. Em poucos dias, eu faria o ajuste para que ele se acomodasse ao meu corpo. Os padrinhos já tinham sido avisados que abençoariam aquela união. A igreja, escolhida. As músicas também. Faltava degustar o cardápio, coisa que não fizemos porque, àquela altura, até a vida tinha perdido o sabor.

    Os convites ficaram prontos no mesmo dia em que ele entrava na sala de cirurgia para lhe abrirem a cabeça e retirarem uma amostra de massa enferma. Precisavam comprovar se, naqueles resquícios de um corpo vivo, havia mesmo uma sentença de morte.

    A festa foi cancelada. Quem pensaria em celebrar quando o que está diante de você é uma cruel despedida? Soube, quase um ano depois, que minha mãe queimou os convites que nunca vi. O vestido, ela também tratou de cuidar, mas nunca tive coragem de encará-lo ou saber onde está. Tudo isso foi embora com o homem que escolhi para ser meu marido. Meu casamento e minha nova família não faziam parte de um projeto solo e eu acabava de perder o meu companheiro daquela jornada.

    Um glioblastoma (tipo mais fatal de tumor cerebral) foi confirmado e, com ele, a certeza médica de que a briga duraria, no máximo, dois anos. Restava a fé, a esperança em um milagre. Mas ele não veio e as estatísticas da ciência foram confirmadas: um ano e meio foi o que durou a tentativa dele de resistir.

    Há dois anos e meio, ele foi embora. O dia do enterro dele, também foi o meu. Acabava, para sempre, a vida que eu tinha planejado. Tudo que eu pensava em fazer até aquele momento, desde os meus 19 anos, o incluía. Aos 33, eu não sabia como ser uma adulta sem a companhia dele. A Flávia que eu tinha conhecido, certamente não existiria mais.

    Sozinha, estive no inferno. Passei boa parte desse tempo no purgatório. Precisava decidir se buscaria o paraíso de novo, se me daria a chance de reviver. Foi o que fiz.

    Ele, que sempre adiou o presente com a expectativa de concretizar um futuro, não teve a chance de mais um dia. Eu ainda estou aqui e a morte dele me ensinou a viver diferente.

    Terapia, remédios, gente que me ama, tarólogos, autodenominados bruxos... Todos fizeram parte desse réquiem dedicado a mim mesma. Precisei me despedir do meu marido e de quem eu era ao lado dele para encontrar uma nova identidade. Nessa busca, achei que ia enlouquecer muitas vezes. Outras tantas, despenquei de novo quando achei que tinha chegado ao topo. Chorei e me cansei a perder a conta. Fiquei exausta. Pedi ajuda. Fui ajudada. Esbarrei com gente que me fez sentir viva outra vez. Encontrei aqueles que me mataram um pouquinho mais, mas, hoje entendo, me ajudaram a dizer adeus a quem eu nunca mais seria.

    O caminho foi longo e solitário muitas vezes. Descobri que autoconhecimento e resiliência são conduzidos por trilha sem fim. Mas há belas pausas para respiro e para apreciar a paisagem ao longo do trajeto. Estou vivendo justamente um desses intervalos, e a estrada me trouxe à Espanha. Desembarco aqui não em uma tentativa de fuga, mas por uma determinação de resgate.

    Vim me reencontrar, refazer planos, me apaixonar de novo pela vida e por tudo que ela pode me dar. Porque a parada final é definitiva e é impossível saber em qual esquina ela vai estar.

    Flávia Duarte, 38, é jornalista e cronista. Foi repórter do jornal Correio Brasiliense por 16 anos e acaba de voltar de Barcelona, onde foi fazer um máster de criação literária. É autora do blog (In) Confidências.

    Eu não queria viver uma vida paralela. Só que, para ser eu mesmo, precisei antes me redescobrir

    Depois de 15 anos de casamento, ele conta como foi se assumir gay e lidar com a reação da família, dos amigos e dos colegas de trabalho.

    Marcio Orlandi

    Tenho 48 anos, sou divorciado e gay assumido. Trabalhei 13 anos em uma grande empresa de consultoria, depois dez em uma gigante de cosméticos e dois em uma gigante de videogames. Passei por diversas transformações profissionais e pessoais e estou aqui para tentar dividir um pouco da minha vida e, quem sabe, ajudar alguma pessoa que esteja em uma encruzilhada parecida.

    Me formei engenheiro, mas já no final da faculdade sabia que queria trabalhar em consultoria, graças a uma experiência de mais de dois anos com o movimento Empresa Júnior (sou um dos fundadores da Mauá Júnior e também da Federação das Empresas Juniores do Estado de São Paulo).

    Acabei sendo selecionado para trabalhar em uma consultoria internacional, a Accenture, e tive experiências incríveis por todo o Brasil, além de vivência no exterior. Foram anos de muito trabalho e foco na minha profissão, recompensados com reconhecimento e promoções. Mas sobrava pouco tempo para procurar relacionamentos ou pensar na vida amorosa.

    Naquele momento, não sabia o que queria em termos de relacionamento. Acho que é hora de explicar: eu sempre soube que tinha atração por homens, mas também tinha atração por mulheres. E, naquela época, muito mais do que hoje em dia, isso era um grande tabu.

    A verdade é que me convenci de que viveria uma vida hétero e nunca daria vazão a nenhum desejo homossexual.

    Uma das maiores diversões que eu e minha turma tínhamos era dançar música country (pois é, mais uma faceta minha, dançarino country no saudoso Hollywood Project). E foi lá que conheci a menina que viria a ser minha namorada e depois esposa. De repente, lá estava eu, com 28 anos, bem-sucedido no trabalho e completamente apaixonado. Parecia que minha vida estava toda traçada.

    O namoro foi ficando sério e, no fim de quatro anos, decidimos morar juntos, ficamos noivos e casamos. Não podia ser mais feliz. A questão de sentir atração por homens estava muito bem resolvida na minha mente (pelo menos, eu achava). No trabalho, tudo ia bem também, com clientes excelentes e projetos superdesafiadores. Cheguei, inclusive, a passar mais de um ano na Argentina em um projeto e, nesse meio tempo, minha esposa decidiu deixar o trabalho e se mudou para lá comigo. Foi um ano mágico.

    Dois anos depois de voltarmos ao Brasil, algumas coisas começaram a mudar. Um dia, visitando um antigo cliente, fiquei surpreso e espantado de ver como um projeto simples que havia coordenado tinha transformado completamente a empresa e a forma como todos trabalhavam. Não podia ficar mais orgulhoso e contente, mas uma pergunta ficou na minha cabeça: como teria sido ficar no cliente e viver toda aquela transformação que

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