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A Bruxa Pannell
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E-book316 páginas4 horas

A Bruxa Pannell

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Sobre este e-book

Yorkshire, 1593. Mary Pannell, herbalista de uma pequena cidade, queria apenas o bem de todos. Ela nunca desejou a morte de ninguém. Mas ainda assim, a chamaram de bruxa. Ela merece ter sua história contada.

Quando Mary é presa por bruxaria, ela deve fazer o que for necessário para sobreviver. De métodos de tortura medievais e uma Londres infestada pela Peste, até a iminente ameaça de ser enforcada - terá ela força para enfrentar tudo?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de nov. de 2023
ISBN9781667465661
A Bruxa Pannell

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    A Bruxa Pannell - Melissa Manners

    1

    PRISÃO – ELIZABETH

    KIPPAX, OESTE DE YORKSHIRE, 1593

    Elizabeth sabia que Mary estava escondendo alguma coisa. Do sorriso cobrindo olhos preocupados ao lábio mordido e mãos inquietas; ela estava apavorada. Mas Elizabeth não forçaria a verdade dela.

    — Podemos ir mais devagar, se quiser. Não há pressa — disse Elizabeth. Ela precisava ajudar Mary a acalmar-se.

    — Não — as respirações de Mary eram rápidas. Rasas — estou bem.

    Ela suspirou — se você diz. Me siga — com cada passo, ela tinha que levantar o pé bem alto, sobre a massa de folhas que cobriam o solo — por que aqui?

    — O que quer dizer? — Mary perguntou.

    — Quando você saiu do Salão Ledston, por que veio aqui, para a floresta? Por que não foi para casa?

    Mary limpou a garganta. Estava tendo dificuldades para acompanhar.

    — Aconteceu algo. E eu não conseguia encarar Mãe Pannell.

    — Por que não? Minha mãe gostaria de ajudar. Você é família — aquilo não era estritamente verdade; ela casou para entrar na família, enquanto Elizabeth nasceu uma Pannell.

    Elizabeth soltou o cabelo de trás do colarinho. Estava coçando nesse calor, e ela não precisava ser Eli agora.

    — É complicado — Mary murmurou.

    Debaixo da fina camada de folhas mortas, o chão estava molhado e lamacento. Com cada passo Elizabeth tinha que soltar o pé da lama e deixar cair em sua frente. Havia muitas raízes de árvore para contornar e Elizabeth se preocupava que Mary iria cair. Ela continuava olhando para trás para checa-la — você precisa que eu vá mais devagar? — ela chamou.

    Mary não respondeu.

    Era um dia ensolarado e escalar o chão desnivelado na velocidade em que elas estavam apenas as deixava mais exaustas. Mary andava lentamente, posicionando seu pé nos lugares em que Elizabeth havia pisado. Elizabeth estava aliviada; não queria que Mary caísse.

    — O que aconteceu no Salão Ledston? O que te deixou tão abalada? — Elizabeth perguntou.

    Mary estava pingando de suor, o rosto vermelho e manchado. Ela esteve chorando. O que teria acontecido na casa?

    — Por favor, fale comigo? — Elizabeth tentou de novo.

    Mary forçou m sorriso — estou bem — ela continuou andando.

    Algo estava preocupando ela. Mary fechou os olhos e inalou. Elizabeth a copiou, respirando o ar reconfortante da terra da floresta e escutando o cantar dos pássaros.

    Elizabeth parou em uma pequena clareira, protegida do sol por um círculo de grandes árvores. Era perfeito para sentar por conta dos troncos grandes saindo do chão. Eles não visitavam este lugar há anos, mas Elizabeth nunca o esqueceria.

    Mary se inclinou para frente e pôs as mãos no joelho, ofegando — eu sempre gostei daqui — ela limpo o suor da testa e tirou o chapéu — é escondido. — As únicas pessoas que moravam por perto eram elas e Mãe Pannell, em suas cabanas na extremidade da floresta.

    — Mãe costumava me trazer aqui para nadar Elizabeth disse. Ela pegou a mão de Mary e a guiou para uma área plana à margem do lado. — Você lembra de vir aqui comigo?

    Mary tomou uma segunda chance para recuperar o fôlego. — É Claro. É aqui que costumávamos— as bochechas dela ficaram vermelhas de vergonha e ela olhou para chão. Elizabeth estendeu a mão e colocou uma mecha de cabelo solto atrás da orelha de Mary.

    — Sente aqui. Vamos tentar relaxar, esquecer de tudo.

    Elizabeth se abaixou, uma mão em suas costas, tirou as calças e depois os sapatos. Então ela balançou os pés na água. Ela flexionou os pés, um de cada vez, fazendo pequenos salpicos.

    — Não está frio? — Mary perguntou.

    — Veja por si mesma — Elizabeth gesticulou para que Mary se sentasse ao lado dela.

    Mary soltou um gritinho quando seu pé relou na superfície mas colocou eles mesmo assim — ah, isso ajuda. Meus pés estão tão doloridos da caminhada para cá — Mary andava muito na maior parte dos dias, e ela não era jovem. Ela suspirou e deitou a cabeça no peito de Elizabeth.

    Elizabeth sorriu e beijou o topo da cabeça dela, que estava no ângulo perfeito. Ela soltou o longo e negro cabelo de Mary e deixou que caísse em suas costas. Finalmente, Mary tinha um momento para relaxar.

    — De qualquer forma, é hora de nadar! — Elizabeth começou a se despir.

    — Não! Está muito frio! — Mary disse.

    — Você ainda está suando da caminhada. Venha, junte-se a mim — Elizabeth jogou as calças de trabalho em um galho de árvore próximo e desabotoou a camisa de linho.

    A respiração de Mary acelerou — você me faz sentir como uma criança as vezes!

    Elizabeth sorriu travessamente. Ela correu os dedos pelos cabelos e jogou-os de um lado para o outro. Mary estava assistindo, mas evitava olhar diretamente para ela.

    Mary sorriu e colocou sua saia de lã no mesmo galho.

    — Então venha! Elizabeth chamou.

    Os olhos de Mary se arregalaram conforme ela examinava as pernas longas e nuas de Elizabeth. Os cabelos escuros e densos na parte inferior das pernas cresciam mais esparsos nos joelhos e ficavam mais claros nas coxas. Mary respirou fundo e desamarrou o corpete.

    — Pronta? Elizabeth correu em direção ao lago e mergulhou. O frio chocou o sistema dela de uma vez e ela estava feliz de não ter entrado devagar. Ela desapareceu debaixo da superfície, a água fechando sob sua cabeça, antes de emergir com um grito.

    — A água está fria, não está?

    — Não — Elizabeth mentiu, e então nadou para longe.

    — Eu acho que vou entrar aos poucos — ela sentou na beirada do lago e balançou os pés na água.

    Elizabeth segurou a respiração e nadou debaixo d'água até Mary. Ela esfregou os dedos de Mary com a mão enquanto nadava para a borda, então jogou a cabeça para superfície. Mary arregalou os olhos.

    Ela sempre fingia não ter cócegas, mas Elizabeth a conhecia.

    Elizabeth pulou para fora da água agarrou Mary.

    — Surpresa!

    Mary riu — Elizabeth, está frio. Vamos secar enquanto o sol ainda está brilhando — a expressão de Mary escureceu mais uma vez. O que ela estava escondendo?

    Ela distraiu Elizabeth com um beijo na bochecha — vem aqui — ela deu batidinhas no chão ao lado dela, então espalhou sua saia de linho em cima das duas, protegendo-as do vento. Elas se deitaram para secar no banco gramado do lago.

    Elizabeth tremia. Arrepios se formaram em suas pernas. A grama estava quente do sol, e esquentava suas costas doloridas.

    — Eu gosto daqui — Mary disse.

    — Eu também — Elizabeth acariciou o cabelo escuro e molhado de Mary, listrado de prata — eu gostaria que não precisássemos voltar ao Salão Ledston.

    Mary enrijeceu perto dela — mas você gosta de trabalhar lá, especialmente como Eli.

    Ela enrolou uma mecha do cabelo de Mary em volta do dedo. — Só porque eles não me fazem cozinhar e limpar, não significa que eu ainda não seja uma criada.

    — O que mais você quer ser? — Mary perguntou.

    Elizabeth não tinha uma resposta.

    — Esqueça. Vamos só deitar aqui por um tempo — ela fechou os olhos.

    As gotas de água que corriam sobre as rochas e colidiam com as margens a acalmaram naquele momento. Mary sentou-se mais uma vez de lado, com a cabeça apoiada no peito de Elizabeth. Estava muito mais quente com Mary por perto. Em pouco tempo, ambas adormeceram.

    O quebrar de um galho ecoou atrás delas.

    Os olhos de Elizabeth se abriram. Ela tremia — o sol não estava mais lá em cima. Uma escuridão envolveu - as em sua pequena clareira. Mary já estava acordada — ela empurrou Mary para longe dela e sentou-se em linha reta. Sua mente estava a mil enquanto ela percorria as possibilidades em sua mente. Provavelmente não era nada, um coelho que se assustara ao ver as duas.

    Mais galhos racharam — os sons estavam mais próximos desta vez. Não era coelho nenhum.

    Um cavalo relinchou à distância. Quem poderia ser? Os aldeões normalmente não viajariam tão longe. Talvez fosse um cavalo selvagem, ou mesmo um grupo de cavalos selvagens?

    Um barulho mais alto soou logo atrás delas. Tinha que estar indo em direção a elas, seja lá o que fosse.

    — Rápido, vista-se — Elizabeth sussurrou a Mary — não faça barulho.

    Mary fez o que lhe foi dito. Enquanto ela se vestia, Elizabeth ficou de vigia. Ela estava tentando avistar o que ou quem estivesse por perto, mas em uma floresta tão profunda era impossível ver muito longe ao seu redor.

    — Depressa — instou Elizabeth a Mary. Elizabeth também estendeu a mão para a pilha de roupas, sem tirar os olhos das árvores de onde vinham os sons de galhos rachados.

    Ambas as mulheres estavam parcialmente vestidas quando o homem apareceu. Mary usava um vestido de linho, e Elizabeth tinha uma camisa.

    — Agem — ele limpou a garganta.

    Mary gritou e agarrou a saia para cobrir seu corpo. O homem era mais novo do que Mary e Elizabeth, provavelmente nos seus trinta anos. O som dos passos fez Mary olhar em volta, para ver dez homens esperando e observando-as.

    Elizabeth dirigiu-se a Mary.

    — Não se preocupe. Vamos resolver isto. Vista-se — os olhos de Mary se arregalaram.

    — Meu nome— o homem começou.

    — Com licença — Elizabeth interrompeu, falando alto e claramente — estávamos apenas tomando banho no lago. Por favor, permitam-nos um minuto de privacidade para nos vestirmos.

    Ele tossiu e gaguejou suas palavras, não acostumado a esse tipo de franqueza vinda de uma mulher.

    — Ah, sim. Sim, suponho — ele fez um gesto para os outros homens, que se viraram. Mary vestiu o corpete e a saia pesada de lã. Elizabeth tirou a lama seca de seus pés. Pedaços de lama estavam presas nos pelos de suas pernas, então ela esfregou o que pôde. Ela enfiou as pernas nas calças e as duas calçaram os sapatos.

    — Quem são estes homens? — Mary murmurou, respirando rápido — porque estão aqui?

    — Não se preocupe. Aconteça o que acontecer, podemos resolver isso.

    — Elizabeth, acho que isto é sobre mim — as bochechas de Mary ficaram avermelhadas, mais com raiva do que com vergonha — mas você tem que confiar em mim. Não fiz nada de errado.

    Mary vestiu a capa assim que eles se viraram.

    — Agem — o homem que tinha falado antes olhou com desaprovação para Mary — o meu nome é Sir Henry Griffith, de Burton Agnes, Juiz de paz e alto xerife. Ele usava um casaco vermelho brilhante e bem ajustado. Combinava com suas calças, que estavam enfiadas em meias brancas. Suas roupas o diferenciava do grupo vestido de forma simples atrás dele.

    Lágrimas brotaram nos olhos de Mary; ela estava assustada. Elizabeth balançou a cabeça para ela. Mary prendeu a respiração para se acalmar.

    — Procuro prender Mary Pannell, nascida Tailor, por suspeita de bruxaria.

    Os olhos de Mary se arregalaram e ela soltou um suspiro involuntário.

    Elizabeth pôs-se à frente de Maria.

    — Fique atrás de mim — disse ela baixinho.

    Sir Henry tirou um rolo de pergaminho do bolso interno do casaco. Ele franziu a testa enquanto lia.

    — A acusação é que você fez um encanto em Sir William Witham, do Salão Ledston, levando-o para a sua cama, e que você o enfeitiçou até a morte.

    Mary sufocou um soluço.

    — Não — Elizabeth balançou a cabeça — não! — Por que ele estava dizendo essas coisas? —Você entendeu errado; Mary não faria isso.

    — Por este meio, você está apreendida. Você será aprisionada e interrogada por até três dias, período durante o qual buscaremos uma confissão e, posteriormente, a levaremos a julgamento.

    Elizabeth se virou, mas Mary evitou o contato visual. Ela não conseguia se segurar mais. Ela chorou, lágrimas escorrendo pelo rosto. Elizabeth apertou a mão dela.

    — Mary, conte a eles — ela cerrou os dentes, tentando manter a calma — conte-os que pegaram a pessoa errada. Sei que não fez isto.

    — Desculpa — ela enfiou as unhas nas palmas das mãos de Elizabeth — não achei que nos encontrariam aqui — seus soluços pontuaram suas palavras — eu sou inocente. Eu prometo.

    Sir Henry acenou com a cabeça para dois de seus homens, que se aproximaram de Mary e a agarraram pelos ombros. Tiraram-na de perto de Elizabeth.

    — Parem! — Elizabeth gritou. Ela deu uma cotovelada no peito do homem ao lado dela e ele se encolheu de dor.

    — Largue ela.

    Um homem agarrou Elizabeth por trás e jogou-a no chão.

    Mary gritou.

    — Deixe-a em paz, ela não tem nada a ver com isto!

    — Mary? Mary! — Elizabeth tentou levantar-se, mas o homem manteve o pé firmemente sobre as costas dela, enterrando o rosto na lama, e ela não conseguia se mover. Ela não podia nem vê-la enquanto a arrastavam para longe.

    2

    VENENO - MARY

    Naquela manhã, Mary não tinha como saber o que viria a ocorrer. Ela nunca desejou fazer mal algum. Na verdade, ela fez tudo o que podia para curar o menino. Como ela não poderia? Ela era apenas uma criada, mas ainda assim — ela o balançou para dormir quando bebê e o ajudou a dar seus primeiros passos quando criança. Mas do nada esta doença tomou conta dele, atacando-o de dentro até que ele ficou só pele e ossos; aquela tosse terrível ecoando pelos corredores do Salão Ledston. Mary tinha certeza de que a mistura iria cura-lo ela não poderia saber que a mãe dele ia chamá-la de 'bruxa'.

    Por agora, ela tentava tirar as preocupações de sua mente. Mary inclinou-se para frente, depois arrastou o esfregão para trás pelo chão e sentou-se sobre os calcanhares. Ela esfregou para a frente e para trás. Para a frente e para trás. De novo e de novo. O chão não estava sujo, na verdade. Mas se não fosse lavado todos os dias, a sujeira se acumularia. E era importante que o Salão Ledston sempre aparentasse perfeito. Mary mergulhou o esfregão no balde de água com sabão, arrastou-se de joelhos e começou de novo. Esfregando para a frente, esfregando para trás. A dor familiar penetrou na parte superior das suas costas, então ela descansou no chão. Ela piscou, tentando evitar que o suor pingasse nos olhos, e enxugou a testa com a manga úmida.

    Lady Witham limpou a garganta, fazendo Mary pular de susto.

    Mary voltou ao trabalho, com os olhos firmemente no chão. Ela não queria ser chicoteada.

    Lady Witham estava no andar de cima, no topo da grande escadaria. Mary olhou para cima discretamente, enquanto continuava a esfregar o chão. O Salão tinha tetos altos onde teias de aranha pareciam se formar nos cantos superiores quase que diariamente. Ela teria de os limpar hoje. Ela reclamou baixinho. Mary odiava alturas.

    Ela olhou para Lady Witham. Mal era meio-dia, mas lá estava ela, apoiada no corrimão e engolindo algo de uma garrafa de vidro. Mary balançou a cabeça, tentando ignorá-la. Ela pensou em Elizabeth; ela deve estar por aqui em algum lugar. O que estaria ela fazendo agora? Polindo a prata? Não, era muito cedo para isso. Estava seco hoje. Talvez ela estivesse no terreno. Cortando a lenha? Alimentando os cavalos? Quando ela teve a chance, Mary resolveu procurá-la.

    Lady Witham veio tropeçando abaixo na escada curva, murmurando algo para Mary. O lado de seu corpo deslizou ao longo do corrimão, pois ela não conseguia se manter em pé. Seus pés pisavam forte escada abaixo, um de cada vez, até que finalmente ela chegou ao fim. Ela mostrou os dentes pretos em uma careta e grunhiu.

    — Sim, senhora? Mary sentou-se ereta, tremendo por conta de um osso estalando nas costas. Isso não poderia ser bom. Ela deveria buscar Mãe Pannell para ela dar uma olhada

    — Eu disse, levante. Entregou a minha carta à Mãe Pannell?

    — Sim, senhora — Mary assentiu e jogou o esfregão num balde de água. Ela enfiou a mão no bolso da saia e tirou um pequeno pacote, fechado com um selo de cera para garantir que Mary não o tivesse aberto.

    Antes que Mary tivesse a chance de perguntar o que era, Lady Witham tomou-o de suas mãos.

    — Vou beber um pouco de vinho.

    Mary fez um gesto para a outra criada que estava trabalhando

    no chão hoje. Ela terminaria por aqui.

    Lady Witham estalou os dedos para Mary, e então apontou à grande porta de carvalho da sala de estar.

    — Aqui dentro — ela olhou para ela de cima abaixo, franzindo a testa — e limpe-se — estava escuro nesta casa, com as suas janelas pequenas e altas e poucas velas nas paredes. Mary tinha certeza de que parecia bem, mas não era hora de discutir.

    — Sim, senhora — Mary levantou-se, mas imediatamente deu um passo para trás, tentando evitar o cheiro de álcool que cercava Lady Witham.

    — Por favor, há outra coisa.

    Lady Witham a ignorou.

    — Por favor, senhora. Eu queria te dar...

    — Eu não tenho tempo para isso. Vá.

    Mary suspirou. Ela deveria ter percebido naquela hora que algo não estava certo. Depois de trabalhar na casa por anos, ela sabia que não era tarefa da empregada servir bebidas. Mas tudo o que ela conseguia pensar naquele dia era no menino. Ele teria de esperar. Ela se apressou para as cozinhas. Seu irmão, o mordomo do Salão Ledston, estava sentado do lado de fora falando com uma das empregadas da cozinha, Dorothy.

    — William? — ela chamou.

    Ele a ignorou. Dorothy estava rindo de algo que ele havia dito. Por que essas jovens moças demonstravam algum interesse por ele? Ele estava acima do peso, apostou todo o seu dinheiro e era casado.

    — William? — Mary chamou, mais alto desta vez. Ela saiu e ficou na porta, com os braços cruzados — não deveria estar trabalhando?

    Ele piscou para ela.

    — Meio ocupado agora. Volta mais tarde? — Dorothy ainda estava perto dele, então Mary fez uma cara feia para ela. Ela sabia que William era casado.

    — Lady Witham quer um pouco de vinho — disse Mary.

    William suspirou. Ele sabia que não podia negar a senhora da casa, então deu a Dorothy um olhar tristonho.

    — Você a ouviu; vamos lá.

    Mary os seguiu para dentro, onde Dorothy relatou ao cozinheiro chefe, enquanto William começou a polir a prata. Mary ficou fora do caminho e olhou em volta das cozinhas. Ela orgulhava-se de ter sido sempre uma empregada doméstica. Mesmo quando era jovem, nunca esteve confinada às cozinhas. A equipe da cozinha estava correndo para cima e para baixo freneticamente, preparando o resto das refeições do dia.

    — Por que ela lhe pediu para trazer o vinho? — perguntou William, arqueando a sobrancelha.

    Mary deu de ombros.

    — Como eu saberia? — mas ela tinha uma noção

    do que isso se tratava. Lady Witham suspeitava há muito tempo que o marido tinha casos com as criadas, mesmo as tão velhas quanto Mary.

    William pôs um pouco de vinho em uma jarra e colocou-a junto com alguns copos na bandeja.

    — Ela não disse que Sir William iria juntar-se a ela — disse Mary. William sorriu — ela vai pedir que alguém o chame. Mas ele provavelmente não virá. Ele a odeia — e quem não?

    — Ela vai querer açúcar — ele gesticulou para um pequeno prato na frente de Mary, onde havia uma série de pequenos cubos brancos.

    — Eu não entendo por que ela gosta disso — Mary pegou um deles, segurou-o perto do nariz e cheirou — o que há de tão especial no açúcar?

    William deu de ombros.

    — Tudo o que sei é que não vale a pena a dor de cabeça. Só há um ou dois homens no país que o vendem, e metade das vezes não têm estoque de qualquer forma.

    Ela acenou com a cabeça e levou tudo para a sala de estar.

    Maria bateu na porta três vezes, mas não houve resposta. Ela tentou de novo.

    — Entre! — a senhora Witham chamou.

    A mulher sentou-se encolhida, minúscula em comparação com sua cadeira alta no centro do cômodo. Os ossos do peito dela se protuberava sobre o decote baixo de seu vestido, fazendo-a parecer menos que humana. A borda de seu lábio subiu em um sorriso perverso que expôs seus dentes enegrecidos. Ela não tinha vergonha de seus dentes — fizeram ela pensar que se parecia com a Rainha Elizabeth.

    — Mary, finalmente. Ali mesmo. É isso — ela apontou para a mesa à sua frente.

    — Sim, senhora. Mary colocou a bandeja na mesa e serviu um copo de vinho para Lady Witham — tem um minuto? Queria falar com a senhora sobre uma coisa.

    Lady Witham ajeitou os ossos de seu corpo para sentar-se ereta na beirada da cadeira.

    — Não — ela levantou a voz — vá buscar meu marido. Diga-lhe que gostaria que se juntasse a

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