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Geografia
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E-book377 páginas2 horas

Geografia

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Sobre este e-book

Estrabão foi um geógrafo grego nascido na região de Amásia – hoje Turquia – e viveu sob o governo dos imperadores romanos Augusto e Tibério. Pensador, historiador e geógrafo, seu trabalho mais influente é sem dúvida, Geografia, uma obra que ele mesmo descreveu como sendo um trabalho colossal. E não há exagero nesta definição: apresenta, no total, dezessete livros que refletem elementos políticos, culturais, religiosos, históricos e, obviamente, geográficos, da complexa e multifacetada sociedade romana da passagem para o século I. Como era comum entre os escritores antigos, Estrabão também baseou parte de sua obra em autores que o precederam, como Erastóstenes e Hiparco. Porém, ao contrário de outros pensadores do mundo antigo, Estrabão viajou extensamente pelo mundo conhecido à época, e muito do que apresenta em seu texto é resultado de suas próprias experiências. “Você não poderia encontrar outra pessoa entre os escritores de geografia que tenha viajado mais do que eu”, afirma em certo momento de sua Geografia. E é nesta vivência que está a riqueza da obra de Estrabão: alguém que conhecia a tradição da cultura antiga mas que, também, a vivenciou de forma intensa, criando um trabalho único e original, revelando o ponto de vista de um erudito grego explorando a cultura romana e sua diversidade. Esta é a primeira tradução para o português do Livro I de Geografia. Apresenta a tradução do texto grego, acompanhada por centenas de notas, e suplementado por uma discussão sobre a vida de Estrabão e sua relação com a obra que o imortalizou. O editor e tradutor para o português é Antonio Fontoura, doutor em história, professor universitário de história, além de autor de obras ligadas ao estudo teórico da produção do conhecimento histórico, como Teoria da História, e A história e os dias: a historicidade do cotidiano e o protagonismo dos indivíduos, ambas pela editora Intersaberes, e Introdução ao Estudo da História, pela editora Fael.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de out. de 2022
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    Geografia - Estrabão

    Prefácio

    Estrabão foi um geógrafo grego nascido na região de Amásia – hoje Turquia – e viveu sob o governo dos imperadores romanos Augusto e Tibério. Pensador, historiador e geógrafo, seu trabalho mais influente é sem dúvida, Geografia, uma obra que ele mesmo descreveu como sendo um trabalho colossal. E não há exagero nesta definição: apresenta, no total, dezessete livros que refletem elementos políticos, culturais, religiosos, históricos e, obviamente, geográficos, da complexa e multifacetada sociedade romana da passagem para o século I.

    Como era comum entre os escritores antigos, Estrabão também baseou parte de sua obra em autores que o precederam, como Erastóstenes e Hiparco. Porém, ao contrário de outros pensadores do mundo antigo, Estrabão viajou extensamente pelo mundo conhecido à época, e muito do que apresenta em seu texto é resultado de suas próprias experiências. Você não poderia encontrar outra pessoa entre os escritores de geografia que tenha viajado mais do que eu, afirma em certo momento de sua Geografia. 

    E é nesta vivência que está a riqueza da obra de Estrabão: alguém que conhecia a tradição da cultura antiga mas que, também, a vivenciou de forma intensa, criando um trabalho único e original, revelando o ponto de vista de um erudito grego explorando a cultura romana e sua diversidade.

    Esta é a primeira tradução para o português do Livro I de Geografia. Apresenta a tradução do texto grego, acompanhada por centenas de notas, e suplementado por uma discussão sobre a vida de Estrabão e sua relação com a obra que o imortalizou.

    O editor e tradutor para o português é Antonio Fontoura, doutor em história, professor universitário de história, além de autor de obras ligadas ao estudo teórico da produção do conhecimento histórico, como Teoria da História, e A história e os dias: a historicidade do cotidiano e o protagonismo dos indivíduos, ambas pela editora Intersaberes, e Introdução ao Estudo da História, pela editora Fael.

    Geografia – Livro I

    Que a ciência geográfica não é estranha à filosofia. – Que Homero, em todos os seus poemas, deu provas de conhecimento geográfico. – Que os antigos tratados de Geografia estão repletos de lacunas, inconsistências, erros, mentiras e contradições. – Provas e manifestações em apoio a este julgamento do autor. – Quadro sumário que representa, em síntese, a disposição geral da Terra habitada. – Hipóteses e observações positivas que tendem a estabelecer que, em muitos lugares, a terra e o mar se deslocaram reciprocamente e substituíram uma pelo outro.

    Capítulo um

    1. A Geografia, que nos propomos estudar no presente trabalho, parece-nos ser como qualquer outra ciência do domínio do filósofo; e mais de um fato nos autoriza a pensar desta forma: primeiro, os primeiros autores que ousaram lidar com a Geografia foram precisamente os filósofos: Homero, Anaximandro de Mileto e seu compatriota Hecateu, como já observou Eratóstenes; depois Demócrito, Eudoxo, Dicearco, Éforo e muitos outros com eles; e mais recentemente Eratóstenes, Políbio, Posidônio, filósofos também eles. Em segundo lugar, a multiplicidade de conhecimentos, indispensável para quem deseja realizar tal trabalho, é compartilhada apenas por aqueles que abraçam, em sua contemplação, tanto as coisas divinas como as humanas, ou seja, o próprio objeto da filosofia. Finalmente, a variedade de aplicações de que a Geografia é suscetível, que pode servir tanto às necessidades dos povos como os interesses dos governantes, e que tende a nos fazer conhecer melhor primeiro o céu, e depois todas as riquezas da terra e dos mares, assim como os animais e as plantas, os frutos e as produções próprias de cada país, essa variedade, dizemos, implica no geógrafo esse mesmo espírito filosófico, habituado a meditar sobre a grande arte de viver e ser feliz.

    2. Mas vamos retomar, ponto por ponto, o que acabou de ser dito, para chegarmos ao fundo da análise. E antes de mais nada, mostremos que é com razão que, imitando nossos antecessores, em particular Hiparco, apresentamos Homero como o próprio fundador da ciência geográfica. Homero, de fato, não apenas superou os autores antigos e modernos em mérito poético, mas, pode-se dizer, inclusive os superou por sua experiência das condições práticas da vida dos povos; e é devido a essa mesma experiência que, não contente em se interessar pela história dos fatos e procurar coletar a maior quantidade possível deles para transmitir seu relato à posteridade, uniu a ela o estudo da Geografia, tanto o estudo parcial das localidades como o estudo geral dos mares e das terras habitadas. Não fosse assim, teria ele sido capaz de alcançar, como o fez, os limites do globo e cobrir toda a sua circunferência em seus versos?

    3. Ele começa por representar a Terra tal como ela é, de fato, envolvida por todos os lados e banhada pelo Oceano; depois, das várias regiões que ela contém, ele designa algumas pelos seus verdadeiros nomes e nos permite reconhecer outras por certas indicações indiretas: assim, enquanto nomeia expressamente a Líbia, a Etiópia, os Sidônios e os Erembes (que seriam, aparentemente, os árabes trogloditas), ele se contenta em designar indiretamente os países do Oriente e do Ocidente pela circunstância que o Oceano as banha. Pois é do seio do Oceano, segundo ele, que nasce o Sol e no seio do Oceano que, da mesma forma, põem-se as constelações:

    "Quando o Sol, que acabava de sair do seio do Oceano com as suas águas calmas e profundas, feria o campo com seus primeiros raios¹;"

    e em outros lugares :

    Já no seio do Oceano a tocha cintilante do Sol desapareceu, estendendo o véu escuro da noite sobre a terra²;

    Em outro lugar, ele nos mostra as estrelas emergindo do Oceano, onde se banhavam³.

    4. A partir da imagem que ele apresenta da felicidade dos povos ocidentais e da pureza incomparável do ar que respiram, é fácil ver que ouvira falar das riquezas da Península Ibérica; riquezas que, depois de sucessivamente tentarem Hércules e os fenícios, que nessa ocasião ocupavam a maior parte da região, acabaram por provocar a conquista romana. É de fato da Ibéria que o Zéfiro sopra e na Ibéria que Homero localizou o Campo Elísio, onde os imortais, dizem-nos, devem conduzir Menelau:

    Quanto a ti, Menelau, descendente de Zeus, os imortais te levarão ao Campo Elísio, aos limites da Terra: ali está o belo Radamanto, ali também os humanos desfrutam da vida fácil, protegidos da neve, da geada e da chuva, e do seio do Oceano, incessante, eleva-se o sopro harmonioso do Zéfiro.

    5. Acrescentemos que as Ilhas Afortunadas se situam no extremo ocidental da Maurúsia, perto de onde sua costa corre paralela à costa oposta da Espanha; agora, se as ditas ilhas eram consideradas afortunadas, isso só poderia ser devido à sua proximidade a uma região tão afortunada como a Ibéria.

    6. Outras indicações de Homero nos revelam os etíopes também vivendo nos últimos confins da Terra, nas próprias margens do Oceano; eu digo nos últimos confins da terra devido ao verso,

    Os etíopes, que vivem cindidos em duas nações nos confins da terra [...]

    no qual a própria expressão cindidos em duas nações é perfeitamente precisa, como mostraremos mais adiante; e se eu acrescentar nas próprias margens do Oceano, estará de acordo com esta outra passagem:

    Pois Júpiter foi ontem ao Oceano visitar os puros etíopes e participar em seu banquete⁶.

    Agora, como ele implica que a extremidade norte ou ártica da terra também é margeada pelo Oceano. Ele diz, falando da Ursa Maior:

    Também chamada pelo nome da Carruagem, que gira em torno de um único ponto, o Orion sempre a espirar; e apenas ela está privada dos banhos do Oceano ⁷.

    Agora, por Ursa e por Carruagem, ele quer indicar o Círculo Ártico; caso contrário, jamais teria dito: Só ela está privada dos banhos do Oceano, quando tal infinidade de estrelas pode ser vista continuamente realizando sua revolução naquela parte do hemisfério. Portanto, é um erro acusá-lo, como já se fez, de ignorância, por ter conhecido, supostamente, apenas uma Ursa quando na verdade são duas. Não é provável, de fato, que, em seu tempo, a segunda Ursa já estivesse classificada entre as constelações; e, sem dúvida, apenas após os Fenícios a observarem e a utilizarem para a navegação é que essa constelação alcançou os gregos. Como sabemos, os Cabelos de Berenice e a Canopus só há pouco receberam seus nomes e, segundo Arato⁸, tantas constelações ainda estão esperando receberem seus nomes. Segue-se também que Crates não estava certo em querer corrigir o texto e ler o verso

    Οἶος δ’ ἄμμορός ἐστι λοετρῶν,

    substituindo οἴη por οἶος, procurando fazer com que o adjetivo concordasse com Círculo Ártico (que é masculino), ao invés de Constelação do Ártico (que é feminino). Heráclito, por outro lado, está mais correto, e parece-nos, se assim podemos dizer, mais adequado a Homero, quando emprega o nome de Ursa Maior para designar o círculo Ártico:

    A Ursa, afirma, fronteira comum entre o Oriente e o Ocidente; a Ursa, contra a qual sopra o sereno Júpiter.

    Pois é realmente o Círculo Polar Ártico, e não a Ursa em si, que adequadamente marca o limite da ascensão e do ocaso das estrelas. Mas se Homero, sob o nome de Ursa, uma constelação que ele também chama de Carruagem, e que nos apresenta no céu perseguindo e espreitando Orion⁹ pretendia, por assim dizer, designar o Círculo Ártico, sob o nome de Oceano, ele certamente indicava o horizonte, acima e abaixo do qual vemos, em seus versos, as estrelas ascendendo e se pondo; e quando afirma que a Ursa completa sua revolução sem tocar o Oceano, estava ciente de que o Círculo Ártico passa pelo ponto mais ao norte do horizonte.

    Adaptemos agora as palavras do poeta às explicações anteriores: enquanto o nome Oceano desperta em nós a ideia correspondente de horizonte, de horizonte terrestre, e o Círculo Ártico (que ele designa pelo nome de Arctos ou Ursa) não é outro senão o círculo que, a julgar pelos nossos sentidos, passa pelo ponto mais setentrional da Terra habitada, fica estabelecido que, no pensamento de Homero, este lado da Terra também seria banhado pelo Oceano. Ele conhecia bem as nações do Norte, embora não as mencionasse pelo nome (o que é compreensível, pois ainda hoje não existe uma denominação geral para elas), mas é fácil reconhecê-las pelo quadro que pinta de seu modo de vida, quando as descreve como Nômades, Nobres domadores de Éguas, Vivendo do Queijo, ou Sem Riquezas¹⁰.

    7. Ele usa outros meios para nos dar a entender que o Oceano abraça circularmente a Terra; ele, por exemplo, colocará na boca de Juno as seguintes palavras¹¹:

    Porque eu desejo visitar os limites da terra fértil e do Oceano, pai dos deuses.

    Isso indica que o Oceano faz fronteira com todos os extremos! Também na Hoplopoeia¹², ele faz do Oceano a fronteira circular do escudo de Aquiles.

    Acrescentemos como nova prova da extensão do conhecimento que possuía Homero, que o duplo fenômeno da vazão e da cheia do Oceano não lhe era desconhecido, como testemunha o seguinte verso¹³: o Oceano com ondas retrógradas; além desta passagem [sobre Caríbdis]¹⁴:

    Três vezes ao dia ela vomita, e três vezes engole as suas ondas.

    É verdade que deveria ter sido dito aqui duas ou três vezes; mas, quer a diferença se deva a um erro de observação ou a um erro do copista, o objetivo do poeta era, de fato, descrever o fenômeno em questão. A expressão com uma corrente pacífica¹⁵, também apresenta uma imagem precisa da maré cheia que, na verdade, seria mais suave do que impetuosa. Posidônio, por outro lado, pensa poder ver no que Homero diz sobre as rochas alternadamente cobertas e descobertas, bem como quando compara um rio ao Oceano¹⁶, uma dupla alusão aos fenômenos das marés: a primeira razão é correta, mas a segunda não faz sentido, porque o movimento da maré crescente nunca se assemelhou à corrente de um rio, e muito menos a da vazante. A explicação de Crates parece mais plausível: segundo ele, as denominações de corrente profunda, corrente retrógrada, mesmo a comparação a um rio, designam bem, em Homero, todo o Oceano. Mas esta mesma comparação, bem como

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