O Segredo Dos Allertons (Segredos Mortais): Sherlock Holmes & Companhia
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Sobre este e-book
Após consultar Sherlock Holmes, Sir Albert Allerton regressa a casa e (aparentemente) decide suicidar-se juntamente com a mulher. Sherlock Holmes terá de descobrir a verdade sobre estas e outras mortes relacionadas com um segredo da família Allerton -- mortes que podem ter sido suicídios... ou o resultado de algo muito mais tenebroso.
A série SEGREDOS MORTAIS: SHERLOCK HOLMES & COMPANHIA inclui novas versões das seguintes três histórias (duas novelas e um conto), imaginadas por Madalena Melchior e inspiradas pela obra de Sir Arthur Conan Doyle: O SEGREDO DOS ALLERTONS, O SEGREDO DE MR MARTEL e O SEGREDO DO MAJOR LEO.
Madalena Melchior
Ficção histórica, especulativa e de mistério -- muitas vezes reflectida na criação de pastiches inspirados por estilos, temas e personagens de séculos passados.
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O Segredo Dos Allertons (Segredos Mortais) - Madalena Melchior
CAPÍTULO 1
Sherlock Holmes tinha estado durante uns longos minutos em profunda contemplação do fogo que crepitava na lareira, quando de repente se virou para mim e perguntou:
— Sir Albert Allerton. O nome diz-lhe alguma coisa, Watson?
— Sir Albert Allerton? Refere-se ao Professor de Química que dava aulas em Cambridge? —respondi, endireitando-me no sofá e pousando no colo o jornal vespertino que tinha estado a ler.
— Esse mesmo — confirmou Holmes.
— Claro que me diz qualquer coisa. Diz-me muito! O trabalho de Sir Albert Allerton sobre a utilização terapêutica da digitalis é extraordinário!
— Excelente dedução, Watson. Efectivamente, é a esse Sir Albert que me refiro. O trabalho dele sobre a identificação de venenos é igualmente extraordinário. Sir Albert pediu-me que o visitasse esta manhã no hotel onde se encontrava alojado.
— Ah, então foi esse o motivo da sua ausência — comentei eu, demasiado habituado aos desaparecimentos súbitos do meu amigo para ficar preocupado. — Isso quer dizer que há um caso novo para investigar?
— Não sei — respondeu Holmes.
— Não sabe? — estranhei.
— Sei que esta minha reacção lhe deve parecer estranha, mas é a única resposta que posso oferecer — disse Holmes, observando novamente o carvão que ardia na lareira.
Retomei a leitura do jornal, convencido de que Holmes não queria, ou não podia, partilhar comigo os detalhes do caso. Porém, passado pouco tempo, ele afastou-se subitamente da lareira, sentou-se na poltrona a poucos metros do sofá e declarou:
— Ouça isto e diga-me o que lhe parece, Watson.
— Claro — disse eu, pousando de novo o jornal.
— Sir Albert Allerton quer que eu investigue a morte de uma desconhecida.
— Uma desconhecida? — repeti, com incredulidade.
— Trata-se de uma jovem mulher que apareceu morta perto da aldeia de Allerton, mas a várias milhas de Allerton Hall, onde reside Sir Albert. A Polícia está a tentar descobrir a identidade da vítima, só que aparentemente trata o caso como se tivesse sido um suicídio. A mulher terá saltado de uma ponte conhecida por atrair suicidas e, como bem sabe, a Polícia tende a seguir o caminho de menor resistência. Enfim… Sir Albert, no entanto, suspeita que se trate de um homicídio.
— Mas se Sir Albert não conhece a identidade da vítima, de onde lhe surgiram essas suspeitas? — questionei.
— Claro que Sir Albert sabe quem é essa pobre mulher! — irrompeu Holmes, levantando-se de um pulo. — Não só isso, como certamente julga conhecer a identidade do assassino.
— Santo Deus — exclamei. — Acha mesmo que Sir Albert suspeita de alguém em concreto?
— Ah, mas completamente — disse Sherlock Holmes, com um sorriso de satisfação. — Foi por isso que não aceitei o caso. Estou certo que concorda com a minha posição, Watson. Não posso aceitar investigar um caso quando o cliente decide omitir a informação mais relevante. Disse a Sir Albert que aceitaria o caso de bom grado, mas apenas se ele, por sua vez, aceitasse contar-me tudo o que sabe (ou julga saber) sobre os acontecimentos que culminaram na morte daquela jovem mulher.
— E Sir Albert, como reagiu?
— Disse-me que revelar as suas suspeitas poderia expor factos sobre a sua família que ele não gostaria que se tornassem do domínio público.
— Tenho pena de não ter estado presente nessa reunião. Poderia ter explicado a Sir Albert que, qualquer que seja esse segredo de família, dificilmente poderá ser tão escandaloso como muitos daqueles que lhe foram confiados a si, Holmes, por membros das mais distintas famílias e dos mais importantes governos da Europa — disse eu, que raramente conseguia esconder uma profunda sensação de injustiça quando a discrição do meu amigo era posta em causa.
— Foi mais ou menos isso que eu disse a Sir Albert — admitiu Holmes, com um sorriso de reconhecimento. — Garanti-lhe que o sigilo seria total.
— E, ainda assim, Sir Albert não aceitou confiar em si?
Sherlock Holmes abanou a cabeça.
— Ficou de pensar no assunto.
— Esse segredo deve ser algo verdadeiramente vexatório para ele — concluí. — Haverá alguma ligação entre Sir Albert Allerton e essa mulher que apareceu morta?
— Quase de certeza — respondeu Holmes. — Mas Sir Albert referiu ‘factos sobre a sua família’, o que me parece sugerir que haverá algo mais a esconder do que a mera indiscrição com uma jovem mulher. Seja como for, a razão pela qual não sei se há um caso para investigar prende-se com o que acabei de lhe contar, Watson. Sir Albert prometeu voltar a contactar-me assim que tomar uma decisão.
— Aguardemos, então — disse eu, apanhando o jornal que entretanto caíra no chão.
Holmes voltou a ocupar um dos seus lugares predilectos, de pé junto da lareira, como se o fogo que ali crepitava lhe murmurasse os seus segredos.
— Espero que Sir Albert decida confiar em mim e que tome essa decisão depressa — disse Holmes, ao fim de alguns minutos. — Não digo isto por mim, mas por ele.
Sem saber exactamente porquê, estas últimas frases causaram-me um súbito arrepio. Talvez tivesse sido o tom usado por Sherlock Holmes? Levantei o olhar das páginas do jornal e notei que a testa do meu amigo se encontrava sulcada por uma ruga de preocupação.