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Mansão Dos Lagos
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E-book532 páginas7 horas

Mansão Dos Lagos

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Sobre este e-book

Um crime brutal, dois suspeitos são presos acusados do assassinato, e o culpado à solta. Uma filha disposta a tudo para que o criminoso pague por seu crime. Tudo mesmo! Claudemiro Hack, um rico empresário industrial, nunca aceitou o casamento de Eleonora, sua filha caçula com João Paulo, um de seus operários. O tempo e os conflitos entre o casal e Claudemiro não cessaram, principalmente porque Eleonora passara a exigir sua parte na herança. Numa noite chuvosa, dias antes de uma severa discussão entre Eleonora e o pai, o empresário e sua esposa são brutamente assassinados em sua casa de praia. O casal são os principais suspeitos do duplo homicídio. Teria eles cometido esse crime brutal? É isso que o Dr. Daniel Filho, um advogado cadeirante, bem conceituado na carreira advocatícia, tem de provar para a sociedade. Inocentes ou culpados? Desculpa nesse romance que traz a tona temas fortes, polêmicos, dramas inteiros que podemos no cotidiano de cada um de nós.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de jun. de 2020
Mansão Dos Lagos

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    Mansão Dos Lagos - Jorgge Miguel

    JORGGE MIGUEL

    MANSÃO

    dos

    LAGOS

    Endereço de um crime brutal

    Escrever um livro mau não requer menos trabalho que escrever um livro bom; jorra da alma do autor com a mesma sinceridade.

    -Aldoous Huxley

    " Sabemos que o tempo é o nosso mais valioso recurso perante a vida; mas tempo, sem atividade criadora, tão somente nos revela o descaso perante as Concessões Divinas. Se não acreditas no poder do trabalho, o serva a tarefa que realizas, junto de outra que ficou por fazer."

    Chico Xavier (Emanuel)

    PREFÁCIO

    Foi uma honra ter tido a oportunidade de ser uma das primeiras leitoras a conferir esta obra que se utiliza de uma trama fictícia para agregar valor a narrativa, mas que não deixa a desejar no relevante ao nosso cotidiano, com nossas desmedidas atitudes, às vezes, colocando o amor ao dinheiro em primeiro plano, abusando do senso moral em atitudes desraigadas.

    Este é mais um belíssimo trabalho deste destemido autor, com seu estilo e escrita que envolve temas psicológicos como a aceitação, relação homo efetiva, a vivência em ambiente de trabalho, os altos e baixos no nosso dia a dia. Além de nos proporcionar uma perspectiva sobre quem de fato devemos confiar; amar e, ter como prioridade em nossa vida, junto a uma completa rede de emoções.

    É muito diáfana a linha divisória entre a sanidade e o desiquilíbrio mental. Transita-se de um para o outro lado com relativa facilidade, sem que haja, inicialmente, uma mudança no comportamento do indivíduo.

    Esta obra não se refere simplesmente a um crime bárbaro, tão pouco à intolerância e descaso nos desmandos de filhos ingratos e cruéis que foram criados com todas as regalias.

    A que atitude o desejo por poder pode levar um indivíduo? Seria capaz de matar seus pais pela herança?

    MANSÃO DOS LAGOS é uma história sobre a ideia fixa por algo além do alcance das mãos, mas, é também uma explanação dos problemas de ordem emocional e psicológica, de um estado de distonia psíquica. Garanto a você, leitor, que as próximas páginas o surpreenderão.

    Ranieri W. da Graça Pacheco

    (Bibliotecária, Psicopedagoga, Analista Comportamental)

    Prólogo

    _____________________

    A verdadeira deficiência é aquela que prende o ser humano por dentro e não por fora, pois até os incapacitados de andar podem ser livres para voar.

    -Thaís Moraes

    Juiz terminava de expor ao júri, no novo fórum criminal, em salvador, bairro de Sussuarana, o resumo do O julgamento em questão:

    — Senhores e senhoras, por favor, dirijam-se à sala secreta para considerarem e decidirem se implica á incriminação direta ao réu com qualificadora ou não, de modo a poderem decidir quanto ao resultado final deste julgamento com decisão pertinente e determinante às acusações que sob-recaem sobre o mesmo. Peço que considerem minuciosamente o que aqui ouviram e testemunharam, para que possam me fazer saber quando chegarem a um veredicto definitivo.

    O corpo de jurados formado por quatro mulheres e três homens, deixou o tribunal do Júri.

    Uma hora mais tarde, todos os jurados retornaram ao plenário do Grande Júri, entregaram o resultado da votação ao Excelentíssimo Juiz de Direito Penal, que leu a sentença em voz alta e clara para que todos que estivessem ali pudessem ouvir:

    culpado por homicídio culposo. Apesar dos rumores de protestos e indignação dos familiares da vítima, mesmo com as poucas palavras de agradecimentos da família do réu, o 9/Jorgge Miguel

    Mansão Dos Lagos

    advogado criminalista Daniel Baptista de Oliva Filho, sentiu-se satisfeito com o resultado do julgamento. Acumulara mais uma vitória em seu currículo – embora nem todo réu seja absolvido ou condenado de todas acusações lhes impostas.

    Após receber os cumprimentos do Promotor Público de Justiça, e ignorar os protestos do casal de advogados que auxiliara o magistrado durante o julgamento, exigindo a pena máxima para o réu, prometendo recorrer da sentença, Daniel despediu-se do Juiz, que o tratou com simpatia e cortesia, deixou o Fórum pela saída dos fundos de acesso ao estacionamento, guiando com cautela sua cadeira de rodas adaptada às suas necessidades físicas. Ele não suportava a aglomeração dos repórteres urubus disputando entrevistá-lo, tratando-o como se fosse uma aberração humana ou uma carniça pronta para ser devorada. Deixava essa parte do trabalho para seu ambicioso assistente, que adorava aquele tipo de atenção.

    Contudo, ditava-lhe antes as palavras certas á serem explanadas nas entrevistas, afinal, em todos os seguimentos profissionais, principalmente na imprensa, sempre aparece um sujeito sensacionalista para exagerar e distorcer as declarações dadas.

    Daniel Filho, como gostava de ser chamado, sempre teve um temperamento apurado, propenso ao tédio para interessar-se por crimes comuns, insignificantes. Principalmente em se tratando de indivíduos sem formação escolar alguma – não que ele menosprezasse os de classe menos favorável; a questão era que, qualquer advogado em começo de carreira (de porta de cadeia) disputava a tapas esse tipo de transgressor, afinal, contava-se nos dedos aqueles que não eram reincidentes e que insistia em desafiar as leis, principalmente os conselhos de suas pobres mães que se desfaziam do que tinham para ser exploradas por advogados sanguessugas que mais se preocupavam com a ninharia a ganhar, sem dar valor à vida do 10/Jorgge Miguel

    Prólogo

    seu cliente ou os sentimentos dos familiares dele – em especial a mãe, disposta a tudo para ver seu filho livre das clausura das penitenciarias.

    Para contratarem sua defesa, o caso precisava ser sigiloso, algo quase perfeito, uma situação que realmente ocupasse o seu tempo e o fizesse queimar os neurônios para desvendá-lo. Algo que não só exigisse o seu talento advocatício, mas que rendesse uma considerável quantia. Não que ele subjugasse seus clientes, o fato era que pra ele não importava os casos esdrúxulos que mais chamava a atenção de jornalistas e apresentadores de TV

    sensacionalistas, tudo aquilo era para ele uma chateação. O

    sucesso inquestionável que granjeara na carreira advocatícia, não fora em troca de anúncios mirabolantes nos meios de comunicação (anteriormente: jornais e revistas - atualmente redes sócias), nem dar entrevistas para repórteres despreparados em busca do seu primeiro furo, a galinha dos ovos de ouro.

    No momento atual então, aí é que pouca atenção ele dava a essa gente aproveitadora, a qual tivera de processar criminalmente algumas vezes por injúria, difamação e etc..

    Aos 50 anos de idade, 28 deles dedicado à sua carreira profissional como advogado criminalista, e dez atuando em auxilio ao pai, que também fora um renomado advogado criminal, ele era conhecido por advogados atuantes, Promotores de Justiça, policial civil e militar, além de boa parte dos policiais Federais,

    delegados

    de

    polícia,

    Juízes,

    Relatores

    e

    Desembargadores. Dentre todas estas autoridades, poucas ainda não tinham se confrontado profissionalmente com ele nas delegacias, penitenciárias e/ou tribunais. Não obstante, embora as pessoas que se relacionavam com ele em ambientes pessoais ou profissionais pudessem pensar ao contrário, a fama que arroteara, não fora através de bajulações a Juízes, Procuradores, Desembargadores ou autoridades políticas, e muito menos mediante acordos ou vendas de veredicto. Seu modo de 11/Jorgge Miguel

    Mansão Dos Lagos

    trabalhar era integro determinante, e acima de tudo: coerente.

    Embora aquele que, talvez realmente desconheça o papel do Advogado Criminal, ou de má fé os condene por seu trabalho, a missão dele é a das mais Nobres e, por vezes, a mais sujeita a preconceitos dos avessos ao Conhecimento disponível que seria capaz de tirar-lhes da ignorância e para descobrirem o verdadeiro sentido em Fazer-se cumprir as regras impostas pelo Estado Democrático De Direito. Pois, não é o advogado que dar a Sentença, esse papel cabe ao Juiz, Autoridade maior no Plenário do Grande Júri. O advogado criminalista deverá ter como meta a defesa do texto legal, em especial a nossa Lei Maior, onde está expresso, em cláusula pétrea, que ninguém será considerado culpado até que a leitura da sentença, ou seja: até que se prove ao contrário todos são inocentes. Não importa a classe social e racial do cliente. A Legislação Penal e Constitucional é única e deve ser aplicada para todos os Brasileiros ou estrangeiros que aqui residirem.

    O preconceito observado em nossa sociedade a despeito do advogado criminalista advém de ignorantes e avessos ao conhecimento. Não se trata de defender o crime propriamente dito, trata-se de defesa criminal objetivando a correta aplicação da Legislação, de acordo com o que está expressamente contido em nossa legislação. A defesa criminal se mostra de vital importância em uma sociedade injusta como a Brasileira, vez que se constata por meio de dados formulados pelo CNJ

    (Conselho Nacional Jurídico) que mais de 40% da população carcerária Brasileira é de presos provisórios, ou seja, não têm sentença condenatória transitada em julgado. Mediante a insignificância de certos ignorantes que tratam os advogados criminalistas como defensor de criminoso e mensageiro do diabo, é bom lembrar que os advogados são humanos e têm famílias, e cedo ou tarde, tais preconceituosos podem necessitar dos trabalhos de um profissional incoerente ao Processo de 12/Jorgge Miguel

    Prólogo

    Código Penal. A verdade é que o ponto de vista de tais pessoas deve-se aos péssimos profissionais do ramo, verdadeiros sanguessugas, incapazes de sentir sentimentos pela vítima e/ou seus familiares.

    De todas as profissões já inventadas, a advocacia criminal talvez seja a mais odiada. Infelizmente, a nossa cultura tende a dar honra de herói a um médico, um professor, um bombeiro, um policial, um membro de uma ONG, e até mesmo um ator em início de carreira, ou algum indivíduo desses realities shows.

    Mas, quando se trata de um advogado criminalista, a conclusão é: defensor de bandidos. Alguns chegam até insinuar que os advogados criminalistas se dividem em duas categorias: os

    hipócritas protetores de bandidos e os honrados defensores de inocentes. No entanto, a realidade é bem diferente. A ética do advogado criminalista o impede de fazer exatamente o que alguns gostariam que fosse feito: julgamento morais dos seus clientes. Pois, ninguém é obrigado a criar provas contra si mesmo, e até que se prove o contrário, todos são inocentes.

    Quem julga é um juiz, o advogado defende. Diferente do que pensam algumas pessoas, o advogado criminalista não tem como, de imediato, saber quem é bom e quem é mau. O

    advogado tem o duro papel de defender seu cliente da arbitrariedade dos defensores públicos, pois, a lei nem sempre é cumprida, e são incessantes as violações dos direitos humanos.

    O advogado é mais que um herói, pois seus direitos são limitados e sua participação no processo restringe-se a tentar evitar os excessos da acusação e o arbítrio judicial contra seu cliente. O advogado é o profissional que ganha à vida defendendo que a lei seja cumprida, mesmo que precise lutar contra, policiais, investigadores, delegados e até juízes. Ou seja, ele é mais um profissional que estudou arduamente para exercer a sua profissão e assegurar o bem estar material e pessoal dos seus familiares.

    13/Jorgge Miguel

    Mansão Dos Lagos

    De estatura alongada, com um rosto observador, que se assemelhava curiosamente ao de uma águia, e um intenso interesse pelos crimes insolúveis, Daniel Filho escolhia a dedo seus casos. Seu papel sempre fora o de desdobrar os vários dramas da natureza humana. E agora, depois de ter recuperado sua autoestima e o controle absoluto de sua vida, ele tornara-se ainda mais critico na escolha de seus clientes. Ele possuía um dom especial para separar o joio do trigo e não meter-se em qualquer caso, estudando a fundo o conteúdo da situação, o caráter do contratante e a verdadeira intenção em adquirir seus serviços.

    Além do sucesso incontestável na carreira advocatícia, apesar do seu estado físico atual, ele era visto pelas mulheres como um homem atraente e sensual. Ele tinha pele clara e acetinada, olhos medianos e verdes com cílios curtos, boca de dentes muito brancos e alinhados, lábios sedosos e finos.

    Costumava usar a barba num corte baixo, rente a pele, sem raspá-la. Apesar da calvície, cortava o cabelo de modo a penteá-lo para trás. Quando sorria, Daniel produzia pequenas covinhas em suas bochechas, enriquecendo ainda mais o seu sorriso espontâneo. Uma pequena saliência em seu queixo aumentava o seu atrativo masculino.

    A genética o abençoara com seus 1,80m de altura, e mesmo aos 50 anos, não dava sinais de rarear, embora lhe surgisse na fronte alguns fios de cabelo grisalho. A verdade, é que ele não se deixava levar pelos assédios daquelas mulheres.

    Em seu íntimo, ele sabia que aquele alvoroço todo feito por elas, apesar da sua deficiência física, era por causa de sua situação financeira e seu status profissional, afinal, para os padrões usuais, ele era rico, bem estabilizado na vida, um bom partido, então, dava pouca atenção aquilo tudo, seu coração ainda tinha algumas feridas abertas e estava fechado para o amor, ou qualquer tipo de relacionamento amoroso. Fora o fracasso no 14/Jorgge Miguel

    Prólogo

    casamento que o aprisionou naquela cadeira de rodas. E até os dias atuais, ele não entendia o exato motivo daquilo ter acontecido com ele. Então, atualmente, apenas dois motivos davam-lhe forças para seguir adiante: sua linda filha, um maravilhoso fruto do seu desastroso casamento, e sua carreira profissional.

    Antes de entrar no seu confortável veículo, adaptado de fábrica para cadeirantes, ele deu uma minuciosa e satisfeita olhada para a estrutura do atual fórum criminal: trata-se de um complexo com três prédios que reunia os serviços da justiça na área criminal, às varas instaladas no fórum criminal no bairro de Nazaré, na Rua do Tingui, foram transferidos para o novo prédio.

    No fórum antigo, os presos eram conduzidos dos camburões até a cela pelo meio da rua, isso causava um burburinho desnecessário, além de um clima de tensão nas pessoas que circulavam pelo local, principalmente aqueles contra ou a favor dos acusados. Os próprios magistrados eram obrigados a circular entre os ocupantes do local sem a menor segurança. Ali, no novo fórum, além da entrada exclusiva de carros, o que garantia maior segurança na transferência de presos e acesso dos magistrados, fora construída esplendidamente rampas para a circulação livre de cadeirantes e idosos, contando com um elevador exclusivo para tais usuários.

    Diferente do outro fórum, ali tinha salas para videoconferência, espaço para reconhecimento de presos, parlatório especial para encontros entre advogados e clientes e 26 varas criminais distribuído em uma área de 11 mil m². No edifício principal, foram instaladas 17 varas criminais, três varas de tóxicos e três varas sumarias com nove pavimentos, incluindo o andar térreo e os dois subsolos. O prédio conta com uma estrutura moderna e de alta segurança. O novo Fórum possui um espaço restrito a presos e policiais, onde estão distribuídas quatro celas, sala de reconhecimento, sala de comando da 15/Jorgge Miguel

    Mansão Dos Lagos

    Polícia Militar, alojamento para os policiais de plantão e um parlatório, onde os advogados poderão conversar com os clientes, sem ter contato físico. Também foram destinadas áreas especiais para o Ministério Público, Defensoria Pública, OAB, além do Núcleo de Serviço Psicossocial, posto bancário e posto médico. No pavimento anexo ao Fórum, estão instaladas as Varas dos Crimes Contra a Criança e o Adolescente que dispõem de uma brinquedoteca e duas salas de depoimento sem dano, onde a criança falará, diretamente, com um psicólogo, sem saber que está sendo monitorada, para evitar qualquer tipo de sequela emocional.

    Com um suspiro de satisfação, Daniel Filho deu a partida no carro e saiu dali às pressas, antes que fosse abordado por um repórter chato, um fotografo jornalístico, ou até mesmos parentes da vítima ou do réu.

    O escritório de Daniel antes era no 14º andar de um dos edifícios do Centro Empresarial Iguatemi, o qual ocupava dois terços do andar. Quando ele sofreu o acidente e teve de ausentar-se por vários meses, deixando o empreendimento aos cuidados de funcionários de sua alta confiança, achou conveniente desfazer-se daquele imóvel, lhe doado por seu pai, (um dos maiores advogados criminalistas do País) quando decidiu aposentar-se e retornar para sua terra natal –

    Araxá/Minas Gerais –, pois, os acessos ao interior do prédio, apesar de ser localizado numa das áreas mais caras de Salvador, não lhe proporcionava acessibilidade adequada. Então, após fazer acordos favoráveis a ele e a maior parte dos funcionários, os mais antigos, ele se desfez do imóvel, escolheu cautelosamente cinco funcionários para assessorá-lo, e alugou um prédio há pouco mais de duas quadras do Fórum Ruy Barbosa no bairro Nazaré. Havia escolhido aquele imóvel de três andares, estrategicamente, para facilitar a sua locomoção até o Fórum. Depois do acidente que sofrera, ficando tetraplégico, 16/Jorgge Miguel

    Prólogo

    sem os movimentos das pernas, ele achou conveniente instalar-se naquele local, já que constantemente tinha de estar no Fórum para validar petições, procurações, dar entrada e baixas em processos, e toda rotina que sua profissão exigia. No entanto, com a mudança do Fórum Criminal para Suçuarana, totalmente do lado extremo da cidade, ele via-se na obrigação de mudar-se novamente para um local mais próximo do novo fórum, sua situação física atual exigia mais cuidado atualmente, e ficar atravessando a cidade de lá para cá constantemente não lhe agradava em nada. Até já tinha em vista uma sala de 150 m² na Avenida Ulysses Guimarães, a seis minutos do novo Fórum. O

    imóvel era situado num moderno prédio de quatro andares, com segurança 24h, rampas de acesso ao térreo e elevadores adaptados para cadeirantes. Em se tratando do endereço e a estrutura do imóvel, o preço era aceitável, e o tamanho era suficiente para montar seu escritório e acomodar seus funcionários.

    Enfim, naquele fim de tarde, Daniel não pegou congestionamento no trânsito e conseguiu chegar ao bairro onde mantinha seu escritório vinte minutos depois de ter saído de Sussuarana. Assim que estacionou o carro, um garoto com seus doze anos de idade presumíveis aproximou-se lhe oferecendo um exemplar de jornal. O advogado não era admirador daquele tipo de leitura, jornais para ele tinham de ter qualidade de informações e imagens, não gravuras de mulheres exibidas expondo seu corpo seminu como se fossem objetos vendidos em feiras. Por quanto, apesar de não estar de acordo em ver uma criança daquela idade perambulando pelas ruas vendendo aquele tipo de material, mas, estando satisfeito por ele não ter parado ali, ao seu lado para tentar roubar-lhe, ele pegou todos os exemplares do menino, e para total espanto e explosão de alegria do garoto, pagou-lhe muito mais do que os jornais valiam. Daniel esperava que aquela quantia não fosse parar nas 17/Jorgge Miguel

    Mansão Dos Lagos

    mãos de um pai alcoólatra ou viciado em drogas, que forçava o filho a vender jornal, para bancar seus vícios.

    Sorrindo com a altivez do rapazote ao agradecer-lhe repetidamente pela gentileza, Daniel Filho ia atirar os exemplares do jornal no banco de trás do veículo, quando uma manchete grifada chamou-lhe a atenção. Curioso, ele passou os olhos pela notícia:

    "MULHER ACUSADA DE MATAR OS PAIS ADOTIVOS

    VOLTA PARA PRISÃO, E AGUARDA JULGAMENTO!".

    Aquela manchete sensacionalista, talvez, fosse fonte de atenção para pessoas do mundo exterior do jurídico, pois, os magistrados

    da

    área

    criminal,

    convivem

    com

    tais

    acontecimentos constantemente, e não se surpreendem facilmente com tais notícias.

    Daniel lembrou-se vagamente de ter lido um pequeno parágrafo numa revista daquele gênero certo tempo atrás sobre aquele crime drástico, mas não se dedicou à leitura. Talvez, se tal crime tivesse ocorrido há alguns anos atrás, o caso repercutisse com maior peso nas mídias sociais, no entanto, por não se tratar de um fato envolvendo artistas famosos ou autoridades policiais e/ou da política, o caso acabou entrando na estatística da mesmice, afinal, para a imprensa, não importava a vida ceifada, e sim; o quanto a reportagem iria render aos cofres de suas empresas.

    Parricídio estava se tornando corriqueiro, sem distinção de credo social, raça ou nacionalidade. O conceito familiar tornou-se banalizado, e a hipótese que surge é que, hodiernamente, a família é identificada pelo afeto, pela busca da felicidade e da realização pessoal de cada um dos seus membros. Ademais, embora as relações familiares sejam quase sempre subjetivas e atravancadas, casos de casais envolvidos em homicídios tem 18/Jorgge Miguel

    Prólogo

    sido destaque nos noticiários atualmente. Talvez, o que novamente chocara a população fora o fato de a acusada ser filha adotiva das vítimas, exceto este detalhe, tudo aquilo fazia parte da cruel e insensata brutalidade dos dias atuais. Fatalidades do crime trágico e irreversível, que fere os valores morais quebrando os laços familiares e, sobretudo, a dignidade da pessoa humana. De início, a população faz alvoroço, protestos desordenados, mas com o passar do tempo e a lentidão da Justiça, o caso caí no esquecimento, não é mais destaque nas redes sociais, até que outro aconteça e a imprensa caía em cima novamente feito lobos devoradores. Por quanto, a única surpresa neste item era o fato do aumento das mulheres, tão conhecidas como sexo frágil, estarem envolvidas neste tipo de crimes. O

    amor por Deus está ficando escasso, imagine o amor pela própria raça humana, independente do grau de parentesco. A verdade, é que há uma força de maior poder maligno, nutrida de majestoso conhecimento espiritual, que exala a capacidade humana de agir espontaneamente do lado mal, e avassala o conceito doutrinário e celestial.

    O fato é que existe um claro descompasso entre as mudanças sociais e o sistema jurídico Brasileiro, pois, este não foi capaz de acompanhar tantas mudanças sociais. Porém, as deterioradas estruturas familiares já são uma realidade incontestável. Assim, há que se encontrarem novos caminhos, sepultando ideias retrógradas e conservadoras para só então tornar efetiva a proteção especial da família, embora se saiba que o amor pelo dinheiro e o desejo desacerbado do sexo estão vindo em primeiro lugar. A harmonia doutrinária religiosa, independente do seguimento, se faz necessário para uma total e segura estrutura familiar, mas poucos são os que a procuram.

    O Advogado Criminal Daniel Filho esqueceu suas reflexões e dirigiu-se ao seu escritório. E como sempre, seu coração envaideceu-se em aprovação ao adentrar pelo imóvel, 19/Jorgge Miguel

    Mansão Dos Lagos

    acessivo às pessoas com necessidades especiais iguais a ele. No nível térreo funcionava o arquivo morto e o almoxarifado. No primeiro andar a recepção, um biongo para o office-boy e a copa.

    No segundo andar fora instalado o seu assistente e mais três funcionários – mulheres. No ultimo andar, o terceiro, funcionava a sala de sua secretária particular e o seu gabinete, independente do corpo principal daquele pavilhão, com entrada própria, dando para o elevador adaptado às necessidades de Daniel. Providencialmente mobiliado com móveis rústicos e decorado com capricho, constituía para ele motivo de orgulho receber seus clientes ali. Por toda parte nas paredes e nas mobílias, por ele ser adapto à idade medieval, suas coleções de objetos de arte, seus quadros de molduras secundárias, suas velhas arcas; e algumas peças de armas de época (lança, machado, espada, escudo, elmos, e até uma armadura) de diversas procedências, enriquecia o valor da decoração.

    — O que houve Dr. Daniel?

    Foi logo perguntando o Office-boy, ao vê-lo carregando sua maleta, pelo simples motivo de que quem o fazia sempre era seu assistente.

    — Calma garoto, não aconteceu nada! – Daniel sorriu. –

    Deixei Leandro responsável pelas entrevistas, detesto aqueles repórteres sanguessugas!

    — Ah, então ganhamos novamente?

    O advogado apenas assentiu.

    O rapaz o aplaudiu e os demais funcionários o seguiram.

    Pedindo para que parassem, gesticulando as mãos, Daniel frisou:

    — Por favor, gente, a vitória foi de todos nós!

    Encaminhou-se ao andar superior, e assim que adentrou pelo local, pediu para que sua secretária o acompanhasse até sua sala. Desde que a viu pela manhã e notou-a distante, com pouco entusiasmo, ficou se perguntando o que estava acontecendo com 20/Jorgge Miguel

    Prólogo

    ela, pois sempre foi muito faladeira, extrovertida e popular; alguém fácil de se lidar.

    Assim que adentraram pelo aconchegante recinto, ele pediu para que ela se sentasse diante dele numa das cadeiras rústicas com acolchoado de couro, e começou, num tom suave:

    — Quando saí para o fórum você ainda não tinha chegado... O que houve... Você está doente, não me lembro de quando a vi atrasar-se?

    — Eu estou bem! – tentou sorrir, mas apenas murmurejou.

    – Minha noite que não foi boa...

    — O que houve? – ele interviu, preocupado.

    Ela levantou os olhos para o chefe, encarando-o densamente. Como não disse nada, ele insistiu:

    — E então, não vai me dizer nada?

    Ela soltou um profundo suspiro, baixou a cabeça, e ao erguê-la assegurou:

    — Não se preoculpe Dr. Daniel, eu estou bem.

    Ele acomodando-se melhor no encosto da cadeira de rodas, analisando-a com intensidade como nunca fizera antes: Dandara tinha 30 anos presumíveis. Cabelos muito negros e encaracolados, embora naquele dia estivesse preso num coque à cabeça. Olhos grandes e castanhos. Os lábios eram carnudos e sedosos de dentes largos e bem cuidados, emoldurando ainda mais sua beleza de pele negra, nos seus possíveis 1,70m de altura, num corpo bem delineado de quadril modelado e pernas torneadas. Naquele dia, ela usava um conjunto de saia jeans acima dos joelhos, de fino corte, blusa branca com um decote considerável e sapatos de saltos altos, além de leves bijuterias enriquecendo o seu contraste feminino.

    — Há quanto tempo você trabalha comigo? – o advogado, enfim, voltou a falar.

    — Intercalando o tempo no Iguatemi e aqui em Nazaré, uns oito anos, eu acho!

    21/Jorgge Miguel

    Mansão Dos Lagos

    — Isso significa que eu conheço um pouco você, correto?

    Dandara sentiu o ar lhe faltar, baixou a cabeça novamente, soltou demoradamente o ar dos pulmões e balbuciou:

    — Conhece sim, senhor!

    — Então, por favor, confie em mim e diga-me o que está acontecendo – sorriu. – Vamos, conte-me o que a estar incomodando.

    Ela soltou outro suspiro e decidiu dizer, com voz embargada:

    — É que minha filha teve uma crise ontem a noite e não consegui dormir direito.

    O homem suspirou.

    — Isso é normal ou fui um caso isolado?

    — Costuma acontecer quando ela toma chuva.

    — Se sua filha não está bem, devia ter ficado cuidando dela.

    Após um sorriso tímido, ela justificou-se:

    — Não se preocupe, ela fica com minha amiga... Não é nada sério.

    — E o pai dela?

    — O que tem ele?

    — Tem se reaproximado de você?

    Dandara gesticulou os lábios num sorriso, passou os dedos das mãos um pelos outros e respondeu:

    — Não, senhor.

    Meneando a cabeça com a resposta da funcionária, o advogado criminalista colocou:

    — Não quero por panos quentes, mas ao que me parece você sente falta dele – silêncio.

    Ressentida, porém, de certo modo concordando com o chefe, a secretária permaneceu quieta, sem responder-lhe a inquirição, recuando em si. Era difícil para ela tocar naquele assunto, sendo ele – um desconhecido. Então, percebendo quieta, 22/Jorgge Miguel

    Prólogo

    Daniel apressou-se em falar num tom brando e vivaz:

    — Deixemos este assunto para outro dia está bem? –

    sorriu. – Pode voltar ao trabalho, preciso daquelas petições ainda hoje em minha mesa.

    Com um espontâneo sorriso nos expressivos lábios e semblante mais altivo, ela levantou-se e dirigiu-se à sua sala. Já estava diante da porta de saída, quando lembrou ter esquecido alguma coisa e voltou para dizer:

    — Amanhã o senhor tem hora marcada com uma nova cliente às nove horas.

    — Do que se trata?

    — Não sei ao certo! A pessoa não entrou em detalhes.

    — Checou para saber quem é tal pessoa? Não quero ser importunado por uma dessas repórteres em começo de carreira querendo me usar como trampolim.

    A garota sorriu.

    — Fiz exatamente como o senhor pede: exigi que ela me enviasse seus dados pessoais, de endereços físico e virtual, só assim poderia lhe conseguir marcar um horário.

    Ele abriu os braços numa pergunta.

    — Sem surpresas! Ela fez exatamente como pedi, e descobri que não pertence a nenhum seguimento de imprensa.

    — Obrigado Dandara... Agora, por favor, deixe-me a sós.

    Obedecendo-o ela saiu a passos rápidos da sala.

    23/Jorgge Miguel

    Capítulo 1

    _____________________

    Um Caso Incitativo

    A Psicanálise é uma das mais fascinantes modalidades do gênero policial, em que o detetive procura desvendar um crime que o próprio criminoso ignora.

    -Mario Quintana

    or causa dos diversos documentos que teve de assinar e uma reunião que tivera com seu assistente, Daniel Filho P saiu do escritório bem mais tarde do que de costume.

    Como o trânsito estava insuportável, ele decidiu desviar o caminho e dar uma rápida passada no futuro imóvel onde seria instalado seu novo escritório.

    Finalmente, por volta das 20hs00 ele chegou ao condomínio Bella Vista onde morava no 15º andar em uma das três torres no Morro do Conselho/Rio Vermelho. O imóvel de alto padrão possuía quatro suítes com varanda gourmet, dependência de empregados e cinco vagas de garagem. Além de acesso restrito com total segurança, muito próximo à Vila Caramuru, local de entretenimento, que abriga excelentes bares e restaurantes. Contava com vista deslumbrante para o mar, num empreendimento com infraestrutura completa como brinquedoteca, salão de jogos, churrasqueira, piscina, fitness/sala de ginástica, elevador privativo, salão de festas, 24/Jorgge Miguel

    Mansão dos Lagos

    playground, extenso jardim arborizado, área esportiva com quadra de vôlei, basquete e tênis, e áreas comuns para e prestadores de serviços. Paz, luxo e conforto, toda comodidade que o dinheiro podia pagar. Enfim, devido à correria daquele dia, sentia-se cansado, e após uma leve refeição entregou-se ao sono profundo. Seu corpo começava a mostrar que não suportava mais tanto agito. Apesar de já ter se acostumado com suas deficiências físicas, sua estrutura muscular ia se degredando com a velhice. Era preciso reconhecer os sinais que seu sofrido corpo indicava e prevenir-se para o pior. Sua saúde mental era fantasticamente saudável e produtiva, mas sua estrutura corporal, atualmente, começava a cambalear. Ele pressentia que era hora de preparar um substituto, alguém de extrema confiança para assumir a maior parte de seus compromissos. A fortuna que possuía dava e bastava para viverem muito bem financeiramente seus últimos dias ao lado de sua filha sem se desgastar tanto. Do escritório de seu apartamento podia auxiliar seus assistentes, e se fosse necessário, às vezes, ir para algum tribunal.

    Aquela noite passara mais rápido do que as anteriores, o cansaço o arrebatou e ele acordou mais tarde do que o habitual.

    Num resmungo, abriu os olhos devagar e levantou a cabeça conferindo as horas no relógio ao pulso. Passava das sete horas.

    Se espreguiçando com demasia, esticou os braços e agarrou as barras de aço inox instaladas estrategicamente acima da cabeceira da cama para que ele pudesse fazer alguns exercícios.

    Seu apartamento, deixado de herança por seus pais quando decidiram, depois de quase quarenta anos morando na capital Baiana, voltar a morar em Araxá nas Minas Gerais. O

    apartamento fora cuidadosamente reformado e decorado para sua total acessibilidade: da saída do elevador particular ao seu closet. Quando seus pais decidiram ir embora, ele se sentiu perdido naquele apartamento devido o seu tamanho, já que 25/Jorgge Miguel

    Um caso Incitativo

    morariam ali apenas ele, sua filha e a empregada. A princípio, quis vendê-lo ou alugá-lo, mas seu pai, um homem setentão, moralista e materialista, não admitiria ver um bem que lutou arduamente para comprar, onde está registrada a maior parte da história da família ser desfeito sem um sério e irrevogável motivo.

    Quando Daniel saiu do banheiro, depois de um demorado e relaxante banho, notou que suas roupas já estavam sobre a cama. Ele riu ao vê-las. Havia acordado àquelas horas, e sua empregada tivera a mesma atitude de todos os dias: separar-lhe as roupas que usaria no dia que se seguiria.

    Com a destreza costumeira, o advogado criminalista untou as partes inaptas do seu corpo com o creme para assaduras e ressecamento, vestiu-se, e colocando uma perna sobre a outra, calçou os sapatos. Trocou o relógio, os óculos com armação moderna e lentes multifocais, penteou cuidadosamente o cabelo e saiu do quarto, sentindo o aroma do café matinal lhe invadir-as narinas.

    A mulher, uma senhora beirando os seus 70 anos de idade, de estatura baixa, nem gorda nem magra, com cabelo tingido, usando óculos de correção com uma armação rústica e gestos brandos, começara a trabalhar para os pais dele desde que ele tinha 20 anos de idade. Era do interior da Bahia, viúva e sem filhos. Embora tivesse familiares, decidira morar com no trabalho, justificando que tinha uma missão a cumprir com a família de Daniel. Ele não compreendera muito bem o que ela quisera dizer com aquelas palavras, mas sentia-se protegido com ela por perto. Ela era mais que uma empregada para ele, era uma segunda mãe, e avó para Eyshila. À sua fortaleza os ajudou consideravelmente quando fora obrigado a ser pai e mãe, e principalmente na época que sofrera o acidente. Se não fosse o apoio dela, sempre carinhosa, otimista e prestativa, ele tinha definhado de uma vez. A mulher tinha uma paz interior 26/Jorgge Miguel

    Mansão dos Lagos

    inexplicável. Algumas vezes ela até tentou falar com ele sobre a que viemos, qual o nosso objetivo neste planeta terreno e o porquê inexplicavelmente algo de ruim nos acontece, qual o significado da vida, mas, na maioria das vezes ele se dizia muito ocupado demais ganhando dinheiro para pensar nessas bobagens.

    Ao vê-lo se aproximar, dona Laura foi ao seu encontro e ajudou-o com a cadeira de rodas até a sala, deixando-o de frente para o sofá de três lugares, e ao sentar-se diante do advogado, começou preocupada:

    — Eu queria conversar com você ontem, mas como me pareceu cansado e preocupado, não quis incomodá-lo.

    — E o que tem a me falar de tão urgente?

    Ela suspirou antes de voltar ao falar, na mais perfeita calma:

    — Se refere a Eyshila...

    — O que foi desta vez? – ele cortou-a, imaginando o que vinha.

    — A diretora da escola ligou pra cá dizendo que não conseguia falar com você no celular...

    — E? – fez ele, impaciente.

    — Bem... Ela disse que espera você hoje à tarde na escola...

    — Por quê? – nova interrupção.

    — Ela disse que a menina Eyshila faltou com respeito com uma das professoras.

    — O que houve?!

    Dona Laura apenas ergueu os ombros.

    — E ela, o que disse?

    — Tentei saber por que ela chegou cedo da escola, mas ela apenas correu para o quarto, trancou-se lá, e mesmo eu indo chamá-la várias vezes, me ignorou.

    — Desta vez fez foi só isso, ou ela foi grosseira com a senhora?

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    Um caso Incitativo

    — Só isso mesmo.

    — E como ela estava?

    — Me pareceu muito triste, com muita raiva, daquele jeito de sempre quando está virada num siri.

    — Bom... Pelo menos não foi rebelde com a senhora.

    Sorrindo docilmente, dona Laura argumentou:

    — Criança na idade dela é assim mesmo, meu filho...

    Principalmente depois de tudo que aconteceu com ela.

    — Isso já faz muito tempo. Ela tem que entender de uma vez que as pessoas culpadas pelo que nos aconteceu não vivem neste apartamento nem está na escola dela – fungou. – Vou falar com ela.

    — Ainda é muito cedo Danielzinho, deixa-a dormir, depois você faz isso.

    — Não, dona Laura! Depois será muito tarde... Não se preocupe, não há castigarei, apenas quero ouvir da boca dela o que houve.

    Daniel dirigiu-se ao dormitório da filha. Se a porta estivesse trancada por dentro, não iria fazer nenhum escândalo, nem forçar a entrada. Seu objetivo era entender á filha, não traumatizá-la ainda mais. Por sorte, ao girar lentamente a maçaneta, a porta abriu e ele encaminhou-se à adolescente, que dormia encoberta dos pés a cabeça.

    — Filha, hei acorde, quero conversar com você – ele sussurrou ao ouvido dela.

    A menina se remexeu puxando a coberta de volta à cabeça e ele arrancou-as novamente.

    — Melhor você me ouvir agora, ou desligarei o Wi-Fi e levarei para o meu trabalho seu celular e o tablet.

    Desta vez, percebendo o tom rigoroso do pai, ela virou-se para ele reclamando:

    — De boa meu pai, o que ta rolando?

    — Veremos se vai ficar de boa mesmo!

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    Mansão dos Lagos

    Piscando convulsivamente os grandes olhos esverdeados, a adolescente retorquiu:

    — Qual foi?

    — Foi grave, gravíssimo!

    — Ah, me liguei! A linguaruda daqui já deu a ideia ao senhor da parada na escola, não foi?... Mas, na moral painho, eu não tive culpa.

    O homem sentiu a face queimar, balançou a cabeça em desaprovação ao linguajar da filha. De uns tempos pra cá ela andava exagerando naquele tipo de dialeto. Às vezes achava que ela fazia aquilo pra irritá-lo. Mantendo o controle, ele ascendeu o abajur fazendo-a colocar as mãos nos olhos, e encarando-a, passou a conversar, num tom firme:

    — Se acha que não me deve respeito, respeite dona Maria que é para você mais do que uma mãe, e tenha total e maior consideração com seus professores, pois, se sou hoje um advogado bem-conceituado na vida, é por que um dia, também estive numa sala de aulas.

    Apanhada de surpresa, já que esperava uma bronca maior do pai, a menina não encontrou palavras para retrucar. Assim, ele prosseguiu:

    — Você é uma menina linda e muito inteligente. Desde seu primeiro dia de vida até este momento, nunca lhe faltou nada. Sempre foi muito bem cuidada por dona Maria, que apareceu em nossas vidas como um anjo protetor. Estudou nas melhores escolas e estuda atualmente, tem um plano de saúde de excelente qualidade, refeições e lanches de própria escolha, roupas e sapatos caríssimos e uma boa mesada... Se você tem tudo isso, e sabemos que poucas meninas da sua idade têm tais privilégios... Por que reage assim, tão mediocremente com pessoas que nada fizeram ou fazem contra você? Se comportando assim, será isolada por todos.

    — Não sei meu pai... – ela

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