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A Coroação do Exilado: Um conto sobre a virtude
A Coroação do Exilado: Um conto sobre a virtude
A Coroação do Exilado: Um conto sobre a virtude
E-book317 páginas4 horas

A Coroação do Exilado: Um conto sobre a virtude

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Sobre este e-book

Você curte leitura juvenil sobre mitologia ou ser mitológico ou histórias com estilo medieval?Se sim, A Coroação do exilado é para quem gosta de ler livro de ficção juvenil com mitologia, fantasia e que fala de virtudes, com mensagens filosóficas, seres mitológicos e muita aventura. Um livro juvenil em uma leitura que prende o leitor.As Virtudes são um conjunto de ideias que conduzem o humano a um caminho de ações e decisões corretas. Mas, até onde esse caminho do Virtuoso pode leva-lo? Nesse plano místico onde a natureza dos atos se desenrola numa trama perigosa, Cássio, o herói de si mesmo, acorda de um longo e profundo sono pelo qual parte de sua memória desapareceu e se vê perdido e completamente isolado em uma floresta desconhecida no meio de um deserto.Ele precisará usar sua inteligência e resistência física para reconhecer e compreender onde está, para onde ir e quem ele realmente é, lutando pela sobrevivência nesse lugar repleto de ilusões mortais, armadilhas, enigmas, criaturas misteriosas, objetos sagrados, magia, além de uma entidade omnisciente hiperdimensional e sua estranha tecnologia, correndo contra o tempo para sair desse jogo surreal.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de dez. de 2022
ISBN9786500004380
A Coroação do Exilado: Um conto sobre a virtude
Autor

Arthur Carneiro

Escrito brasileiro.

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    A Coroação do Exilado - Arthur Carneiro

    A Coroação

    do Exilado

    Um conto sobre a virtude

    Arthur Carneiro

    Nova Friburgo, 2020

    1ª Edição.

    Dedico essa obra a minha querida Mãe, ao meu nobre Irmão e a Lord Vishnu, que sempre esteve presente em sua forma cósmica nos protegendo com sua luz celestial das trevas lançadas contra a verdade.

    Por Arthur Carneiro.

    O autor.

    Há uma Consciência que é a mente e a vida, luz e verdade, e o vasto espaço. Nela está contido todas as forças e desejos, e todos os perfumes e gostos. Ela cobre todo o Universo, e em silêncio tudo ama.

    (Chandogya Upanishad)

    Ele planejou fazer uma imagem móvel da Eternidade e, conforme ordenou o Céu, daquela Eternidade que permanece em Unidade ele fez uma imagem Eterna se movendo de acordo com o número, o que chamamos de Tempo.

    (Timaeus, Platão)

    Nós somos feitos da mesma matéria de que são feitos os sonhos.

    (William Shakespeare)

    Isto não é um Cachimbo.

    (René Magritte)

    Capítulo único.

    Ele acordou. Sentia-se enjoado e com a visão turva. Um pouco atordoado também, confuso, e com a boca muito seca. Mesmo assim, podia sentir a forte dor em suas costas. Desviou o olhar do céu luminoso, tão luminoso que o incomodava. Olhou por cima de seu ombro direito, girando a cabeça naquela direção. Era uma pedra e, pela sensação, devia ter ficado desacordado por um bom tempo. Estava fraco, completamente exausto. Voltou o olhar para cima e expirou profundamente, mas logo voltou a olhar para o canto da pedra em que estava deitado. Algo havia chamado sua atenção. Eram letras gravadas. Pelo seu pouco conhecimento de geologia, detectou que poderia ser quartzo, devido a uma certa transparência nos sulcos das letras. Ficou intrigado e resolveu se levantar. Escorando-se com as mãos, levantou o torso do imenso pedaço de quartzo até conseguir ficar ereto. Abriu o peito num movimento para aliviar a tensão, mas que só fez doer mais ainda. Encurvou-se e passou a mão por baixo da gola da camisa branca de malha de algodão que vestia, e a tocou. Era uma ferida. Ulcera por pressão. Ainda não conseguia ver nada no horizonte distante, só alguns borrões de cores misturadas, principalmente verde. Olhou para a esquerda e não viu nada, virou-se para direita e lá estava, um pouco embaçada, uma fonte no formato do corpo de um homem. Ele conseguiu se arrastar pelo quartzo e deslizou para fora, caindo no chão. Estava muito debilitado e as pernas não aguentaram seu peso. Arfou intensamente e o coração bateu rápido. Erguendo-se, foi em direção à fonte. A água era cristalina e saía pela boca do homem, caindo em uma cuia segurada por suas mãos. No braço direito do homem-fonte estava inscrito em grego arcaico o nome Apolo. Ele nem sequer viu qualquer detalhe e foi bebendo a água que jorrava, como um animal sedento. A cada gole, sua visão e seus sentidos ficavam mais apurados, aos poucos estavam voltando ao normal e agora ele podia dizer o que eram os borrões. Olhou em volta e se viu em uma clareira, bem no meio de uma floresta, e a pedra onde ele havia estado deitado agora parecia uma grande mesa feita de puro quartzo translúcido. Droga!, pensou, enquanto a dor dilacerava suas costas. Como que eu vim parar numa maldita floresta, e nessas condições estranhas? A sede continuava a atormentar e ele bebeu mais e mais. Parou um pouco para tomar fôlego e, apoiando-se na cuia, tentou raciocinar: Meu nome é Cassio e a última coisa que eu me lembro foi de ter chegado à Casa de Apoio depois do que o médico me disse, mais nada… Foi quando, ao levantar a cabeça, com a boca aberta pingando água em sua camisa e olhando para o alto com cara de alívio, viu um pequeno pássaro – que ele identificou como um pintassilgo – pousando na cabeça de Apolo, adornada por raios solares. Ele virou seu bico para Cassio.

    —Não é uma floresta — disse o pássaro.

    Cassio ficou parado olhando atônito pro pintassilgo, que abriu as asas e voou para longe, entre as árvores. Isso não é possível! O pássaro falou comigo e ainda por cima sabia o que eu estava pensando. Eu devo estar alucinando! Logo depois voltou a atenção novamente para a fonte e disse para si mesmo:

    — Deve ser essa água, só pode ser, deve ter alguma coisa nela que…

    Foi quando percebeu que agora estava sob a sombra de algo bem grande. Seu rosto estampava uma expressão de dúvida, estranheza e medo. Seus olhos foram arregalando-se na medida em que as enormes esculturas coloridas iam se revelando para Cassio. Ele nunca havia visto uma coisa daquelas. Elas não estavam ali antes e agora formavam uma longa fileira em meio-círculo ao redor da mesa de quartzo.

    Um jato de adrenalina tomou seu corpo e ele correu para a mata fechada. Era um tronco após o outro. Enquanto corria, preocupa-se com onde pisava, desviando dos obstáculos. Viu alguns animais pequenos, parecidos com mamíferos e insetos. O terreno era úmido, mas à medida que ele ia avançando sentia que essa umidade ia dando lugar a um solo mais seco. Sua respiração era ofegante e ele estava absolutamente tonto. É fome, pensou. Vira um pomar anteriormente e voltou cambaleante, esticando o braço com força e levantando o calcanhar um pouco. Conseguiu pegar três das frutas arroxeadas. Abocanhou-as com força e gosto, eram bem doces e o sabor era semelhante ao de ameixa. Comeu várias. Sentou ao pé da árvore para fazer a digestão e, enquanto isso olhava para si mesmo, vendo-se estava cheio de arranhões dos galhos e arbustos mortos, percebeu que sua calça preta de algodão estava rasgada na altura da coxa esquerda. Passou a mão pelos cabelos e pensou:

    Que lugar é esse, afinal? O que eram aquelas coisas? Até que tinham formas familiares para mim, mas de quê? Se bem que agora me lembro do senhor Eugenio ter falado alguma coisa comigo quando dei a notícia do médico para ele, era alguma coisa sobre aquela mania dele de ficar inventando historinhas fantásticas… Parou e colocou a mão no peito. Meus filhos, sinto falta deles, queria ao menos poder dar um abraço neles, mas aquela maldita…

    Começara a se sentir melhor, e se levantou para continuar, largando os restos das frutas no pé da árvore. Olhando para frente podia ver luz cortando as folhagens ao longe; era o limite. Foi andando lentamente até chegar bem perto da última barreira de vegetação, estendeu a mão até alcançar um véu de vinhas que caíam de cima como um pano verde claro. Ele saiu. Era um deserto. Sem sinal de vida. Apenas o chão árido, e a linha do horizonte unindo céu e terra.

    — Estou preso… —- disse, em desespero.

    Resolveu circundar o lugar. Antes marcou um X no chão com os sapatos. Horas depois tinha certeza que se tratava de uma espécie de oásis. Na metade do caminho, começou a ver o que era uma fenda cortando o deserto de um lado ao outro. Ele agora estava na borda da fenda, era um grande sulco com uns vinte metros de profundidade. Lá no fundo, entre as pedras, avistou algo acinzentado. Não deu muita importância para isso, estava cansado. Quase uma hora depois chegou ao ponto em que começara. Bufou e resolveu voltar para a clareira e ver o que era aquilo, já que não tinha como sair dali e parecia a coisa mais racional a fazer – ou morreria por insolação.

    Com cuidado, foi adentrando a clareira e percebendo agora com mais detalhes as esculturas. Elas aparentavam ter dez metros de altura cada uma e ultrapassavam a copa das arvores. Eram oito no total e bem no meio delas estava um objeto de vidro com algo amarelo dentro. Cheias de curvas sinuosas e formando arcos lisos, com aspecto de porcelana, as esculturas tinham detalhes de pedras preciosas e contornos em ouro por todo o corpo.

    — Essa parece um olho e aquela, a silhueta de um homem… — disse, baixinho.

    Lentamente foi chegando próximo da mesa de quartzo até ver o objeto de vidro. Quando se deu conta do que estava vendo ficou estarrecido e emocionalmente instável. Era repugnante para ele.

    — Quem fez isso? — falou.

    Isso tem que ter um significado, e tem algo escrito no vidro, parece que foi feito com algo afiado, pensou enquanto olhava, com a mão na testa e rosto sem expressão. Aquilo era perturbador. Correu em volta da mesa e foi ver de perto, ignorando os monumentos, mas mesmo assim aflito e com medo daquelas presenças. O que Cassio acabara de descobrir era uma espécie de ampulheta mais ou menos do seu tamanho e de grande circunferência. A parte superior da ampulheta estava repleta de criaturas cintilantes, muito parecidas com anelídeos, e ficavam se contorcendo, rastejando umas sobre as outras.

    — Esses bichos devem, juntos, ter o peso de um porco adulto — disse, observando o aglomerado fervilhante.

    Mas a parte realmente intrigante era o que estava dentro da parte inferior da ampulheta, que por sua vez estivera oculta da visão de Cassio por causa da mesa de quartzo. Lá dentro, um pequenino e lindo bebê, provavelmente recém-nascido, com alguns meses de vida apenas, dormia tranquilamente. Ele agachou-se para ver melhor. Desequilibrou-se e caiu de joelhos, espalmando o vidro da ampulheta, fazendo um som oco. A criança nem se mexeu, apenas continuava a respirar lenta e profundamente. Percebeu que no topo da cabeça lisa da criança havia uma pinta preta. Aquilo lhe chamou a atenção devido à homogeneidade da brancura dele em contraste com aquele ponto preto. Havia um líquido no gargalo que separava as duas partes, impedindo que as criaturas entrassem na parte inferior.

    — Isso é um crime! É imoral… Que doente faria isso? — gritou.

    Tudo permanecia em absoluto silêncio, diferente de antes, quando havia barulhos de folhas raspando, pássaros, grunhidos e zumbidos de insetos.

    — Como essa criança vai se alimentar? Onde está a mãe? Como ela veio parar aqui?

    Cassio se virou procurou um pedaço grande de calcário e começou a bater no vidro da parte superior da ampulheta. Bateu com tanta força que o pedaço rachou ao meio e ele, ofegante, parou e deu um soco no vidro. Nesse momento os monumentos começaram a se mexer, alterando suas formas. Cassio foi andando para trás enquanto um pequeno e agudo estalo começou, juntamente com um flash óptico. Logo em seguida outro estalo e outro e outro, e a frequência foi ficando cada vez maior até tomar conta de toda atenção consciente dele e um clarão tomar toda a sua visão enquanto caía para trás com as mãos tapando as orelhas e os olhos.

    Acordou escorado na mesa de quartzo. Estava lúcido, e lembrava muito bem do que acontecera.

    — Elas se movimentaram como máquinas… — disse para si. — Tentaram de alguma forma me impedir de salvar a criança.

    Resolveu se levantar e ir até uma delas. Viu que a base que as sustentava era feita de metal polido parecido com aço e continha relevos e gravuras em estilo rococó, e bem no meio de tudo uma palavra inscrita em baixo relevo, de onde emanava uma luz azul clara. Cassio estava nervoso e rangia os dentes, seu corpo tenso, olhava em volta e via como aquilo era um corpo estranho na clareira. Então olhou diretamente para o monumento que parecia um cavalo negro com as duas patas levantadas, pronto para relinchar e sair cavalgando com fúria. Era majestoso, sua crina dourada brilhava, descendo até sua cauda no formato de uma espada apontada para cima. Um cavalo de guerra… – pensou.

    Com cuidado se aproximou mais, os passos rangendo no chão de calcário, e espichou o pescoço para ler a palavra em luz azul: Fortitudo.

    — Fortitudo… Não sei o que significa isso. Provavelmente é latim. Eu sou péssimo em latim — falou entre os dentes.

    Continuou fitando a palavra, como se quisesse que ela falasse com ele, mas nada lhe veio à mente. Voltou a atenção para as outras estátuas. Olhou para todas e em especial para a que parecia um giroscópio. Foi até lá com cautela. esticou a cabeça, cerrou os olhos. Não havia um nome. Apenas letras desordenadas, e conforme ele mexia a cabeça elas trocavam de lugar. Foi quando percebeu que estava tudo ficando novamente turvo. O oásis começou a perder sua consistência realista e os objetos aos poucos ficavam transparentes, sumindo e aparecendo o tempo todo. Cassio se deu conta que era a sede que interferia e foi de novo até Apolo.

    Depois de tomar alguns goles de água e estar devidamente satisfeito, tudo havia voltado ao normal. O dia ia chegando ao fim e as primeiras estrelas começaram a aparecer. Uma sensação de solidão e abandono apertou o seu peito. Eu tinha uma vida… Era um industrial respeitado, e de uma hora para outra perdi tudo, família, amigos – que eu não sei se eram de verdade, emprego, um lugar pra viver… Por fim a minha saúde física, e, ao que tudo me indica, estou perdendo a sanidade também. Lágrimas começaram a cair pelo seu rosto, seus olhos vermelhos no reflexo da água contemplavam seu desamparo. Olha para mim, um fracasso chorando na frente de uma fonte em forma de homem que solta água pela boca num lugar que parece um conto de fadas ao contrário. Mas eu não sou muito de questionar não, eu acabo mesmo é aceitando tudo isso. Odeio essa merda de sociedade. Talvez seja melhor … deixa pra lá. Parou de pensar e decidiu lavar o rosto inchado e abatido. Voltou a cabeça para cima e encarou a cabeça da fonte. A água escorria pelo seu rosto e se acumulava entre seus cílios, obstruindo a imagem. O Deus luminoso. A radiância da razão e a verdade perfeita revelada. Aquele que o negar, nas trevas estará: leu na testa de do homem-fonte, em voz baixa.

    — Isso não estava aqui antes! — secou o rosto com as mãos e olhou novamente para a testa. — Ora, agora está tudo em grego! — disse, intrigado. Olhou para seu reflexo na cuia. — Só pode ser isso… — Pegou um punhado de água com as duas mãos em concha e derramou entre ele e a cabeça de fonte. Por um segundo, viu que as letras mudaram. — Sabia! — disse com ânimo, olhando para trás. — Se tenho algo a descobrir… A hora é agora.

    Primeiramente ele pensou em decifrar o que estava escrito na grande mesa de quartzo para depois empreitar nos estranhos monumentos, por uma questão pragmática, já que parecia ter bastante coisa escrita lá e com certeza seria útil para sobreviver naquele lugar.

    Procurou ao redor da clareira para ver se encontrava algum pedaço de casca côncava ou folhas que pudessem servir de recipiente para o líquido. Encontrou uma baga seca do tamanho de seu punho. Com os dedos foi perfurando e arrancando a casca. Retirou o miolo ressecado, descartou e a levou até a fonte.

    Limpou e encheu a baga. Conforme segurava a baga próxima dos olhos, percebeu que estava muito trêmulo, que não comera o suficiente, e não tinha ideia por quanto tempo e como sobreviveu sem se alimentar, pelo que as feridas indicavam. — Me parece que as arvores frutíferas estão mais para o meio da área, mas não posso ir lá agora — disse, contendo a fome que sentia. — Aqui na clareira tem formigas, larvas e alguns pássaros… E cascas velhas. No caso dos pássaros, precisaria de fogo, que eu não sei fazer… Pensando bem, acho que cru deve ser só um pouco estranho de engolir — fez uma careta, passou a mão na boca e balançou a cabeça em negação.  — Esquece a fome, porque se ela não te matou até agora não vai te fazer muito mal essa noite, e ainda tem algumas folhas que você pode comer, eu acho — falou consigo mesmo. — A prioridade é saber o que isso aqui significa.

    Decidiu então rasgar com os dentes um pedaço da manga de sua camisa. Ela era bem fina e surrada, o que facilitou o trabalho. Pegou o pedaço de tecido e enrolou, fazendo um chumaço, e umedeceu na água da fonte.

    — Isso parece que vai funcionar — disse, enquanto pingava um pouco no olho esquerdo. Foi até o braço da estátua que continha um nome em grego.

    — Apolo… — leu, confuso e com respeito agora.

    Foi até a mesa, olhando de esguio para os gigantes. Passou a mão nos desenhos entalhados na pedra. Ergueu a perna, apoiou o joelho na borda e subiu. Ficou tateando os sulcos por um tempo. Levantou-se. Olhando por cima dava para ver com clareza o que parecia ser uma lista enumerada com caracteres romanos. Mas o idioma não era familiar e parecia uma bagunça. As frases eram constituídas em vários idiomas misturados – grego, sânscrito, latim, etrusco, celta e outros, o que deixou Cassio intrigado.

    — Que tipo de autor faria uma lista desse tipo, mesmo sabendo da capacidade da fonte de decifrar? Isso não faz sentido… Ou ele é um poliglota excêntrico que acha que certas ideias devem ser ditas em um determinado idioma ou ele acha que eu sou uma porra de gênio da linguagem — disse irritado.

    — Vamos lá — virou a cabeça para cima, piscou os olhos por um momento. O céu já estava com um tom azulado escuro, cheio de estrelas, mas ainda havia claridade da lua que despontava. Pegou o pedaço de pano encharcado, levou até o rosto e espremeu. Três pingos em um olho e dois no outro. Voltou os olhos para as inscrições, que diziam:

    Bem-vindo à sua salvação.

    Você está aqui por um motivo grave.

    Isso não é um teste. É apenas uma escolha.

    I – É vetado usar a coroa antes de completá-la.

    II – Para completá-la, faça uma reverência dizendo o nome de cada virtude em uma única palavra.

    III – Siga suas ordens.

    IV – Você terá um tempo limitado de vida determinado pela vida do imortal.

    V – Ao concluir todo o processo, antes de seu tempo de vida se esgotar, será coroado e terá direito a um desejo sem restrições.

    VI – É proibido falar sobre este lugar ou revelar sua localização a qualquer pessoa.

    VII – Para voltar à sua vida normal, aguarde trinta segundos.

    VIII – Para continuar, escreva seu nome.

    No final, podia-se ler uma pequenina frase: O Ser está em todos os lugares e todos os lugares estão no Ser..

    Cassio, sem saber o que fazer, só pensava nos trinta segundos. Começou a contar o tempo. Estava disposto a abandonar esse lugar. Não estava acostumado a ficar sozinho, prezava a companhia das pessoas, era muito falante, a miséria e a desolação da vida nesse lugar eram piores do que a que ele vivia, e também não havia analgésicos ou antibióticos. Estava ficando frio e não tinha calor para o aquecer. Não era justo ficar passando, fome, frio e dor num lugar desconhecido, cheio de animais que podiam ser venenosos, carnívoros e malignos. Faltavam dez segundos. Repassou na mente a possibilidade do desejo sem restrições. Pulou da mesa, caiu, rolou pelo chão e pegou um pedaço de pedra. Segurou-se por dois segundos em frente à mesa e arranhou o quartzo, escrevendo seu nome.

    Afastou a mão que segurava a pedra com tanta rapidez que a pedra voou para longe. Ficou imóvel por um tempo, na mesma posição, com um braço aberto e o outro recolhido, olhando para os lados, esperando que algo acontecesse. Fechou os olhos e esperou mais um pouco.

    Nada realmente aconteceu. Já era noite e estava muito escuro, mal dava para ver as coisas, seus olhos ainda não se acostumaram à escuridão, além da névoa que pairava por todo lugar, fazendo movimentos suaves.

    A lua dava uma pequena iluminação ao lugar, o que possibilitava ver para onde estava indo, quando de uma trilha algo tremeluzente começou a vir em sua direção. Tinha a forma de um homem.

    O coração de Cassio começou a acelerar. Ele já estava preparado para correr, mas teve a audácia de perguntar para o humanoide feito de pontos de luz:–

    — Quem é você?! É você que está me enfeitiçando para eu acreditar nisso tudo ou você é de algum outro mundo? É o responsável por esta loucura? — disse com a voz assustada e pastosa devido à fome.

    O corpo brilhante tremeluzente piscava e mantinha a caminhada até Cassio enquanto sua luz fazia um halo a sua volta, iluminando a névoa. Quando alcançou a clareira, ele parou. Cassio curvou a cabeça, fazendo uma cara de dúvida. O humanoide de luz fez o mesmo, imitando-o, e mexeu a cabeça. Cassio balançou o braço, pulou e girou. Ele fazia tudo o que Cassio fazia, com precisão. Estava a alguns metros de distância e Cassio disse, olhando ao redor com ironia: — Vamos lá, para de brincadeira, eu estou morrendo de fome, literalmente. É mais um

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