Começar a reviver: Ditado por: Pai Benedito das Almas
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Sobre este e-book
Passando a se rebelar contra a vida, viu de longe o pai, um jornalista crítico e revoltado com sistema político da época, se tornar um homem ignorante e cruel em seus atos, indo do alcoolismo à loucura, da raiva à morte sangrenta.
Sua mãe, moça simples, passou pelos piores pesadelos. Desamparada pela própria maioridade sacerdotal da igreja onde frequentava, não resistiu aos abusos do marido e fugiu com o filho para outra cidade. Mas como a vida se encarrega de acertar as escolhas erradas, sempre há a oportunidade de um novo recomeço.
Começar e reviver traz o aprendizado de uma vida real, do encarne ao desencarne e do reflexo causado pelas próprias atitudes.
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Começar a reviver - Ricardo Errerias Morelo
Conteúdo © Ricardo Errerias Morelo
Edição © Viseu
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem a permissão expressa da Editora Viseu, na pessoa de seu editor (Lei nº 9.610, de 19.2.98).
Editor: Thiago Domingues Regina
Projeto gráfico: BookPro
e-ISBN 978-65-254-4067-5
Todos os direitos reservados por
Editora Viseu Ltda.
www.editoraviseu.com
Dedicatória
Dedico essa obra, em vida, à minha família e a todos que estiveram ao meu lado nesses últimos anos, nos momentos mais difíceis, em busca incessante da cura, do aprendizado e do crescimento. Em espirito, ao meu Avô José Manoel, a minha amada mãe Elisa por apoiar-me e acompanhar-me em todos meus sonhos e a um grande mestre da alma e da sabedoria, S. Nilson. Não se esquecendo da força e doutrina de Seu Sete Porteira. E um muito obrigado a PAI BENEDITO, pela paciência e amor para comigo, pelas longas conversas e ensinamentos, que esse Nego
foi e é um artista no ramo do conhecimento. Obrigado.
Resumo
Criança no plano espiritual, nunca havia encarnado na
Terra. Trabalhando como Erê, presente em Terreiros de Umbanda, decide que chegou a hora de frequentar a Terra pela primeira vez de corpo e alma.
Nascido no Rio de Janeiro, é obrigado a frequentar um colégio interno durante sua infância e parte da adolescência; mais precisamente um seminário para formação de padres.
Interno, passou a se rebelar contra a vida que vivia. Viu de longe o pai, um jornalista crítico e revoltado com o sistema político da época, se tornar um homem ignorante e cruel em seus atos.
Sua mãe, moça simples, de coração bom, passou pelos piores pesadelos que uma mulher poderia viver; desamparada pela própria maioridade sacerdotal da igreja onde frequentava, não mais resistiu aos abusos do marido e fugiu com o filho para outra cidade.
Seu pai, de jornalista renomado, vai do alcoolismo à loucura, da raiva à morte sangrenta.
Mas como a vida se encarrega de acertar as escolhas feitas de maneira errada, sempre há a oportunidade de um novo recomeço.
Recomeçam a vida, através deste trabalho, relacionamento e religião. Pedro conhece a Umbanda, se torna médium e dá sequência ao maravilhoso trabalho desenvolvido por Dona Ziza, velha senhora tida como oráculo da cidade onde vivia.
A história traz o aprendizado de uma vida real, do encarne ao desencarne, e do reflexo causado pelas próprias atitudes.
Prefácio
O caminho a percorrer é longo. Não se resume apenas a
essa vida que hoje está vivendo. A mudança é lenta, vagarosa, chega a levar milhões de anos.
Evoluir é aprender a ter paciência, é passar por vidas e vidas, onde cada uma delas se faz em um aprendizado singular.
Não se pula uma etapa; cada pontilhado da caneta é escrito do exato método para o entendimento do atual momento. É saber se expressar de múltiplas maneiras para que o ontem, o hoje e o amanhã absorvam o conteúdo.
Mudar, crescer e aprender é preciso. Ainda mais do que um bom estudo, é preciso aprender a ouvir, seja um amigo ou um filho, seja uma mãe ou um desconhecido, mas principalmente ouvir a Deus, deixar serem guiados por nós, espíritos que a todo o momento caminhamos ao seu lado.
É tampar os ouvidos e ouvir o que o coração pede, é fechar os olhos e ver onde o espírito chega, é deixar a carne e nos acompanhar no pensamento. Quero dizer que seguramos a sua mão e o conduzimos para a verdadeira essência da vida.
Parece simples expressar essas palavras, mas o caminho é complexo. Trazer consigo uma missão e não a abandonar o faz crescer, o faz cumprir seu papel como um ser iluminado que tu és.
A vida é feita de escolhas e não somos obrigados a quase nada, mas se a escolha for traçada de forma errada, acabamos por regredir como ser espiritual, e assim a vitória fica mais distante.
Feche os olhos e busque em seu interior o seu maior desejo. Achou? São muitos?
Abra os olhos e corra atrás dos seus sonhos, de maneira justa e digna, destrua seus medos, acabe com suas dúvidas, torne a esperança que há em ti em forças para fazer cada vez melhor.
Trace metas, caminhos e destinos. Afunde e levante, pare e recomece, mas jamais desista.
Introdução
Esse foi Pedro, que ainda criança no plano espiritual,
realizava trabalhos de auxílio em Centros de Umbanda, benzimentos, passes e purificação, ensinamentos de pureza e alegria. Ele sente em seu interior a necessidade de crescer e buscar algo diferente para sua vida. Com um estalo repentino em seu próprio julgamento, sabe que precisa de mudanças.
Erê cansado do que fez sempre? Não, um encantado, criança com vontade de ser grande, que não se contenta com o pouco e embute dentro de si a vontade da evolução, do ser e fazer algo a mais.
Ainda que muito tivesse que aprender no plano espiritual, surgia como uma erupção a lhe dominar a vontade de encarnar. Sua hora havia chegado, a oportunidade havia sido concedida.
Para aquela pequena criança espiritual, que tudo conhecia dos dois mundos, sim, o terrestre e o grande universo espiritual, diminuir suas vibrações e vir à Terra seria um fardo aparentemente pesado demais a suportar, mas que se realizado com sabedoria, voltaria aos céus reformado e concretizado como um grande homem.
Sabido que sua trajetória não será fácil, mas confiante no seu saber e na sua vontade de crescer, com justas atitudes, tem a certeza dentro de si de que irá vencer.
Capítulo 1
Duras Críticas
O que foi aquela confusão nas ruas nesse fim de tarde? Policiais enfrentando a população, de armas em punho e escudos em defesa própria. Mais um episódio onde usaram a força para calar e impor o respeito maior. Qual seria a necessidade desse desacato? Regredimos no tempo a ponto de não termos o direito nem de voltar aos nossos lares, ou somos repreendidos de forma justa por erros que não nossos, mas de nossos governantes superiores? Explicar é difícil, entender, quem sabe, daqui a longos anos. Ou seja, para o presente momento resta-nos engolir nossas falas e não sair da fila indiana para que tudo caminhe como eles querem.
— Pensativo, meu amor? O que tanto o preocupa nessa
noite?
— Você viu as manchetes dos jornais de hoje? Estão acabando com o nosso Rio de Janeiro, a polícia inibe o povo sem um direito sequer. É absurdo o que esses covardes fazem, e nada podemos fazer. Como reagir a eles? Nos calam através da força física.
— Carlos, não seja tão rebelde, acalme sua revolta, nós somos muito jovens ainda. Precisamos viver nossa vida e deixar um pouco de lado o mundo lá fora.
— Você não entende, Renata, olhe para as nossas condições após casados. Com esse governo no poder não vamos conseguir nada nessa vida. O povo precisa abrir os olhos e ir à luta pelos seus direitos.
— Vejo que você ainda carrega em seu íntimo muitas das ideias atrasadas que seu pai tinha. Poderia ter herdado apenas as partes boas. Por que, Carlos, essa rebeldia com nossos políticos? Para onde isso irá te levar? Remoendo uma raiva diariamente sem a menor necessidade. Essa luta é você com você mesmo. Temos apenas 22 anos, você já é formado e trabalha em um bom jornal, temos nossa casa, formamos uma família, tenho meu trabalho na igreja, do que mais você precisa nessa vida?
— Você não me entende mesmo. Quero justiça, quero lutar por um país justo. Nem parece que a guerra mundial acabou, pois aqui ainda continua. Veja esse texto que escrevi para minha coluna no jornal, leia, preciso abrir os olhos do povo.
— Lendo isso, penso que serei uma viúva ainda muito jovem e sem filhos. Sei como está sendo difícil esse regime que estamos vivendo, até eu mesma, no caminho da igreja, às vezes sou abordada, mas nunca me faltaram com respeito, Carlos. E mesmo você não aceitando, se hoje sofremos assim, essa represália, são por absurdos que nossos governantes passados fizeram.
Levantando de sua escrivaninha já irritado e andando pela sala, Carlos esbraveja alto:
— Jamais, Renata, jamais. Você e sua igreja enxergam tudo de maneira conformada demais, esses bispos e padres católicos de hoje rezam para aqueles que os interessam mais, se estão do lado dos militares é porque há interesse no poder.
É com amor e acolhimento que Renata destoa da raiva do marido.
— E você, meu amor, enxerga apenas com os olhos do passado de seu pai, parou no tempo em que ganhar comida e ter um teto para morar eram as melhores coisas do mundo. Se nossos padres agem por interesse, não é da nossa conta. Vamos continuar a fazer a nossa parte perante a igreja e a sociedade. Pessoas boas e más existem em todos os lugares e em todas as profissões. Olhe para nossos soldados, estão cumprindo ordens para manter seus empregos, nem todos queriam estar nessa situação; olhe também para nossos governantes, muitos deles acabam sendo vítimas de um sistema que já veio todo errado e muito, e muitos anos atrás, estão tentando fazer o melhor que sabem.
— Você fala assim, mas se meu pai não tivesse deixado essa casa, nem onde morar nós teríamos.
— Como pode ter tanta certeza disso, Carlos? Moraríamos com meus pais, construiríamos uma casa com nosso próprio esforço. Temos saúde, somos jovens, tudo daria certo. E quem sabe, se os governantes da época do seu pai não tivessem surrupiado tanto, afundando nosso país, nós não teríamos somente essa casa, e, sim mais duas ou três para gerarmos uma boa renda. Não somos nós que escolhemos, é Deus quem decide, somente Ele mostra o caminho para nossas vidas.
— Chega, Renata, chega, chega. Nunca entraremos em um acordo. Se você fosse mais crítica com a situação atual, poderíamos ter mais força para lutar.
Se aproximando e abraçando o marido, ela o acolhe em seus braços.
— E se você, meu amor, esquecesse essa sua guerra e tivesse um pouco mais de amor pelo seu lar, teríamos mais força para amar e, quem sabe, logo ter filhos e constituir, sim, uma família feliz. Apenas queria te mostrar que o erro do nosso país não é de agora. Cada um que esteve no poder tem sua parcela de culpa e isso seguirá por anos e anos à frente. Certo ou errado, temos que viver nossa vida e buscar a nossa felicidade.
Mais calmo, ele se deixa envolver pelo amor. Já com leve sorriso no rosto responde à esposa.
— Agora sei aonde quer chegar, essa história de filhos novamente. Penso que somos muito jovens ainda, preciso crescer profissionalmente dentro do jornalismo, aí sim ter condições de criar nossos filhos.
— Você já é um grande jornalista. Carlos Alberto Cintra, o maior jornalista que esse país já viu em toda sua história, do Rio de Janeiro para o mundo! Agora vamos, meu bem, deixe esses papéis de lado e vamos comer, que nosso jantar já está na mesa.
— Você sempre de bom humor. Mesmo não concordando comigo, gosto dessa sua calma. Vamos, sim, que tudo isso já me deu muita fome.
— Só lhe peço uma última coisa, meu amor. Observe o mundo de maneira diferente, não enfrente tanto o governo com suas palavras, eles estão fazendo o melhor que sabem e não quero ter um tumulo seu para rezar todos os dias.
— Você fala de maneira como se cada texto que eu público vem um soldado me dar um tiro. As coisas não são assim, Renata. Fique tranquila.
— Deus te ouça. Então deixemos essas preocupações de lado e vamos saborear nosso jantar em paz.
O ano era 1968, o país passava por uma reviravolta política intensa; a imigração vinda de outros países era constante, raças e ideais se misturavam para tentarem pôr nos eixos as vias de uma nação.
Badalado Estado do Rio de Janeiro, entrega a capital para a recém-construída Brasília, onde se cruzavam política, igreja e festas; artistas surgiam com suas ideias ideologistas e queriam impor ao país seus próprios conceitos. Por outro lado, o governo respondia rígido, tentando conter a bagunça que os Estados haviam adquirido, e ainda mais infringente, mas de maneira sorrateira, a Igreja Católica infiltrava-se por entre as brechas abertas no âmbito de retomar seu espaço na sociedade lucrativa.
Ainda que três falanges distintas, arte, política e religião teriam que encontrar maneiras das quais desconhecem para conviverem juntas. Maneiras que até os dias de hoje ainda não aprenderam.
No começo da década de 1960, a Igreja Católica, através de alguns setores dinâmicos, estaria presente nas atividades da sindicalização rural e de educação popular. Foram anos de intensa atividade social e política, e a presença da Igreja, através de seus movimentos e de seus leigos, se fez fortemente sentir. Ainda que em um período de constante evolução, era ela, a Igreja, quem opinava em muitos setores atrativos para seus