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Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 2
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Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 2
E-book746 páginas7 horas

Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 2

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Sobre este e-book

Ao longo dos séculos, o livro profético de Zacarias sofreu acusações de obscuridade e frustrou os leitores que procuravam descobrir seus tesouros. Este trabalho de Mark Boda fornece um comentário perspicaz sobre Zacarias (Capítulos 7 a 14), com grande sensibilidade para suas dimensões históricas, literárias e teológicas. Incluindo uma nova tradução do original hebraico, Boda oferece uma profunda reflexão sobre um livro do Antigo Testamento muitas vezes negligenciado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de mar. de 2023
ISBN9786559891078
Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 2

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    Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 2 - Mark J. Boda

    Comentários do Antigo Testamento – Zacarias (Volume 2), Mark J. Boda © 2023 Editora Cultura Cristã. Publicado originalmente em inglês com o título The Book of Zechariah, Mark J. Boda © 2016 por Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 2140 Oak Industrial Drive N.E., Grand Rapids, Michigan 49505. Todos os direitos são reservados.

    1a edição 2023

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Sueli Costa CRB-8/5213


    B667c Boda, Mark J.

    Comentários do Antigo Testamento: Zacarias / Mark J. Boda; tradução Edmilson Ribeiro. – São Paulo : Cultura Cristã, 2023.

    Recurso eletrônico (ePub)

    Título original: The book of Zechariah

    ISBN 978-65-5989-107-8

    1. Exegese 2. Estudo bíblico 3. Comentário 4. Pregação I. Ribeiro, Edmilson II. Título

    CDU-224.98


    A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

    Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP

    Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099 – Whatsapp (11) 97133-5653

    www.editoraculturacrista.com.br – cep@cep.org.br

    Superintendente: Clodoaldo Waldemar Furlan

    Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

    Ad majoren Dei gloriam

    Para Bruce K. Waltke

    Sumário

    Sumário do Volume II

    Prefácio do autor

    Abreviações

    Texto e Comentário

    III. Sermão, narrativa e oráculos: de jejuns a banquetes (7.1–8.23)

    Orientação à Zacarias 7.1-8.23

    A. Introdução narrativa (7.1)

    B. Narrativa e sermão parte 1 (7.2-14)

    1. Questão de delegação acerca do ritual de jejum: buscando o favor de Yahweh (7.2-3)

    2. Zacarias contesta o ritual de jejum (7.4-6)

    3. Revisão da palavra e da disciplina de Deus no passado (7.7-14)

    C. Oráculos e sermão de esperança (8.1-13)

    1. Fórmula profética (8.1)

    2. Deus salva o remanescente: oráculos (8.2-8)

    3. Deus salva o remanescente: sermão (8.9-13)

    D. Sermão parte 2 (8.14-23)

    1. Nova determinação de Yahweh (8.14-15)

    2. Exigência ética da parte de Yahweh (8.16-17)

    3. Transformação de jejuns em banquetes (8.18-19)

    4. Impacto sobre as nações: buscando o favor de Yahweh (8.20-23)

    IV. Oráculos e unidade sobre pastor-rebanho: restauração da esperança e frustração (9.1–14.21)

    Orientação à Zacarias 9-14

    A. Oráculos para Jerusalém, Judá e Efraim (9.1–11.17)

    1. Yahweh retorna em triunfo (9.1-8)

    a. Introduzindo o oráculo (9.1-3)

    b. As ações de Yahweh contra as nações (9.4-7)

    c. Yahweh acampa em Jerusalém (9.8)

    2. Yahweh apresenta seu rei a Sião (9.9-10)

    3. O retorno do povo ao reino (9.11-17)

    a. O discurso de Yahweh (9.11-13)

    b. O discurso do profeta (9.14-17)

    4. Contrastando pastores (10.1-3)

    5. Transformando Judá e José (10.4-12)

    a. Judá (10.4-5)

    b. José (10.6-12)

    6. Juízo sobre a vegetação e sobre os pastores (11.1-3)

    7. Atos-sinais proféticos de pastor e rebanho (11.4-16)

    a. Relato ato-sinal 1 e 2: o bom pastor (11.4-14)

    (1) Relato ato-sinal 1a (11.4-12)

    (2) Relato ato-sinal 2 (11.13)

    (3) Relato ato-sinal 1b (11.14)

    b. Relato ato-sinal 3: o pastor insensato (11.15-16)

    8. Juízo violento sobre um pastor inútil (11.17)

    B. Oráculos para Jerusalém, Judá e as nações (12.1–14.21)

    1. Introduzindo o Deus do oráculo (12.1)

    2. Vitória futura e purificação do povo de Deus (12.2–13.6)

    a. Vitória de Jerusalém e Judá contra as nações (12.2-9)

    b. Arrependimento e purificação para as vitoriosas Jerusalém e Judá (12.10–13.6)

    (1) Arrependimento entre os clãs (12.10-14)

    (2) Limpeza e purificação da comunidade (13.1-6)

    3. O pastor ferido, o rebanho espalhado (13.7-9)

    4. Vitória futura e submissão das nações (14.1-21)

    a. Juízo de Yahweh sobre Jerusalém (14.1-2)

    b. Juízo de Yahweh sobre as nações e o estabelecimento do governo (14.3-21)

    (1) Resumo da batalha (14.3)

    (2) Aparecimento de Yahweh (14.4-5)

    (3) Transformação do cosmos e suposição de governo por Yahweh (14.6-11)

    (4) Yahweh derrota as nações (14.12-15)

    (5) Adorando Yahweh (14.16-21)

    Sumário do Volume I

    Prefácio do autor

    Abreviações

    Introdução

    I. Texto

    II. História referencial

    A. O período babilônico

    B. Ciro (539-530 a.C.)

    C. Cambises (530-522 a.C.) e Dario (522-486 a.C.)

    D. Xerxes (486-465 a.C.)

    E. Artaxerxes (465-424 a.C.)

    III. História composicional

    A. O profeta Zacarias

    B. Zacarias 1-8

    C. Zacarias 9-14

    D. Zacarias 1-8 e 9-14

    E. Zacarias e o Livro dos Doze

    F. Composição e história

    IV. Estrutura e forma literária

    V. Alusão bíblica interna

    VI. Mensagem

    A. Deus

    B. Liderança

    C. Pecado

    D. Restauração

    E. Zacarias para hoje

    VII. Bibliografia

    Texto e Comentário

    I. Sermão e narrativa: o chamado de Yahweh

    e a promessa de retorno (1.1-6)

    A. Introdução narrativa (1.1)

    B. Sermão: Voltem para mim e eu voltarei para vocês (1.2-6a)

    C. Conclusão da narrativa: o retorno do povo (1.6b)

    II. Relatos de visão, oráculos, sinais-atos: retorno de

    Yahweh e promessa de renovação (1.7-6.15)

    A. Introdução narrativa (1.7)

    B. Relato de visão 1: visão e oráculo – cavalos

    e conforto (1.8-17)

    1. Visão: cavalos, espias e clamores (1.8-13)

    2. Oráculos: vingança e restauração (1.14-17)

    C. Relato de visão 2: visão dos chifres e dos lavradores

    (2.1-4[1.18-21])

    1. Visão: chifres (2.1-2[1.18-19])

    2. Visão: lavradores (2.3-4[1.20-21])

    D. Relato de visão 3: visão e oráculo – muros de Jerusalém

    e presença de Yahweh (2.5-9[1-5])

    1. Visão: Parando a medição (2.5-8[1-4])

    2. Oráculo: Yahweh como muro e glória (2.9[5])

    E. Oráculo: retorno do povo e de Yahweh (2.10-17[6-13])

    1. Chamado para escapar: exilados (2.10-13[6-9])

    2. Chamado para a alegria: Filha de Sião (2.14-17[10-13])

    F. Relato de visão 4: visão de Josué, sinal-ato

    para o rebento (3.1-10)

    1. Visão: cena do tribunal e da investidura (3.1-5)

    2. Visão: acusação a Josué (3.6-7)

    3. Oráculo acerca do Rebento (3.8-10)

    G. Relato de visão 5: visão e oráculo – o candelabro, as oliveiras e Zorobabel (4.1-14)

    1. Visão: o candelabro e as oliveiras – observação (4.1-6a)

    2. Oráculos de encorajamento para Zorobabel (4.6b-10a)

    3. Visão: o candelabro e as oliveiras – interpretação (4.10b-14)

    H. Relatos de visão 6 e 7: visão, oráculo, visão –

    o rolo voador e o efa voador como juízo de Deus sobre

    a injustiça e a idolatria (5.1-11)

    1. Visão do rolo voador (5.1-4)

    a. Visão: rolo voador (5.1-2)

    b. Interpretação da cena (5.3)

    c. Oráculo: juízo (5.4)

    2. Visão do efa voador (5.5-11)

    a. Descrição e interpretação da cena 1: efa (5.5-6)

    b. Descrição e interpretação da cena 2: a mulher sentada (5.7-8)

    c. Descrição e interpretação da cena 3: mulheres aladas e voo (5.9-11)

    I. Relato de visão 8: visão das quatro carruagens (6.1-8)

    1. Descrição da cena (parte um) (6.1-3)

    2. Interpretação da cena (parte um) (6.4-6)

    3. Descrição da cena (parte dois) (6.7)

    4. Interpretação da cena (parte dois) (6.8)

    J. Sinal-ato profético: relato das duas coroas (6.9-15)

    1. Fórmula profética (6.9)

    2. Exortação: produção de coroas (6.10-11)

    3. Exortação: dirigindo-se a Josué (6.12-13)

    4. Exortação: coroas como memorial (6.14)

    5. Explanação (6.15)

    Prefácio do autor

    Eu iniciei o estudo de Zacarias em meu primeiro ano de estudos no seminário, sob a tutela de Raymond Dillard, que usou Zacarias como seu exemplo para a leitura dos profetas. Olhando para trás agora, após 21 anos, posso dizer que sou grato por ter escolhido pregar o livro de Zacarias para aquela pequena congregação na extremidade da Filadélfia. Mesmo em meus estudos para o doutorado não pude me afastar para muito longe de Zacarias. Em meu trabalho de conclusão do doutorado defendi que os responsáveis pelo livro de Zacarias também produziram a oração penitencial de Neemias 9. Imediatamente após haver terminado a dissertação, voltei com determinação ao estudo de Zacarias. Nesse livro eu encontrei encorajamento e desafio, uma visão do passado, do presente e do futuro que tem nutrido a minha própria fé e estimulado o meu intelecto. Ao longo do caminho tenho desfrutado da companhia de muitos, abrangendo desde as congregações que ouviram os sermões em Zacarias, passando por estudantes que assistiram meus cursos, ouvindo e respondendo as palestras enquanto eu traduzia e interpretava esse livro, até estudiosos que têm ouvido, lido e respondido as minhas teses, artigos e livros sobre esse livro profético. Muito do que escrevi neste comentário foi encorajado por essas muitas pessoas e foi refinado por inúmeras conversas. Quero expressar os meus agradecimentos também à diretoria e ao conselho administrativo da McMaster Divinity College por me dar uma licença para pesquisa durante a qual pude completar este manuscrito. Além disso, sou grato ao editor da série, Robert Hubbard; primeiro, por me convidar a participar, e depois, por interagir com o meu material e por aperfeiçoar os resultados. Sou grato a Anthony Pyles, meu professor assistente, que trabalhou meticulosamente o meu manuscrito para transformar o texto hebraico em transliteração e que também sempre trouxe xícaras de café para o meu escritório para encorajar a comunhão e o coleguismo. Agradeço muito ao meu professor assistente Alexander Stewart por seu olhar cuidadoso sobre as provas finais e também a Steven Griffin e Andrew Dyck que cuidadosamente organizaram o índice do volume. Agradecimentos também são devidos a Allen Myers e à equipe editorial na Eerdmans por trabalhar no meu manuscrito, conduzindo-o com extrema atenção até a publicação.

    Dedico este livro ao meu antigo professor de hebraico e Antigo Testamento, Bruce Waltke, que ensinou a me dedicar a leituras atentas do texto em suas línguas originais. O trabalho fiel dele por mais de meio século produziu frutos na vida daqueles que aprenderam sob sua tutela e continuam a tradição exegética que ele inspirou.

    Espero que este comentário encoraje uma leitura atenta e cuidadosa desse livro profético antigo e, baseado em tal leitura, promova a pesquisa, a pregação e o ensino mais precisos dessa mensagem. O alvo final, contudo, é que tudo o que tenha sido escrito promova maior glória ao Deus cujo discurso e ação são retratados dentro do livro de Zacarias.

    Ego ex eorum numero me esse profiteor qui scribunt proficiendo, et scribendo proficient.

    (Agostinho, Epístola 143,2, por João Calvino)

    Abreviações

    Texto e Comentário

    Zacarias 7

    III. Sermão, narrativa e oráculos: de jejuns a banquetes (7.1–8.23)

    Orientação a Zacarias 7.1–8.23

    A. Limites literários

    Zacarias 7–8 constitui uma unidade distinta dentro do livro de Zacarias por causa dos sobrescritos proféticos que ficam em seu início e após o seu fim.¹ Zacarias 7.1 contém uma introdução narrativa com fórmulas de mensageiro e de datação semelhantes àquelas encontradas no início de seções anteriores do livro (cf. 1.1,7; veja Visão geral de 1.1-6). Zacarias 9.1, com sua fórmula maśśāʾ, contém um sobrescrito profético semelhante àquele encontrado em 12.1 (cf. Ml 1.1; veja Visão geral de Zacarias 9–14). O caráter distinto de Zacarias 7–8 como uma unidade também é demonstrado pela evidência interna. Os primeiros três versículos (7.1-3) e os seis versículos finais (8.18-23) da seção claramente estão ligados, com o primeiro compreendendo uma pergunta acerca do jejum apresentada ao profeta para a qual o último texto é a resposta.² Além do mais, 7.1-3 retrata um indivíduo com um nome estrangeiro (Shar-ezer) representando uma cidade que chega em Jerusalém para buscar o favor de Yahweh, emquanto 8.18-23 promete uma nova era em que estrangeiros de várias cidades, cujos líderes representantes à certa altura falam, irão chegar em Jerusalém também para buscar o favor de Yahweh.

    B. Composição e estrutura

    Embora essa evidência no início e fim da passagem destaque os limites da seção e a integridade desse material como um todo,³ o material restante nos capítulos 7–8 levanta questões acerca dessa integridade, e isso começa desde as primeiras palavras na resposta em Zacarias 7.5.⁴ O tópico da resposta do profeta (jejum) se adapta ao tópico da pergunta formulada pelo contingente de Betel, mas em vez de responder a pergunta diretamente, o profeta responde a uma pergunta com outra (7.5-7). Além do mais, em vez de responder a pergunta sobre a prática litúrgica de jejum, o profeta foca nas motivações internas da prática (7.5-6) antes de voltar a atenção para as questões éticas e sociais (7.9-10). Então, em vez de tratar das questões urgentes dessa presente audiência, ele fornece uma rápida análise do fracasso das gerações passadas e da consequente disciplina divina (7.7,11-14). Com 8.1 o fluxo de pensamento parece mudar para mais além, quando Zacarias anuncia uma série de mensagens de esperança futura para os habitantes da cidade de Jerusalém e para as casas de Judá e Israel (8.1-13). Zacarias 8.14 parece retornar para onde a discussão tinha parado no final de 7.14, quando Yahweh analisa seus propósitos disciplinares para com as gerações passadas antes de ele, então, anunciar uma mudança em seus propósitos no presente que irá levar a uma resposta ética por parte da audiência (8.15-17). Com 8.18-23 e sua referência aos jejuns que irão se tornar banquetes e ao influxo esperado de estrangeiros para buscar o favor de Yahweh, por fim há uma resposta para a pergunta original em 7.3 trazida pelo estrangeiro denominado Shar-ezer que estava buscando o favor de Yahweh (7.2). Essa evidência sugere que o material em capítulos 7–8 é heterogêneo, embora tenha sido ajuntado na presente forma com propósitos retóricos.⁵

    Nem todos concordariam com essa análise inicial do fluxo literário e com a integridade de Zacarias 7–8. Clark eliminou as várias fórmulas introdutórias usadas no decorrer desses capítulos como evidência de unidade retórica (veja tabela acima).⁶ Nessa visão, a frase a palavra de Yahweh veio (hāyâ ḏeḇār-YHWH) em 7.1,4,8; 8.1,18 constitui o nível mais elevado de marcador de discurso nesses capítulos, identificando cinco seções maiores no capítulo. Em um nível secundário está a frase assim diz Yahweh dos exércitos (kōh ʾāmar YHWH ṣeḇāʾôṯ),⁷ que serve para dividir essas seções em subseções marcando a conclusão de cada uma (8.6,11,17).

    Notável também é o trabalho retórico de Butterworth nos capítulos 7–8, em que ele identifica um quiasmo no capítulo (veja tabela na p. 27).⁸ A identificação de fórmulas introdutórias nos capítulos 7 e 8 tem sido útil para a identificação dos limites e subestruturas das várias seções nesses capítulos. Contudo, distinções-chave entre esses vários marcadores põem em dúvida a utilização que Clark faz deles para provar a unidade retórica. Por exemplo, por um lado Clark aponta para o caráter singular da fórmula introdutória em 8.14 (com sua adição da partícula , para) como evidência para desqualificá-la como um marcador de segundo nível, embora ignore o fato de que ao seu marcador de nível terciário em 8.17 falta a palavra eḇāʾôṯ (exércitos) encontrada em 8.6,11.

    Especialmente para o último, se esses constituem marcadores de discurso incorporados para melhorar a unidade, por que o orador usaria tal diversidade? O mais prejudicial para a teoria de Clark, contudo, são as significativas diferenças entre os marcadores de primeiro nível dele. Embora todos eles empreguem a mesma construção a palavra de Yahweh veio (hāyâ ḏeḇār-YHWH), aqueles encontrados em 7.4 e 8.18 acrescentam o epíteto divino dos exércitos (eḇāʾôṯ) e a frase a mim (ʾēlay), aqueles em 7.1,8 acrescentam a frase a Zacarias (ʾel-zeḵaryâ), e aquele em 8.1 acrescenta o epíteto divino dos exércitos (eḇāʾôṯ), mas não há continuação alguma.⁹ Em vez de sugerir unidade, esses marcadores de discurso destacam vários níveis editoriais, alternando entre alguém apresentando as palavras de Zacarias e o profeta apresentando suas próprias palavras. Novamente, a diversidade não sugere uma retórica unificada.

    Conquanto a obra retórica de Butterworth ofereça pistas para a estrutura retórica da passagem como um todo, há problemas com essas várias unidades. A primeira seção de Butterworth B (7.3-7) contém um material bastante maior e diferente de sua segunda seção B (8.19), e embora os sobrescritos sejam identificados em pontos-chave na estrutura (7.1,8; 8.1,18), o sobrescrito em 7.4 (que iria cair no meio de sua primeira seção B) é ignorado. Além do mais, essas seções dele entre essas duas seções B não seguem um padrão simples, o que fica evidente a partir de sua inclusão de seções chamadas Cd (7.11-12) e de (8.2). A separação de 8.8b (F) do material anterior no capítulo 8 é injustificada e parece ter origem no desejo de achar um centro para o quiasmo.¹⁰

    Entretanto, a pesquisa de Butterworth fornece uma base para trabalho adicional. Primeiro, pelo menos fica claro que ele destaca um inclusio [composição circular] ao redor da passagem com as referências a pessoas buscando o favor de Yahweh (A, A’) e a questão das festividades (B, B’) apresentadas em ordem reversa em 7.2-3 e 8.19-23. Além disso, outra unidade pode ser identificada, na qual um profeta se dirige diretamente ao povo em 7.5-10 (C) e 8.16-17 (C’), chamando a audiência em ambos os casos à justiça. A um passo de distância até o centro desse quiasmo ficam seções relacionadas à disciplina divina, com a primeira descrevendo a recusa de mudança pelo povo, o que causou a disciplina divina (D, 7.11-14), e a segunda anunciando a mudança divina que irá pôr um fim à disciplina (D’, 8.14-15). Contudo, não se deve ignorar a progressão linear entre essas duas seções quando 8.14 continua onde 7.14 parou. No centro desse quiasmo ficam as duas seções proféticas em 8.1-13, que apresentam pontos de ligação em termos de vocabulário. Aqui temos uma estruturação melhorada.¹¹

    Sobrescrito e fórmula de mensageiro

    a palavra de Yahweh veio a Zacarias (7.1)

    A. Busca presente do favor de YHWH (7.2)

    B. Questão acerca do jejum (7.3)

    Fórmula de mensageiro: a palavra de Yahweh veio a mim (7.4)

    C. Confrontação profética... (7.5-7)

    Fórmula de mensageiro: a palavra de Yahweh veio a Zacarias (7.8)

    C. ... Confrontação profética (7.9-10)

    D. A recusa do povo em ouvir levou à disciplina divina (7.11-14)

    Fórmula de mensageiro: a palavra de Yahweh veio (8.1)

    E. O remanescente/salvo (8.2-8)

    E’. O remanescente/salvo (8.9-13)

    D`. Disciplina divina e promessa de salvação (8.14-15)

    C’. Confrontação profética (8.16-17)

    Fórmula de mensageiro: palavra de Yahweh veio a mim (8.18)

    B’. Resposta acerca do jejum (8.19)

    A’. Futura busca do favor de Yahweh (8.20-23)

    É possível discernir um fluxo retórico geral nos capítulos 7–8 baseado em uma estruturação quiástica. Contudo, as fórmulas de mensageiro sugerem que essa forma final foi criada por um editor posterior. O sobrescrito único em 8.1 sugere que as duas seções que vêm depois dele (E, E’) são inseridas nesse lugar na retórica em um ponto posterior. A remoção de 8.1-13 traz 8.14 imediatamente após 7.14 e explica por que 8.14-15 (D’) avança de forma linear de 7.11-14 (D). O sobrescrito na terceira pessoa em 7.8 também sugere a inserção do material em 7.9-10.¹² Isso não iria desorganizar a estrutura quiástica básica do relato, uma vez que 7.5-7 constitui a primeira palavra profética para o contingente de Betel, e o fluxo do relato de 7.7 para 7.11 não é incomum. Sem 7.8-10, o relato que se estende de 7.4–8.23 (ou seja, 7.4-7, 11-14; 8.14-23) seria todo de um relato autobiográfico de Zacarias (a palavra de Yahweh veio a mim; 7.4; 8.19). Isso é apresentado pelo responsável pelos sobrescritos em 7.1,8, que forneceu o contexto histórico no qual a palavra foi entregue (7.1-3) e palavras adicionais de Zacarias em 7.9-10. A estreita ligação entre o sobrescrito histórico e as fórmulas de mensageiros em 7.1,8 e aqueles em 1.1,7 sugere que esse editor é aquele responsável pela formulação geral de Zacarias 1–8. Aquele responsável por 8.1-13 também pode ser esse editor, mas se assim for, essa pessoa foi responsável pela reunião de Ageu e Zacarias 1–8 em uma coleção (veja mais na Introdução ao comentário: história composicional e na Introdução a 8.1-13).

    C. Relação de Zacarias 7–8 com Zacarias 1–6

    Stead trata Zacarias 7–8 como uma recapitulação de Zacarias 1–6, identificando a forma em que as várias seções dos capítulos 7–8 expressam a mesma mensagem [...] em uma forma mais prosaica.¹³ Assim sendo, 7.1-14 ecoa 1.1-6 (a ira de Yahweh contra os ancestrais e suas consequências), 8.1-15 repete 1.7–4.14 e 6.9-15 (o retorno de Yahweh para habitar em Jerusalém, resultante da reconstrução do templo), 8.16-19 reflete o capítulo 5 (implicações para o povo dele) e 8.20-23 alude a 6.1-8 (implicações para as nações). Assis limita essa estratégia de recapitulação a Zacarias 8, identificando esse capítulo como uma revisão e assimilação de Zacarias 1–6.¹⁴ Essas duas obras enfatizam um papel importante desempenhado por Zacarias 7–8 à medida que ele busca reunir linhas-chave que são desenvolvidas na primeira parte do livro. Embora as ligações apresentadas por Stead e Assis em alguns pontos sejam muito gerais e temáticas, sugerindo que nem todos os elementos em Zacarias 1–6 são trazidos ao presente nessa perícope transicional nos capítulos 7–8,¹⁵ não há dúvida de que os capítulos 7–8 destacam ênfases-chave dentro dos capítulos anteriores a fim de mostrar a relevância permanente deles e combiná-los de modo que sirvam a uma agenda ética.¹⁶ Além do mais, 8.9-13 ecoa o livro de Ageu, revelando uma estratégia retórica para recapitular ou revisar/sistematizar todo o corpus Ageu 1–Zacarias 6.

    Em vez de atar as muitas linhas a fim de encerrar o(s) livro(s) nesse ponto, os capítulos 7–8 na verdade deixam o(s) livro(s) aberto(s) pela interligação das várias linhas e mostram que a restauração profetizada nos relatos de visão (1.7–6.15) e no livro de Ageu continua dependente da total concretização do arrependimento exortado na perícope de abertura (1.1-6). Esse papel é previsto pelo versículo final da seção de relato de visão (6.15). (Sobre o relacionamento de Zacarias 7–8 com 9–14, veja Orientação a Zacarias 9–14.)

    D. Intertextualidade

    Zacarias 7.1–8.23 continua a prática do livro de Zacarias de basear-se nas tradições e materiais bíblicos anteriores. O material fundamental de 7.1-14 e 8.14-23 reflete a influência do profeta anterior Jeremias, com foco particular no sermão do templo por Jeremias em Jeremias 7, a confrontação entre o rolo de Jeremias e Jeoaquim (no dia do jejum) em Jeremias 36 e a mensagem de Jeremias àqueles reunidos no templo provenientes das cidades de Judá em Jeremias 26. A influência do profeta Isaías passa para o primeiro plano em 8.14-23, primeiro na alusão a Isaías 1.1-20, com seu ataque às atividades de culto acompanhadas por injustiça, depois na alusão à linguagem de júbilo compartilhada por Isaías e Jeremias, e finalmente na alusão à tradição de peregrinação das nações em Isaías 2.3 e 45.14. O material fundamental de 7.1-14 e 8.14-23 também reflete duas tradições litúrgicas-chave que são relevantes para a questão do povo e a resposta do profeta. Zacarias 7.1-14 foi influenciado pela tradição de oração penitencial-chave que parece estar por trás das práticas de jejum discutidas pelo profeta e do contingente de Betel. Zacarias 8.14-23 é influenciado pela liturgia de entrada do salmo 15, uma liturgia usada no contexto da comunidade entrando nos átrios do templo. Ao usar esses materiais antigos de Jeremias, Zacarias conduz a comunidade de volta às ruas de Jerusalém nos dias finais do reino, oferecendo a esperança de que, se a presente geração responder, eles irão quebrar as condições duradouras criadas pela desobediência de uma geração anterior. Ao usar elementos da tradição de oração penitencial, Zacarias está sutilmente chamando o povo para abraçar completamente o objetivo da tradição litúrgica que finalmente iria pôr um fim aos jejuns e abrir o caminho para os banquetes pelos quais eles ansiavam. Ao usar elementos da tradição da liturgia de entrada, Zacarias está relembrando ao povo a exigência de santidade que era essencial para uma comunidade que iria entrar no templo então em construção.

    Apesar dessas seções suplementares em 8.1-8 e 8.9-13 serem em grande parte dominadas por materiais anteriores de Zacarias e Ageu, pode-se identificar até mesmo a influência dos profetas anteriores. Dessa forma, em 8.1-8 vê-se especialmente a restauração das esperanças de Jeremias 30–33, Isaías 1, Isaías 40–66 e Ezequiel, embora o sermão suplementar de 8.9-13 reflita a influência da descrição, por Jeremias, da comunidade amaldiçoada. Essa interligação das mensagens anteriores de Ageu e Zacarias com o testemunho profético pré-exílico estabelece o lugar dessas duas figuras do período persa entre os profetas.

    A. Introdução narrativa (7.1)

    1 E aconteceua que, no quarto ano de Dario, o rei, a palavra de Yahweh veiob a Zacarias, no quartoc do nono mês, em quisleu.

    a. A introdução da narrativa é diferente daquelas encontradas em 1.1,7, uma vez que aqui wayeé usado como uma introdução narrativa e não apenas hāyâ como um verbo retratando o recebimento de revelação em 4.8; 6.9; 7.4,8; 8.1,18 (todavia, veja o seu uso dentro do discurso de 7.12).

    b. A frase hāyâ ḏeḇār-YHWH ʾel-zeḵaryâ muitas vezes é considerada uma interpolação, já que ela divide o sobrescrito cronológico; cf. Mitchell; Smith, Powis; Brewer. Haggai, Zechariah, Malachi and Jonah, p. 195. Contudo, todo o testemunho antigo afirma que ela é original e genuína.

    c. A palavra yôm [dia] não é usada, algo que frequentemente acontece (veja GKC §§134.n, 134 p.; Davidson §38.c.1; cf. Gn 8.5; Lv 23.32; Ez 1.1).

    1 Zacarias 7 começa com o terceiro sobrescrito de narrativa profética encontrado no livro de Zacarias. Os dois sobrescritos anteriores em 1.1 e 1.7 compartilham com 7.1 uma fórmula de datação relacionada a um ano e mês no reino do imperador persa Dario, uma fórmula revelatória que combina o verbo hāyâ (veio) com a frase eḇār-YHWH (a palavra de Yahweh) seguida por zeḵaryâ (a Zacarias). Como 1.1 e 1.7, o texto de 7.1 segue o modo de sobrescritos proféticos que funcionam para introduzir uma narrativa (veja 1.1-6; Ez 1.1; Jn 1.1). Da mesma forma que 1.7 e diferente de 1.1, Zacarias 7.1 identifica o dia específico dentro do mês e ano do imperador persa e fornece não somente o número do mês, mas também o nome do mês. Em contraste com 1.7, contudo, Zacarias 7.1 separa a citação do ano da citação do dia e do mês por meio da inclusão da frase hāyȃ ḏeḇār-YHWH ʾel-zeḵaryâ (a palavra de Yahweh veio a Zacarias), uma característica que sugere a muitos que essa frase é uma interpolação (veja tradução acima), mas que ligamos à dependência dessa passagem na tradição de Jeremias (veja Visão geral). Além disso, embora 1.1 e 7 comecem com uma oração circunstancial seguida pelo verbo de conjugação sufixal hāyâ (veio), Zacarias 7.1 começa com a construção de base narrativa clássica wayehî (e aconteceu que) antes de fornecer a oração circunstancial seguida pelo verbo de conjugação sufixal hāyâ (veio). A presença de waye(e aconteceu que) e hāyâ (veio) sugere redundância, e provavelmente é evidência de processo editorial que une o livro.¹⁷ A construção wayeé usada no decorrer de Zacarias 1–8 em certos pontos para retratar o recebimento de revelação, e esses vários contextos (4.8; 6.9; 7.4,8; 8.1,18) compartilham várias características que sugerem atividade editorial comum. Dessa forma, uma descrição original do evento narrado em Zacarias 7–8 (veja mais abaixo) é incorporada no corpus mais amplo de Zacarias 1–8 por meio da construção narrativa wayehî. O aparecimento do sobrescrito, bem como o emprego de waye, identifica Zacarias 7 como uma junção-chave no livro.

    Esse wayehî (e aconteceu que) mira primeiro o contexto mais imediato de 6.9-15. Ali se encontra waye(então veio; 6.9) introduzindo um episódio revelatório que conclui o complexo de visão-oráculo em 1.7–6.15. Nesse episódio, o profeta lembra aos sacerdotes o papel deles ao lado da figura vindoura do Rebento em relação à construção do templo e ao governo da província. A mensagem termina com o lembrete de que aqueles que estão longe irão vir para reconstruir o templo, e que tal reconstrução será cumprida somente "se vocês obedecerem totalmente (šāmôaʿ tišmeʿûn) a Yahweh, seu Deus" (6.15). Essa condição de obediência, portanto, precede imediatamente o waye(e aconteceu que) de 7.1, que introduz um encontro profético que enfatiza a necessidade de obediência pela presente geração (veja šāmaʿ em 6.15; 7.11-13; cf. 8.9). Em 6.15, a reconstrução do templo está, por isso, indissoluvelmente ligada à obediência a Yahweh conforme descrito no início em 1.1-6 e na seção que segue em 7.1-14.

    A ligação entre 6.9-15 e 7.1–8.23 já foi observada na consideração de 6.1-8 e 6.9-15. Lá foi defendido que o padrão-chave associado com a guerra divina na Bíblia e no antigo Oriente Próximo pode ser identificado em 6.1–8.23, começando com batalha (6.1-7), seguido por vitória (6.8), reinado e construção de casa (6.9-15), e celebração (profetizada, 7.1–8.23).¹⁸

    O wayehî (e aconteceu que) junto com o sobrescrito aqui também cria uma ligação com os dois sobrescritos anteriores em 1.1,7. Esses primeiros dois sobrescritos narrativos, ambos localizados dentro do segundo ano do reinado de Dario, introduzem seções que retratam uma resposta penitencial humana (1.1-6) seguida por uma declaração divina de retorno e promessa de renovação, anunciada pela primeira vez nos discursos divinos de 1.7-17 e então completados nas visões e oráculos que vêm em seguida (2.1[1.18]–6.15). Com 7.1, contudo, há uma mudança para o quarto ano do reinado de Dario, e a reabertura da narrativa por meio de wayeintroduz essa mudança. O retorno para estrutura semelhante, vocabulário e temas vistos na mensagem de 1.1-6a e a ausência de qualquer descrição de resposta pública (como em 1.6b) sugerem que os sinais iniciais de arrependimento não perduram e/ou não representavam a comunidade mais ampla em Yehud.

    Os indícios dessas duas falhas na resposta penitencial podem também explicar dois outros contrastes entre o sobrescrito narrativo em 7.1 e aqueles em 1.1,7. Primeiro, diferente dos dois sobrescritos anteriores, 7.1 não fornece a linhagem de Zacarias (filho de Baraquias, filho de Ido) ou sua vocação (profeta). Isso pode ser simplesmente um sinal de criatividade literária, mas também pode sinalizar uma mudança no status social de Zacarias. A mensagem negativa de Zacarias, que começa em 7.5, é direcionada ao povo da terra e aos sacerdotes. O primeiro grupo, o povo da terra, sugere um grupo mais amplo que abrange regiões por toda a província de Yehud e além da capital reemergente em Jerusalém (veja abaixo). O grupo de Betel representaria esse grupo. O segundo grupo, os sacerdotes, representaria aqueles no coração da elite emergente conduzindo a província de Yehud e centrados ao redor do templo, em Jerusalém. Há sinais no livro de Zacarias como um todo de uma mudança gradual no relacionamento entre Zacarias e pelo menos esse segundo grupo de sacerdotes.¹⁹ É possível que o abandono de seu patronímico [nome ou apelido de família originário do nome do pai] sinalize uma clara quebra de seu clã. Quando Zacarias 7 começa, a narrativa positiva que começou o livro agora deve tomar uma direção diferente. Há sinais no decorrer de 1.7–6.15 de que nem tudo foi resolvido no início do livro, mas agora o que estava sob a superfície será vocalizado por Zacarias à medida que ele se distancia desses grupos e confronta líderes-chave dentro da província com uma mensagem que ecoa sua mensagem inicial no segundo ano do reinado de Dario e aquela dos profetas anteriores.

    Segundo, conforme notado no comentário em 1.1,7, o fato de essa passagem ser datada com referência a Dario, um imperador persa, em vez de um rei davídico, como era a prática de livros retratando profetas anteriores, enfatiza a situação radicalmente nova da comunidade judaica no tempo de Zacarias.²⁰ Um contraste-chave entre 1.1,7 e 7.1 é que, conquanto o imperador seja mencionado apenas como Dario em 1.1,7, aqui em 7.1 ele é mencionado como Dario, o rei. Embora os temas reais sejam essenciais para os relatos de visão em 1.7–6.15, com expectativas elevadas pela renovação do governo davídico, especialmente nas visões 4 e 5 (capítulos 3–4) e no relato ato-sinal profético final em 6.9-15, temas reais estão ausentes dos capítulos 7–8. Pode ser que a inclusão de o rei em relação a Dario reflita uma sensação crescente de que o governo davídico não será concretizado, pelo menos a curto prazo.

    Quarto dia, mês nono, e quarto ano de Dario se relaciona ao 7 de dezembro de 518 a.C.²¹ Isso é apenas pouco mais de dois anos depois da primeira mensagem de Zacarias (1.1) e um pouco antes de dois anos desde que Zacarias experimentou, ou pelo menos revelou, os relatos de visão no centro de 1.8–6.15 (1.7). Isso é apenas dois anos desde o lançamento de fundação do templo em Jerusalém (Ag 2.10-23; cf. Ed 3.8-13) – um sinal-chave da conclusão do primeiro período da construção²² – e dois a três anos anteriores à conclusão do templo (Ed 6.15).²³ O período de quatro anos a partir do lançamento de fundação para conclusão parece excessivamente longo, mas há indicações em Esdras 3–6 de que o projeto enfrentou alguma oposição de forças externas dentro do império, e em Ageu 1-2 e Esdras 3 que havia oposição por parte das facções dentro da comunidade. O evento que fundamenta Zacarias 7–8 ocorre na metade da construção do templo.

    O nono mês é aqui identificado por seu nome babilônico, quisleu (babilônio kislimu; cf. Ne 1.1). Tal uso de nomes babilônios é comum em textos relacionados ao período persa (nisã em Ne 2.1; Et 3.7; sivã em Et 8.9; elul in Ne 6.15; tebete em Et 2.16; sebate em Zc 1.7; adar em Ed 6.15; Et 3.7,13; 8.12; 9.1,15,17,19,21). No livro de Ester, tais nomes são acompanhados pelo número do mês (Et 2.16; 3.7,13; 8.9,12; 9.1). Embora o método de numeração dos meses domine o AT e o de nomear meses usando nomes babilônios domine livros que retratam o período posterior, há um método que usa o que parece ser nomes de meses canaanitas (e.g., abibe o primeiro mês em Êx 13.4; zive o segundo mês em 1Rs 6.1; etanim o sétimo mês em 1Rs 8.2; e bul o oitavo mês em 1Rs 6.38).²⁴ O uso de nomes de meses pelo poder imperial que pôs um fim no reino de Judá é evidência adicional das novas circunstâncias imperiais em que Zacarias e sua comunidade viviam.

    B. Narrativa e sermão parte 1 (7.2-14)

    Embora represente uma nova fase do corpus profético, Zacarias 7–8 ecoa muitos dos temas desenvolvidos até esse ponto no livro de Zacarias (veja Orientação a Zacarias 7.1–8.23). Há muito se nota que 7.1-14 revela incríveis semelhanças com 1.1-6.²⁵ Beuken focou sua atenção no material oral encontrado nessas passagens e ligou esse material a uma forma chamada de Sermão Levítico (die Levitische Predigt).²⁶ Em trabalho anterior, Von Rad, Noth e Ploger tinham identificado tais sermões na história deuteronômica e especialmente nos livros de Crônicas.²⁷ O(s) responsável(eis) por Crônicas havia(m) usado qualquer oportunidade disponível para incorporar tais discursos no relato dele(s), não somente na forma dos sermões, mas também cartas, análises históricas, e até orações.²⁸ Esses sermões eram vistos como possuindo vocabulário, tópicos e estilo comuns (especialmente encorajadores) e empregando técnicas parecidas de citação a material bíblico anterior, ou alusão a ele (seja legal ou profético). A identificação de Beuken dessa forma em Ageu e Zacarias 1–8 era um fundamento importante para sua teoria de que Ageu e Zacarias 1–8 se desenvolveram dentro do mesmo ambiente social que aquele implícito nos livros de Crônicas. Em contraste com Beuken, Petersen identificou em 1.1-6 e 7.1–8.23 exemplos do que Lohfink havia anteriormente chamado de historische Kurzgeschichte e Petersen de breve narrativa histórica apologética, que são também encontrados em Jeremias 26, 36 e 37–41.²⁹ Esses relatos apresentam um profeta declarando a Palavra de Deus ao povo.

    Essas duas correntes de estudo são úteis para compreender o material encontrado em 1.1-6 e 7.1-14 (8.14-23). Trabalho posterior tem demonstrado que o sermão levítico não é uma característica exclusiva do(s) responsável(eis) por Crônicas (sem falar dos levitas), mas em vez disso reflete as formas de discurso judaico no período persa.³⁰ Entretanto, essa análise crítica formal destaca características-chave do material de sermão que se encontram no centro de 1.1-6 e 7.1-14 (8.14-23). Ambos os sermões aplicam material profético anterior à comunidade do período persa e exigem uma resposta. Petersen e Lohfink revelam como esse material de sermão é incorporado em uma típica forma de historiografia profética.³¹ O fato de que o texto dos sermões de prosa encontrados em 1.1-6 e 7.1-14 (8.14-23) e a forma historiográfica usada para apresentar Zacarias podem ser identificados no profeta Jeremias destaca o papel-chave que esse profeta anterior desempenha dentro dessas duas seções de Zacarias.

    A combinação de narrativa apologética e sermão em prosa é destacada pela estrutura comum compartilhada por 1.1-6 e 7.1-14 (8.14-23).³² Ambas as passagens começam com uma breve mensagem de desafio à presente geração (1.3; 7.5-6), continuam a revisar a mensagem dos profetas anteriores (1.4a; 7.7-10), depois descrevem a resposta da geração anterior a quem esses profetas falaram (1.4b; 7.11-12b), antes de revisar a consequente disciplina de Deus (1.5-6a; 7.12c-14; 8.14).

    Entretanto, os dois relatos não são idênticos. Primeiro, diferente de 1.1-6, que começa de forma bastante abrupta e termina com uma narrativa sobre a resposta do povo, Zacarias 7–8 começa com uma narrativa sobre a aproximação do povo, mas não termina com uma resposta do povo. Segundo, Zacarias 7.1-14 (8.14-23) faz com que 1.1-6 seja pequeno em tamanho. E por fim, Zacarias 7.1-14 (8.14-23) é mais específico quanto às questões que necessitam ser abordadas pela comunidade. Enquanto que 1.1-6 fala de forma bastante geral do retorno de Yahweh e da conversão dos maus caminhos e das más atitudes, o texto de 7.1-14 (8.14-23) foca na questão específica de justiça social.

    Essas diferenças são essenciais. A ausência de qualquer descrição da resposta do povo, especialmente após a resposta ideal inicial em 1.6b, implica que a audiência de Zacarias não respondeu, e deixa a audiência literária com as exortações e advertências no relato como convites permanentes para responder a mensagem de Zacarias e como explicações para os desafios permanentes para a restauração evidente em Zacarias 9–14. A dimensão de 7.1-14 (8.14-23) resulta na descrição positiva de 1.1-6, sendo por fim ofuscada pelos desafios enfrentados em 7.1-14 (8.14-23). Embora muita esperança seja expressada no restante de Zacarias 7–8, o texto de 7.1-14 (8.14-23) revela que certas questões ameaçam a concretização dessa esperança. E o foco em especificidades revela as questões que arruinaram a total restauração prevista no início de Zacarias (1.1-6-17).

    Em todo o texto de 1.1-6 e 7.1-14 encontra-se gênero, estilo e vocabulário parecido com o que é encontrado no livro de Jeremias, e particularmente no que muitas vezes é identificado como seções de prosa dentro daquela tradição profética – as quais no passado estiveram ligadas com a corrente de tradição histórica mais ampla de deuteronomismo. Ligações com essas tradições no decorrer de 7.1-14 serão enfatizadas no comentário a seguir. Ainda que parte do vocabulário possa ser identificada em outras correntes de tradição no AT, a corrente que é comum a grande parte do vocabulário é aquele da prosa deuteronômica de Jeremias.³³ Petersen acha interessante que tantos paralelos com essa retórica apareçam no livro de Jeremias – e mais particularmente na assim chamada prosa de Jeremias – e mesmo assim conclui que continua difícil argumentar que Jeremias fosse particularmente importante para o escritor de Zacarias.³⁴ Em parte, isso se deve à visão dele das origens e datação desse material em Jeremias. A evidência, contudo, sugere que Zacarias está se baseando no livro de Jeremias ou que os dois trabalhos surgem a partir do mesmo grupo. Que o primeiro se encaixa na evidência é sugerido pela autopercepção em 1.1-6 e 7.1-14 de que a voz profética se baseia nos profetas anteriores, ainda que as palavras sejam apresentadas de formas criativas.

    Uma passagem específica dentro de Jeremias que parece ter exercido considerável influência em 7.1-14 é aquela do sermão do templo em Jeremias 7.³⁵ Stead observa uma série de ligações-chave, interligando Zacarias 7.9-10 com Jeremias 7.5-6, Zacarias 7.11-12a com Jeremias 7.24-25, Zacarias 7.12b com Jeremias 7.20,29 e Zacarias 7.13 com Jeremias 7.13,16. No sermão do profeta anterior Jeremias desafiou uma visão ‘mecanicista’ do templo que considerava o templo em si como uma garantia da presença de Yahweh. Por isso, aqui, Zacarias busca mostrar que a mera conclusão do templo não irá garantir o retorno de Yahweh para habitar com seu povo, mas deve ser acompanhada pela transformação ética das pessoas.³⁶

    Outra passagem em Jeremias também parece desempenhar um papel em 7.1-14. Embora Lohfink e Petersen liguem 7.1-14 a Jeremias 26, 36, e 37–38 no nível de gênero (veja acima), há evidência de que o texto de 7.1-14 é influenciado diretamente por essas passagens. Em Jeremias 36, o profeta recebe uma instrução de Yahweh no quarto ano do rei Jeoaquim (36.1), e suas profecias são escritas em um rolo com o propósito de chamar as pessoas ao arrependimento (36.2-3,7). Esse rolo deve ser lido pelo escriba de Jeremias, Baruque, em um dia de jejum, quando todas as pessoas viriam de suas respectivas cidades (36.6). Esse dia de jejum é datado no nono mês do ano seguinte do reinado de Jeoaquim (36.9,22). No relato de Jeremias, o rei iria responder por destruir o rolo em pedaços (36.20-26), motivando a substituição desse rolo por outro (36.27-32). Zacarias 7.1-14 e Jeremias 36 são semelhantes na datação, ligando a mensagem profética ao quarto ano e nono mês.³⁷ Ambas as passagens se referem às práticas de jejuns ligadas à destruição de Judá pelos babilônios, com Jeremias antecipando a destruição e Zacarias relembrando isso. Ambas as passagens retratam as pessoas ouvindo as profecias de Jeremias sem o profeta estar presente.³⁸

    Jeremias 26 também contém ligações com 7.1-14 (e sua continuação em 8.14-23) que se estende para além do gênero compartilhado por eles. Jeremias 26 apresenta a mensagem do profeta àqueles que tinham se reunido na casa de Yahweh provenientes de todas as cidades de Judá durante o reinado de Jeoaquim (Jr 26.1-2). A esperança é que o povo iria se arrepender, para que Yahweh pudesse se arrepender (nāḥam Niphal) de seu plano de trazer o mal (rāʿâ) sobre o povo (26.3,13). Faz-se referência ao fracasso do povo em ouvir (lōʾ šemaʿtem) as palavras de meus servos, os profetas (ʿaḇāḏay hanneḇîʾîm, 26.5). Essa mensagem leva a uma séria ameaça à vida de Jeremias (26.10-24), mas o que poupa a vida dele é a evocação em 26.19 da confrontação de Ezequias por Miqueias que levou aquela geração anterior a temer Yahweh, buscando o seu favor (ḥālâ pe), pelo que Yahweh arrependeu-se (nāḥam Niphal). Também aqui em Zacarias 7.1-14 (e 8.14-23), a palavra profética de uma geração anterior é declarada para outra (7.7; 8.14) com a esperança de uma resposta penitencial que iria motivar Yahweh a arrepender-se de seus propósitos disciplinares (8.14-15). Em ambos os casos, se faz referência à busca do favor de Yahweh (7.2; 8.21).

    Essa evidência sugere que Zacarias está sendo apresentado como um segundo Jeremias – o modelo dos profetas anteriores. Mas ela também fornece exemplos do tipo de fracasso em responder a mensagem profética que será retratada em 7.11-12. Ao mesmo tempo, a descrição de Miqueias em Jeremias 26 destaca um exemplo positivo proveniente dos profetas anteriores e ajuda a definir apropriadamente a busca do favor de Yahweh ao associá-la com o temor de Yahweh e com a agenda de arrependimento de Jeremias. Essas ligações com Jeremias podem também ter tido o objetivo de reforçar a autoridade de Zacarias em meio à comunidade persa do período.³⁹

    Essas muitas ligações com a prosa de Jeremias fazem sentido, uma vez que nesses textos anteriores o profeta é retratado como confrontando padrões comportamentais da comunidade ao redor do templo pré-exílico que levaram à destruição de Judá. Um retorno à mensagem de Jeremias era importante para os que iriam reconstruir o templo e renovar a comunidade pós-exílio.⁴⁰ A verdadeira restauração implicaria uma nova geração respondendo a mensagem desse profeta-chave.

    Os profetas anteriores (especialmente Jeremias), contudo, não são as únicas fontes que moldaram 7.1-14. É possível identificar também o vocabulário e os temas que tipificam uma tradição de oração que surgiu após a destruição do templo, da cidade e do Estado, e que se destinava não só a expressar a dor da comunidade, mas a pôr um fim a essas condições deploráveis.⁴¹ Essa tradição de oração penitencial é evidente em passagens tais como Esdras 9; Neemias 1,9; Daniel 9 e salmo 106 e toma a iniciativa a partir das instruções para responder ao exílio em passagens tais como Deuteronômio 4.25-31; 30.1-3; Levítico 26.39-41 e 1Reis 8.46-50. Várias práticas estão associadas com essa tradição de oração penitencial, incluindo rituais de lamento, jejum e leitura da Escritura. Não é de surpreender que essa tradição de oração possa ter um impacto em 7.1-14 bem como em sua contraparte em 1.1-6, uma vez que 1.1-6 registra uma resposta penitencial do povo que inclui uma oração a Deus (1.6b) e o texto de 7.1-14 é focado na prática de jejum da comunidade judaica no decorrer dos setenta anos, um período claramente relacionado às condições que vieram após a perda de autonomia por Judá, a destruição nas mãos de poderes estrangeiros e a necessidade de arrependimento.

    Em ambas as tradições, os profetas tiveram a função de advertir a geração anterior (1.4-6; 7.7,12; cp. Ne 9.26,30; Ed 9.10-11; Dn 9.6,10). Ambas empregam a construção nas mãos (beyaḏ) para falar da ação dos profetas (7.12; cp. Ne 9.30; Ed 9.11; Dn 9.10), que também são chamados meus servos (1.6a; cf. Ed 9.11; Dn 9.6, 10). Em ambas, a lei funciona como um padrão rejeitado pelas gerações anteriores (7.12; cp. Ne 9.16,29,34; Ed 9.10,14; Ne 1.7; Dn 9.5,10-11), e em ambas há quase uma igualdade entre as palavras dos profetas e a lei (7.12; 1.6a; cp. Ne 9.29,34; Dn 9.10-11). Ambas identificam as gerações anteriores como ancestrais (ʾāḇô; 1.2,4-6; 8.14; cp. Ne 9.2,9,34,36; Ed 9.7; Ne 1.6; Dn 9.16; Sl 106.6-7) e ambas ligam o pecado dessa geração anterior ao da presente geração (1.6b; 8.14; cp. Ne 9.32-37; Ed 9.6-7; Ne 1.6-7; Dn 9.6-7,16; Sl 106.6). Ambas enfatizam a ira justa de Deus contra essa geração anterior (1.2; 7.12; cp. Sl 106.23,29,32,40; Ed 9.14; Dn 9.16) e admitem a justiça de Deus (1.6b; cp. Ne 9.33; Ed 9.15; Dn 9.6,14).

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