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Loucura Do Espelho - A Realidade Interna
Loucura Do Espelho - A Realidade Interna
Loucura Do Espelho - A Realidade Interna
E-book521 páginas57 minutos

Loucura Do Espelho - A Realidade Interna

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Sobre este e-book

Coiote, o personagem principal desta jornada de auto conhecimento, mora sozinho em um apartamento, ao qual não se lembra especificamente de como chegou lá. Pelo uso abusivo de drogas e álcool ele acaba caindo em um espaço/tempo diferente de nossa realidade, causando ilusões reais ou reais ilusões, ao qual, tem a possibilidade de viajar dentro do espelho descobrindo tudo o que esqueceu de aprender em sua jornada. Loucura do Espelho, A Realidade Interna, é um livro para causar reflexões, com muitas coisas de nosso cotidiano simples. Eleva o pensamento para uma forma crítica de pensar somente dentro desta realidade, causando aversão aos vícios, as superficialidades do contato humano e as loucuras guardadas a 7 chaves dentro de nós mesmos. O uso de uma linguagem nada complicada, mostra a compreensão e o segmento de uma história verídica, em algumas partes do desenrolar do enredo, juntamente com fatos cômicos e ao mesmo tempo “tragediosos”, inventados, logicamente. O leitor poderá entender que os fatos reais são os que aconteceram em minha descoberta interior dos dezessete aos vinte e três anos de idade. Partes inventadas para criar mais drama e mais loucura são inevitáveis e tornam a leitura agradável e surpreendente com a profundidade dos assuntos observados. Não subestime a capacidade do intelecto da mente humana. Podemos ir longe, somente em nossas mentes.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de jan. de 2019
Loucura Do Espelho - A Realidade Interna

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    Pré-visualização do livro

    Loucura Do Espelho - A Realidade Interna - Abel Biasi

    Loucura do Espelho 

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    LOUCURA DO ESPELHO 

     A REALIDADE INTERNA 

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    Abel Biasi 

    LOUCURA DO ESPELHO 

    A REALIDADE INTERNA 

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    2005 por Abel Biasi 

    Título 

    Loucura do Espelho – A Realidade Interna 

    Todos os Direitos Reservados 

    ABEL BIASI 

    Capa 

    ABEL BIASI 

    Revisão Ortográfica: 

    Abel Biasi 

    EDIÇÃO  

    JANEIRO DE 2019 

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    A  nossa  mente  produz  ilusões  tão  grandes  que  chega  a  ser  difícil

    apenas  imaginá-las,  quanto  mais  senti-las.  Ou  até,  podemos  senti-las,

    mesmo  somente  as  imaginado.  Temos  muito  que  aprender  com  tal 

    máquina,  que  desperta  em  nós,  algo  que  não  conseguimos  distinguir, algo

    surreal. Será então tudo real? Ou será ilusão? 

    Temos  ainda  algo  a  mais,  que  os  cientistas  quebram  a  cabeça

    tentando  entender  seus  significados.  Somos  seres  invejáveis  quanto  à

    capacidade de raciocínio, dedução e junção de idéias. Mas, estamos ainda, 

    usando  menos  do  que  realmente  poderíamos  usar  e,  usando  para  fins

    maléficos.  Se  assim  pensarmos  e  conseguíssemos  fazer  com  que  pessoas

    parassem de fabricar bombas atômicas e transformassem, essas suas armas, 

    em resultados de energias quase que inexpiráveis, sendo esse o seu único e 

    verdadeiro  pensamento,  teríamos  um  fim  pacífico.  Seríamos  um  povo,  ou

    uma raça, cada vez mais perto do sentido da palavra evolução

    Se  realmente  existe  uma  evolução  genética,  nós,  como  os  únicos 

    seres pensantes e com intelecto desenvolvido e  que assim se acha, estamos 

    estagnados nessa cadeia evolutiva. Estamos provando que, de nada adianta 

    a inteligência se não conseguirmos controlá-la para um bem único. 

    Se,  realmente  existe  um  Deus,  estamos  indo  contra  os  seus 

    princípios  de  vida  perfeita  ou  vida  eterna.  E  se  viemos  do  macaco,

    comprovando assim que sempre estamos em evolução, estamos regredindo 

    com essas guerras e formas diferentes de viver. O que vemos que tudo isso 

    o que tornamos, estamos acabando com o planeta. Somos ao mesmo tempo, 

    a raça invejável, com atos detestáveis. Mas, há quem diga que as guerras é 

    um dos frutos da evolução, fazendo com que a tecnologia se estenda. 

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    Somos  capazes  de  muitos  afazeres  benéficos.  Somente  nos  basta 

    reaprender  a  caminhar,  não  em  passos  carnais,  mas,  sim,  em  passos

    espirituais. 

    Loucura  do  Espelho,  A  Realidade  Interna,  é  um  livro  para  causar 

    reflexões,  com  muitas  coisas  de  nosso  cotidiano  simples.  O  uso  de  uma

    linguagem  nada  complicada  mostra  a  compreensão  e  o  segmento  de  uma

    história verídica,  em algumas partes do desenrolar do enredo, juntamente 

    com  fatos  cômicos,  de  igual  intensidade  e  ao  mesmo  tempo  trágicos,

    inventados,  ou  não,  logicamente.  O  leitor,  poderá  entender  que  os  fatos

    reais  são  os  que  aconteceram  em  minha  descoberta  interior  dos  dezessete

    aos  vinte  e  três  anos  de  idade.  Partes  inventadas  para  criar  mais  drama  e

    mais loucura, são inevitáveis e tornam a leitura agradável e surpreendente. 

    Não  subestime  a  capacidade  do  intelecto  da  mente  humana! 

    Podemos ir longe, somente em nossas mentes! 

    Mas  agora,  responda:  Costuma  se  ver  ao  espelho?  Já  imaginou, 

    ou  fez  perguntas  a  si  mesmo  diante  do  espelho?  Se  você  fez,  houve

    resposta? Se não o fez, foi por qual motivo? Medo? Vergonha? Por parecer 

    um estúpido com esta ação? E se houvesse resposta? E se a resposta fosse 

    completamente  diferente  do  que  já  havia  pensado  antes  a  respeito  deste

    assunto?  Como  se  sentiria  agora,  vendo  que  sua  mente  pode  lhe 

    surpreender?  Consegue  profundamente  olhar  aos  seus  olhos  refletidos  ao

    espelho? 

    Vivemos  em  uma  realidade  que  nem  nós  conhecemos,  não 

    imaginamos a verdade que há dentro de nós. A certeza, que desde criança 

    temos e que sabemos ser verdade, é esquecida enquanto os anos passam e 

    vamos  envelhecendo.  A  mente  se  esquece  da  pureza  que  temos  e  damos

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    passagem ao cepticismo. Vemos causas e coisas estranhas, mas, ao mesmo 

    tempo  em  que  acostumamos  a  vê-las,  acostumamos  a  esquecê-las,  no 

    segundo seguinte. 

    Nossa mente é completa! Basta somente sabermos o que fazer com 

    ela e aprendermos como pensar direito! 

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    Parecia um sonho! Era lindo ver aquele cenário! Tudo era de uma 

    cor  muito  pura,  parecia  pintura  em  três  dimensões.  As  cores  vibravam,

    assim  como  o  vento  vibrava  ao  tocar  meu  rosto.  Era  um  campo  muito

    esverdeado  e  uma  grama  bonita  e  vistosa.  Bem  aparada.  Podia-se  até

    mesmo deitar-se sem nenhum receio de sujar-se, era densa como um tapete. 

    As  árvores,  impunham-se  de  um  verde  causador  de  inveja  a  qualquer

    Pantanal. As frutas, eram grandes e pareciam ser mais puras do que as que 

    costumava  ver,  ou  as  quais,  achava  estarem  perfeitas.  As  pessoas, 

    alegravam-se  em  pequenas  rodas  de  amigos  sempre  com  um  sorriso 

    verdadeiro  ao rosto,  dizendo  coisas  belas.  Relatos  bons.  Esse sorriso  puro

    em  seus  rostos  contagiava  a  todos  que  ali  estavam.  Era,  verdadeiramente,

    um  cenário  de  pura  alegria  e  tranquilidade.  Vestiam-se  uniformemente,

    com roupas dentro da tonalidade da cor bege e  todos, todos, eram de uma 

    beleza invejável. 

    Uma bela garota de cabelos cacheados à cor do sol, alta, chegou ao 

    meu lado. Seus olhos azuis me contaminaram de pureza. 

    -  Olá  Coiote!  Chegou  cedo!  Não  esperávamos  que  chegasse  tão 

    cedo assim! Mas, já que está por aqui, venha, vou lhe apresentar a todos! –

    disse assim e foi puxando-me pela mão. 

    Enquanto  andávamos,  percebi  que  tudo  era  mais  perfeito  ainda. 

    Crianças  divertiam-se  correndo  e  jogando-se  à  grama.  Havia  uma  música

    quase  que  angelical  sendo  tocada  em  meus  ouvidos.  Alguns  metros  de

    distância,  debaixo  de  uma  árvore,  um  grupo  de  jovens  tocava  alguns

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    instrumentos. Parecia eu conhecer a composição a que tocavam, mas, seus 

    instrumentos pareciam distintos e não havia como entendê-los. Comecei a 

    perceber que as cores iam desfazendo-se e pouco a pouco iam borrando-se, 

    até  que  tudo  se  desfez  num  redemoinho  instável  de  tintas  borradas.  Tudo

    aquilo sumiu da minha frente e voltei à minha realidade. 

    Encarei-me  ao  espelho  de  meu  pequeno  banheiro.  Cabelos 

    despenteados,  completamente  desbotados  e  viam-se  apenas  os  resquícios

    das  tintas  que  eu  usava.  Meu  rosto  cansado,  meus  olhos  vermelhos,

    completamente  estáticos.  Percebi  logo  o  barulho  de  alguém  batendo  à

    minha  porta  e  deduzi  que  isto  havia  me  trazido  de  volta  dos  meus pouco

    insanos  pensamentos.  Dei  uma  última  olhada  em  meu  rosto,  joguei  uma

    água  para  acordar  mais  depressa  e  respondi  gritando  que  já  iria  atender  a

    porta, por fim peguei um boné pendurado à maçaneta da porta escondendo 

    o cabelo bagunçado.  

    Saí do banheiro, peguei o maço de cigarros na cozinha e acendi um. 

    Cheguei à porta e olhei ao olho mágico. Vi que se tratava de algum amigo 

    meu, mas, mesmo sem diferenciar quem era abri a porta. 

    - Fala Coiote! – disse Marquinho. 

    - O que conta meu velho? – respondi cumprimentando-o da forma 

    que tínhamos costume. 

    -  Trouxe  algumas  primas  da  Lenice.  Podemos  entrar?  –  disse  e 

    entraram todos. 

    - Claro! Claro! Acho que está um pouco bagunçado, nem lembro o 

    que fiz ontem. – falei enquanto entravam. 

    A Realidade Interna 

    Loucura do Espelho 

    A  casa  tinha  somente  duas  cadeiras  à  cozinha,  onde  existia  uma 

    mesa  de  metal,  dessas  de  bar.  Havia,  onde  era  para  ser  a  sala,  um  grande

    tapete verde que já estava ali quando cheguei. Sempre que amigos vinham 

    me  visitar,  sentávamos  todos  ali  para  fumar,  para  beber  e  para  contar

    histórias  engraçadas  enquanto  escutávamos  alguma  boa  música  de  Rock

    and Roll. Assim, como era o costume, liguei o som e ficamos escutando um 

    bom CD de uma banda chamada Dream Theater.  

    O  cigarro  foi  preparado  e  logo  aquela  fumaça  invadiu  a  sala,  os 

    pulmões e nossas mentes. 

    As conversas logo tomaram um rumo sem sentido algum. As duas 

    garotas, primas de Lenice, estavam dando gargalhadas e olhando em volta. 

    Minha  casa  não  era  realmente  muito  interessante.  Paredes  brancas,  um

    aparelho de som e um tapete verde surrado e cheio de manchas de cervejas 

    e outras bebidas tri destiladas. Da sala, via-se um pedaço do quarto com a 

    cama  desarrumada,  algumas  roupas  jogadas  ao  carpete  azul  escuro  e 

    algumas caixas empilhadas a um canto, que me serviam de guarda-roupas. 

    A cozinha era pequena, não maior do que precisava e não menor que minha 

    descrição.  Tinha  fogão  e  geladeira  em  miniatura,  até  mesmo  o  botijão  de

    gás era em miniatura, como assim gostava de chamar, além de mesa e duas 

    cadeiras de bar, como já havia dito. O banheiro, simples com um boxe, um 

    armarinho e outro espelho às costas da porta. Havia dois espelhos, o que se

    tornou muito interessante quando eu os descobri. Este era meu apartamento 

    e não mais do que realmente precisava. Muitos gostariam de ter aquilo que 

    eu tinha, pelo menos disso eu tenho absoluta certeza. 

    A Realidade Interna 

    10 

    Loucura do Espelho 

    -  Mas,  o  que  estas  garotas  estão  rindo  tanto?  –  perguntou 

    Marquinho. 

    -  Deve  ser  por  causa  desta  casa.  Elas  me  disseram  que  nunca 

    fumaram  dentro  da  casa  de  alguém.  –  respondeu  Lenice  vagarosamente

    dando  uma  risadinha  picada,  curta,  daquelas  que  tem  e  não  tem  graça  ao

    mesmo tempo. 

    - Hei! – houve silêncio. – Garotas! – chamei demorando um pouco 

    para conseguir chamar a atenção. – Podem levantar-se e olhar minha casa. 

    Ela é desarrumada, mas podem olhar à vontade. Parecem estar curiosas. 

    -  Nossa!  Como  é  morar  sozinho?  –  perguntou  Dani,  uma  das 

    garotas. 

    - Normal! – respondi. 

    -  Como  assim,  normal?  Só  isso?  –  perguntou  Cristiane,  a  outra 

    prima de Lenice. 

    - Tem seus momentos. Não tem hora pra chegar, mas você tem que 

    arrumar tudo. – falei. 

    - Mesmo assim deve ser legal! – disse Dani olhando para a pilha de 

    louças sobre a pia. 

    -  Deve  ter  também  seus  puros  momentos  de  solidão.  –  retrucou 

    Marquinho. 

    -  Sim,  tem  sim.  Estes  momentos  são  cruéis,  mas  depois  que  se 

    acostuma, tira-se de letra. – respondi. 

    - Você está sumido Coiote! – disse Lenice com seu jeito tranqüilo 

    de falar. – O que anda fazendo? 

    -  Fico  em  casa  a  maior  parte  do  tempo.  Fumando,  pensando, 

    dormindo. – respondi. 

    A Realidade Interna 

    11 

    Loucura do Espelho 

    - Isso que é vida. – disse Dani. 

    -  A  conversa  está  boa,  mas  a  loucura  está  pouca.  E  agora,  o  que

    fazemos? – disse Marquinho. 

    - Vamos fumar de novo! – respondi indo ao meu quarto e trazendo 

    mais um cigarro pronto. 

    Em  alguns  minutos,  todos estavam  de  pé  curtindo  o  som  de  outra 

    banda de Rock, desta vez era um estilo mais pesado e não nos deixava ficar 

    parados.  Como  todos  gostavam  deste  tipo  de  música,  estávamos 

    balançando a cabeça como se estivéssemos tocando guitarra em cima de um 

    palco. Eu já estava um pouco distante em meus pensamentos e nem mesmo 

    percebi que estava dentro do banheiro, novamente, brincando com as gotas 

    d’água  da  torneira,  enquanto  caiam  no  ralo  da  pia.  Virei-me  em  seguida,

    quando  havia  terminado  de  lavar  minhas  mãos  e  levantando  os  olhos

    encontrei-os ao espelho, ao qual estava atrás da porta. Ali fixei meu olhar.

    Lembrei-me o que havia acontecido alguns momentos antes e ali parei meu 

    pensamento. 

    Meus  olhos  estavam  estagnados  novamente  ao  espelho,  sem 

    movimento  algum,  nem  sequer  um  espasmo  óptico.  Em  algum  tempo 

    pareciam  já  estarem  cansados  de  não  fazerem  movimento,  então  o  meu

    reflexo  ao  espelho  fez  um  movimento  levantando  a  pálpebra.  Incomodei-

    me. Achei aquilo engraçado, pois, não havia eu feito movimento algum, ou 

    pelo menos, não havia sentido. 

    Continuei a observar-me ao espelho e, segundos depois, comecei a 

    me  sentir  estranho,  como  se  sentisse  nauseado.  Meu  reflexo  ao  espelho

    começou  a  mudar,  primeiro  devagar,  depois  com  certa  rapidez  obteve  um

    aspecto  bem  diferente.  Não  era  de  um  reflexo,  mas,  de  uma  realidade

    A Realidade Interna 

    12 

    Loucura do Espelho 

    conflitiva, como se fosse uma janela, onde poderia visualizar outro mundo, 

    completamente diferente e, por conseguinte,  outro eu. 

    O meu reflexo ao espelho começou a transformar-se. O cabelo, ao 

    reflexo, que era de um azul desbotado, tornou-se um preto vistoso e muito 

    bem  cuidado.  Parecia  estar  penteado,  para  meu  espanto.  Meu  semblante,

    que  sempre  era  de  um  cansaço  extremo,  por  sempre  estar  distante  da

    realidade  e  por  um  imenso  toque  de  desmazelo,  tornou-se  belo  e  bem

    aparentado. Barba feita, olhos mais vivos do que os meus aos quais já havia

    acostumado.  Em  seguida,  as  roupas  também  se  modificaram  para  um  tom

    mais  vivo  do  que  as  minhas.  Por  ter  um  estilo  mais  agressivo,  minhas

    roupas  eram  um  tanto  desgastadas  e  rasgadas.  Mais  porque  eu  queria  que

    fossem  assim,  surradas.  Mas,  tudo  aquilo  era  incrível!  Fora  uma 

    transformação  que  vi  em  meu  próprio reflexo!  Ainda  sério,  olhava  aquela

    moldura  sem  ação,  que  se  tornara  viva!  Uma  piscada  e,  em  seguida,  um

    largo sorriso abriu-se. O susto levou-me a dar um passo para trás, quase que 

    me fazendo bater a parede e assim pensando que a mesma não estivesse ali, 

    construída atrás de mim. 

    -  Me  desculpe.  –  disse  o  espelho  para  mim  numa  forma  muito 

    gentil.  –  Mas,  você  mostrou-se  muito  mais  do  que  pronto  para  isto.  Acho

    que seu susto não será tão grande assim. 

    Fiquei  alguns  segundos  sem  ação.  A  voz,  que  saia  do  espelho  era 

    realmente igual a minha, mas tinha um toque de sutiliza que não sabia  ser 

    possível  em  meu  jeito  de  falar,  ou  assim  pensava.  Estático,  observei,  até

    que tive forças para fazer algo. Fechei os olhos e abaixei a vista colocando

    minhas mãos sobre meu rosto. 

    A Realidade Interna 

    13 

    Loucura do Espelho 

    -  Eu  devo  estar  pirando!  –  falei  com  os  olhos  fechados  e  em  voz

    baixa. 

    -  Não!  Você  está  apenas  enxergando  a  realidade.  –  disse  a  voz 

    calma saindo do espelho. 

    Levantei meus olhos e vi seu sorriso, idêntico ao meu. 

    -  Incrível!  –  sussurrei  ainda  com  as  mãos  tapando  metade  de  meu 

    rosto.  –  Quem...  ou...  o  que  é  você?  –  perguntei  observando  a  borda  do

    espelho. 

    - Não me reconhece? – disse o reflexo em tom de zombaria. – Sou 

    seu   outro  eu!  Mas,  um  pouco  melhor  cuidado,  como  pode  notar.  –  disse 

    olhando para si mesmo. 

    - Mas... Mas... isso... Como é possível? – perguntei indignado. 

    -  Simples!  Sua  mente  chegou  a  um  ponto,  quando  as  realidades 

    vêm a se convergirem, uma com as outras, não existe ilusão.  – respondeu 

    ele. – Mas, a pergunta que deveria ter feito, ainda não é essa. 

    - E qual seria? – perguntei. 

    -  Não  sou  eu  que  irei  perguntar!  –  disse  ele  olhando  para  o  lado

    como  se  estivesse  vendo  alguém  do  seu  lado  do  espelho  que  eu  não

    conseguia ver. 

    -  Mas,  eu  nem  sei  o  que  devo  perguntar!  Não  sei  agora  nem  se 

    estou vivo? – indaguei. 

    - Vivo? - disse e riu-se vagarosamente. - Sim, está vivo, e diga-se, 

    muito vivo! Agora, você pode começar a fazer todas aquelas perguntas sem 

    resposta que você tem aí dentro, guardadas em sua mente tão grande, como 

    já sabemos que é. 

    A Realidade Interna 

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    Loucura do Espelho 

    -  Tenho  que  fazer  perguntas  então?  Bem,  acho  que  tenho  muitas 

    perguntas  sem  respostas,  mas,  devo  perguntá-las  a  você?  Talvez  suas

    respostas sejam iguais as minhas respostas, nas quais, verdadeiramente, não 

    fazem sentido algum. 

    -  Não  necessariamente.  Não  irei  lhe  responder  automaticamente. 

    Vou lhe mostrar o caminho certo para achá-las por si só. – disse o espelho.

    – Respostas, todos podem dar, aprender a encontrá-las que é o difícil. 

    -  Mas,  não  entendo.  Quem  é  você?  Você  é  meu  outro  eu?  – 

    perguntei finalmente sem ao menos perceber que havia feito uma pergunta. 

    -  Chegamos  ao  ponto!  Você  fez  sua  primeira  pergunta  certa!  E 

    agora  respondendo,  não!  Por  enquanto  é  assim.  Sou  seu  outro  eu,  até  que

    você  tenha  entendimento  suficiente  para  diferenciar  você  mesmo  de  outra

    pessoa, com personalidade diferenciada. 

    -  Meu  Deus!  –  exclamei  colocando  as  mãos  à  boca  e  olhando  o 

    espelho em volta. – Acho que estou ficando cada vez mais louco. 

    - Muito bem! É disso que precisamos agora! Loucura! – respondeu 

    ele. 

    - Não estou entendendo nada. – falei. 

    -  Na  hora  certa  irá  começar  a  entender.  –  falou  calmamente 

    enquanto  eu  olhava  para  ele  de  forma  interrogativa.  -  Agora  vá!  Seus

    amigos  estão  preocupados  contigo.  Não  deve  deixá-los  esperando,  nem

    mesmo  dizer  o  que  está  acontecendo.  Não  é  uma  situação  agradável  de

    explicar.  Bem,  seria  a  deixa  para  uma  internação  em  algum  sanatório  do

    estado. – disse e riu-se. 

    O  espelho  começou  a  voltar  ao  normal,  sem  que  eu  quisesse. 

    Vagarosamente as cores iam mudando e a as formas também voltavam ao 

    A Realidade Interna 

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    Loucura do Espelho 

    normal, até que vi meu reflexo novamente. Movimentei meu rosto para ver 

    se  era  eu  mesmo  e  vi  que  agora  era  a  minha  realidade.  Eu  estava  pálido,

    como se estivesse presenciando algum fato sobrenatural, o que não deixava 

    de  ser  verdade.  O  meu  cabelo  despenteado  voltou  a  estar  ali.  Levantei  o

    braço  e  vi  que  este  era  meu.  As  batidas  na  porta  estavam  cada  vez  mais

    fortes.  Abri-a  com  cara  de  assustado  e  pálido.  Todos  estavam  assustados

    junto à porta do banheiro. 

    -  Por  que  não  respondeu  Coiote?  –  perguntou  Marquinho.  – 

    Estávamos querendo arrombar a porta já! 

    - Pensamos que havia desmaiado aí dentro! – disse Dani com cara 

    de muito assustada. 

    - O que é que está havendo contigo? – perguntou Lenice olhando-

    me com cara de quem não estava me conhecendo mais. 

    - Galera. – falei calmamente. – Estava apenas usando o banheiro. O 

    que há de mal nisso? 

    -  Ficar  meia  hora  no  banheiro  não  é  uma  coisa  normal,  não  acha 

    Coiote?  –  disse  Marquinhos.  –  Você  realmente  está  muito  estranho!  Não

    parece mais com aquele velho Coiote que conhecia! Pra mim já deu o que 

    tinha  que  dar,  vamos  embora  daqui  pessoal!  –  disse  por  final  virando  as

    costas e indo em direção à porta com as meninas. 

    Todos eles ficaram temerosos com que havia acontecido, pareciam 

    estar  indo  embora  da  casa  de  um  psicopata  que  lhe  tentaria  contra  suas

    vidas. Acharam ainda, que iriam me encontrar morto dentro do banheiro e, 

    sinceramente, minha aparência não estava das melhores. Mas, encontrava-

    me  muito bem, cada dia estava mais consciente, embora para muitos, isso 

    não era nem um pouco convincente. 

    A Realidade Interna 

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    Loucura do Espelho 

    Foram  embora  assim,  sem  dizerem  muita  coisa.  Não  era  de  se 

    admirar pensando bem, embora no momento, para mim, não fazia o menor 

    sentido.  Olhei  então  para  o  relógio  e  vi  que  haviam  se  passado  um  largo

    período desde que entrei em  meu banheiro. O que foi de principal motivo 

    para  que  eles  achassem  que  eu  estava  me  drogando  com  outros  tipos  de

    drogas pesadas e escondido deles. Fiquei um tempo pensando no ocorrido e 

    depois  cheguei  à  conclusão  de  que  eles  na  verdade  tinham  razão.  Se  eu

    contasse  o  que  realmente  estava  se  passando  dentro  do  banheiro,  daí  sim,

    eles  me  internariam  em  algum  sanatório  ou  em  alguma  clínica  de 

    recuperação para adictos.  

    Achando  graça  da  situação,  fui  até  meu  quarto  e  peguei  mais  um 

    cigarro  enrolado  e  ascendi  indo  de  volta  ao  banheiro.  Agora,  o  banheiro

    fazia parte de uma grande verdade, da qual ainda não estava ciente de que 

    seria a maior descoberta de minha vida.  

    Tragando a fumaça e soltando-a em seguida, em frente ao espelho, 

    percebi que o reflexo mudava novamente. Foi tornando-se um filme e logo 

    eu estava dentro dele. Mesmo com o cigarro à mão, ao qual tirava um trago 

    longo  e  lento,  observava  que  não  estava  mais  dentro  do  meu  banheiro,

    estava  agora  num  cenário  totalmente  diferente.  Esta  primeira  observação

    fez-me  vibrar,  pois  nunca,  jamais  acreditaria  se  alguém  me  contasse  que

    isso podia acontecer dentro de uma mente. 

    Vi  que  estava  em  uma  época  em  que  eu  nem  mesmo  pensava  em 

    existir,  se  é  que  pensamos  antes  de  existir.  Meus  pais  deveriam  ser

    adolescentes.  Todos  estavam  com  roupas  largas  e  soltas,  óculos  escuros

    grandes,  calças  boca  de  sino,  camisetas  coloridas,  cabelos  compridos

    A Realidade Interna 

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    Loucura do Espelho 

    amarrados com fitas. A paz reinava entre as rodinhas de jovens sentados ao 

    chão junto  aos  seus  instrumentos  de  cordas.  Tudo  aquilo  me  lembrava  do

    quanto  gostaria  de  ter  vivido  esta  época  gloriosa.  Mesmo  que  meus  pais

    estivessem vivendo o fim desta época de ouro. 

    A  um  canto,  observei  a  figura  de  quem  poderia  ser  minha  mãe. 

    Morena, de cabelos longos, um tanto jovem. Camisa indiana florida e calça 

    azul  bem  larga,  mais  larga  ainda  na  altura  do  tornozelo,  fazendo  jus  ao

    nome boca de sino onde provavelmente os sinos eram os tornozelos das 

    pessoas. Seus olhos pareciam deslumbrar o infinito enquanto seus amigos, 

    sentados à  grama,  faziam  canções  que  diziam  sobre paz,  alegria,  drogas  e

    liberdade. Dizia-se que todos eram irmãos, não importando a origem, a cor 

    ou  forma  de  pensar.  Se  ainda  estivéssemos  assim,  poderíamos  ter  evitado

    muitos  desastres  na  vida  humana,  até  mesmo  os  sistemas  desta  sociedade

    seriam  completamente  diferenciados.  Mas,   como  tudo  o  que  é  bom,  dura 

    pouco, aqui está o que viramos. 

    Assim enquanto via o filme, fumava também o meu cigarro, dando 

    asas à minha pequena mente. Logo escutei a voz de meu outro eu. 

    - Vê? Sua mãe sentada à grama está a pensar o que fará no futuro. 

    Ela  queria  ser  médica,  mas,  como  você  mesmo  sabe,  as  coisas  não  se

    realizaram do jeito que ela desejasse que fosse. 

    -  Por  que  estou  vendo  isso?  –  perguntei  olhando  para  os  lados, 

    procurando-o. 

    -  Para  que  entendamos  o  presente,  temos  que  saber  alguns 

    acontecimentos passados. – disse ele. 

    - Interessante! Nunca pensei que minha mãe tivesse sonhos, e ainda 

    mais, que desejasse ser médica! Surpreendente! 

    A Realidade Interna 

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    Loucura do Espelho 

    - Seu pai queria ser astronauta. – disse a voz. 

    - Meu Deus! E eu pensava que eu viajava muito! 

    -  Realmente,  aquela  foi  a  época  de  ouro!  Gostaria  de  ter  vivido 

    nesta  ocasião.  –  disse  meu  outro  eu,  fazendo  surpreender-me  com  seu

    comentário. 

    Aquele filme parou novamente. Vi que estava olhando ao espelho, 

    vendo-me.  O  filme  novamente  voltou  a  se  movimentar,  quando  percebi,

    estava  dentro  dele.  Estava  ali,  propenso  às  vontades  que  até  então,

    mostravam não serem  minhas. Aparecia agora,  a época em que  meus pais 

    se  conheceram.  Era  uma  grande  bagunça  na  verdade.  Correria  e  gritos,

    tiros,  bombas  e  cavalaria  armada  debandavam  ao  lado  contrário  dos 

    estrondos. Cachorros latiam, sendo dificilmente contidos pelos policiais da

    tropa  canina.  Numa  esquina,  meu  pai,  ainda  bem  forte  e  com  cabelos

    compridos, bate de frente com minha mãe. Pequenina, ela cai e seus óculos 

    também vão ao chão. Ela se levanta, pega seus óculos e sai correndo para o 

    lado ao qual meu pai vinha. Vendo que ela corria para o lado errado, meu 

    pai a puxou e a segurou em seus braços. Beijou-a. No momento certo, pois, 

    em  seguida,  a  tropa  da  cavalaria  passou  ao  lado  deles  perseguindo  um

    grupo de jovens arruaceiros. Desvencilharam-se um do outro. Olharam para 

    o  bando  de  garotos  que  agora  apanhavam  cruelmente  dos  policiais.  Os

    olhos  se encontraram numa forma de agradecimento mútuo e correram de 

    mãos  dadas  para  o  outro  lado  da  rua.  Saíram  assim  da  confusão  e

    começaram a conversar. 

    A Realidade Interna 

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    Loucura do Espelho 

    Voltei  a  mim.  Ao  espelho,  estava  o  outro  eu.  Meu  cigarro  havia 

    chegado ao fim de forma que o joguei ao vaso sanitário, dando descarga em 

    seguida. Peguei o maço de cigarros e acendi um. 

    -  Isso  realmente  aconteceu?  –  perguntei  enquanto  soltava  fumaça 

    do cigarro. 

    - Bem, você acabou de ver com seus próprios olhos, não foi? 

    - Sim, mas, é real? 

    - O que acha ser real? Acha que eu sou real? – perguntou ele num 

    tom de sarcasmo com seu rosto dentro da moldura do espelho. 

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