Metaperdão: Aprenda o Metaperdão e nunca mais precisará se preocupar em Perdoar
De Léia Serpa
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Metaperdão - Léia Serpa
1 Fui ferido. E agora?
Não importa o que fizeram contigo. O que importa, é o que você fez com o que fizeram contigo
(Jean-Paul Sartre)
Tudo mudou para todos e de forma tão repentina. Em um momento todos trabalhavam e viviam suas vidas e de repente soldados alemães entrando em nossas casas e nos retirando de qualquer forma, aos gritos e empurrões, colocando-nos em grandes caminhões militares, onde já se encontravam pessoas conhecidas da vizinhança. Que susto! Que insegurança sentimos por esta situação. Nada foi dito ou respondido. Apenas tivemos que os seguir até alguns vagões lotados cujos destinos eram ignorados até então. Mantivemos nossas esperanças e pensamos que poderiam estar nos levando para grandes indústrias a fim de trabalharmos arduamente.
Ao final da noite, chegamos a grandes galpões, onde fome, frio, trabalho extenuante, violência injustificada, injustiças, câmaras de gás, torturas e a morte, faziam parte das rotinas diárias. Muitos corpos foram jogados em grandes valas como se nada valêssemos. Por que nós tínhamos que passar por esta grande dificuldade? Por que Deus permitiu tudo o que viria pela frente?
Viktor E. Frankl, em seu livro Em Busca de Sentido, nos conta sua experiência num campo de concentração em Auschwitz. Milhares de judeus foram mortos por motivos ideológicos devido a uma idealização nazista que apontava a existência de uma conspiração judaica de conquista mundial contrárias aos objetivos alemães.
Uma mulher que sobreviveu ao holocausto judeu deu um beijo em Oskar Gröning que estava sendo acusado de ser o contador nazista, um guardador de livros, responsável por recolher os pertences das vítimas
. Era um roubo silencioso que financiava o nazismo. Ela disse que a maior vingança é o perdão.
É verdade. Quando perdoamos, livramo-nos de perpetuar nosso sofrimento com a ofensa.
Pessoas são feridas todos os dias por tipos diferentes de pessoas. Não dá para imaginar o quanto um ser humano pode ferir outro ser humano. As ilimitadas formas de se ferir outro ser humano são inimagináveis. Os policiais, médicos legistas e os profissionais dentro de hospitais assistem às barbaridades que um ser humano é capaz de perpetrar contra outro ser humano. Podemos ser feridos por alguém que convive conosco ou por pessoas que nem conhecemos.
A verdade é que pessoas ferem pessoas e pessoas são curadas por pessoas!
Se esta frase é verdadeira, então eu posso esperar que alguém me fira em algum momento da minha vida? A resposta é sim. Mas também posso esperar que a cura para isso venha por meio de outras pessoas e até daquela que me feriu? A resposta também será um sim.
Pessoas passam constantemente pelos consultórios de psicologia, feridas por alguém. Há pessoas que são feridas enquanto crianças e isto leva a um sentimento de desamparo, desvalor e abandono sem tamanho. Quando a criança é ferida, ela carregará estes sentimentos por toda vida e por todos os lugares por onde ela for. Caso essa situação não seja resolvida quando adulta, ela poderá machucar alguém e/ou exigir reparação de todos que tiverem contato com ela, ou poderá ainda se voltar para si em um autoflagelo, autodestruição e autocrítica. Esses comportamentos são reconhecidos como mecanismos de defesa utilizados para suportar a sua dor.
Serão possivelmente pessoas amargas, insaciáveis, descontentes e tiranas, cuja responsabilidade por sua infelicidade estará sobre aquelas que são mais próximas de seu convívio. Ou ainda poderão se mostrar como pessoas submissas e passivas diante da vida.
Lembro-me de uma mulher conhecida da minha família que havia tido problemas com o pai. Seu pai era alcoólatra e, quando chegava em casa, despejava toda fúria e agressividade na família, principalmente na esposa. As crianças, ao todo quatro, ficavam assistindo àquela cena de horror, desde agressões verbais a agressões físicas a ela e aos filhos. A menina do meio, com medo, se escondia no armário e raramente sofria agressão física, mas ouvia tudo até dormir, quase como um desmaio para fugir daquela realidade.
Ela cresceu acreditando que não merecia nada de bom, porque sempre ouviu seu pai dizer que as crianças não passavam de lixo e que elas deveriam morrer cedo. Ela, então, sempre doente, acreditava que teria um fim trágico e prematuro. Quando começou a ir para a escola, tinha verdadeiro pavor de gritos, o que a levava a desmaios