Loucura Do Espelho - A Realidade Interna
De Abel Biasi
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Loucura Do Espelho - A Realidade Interna - Abel Biasi
Loucura do Espelho
A Realidade Interna
1
Loucura do Espelho
LOUCURA DO ESPELHO
A REALIDADE INTERNA
A Realidade Interna
2
Loucura do Espelho
Abel Biasi
LOUCURA DO ESPELHO
A REALIDADE INTERNA
A Realidade Interna
3
Loucura do Espelho
2005 por Abel Biasi
Título
Loucura do Espelho – A Realidade Interna
Todos os Direitos Reservados
ABEL BIASI
Capa
ABEL BIASI
Revisão Ortográfica:
Abel Biasi
EDIÇÃO
JANEIRO DE 2019
A Realidade Interna
4
Loucura do Espelho
A nossa mente produz ilusões tão grandes que chega a ser difícil
apenas imaginá-las, quanto mais senti-las. Ou até, podemos senti-las,
mesmo somente as imaginado. Temos muito que aprender com tal
máquina, que desperta em nós, algo que não conseguimos distinguir, algo
surreal. Será então tudo real? Ou será ilusão?
Temos ainda algo a mais, que os cientistas quebram a cabeça
,
tentando entender seus significados. Somos seres invejáveis quanto à
capacidade de raciocínio, dedução e junção de idéias. Mas, estamos ainda,
usando menos do que realmente poderíamos usar e, usando para fins
maléficos. Se assim pensarmos e conseguíssemos fazer com que pessoas
parassem de fabricar bombas atômicas e transformassem, essas suas armas,
em resultados de energias quase que inexpiráveis, sendo esse o seu único e
verdadeiro pensamento, teríamos um fim pacífico. Seríamos um povo, ou
uma raça, cada vez mais perto do sentido da palavra evolução
.
Se realmente existe uma evolução genética, nós, como os únicos
seres pensantes e com intelecto desenvolvido e que assim se acha, estamos
estagnados nessa cadeia evolutiva. Estamos provando que, de nada adianta
a inteligência se não conseguirmos controlá-la para um bem único.
Se, realmente existe um Deus, estamos indo contra os seus
princípios de vida perfeita ou vida eterna. E se viemos do macaco,
comprovando assim que sempre estamos em evolução, estamos regredindo
com essas guerras e formas diferentes de viver. O que vemos que tudo isso
o que tornamos, estamos acabando com o planeta. Somos ao mesmo tempo,
a raça invejável, com atos detestáveis. Mas, há quem diga que as guerras é
um dos frutos da evolução, fazendo com que a tecnologia se estenda.
A Realidade Interna
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Loucura do Espelho
Somos capazes de muitos afazeres benéficos. Somente nos basta
reaprender a caminhar, não em passos carnais, mas, sim, em passos
espirituais.
Loucura do Espelho, A Realidade Interna, é um livro para causar
reflexões, com muitas coisas de nosso cotidiano simples. O uso de uma
linguagem nada complicada mostra a compreensão e o segmento de uma
história verídica, em algumas partes do desenrolar do enredo, juntamente
com fatos cômicos, de igual intensidade e ao mesmo tempo trágicos,
inventados, ou não, logicamente. O leitor, poderá entender que os fatos
reais são os que aconteceram em minha descoberta interior dos dezessete
aos vinte e três anos de idade. Partes inventadas para criar mais drama e
mais loucura, são inevitáveis e tornam a leitura agradável e surpreendente.
Não subestime a capacidade do intelecto da mente humana!
Podemos ir longe, somente em nossas mentes!
Mas agora, responda: Costuma se ver
ao espelho? Já imaginou,
ou fez perguntas a si mesmo diante do espelho? Se você fez, houve
resposta? Se não o fez, foi por qual motivo? Medo? Vergonha? Por parecer
um estúpido com esta ação? E se houvesse resposta? E se a resposta fosse
completamente diferente do que já havia pensado antes a respeito deste
assunto? Como se sentiria agora, vendo que sua mente pode lhe
surpreender? Consegue profundamente olhar aos seus olhos refletidos ao
espelho?
Vivemos em uma realidade que nem nós conhecemos, não
imaginamos a verdade que há dentro de nós. A certeza, que desde criança
temos e que sabemos ser verdade, é esquecida enquanto os anos passam e
vamos envelhecendo. A mente se esquece da pureza que temos e damos
A Realidade Interna
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Loucura do Espelho
passagem ao cepticismo. Vemos causas e coisas estranhas, mas, ao mesmo
tempo em que acostumamos a vê-las, acostumamos a esquecê-las, no
segundo seguinte.
Nossa mente é completa! Basta somente sabermos o que fazer com
ela e aprendermos como pensar direito!
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Loucura do Espelho
Parecia um sonho! Era lindo ver aquele cenário! Tudo era de uma
cor muito pura, parecia pintura em três dimensões. As cores vibravam,
assim como o vento vibrava ao tocar meu rosto. Era um campo muito
esverdeado e uma grama bonita e vistosa. Bem aparada. Podia-se até
mesmo deitar-se sem nenhum receio de sujar-se, era densa como um tapete.
As árvores, impunham-se de um verde causador de inveja a qualquer
Pantanal. As frutas, eram grandes e pareciam ser mais puras do que as que
costumava ver, ou as quais, achava estarem perfeitas. As pessoas,
alegravam-se em pequenas rodas de amigos sempre com um sorriso
verdadeiro ao rosto, dizendo coisas belas. Relatos bons. Esse sorriso puro
em seus rostos contagiava a todos que ali estavam. Era, verdadeiramente,
um cenário de pura alegria e tranquilidade. Vestiam-se uniformemente,
com roupas dentro da tonalidade da cor bege e todos, todos, eram de uma
beleza invejável.
Uma bela garota de cabelos cacheados à cor do sol, alta, chegou ao
meu lado. Seus olhos azuis me contaminaram de pureza.
- Olá Coiote! Chegou cedo! Não esperávamos que chegasse tão
cedo assim! Mas, já que está por aqui, venha, vou lhe apresentar a todos! –
disse assim e foi puxando-me pela mão.
Enquanto andávamos, percebi que tudo era mais perfeito ainda.
Crianças divertiam-se correndo e jogando-se à grama. Havia uma música
quase que angelical sendo tocada em meus ouvidos. Alguns metros de
distância, debaixo de uma árvore, um grupo de jovens tocava alguns
A Realidade Interna
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Loucura do Espelho
instrumentos. Parecia eu conhecer a composição a que tocavam, mas, seus
instrumentos pareciam distintos e não havia como entendê-los. Comecei a
perceber que as cores iam desfazendo-se e pouco a pouco iam borrando-se,
até que tudo se desfez num redemoinho instável de tintas borradas. Tudo
aquilo sumiu da minha frente e voltei à minha realidade.
Encarei-me ao espelho de meu pequeno banheiro. Cabelos
despenteados, completamente desbotados e viam-se apenas os resquícios
das tintas que eu usava. Meu rosto cansado, meus olhos vermelhos,
completamente estáticos. Percebi logo o barulho de alguém batendo à
minha porta e deduzi que isto havia me trazido de volta dos meus pouco
insanos pensamentos. Dei uma última olhada em meu rosto, joguei uma
água para acordar mais depressa e respondi gritando que já iria atender a
porta, por fim peguei um boné pendurado à maçaneta da porta escondendo
o cabelo bagunçado.
Saí do banheiro, peguei o maço de cigarros na cozinha e acendi um.
Cheguei à porta e olhei ao olho mágico. Vi que se tratava de algum amigo
meu, mas, mesmo sem diferenciar quem era abri a porta.
- Fala Coiote! – disse Marquinho.
- O que conta meu velho? – respondi cumprimentando-o da forma
que tínhamos costume.
- Trouxe algumas primas da Lenice. Podemos entrar? – disse e
entraram todos.
- Claro! Claro! Acho que está um pouco bagunçado, nem lembro o
que fiz ontem. – falei enquanto entravam.
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Loucura do Espelho
A casa tinha somente duas cadeiras à cozinha, onde existia uma
mesa de metal, dessas de bar. Havia, onde era para ser a sala, um grande
tapete verde que já estava ali quando cheguei. Sempre que amigos vinham
me visitar, sentávamos todos ali para fumar, para beber e para contar
histórias engraçadas enquanto escutávamos alguma boa música de Rock
and Roll. Assim, como era o costume, liguei o som e ficamos escutando um
bom CD de uma banda chamada Dream Theater.
O cigarro foi preparado e logo aquela fumaça invadiu a sala, os
pulmões e nossas mentes.
As conversas logo tomaram um rumo sem sentido algum. As duas
garotas, primas de Lenice, estavam dando gargalhadas e olhando em volta.
Minha casa não era realmente muito interessante. Paredes brancas, um
aparelho de som e um tapete verde surrado e cheio de manchas de cervejas
e outras bebidas tri
destiladas. Da sala, via-se um pedaço do quarto com a
cama desarrumada, algumas roupas jogadas ao carpete azul escuro e
algumas caixas empilhadas a um canto, que me serviam de guarda-roupas.
A cozinha era pequena, não maior do que precisava e não menor que minha
descrição. Tinha fogão e geladeira em miniatura, até mesmo o botijão de
gás era em miniatura, como assim gostava de chamar, além de mesa e duas
cadeiras de bar, como já havia dito. O banheiro, simples com um boxe, um
armarinho e outro espelho às costas da porta. Havia dois espelhos, o que se
tornou muito interessante quando eu os descobri. Este era meu apartamento
e não mais do que realmente precisava. Muitos gostariam de ter aquilo que
eu tinha, pelo menos disso eu tenho absoluta certeza.
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Loucura do Espelho
- Mas, o que estas garotas estão rindo tanto? – perguntou
Marquinho.
- Deve ser por causa desta casa. Elas me disseram que nunca
fumaram dentro da casa de alguém. – respondeu Lenice vagarosamente
dando uma risadinha picada, curta, daquelas que tem e não tem graça ao
mesmo tempo.
- Hei! – houve silêncio. – Garotas! – chamei demorando um pouco
para conseguir chamar a atenção. – Podem levantar-se e olhar minha casa.
Ela é desarrumada, mas podem olhar à vontade. Parecem estar curiosas.
- Nossa! Como é morar sozinho? – perguntou Dani, uma das
garotas.
- Normal! – respondi.
- Como assim, normal? Só isso? – perguntou Cristiane, a outra
prima de Lenice.
- Tem seus momentos. Não tem hora pra chegar, mas você tem que
arrumar tudo. – falei.
- Mesmo assim deve ser legal! – disse Dani olhando para a pilha de
louças sobre a pia.
- Deve ter também seus puros momentos de solidão. – retrucou
Marquinho.
- Sim, tem sim. Estes momentos são cruéis, mas depois que se
acostuma, tira-se de letra. – respondi.
- Você está sumido Coiote! – disse Lenice com seu jeito tranqüilo
de falar. – O que anda fazendo?
- Fico em casa a maior parte do tempo. Fumando, pensando,
dormindo. – respondi.
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Loucura do Espelho
- Isso que é vida. – disse Dani.
- A conversa está boa, mas a loucura está pouca. E agora, o que
fazemos? – disse Marquinho.
- Vamos fumar de novo! – respondi indo ao meu quarto e trazendo
mais um cigarro pronto.
Em alguns minutos, todos estavam de pé curtindo o som de outra
banda de Rock, desta vez era um estilo mais pesado e não nos deixava ficar
parados. Como todos gostavam deste tipo de música, estávamos
balançando a cabeça como se estivéssemos tocando guitarra em cima de um
palco. Eu já estava um pouco distante em meus pensamentos e nem mesmo
percebi que estava dentro do banheiro, novamente, brincando com as gotas
d’água da torneira, enquanto caiam no ralo da pia. Virei-me em seguida,
quando havia terminado de lavar minhas mãos e levantando os olhos
encontrei-os ao espelho, ao qual estava atrás da porta. Ali fixei meu olhar.
Lembrei-me o que havia acontecido alguns momentos antes e ali parei meu
pensamento.
Meus olhos estavam estagnados novamente ao espelho, sem
movimento algum, nem sequer um espasmo óptico. Em algum tempo
pareciam já estarem cansados de não fazerem movimento, então o meu
reflexo ao espelho fez um movimento levantando a pálpebra. Incomodei-
me. Achei aquilo engraçado, pois, não havia eu feito movimento algum, ou
pelo menos, não havia sentido.
Continuei a observar-me ao espelho e, segundos depois, comecei a
me sentir estranho, como se sentisse nauseado. Meu reflexo ao espelho
começou a mudar, primeiro devagar, depois com certa rapidez obteve um
aspecto bem diferente. Não era de um reflexo, mas, de uma realidade
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Loucura do Espelho
conflitiva, como se fosse uma janela, onde poderia visualizar outro mundo,
completamente diferente e, por conseguinte, outro eu.
O meu reflexo ao espelho começou a transformar-se. O cabelo, ao
reflexo, que era de um azul desbotado, tornou-se um preto vistoso e muito
bem cuidado. Parecia estar penteado, para meu espanto. Meu semblante,
que sempre era de um cansaço extremo, por sempre estar distante da
realidade e por um imenso toque de desmazelo, tornou-se belo e bem
aparentado. Barba feita, olhos mais vivos do que os meus aos quais já havia
acostumado. Em seguida, as roupas também se modificaram para um tom
mais vivo do que as minhas. Por ter um estilo mais agressivo, minhas
roupas eram um tanto desgastadas e rasgadas. Mais porque eu queria que
fossem assim, surradas. Mas, tudo aquilo era incrível! Fora uma
transformação que vi em meu próprio reflexo! Ainda sério, olhava aquela
moldura sem ação, que se tornara viva! Uma piscada e, em seguida, um
largo sorriso abriu-se. O susto levou-me a dar um passo para trás, quase que
me fazendo bater a parede e assim pensando que a mesma não estivesse ali,
construída atrás de mim.
- Me desculpe. – disse o espelho para mim numa forma muito
gentil. – Mas, você mostrou-se muito mais do que pronto para isto. Acho
que seu susto não será tão grande assim.
Fiquei alguns segundos sem ação. A voz, que saia do espelho era
realmente igual a minha, mas tinha um toque de sutiliza que não sabia ser
possível em meu jeito de falar, ou assim pensava. Estático, observei, até
que tive forças para fazer algo. Fechei os olhos e abaixei a vista colocando
minhas mãos sobre meu rosto.
A Realidade Interna
13
Loucura do Espelho
- Eu devo estar pirando! – falei com os olhos fechados e em voz
baixa.
- Não! Você está apenas enxergando a realidade. – disse a voz
calma saindo do espelho.
Levantei meus olhos e vi seu sorriso, idêntico ao meu.
- Incrível! – sussurrei ainda com as mãos tapando metade de meu
rosto. – Quem... ou... o que é você? – perguntei observando a borda do
espelho.
- Não me reconhece? – disse o reflexo em tom de zombaria. – Sou
seu outro eu! Mas, um pouco melhor cuidado, como pode notar. – disse
olhando para si mesmo.
- Mas... Mas... isso... Como é possível? – perguntei indignado.
- Simples! Sua mente chegou a um ponto, quando as realidades
vêm a se convergirem, uma com as outras, não existe ilusão. – respondeu
ele. – Mas, a pergunta que deveria ter feito, ainda não é essa.
- E qual seria? – perguntei.
- Não sou eu que irei perguntar! – disse ele olhando para o lado
como se estivesse vendo alguém do seu lado do espelho que eu não
conseguia ver.
- Mas, eu nem sei o que devo perguntar! Não sei agora nem se
estou vivo? – indaguei.
- Vivo? - disse e riu-se vagarosamente. - Sim, está vivo, e diga-se,
muito vivo! Agora, você pode começar a fazer todas aquelas perguntas sem
resposta que você tem aí dentro, guardadas em sua mente tão grande, como
já sabemos que é.
A Realidade Interna
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Loucura do Espelho
- Tenho que fazer perguntas então? Bem, acho que tenho muitas
perguntas sem respostas, mas, devo perguntá-las a você? Talvez suas
respostas sejam iguais as minhas respostas, nas quais, verdadeiramente, não
fazem sentido algum.
- Não necessariamente. Não irei lhe responder automaticamente.
Vou lhe mostrar o caminho certo para achá-las por si só. – disse o espelho.
– Respostas, todos podem dar, aprender a encontrá-las que é o difícil.
- Mas, não entendo. Quem é você? Você é meu outro eu? –
perguntei finalmente sem ao menos perceber que havia feito uma pergunta.
- Chegamos ao ponto! Você fez sua primeira pergunta certa! E
agora respondendo, não! Por enquanto é assim. Sou seu outro eu, até que
você tenha entendimento suficiente para diferenciar você mesmo de outra
pessoa, com personalidade diferenciada.
- Meu Deus! – exclamei colocando as mãos à boca e olhando o
espelho em volta. – Acho que estou ficando cada vez mais louco.
- Muito bem! É disso que precisamos agora! Loucura! – respondeu
ele.
- Não estou entendendo nada. – falei.
- Na hora certa irá começar a entender. – falou calmamente
enquanto eu olhava para ele de forma interrogativa. - Agora vá! Seus
amigos estão preocupados contigo. Não deve deixá-los esperando, nem
mesmo dizer o que está acontecendo. Não é uma situação agradável de
explicar. Bem, seria a deixa para uma internação em algum sanatório do
estado. – disse e riu-se.
O espelho começou a voltar ao normal, sem que eu quisesse.
Vagarosamente as cores iam mudando e a as formas também voltavam ao
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Loucura do Espelho
normal, até que vi meu reflexo novamente. Movimentei meu rosto para ver
se era eu mesmo e vi que agora era a minha realidade. Eu estava pálido,
como se estivesse presenciando algum fato sobrenatural, o que não deixava
de ser verdade. O meu cabelo despenteado voltou a estar ali. Levantei o
braço e vi que este era meu. As batidas na porta estavam cada vez mais
fortes. Abri-a com cara de assustado e pálido. Todos estavam assustados
junto à porta do banheiro.
- Por que não respondeu Coiote? – perguntou Marquinho. –
Estávamos querendo arrombar a porta já!
- Pensamos que havia desmaiado aí dentro! – disse Dani com cara
de muito assustada.
- O que é que está havendo contigo? – perguntou Lenice olhando-
me com cara de quem não estava me conhecendo mais.
- Galera. – falei calmamente. – Estava apenas usando o banheiro. O
que há de mal nisso?
- Ficar meia hora no banheiro não é uma coisa normal, não acha
Coiote? – disse Marquinhos. – Você realmente está muito estranho! Não
parece mais com aquele velho Coiote que conhecia! Pra mim já deu o que
tinha que dar, vamos embora daqui pessoal! – disse por final virando as
costas e indo em direção à porta com as meninas.
Todos eles ficaram temerosos com que havia acontecido, pareciam
estar indo embora da casa de um psicopata que lhe tentaria contra suas
vidas. Acharam ainda, que iriam me encontrar morto dentro do banheiro e,
sinceramente, minha aparência não estava das melhores. Mas, encontrava-
me muito bem, cada dia estava mais consciente, embora para muitos, isso
não era nem um pouco convincente.
A Realidade Interna
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Loucura do Espelho
Foram embora assim, sem dizerem muita coisa. Não era de se
admirar pensando bem, embora no momento, para mim, não fazia o menor
sentido. Olhei então para o relógio e vi que haviam se passado um largo
período desde que entrei em meu banheiro. O que foi de principal motivo
para que eles achassem que eu estava me drogando com outros tipos de
drogas pesadas e escondido deles. Fiquei um tempo pensando no ocorrido e
depois cheguei à conclusão de que eles na verdade tinham razão. Se eu
contasse o que realmente estava se passando dentro do banheiro, daí sim,
eles me internariam em algum sanatório ou em alguma clínica de
recuperação para adictos.
Achando graça da situação, fui até meu quarto e peguei mais um
cigarro enrolado e ascendi indo de volta ao banheiro. Agora, o banheiro
fazia parte de uma grande verdade, da qual ainda não estava ciente de que
seria a maior descoberta de minha vida.
Tragando a fumaça e soltando-a em seguida, em frente ao espelho,
percebi que o reflexo mudava novamente. Foi tornando-se um filme e logo
eu estava dentro dele. Mesmo com o cigarro à mão, ao qual tirava um trago
longo e lento, observava que não estava mais dentro do meu banheiro,
estava agora num cenário totalmente diferente. Esta primeira observação
fez-me vibrar, pois nunca, jamais acreditaria se alguém me contasse que
isso podia acontecer dentro de uma mente.
Vi que estava em uma época em que eu nem mesmo pensava em
existir, se é que pensamos antes de existir. Meus pais deveriam ser
adolescentes. Todos estavam com roupas largas e soltas, óculos escuros
grandes, calças boca de sino, camisetas coloridas, cabelos compridos
A Realidade Interna
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Loucura do Espelho
amarrados com fitas. A paz reinava entre as rodinhas de jovens sentados ao
chão junto aos seus instrumentos de cordas. Tudo aquilo me lembrava do
quanto gostaria de ter vivido esta época gloriosa. Mesmo que meus pais
estivessem vivendo o fim desta época de ouro.
A um canto, observei a figura de quem poderia ser minha mãe.
Morena, de cabelos longos, um tanto jovem. Camisa indiana florida e calça
azul bem larga, mais larga ainda na altura do tornozelo, fazendo jus ao
nome boca de sino
onde provavelmente os sinos eram os tornozelos das
pessoas. Seus olhos pareciam deslumbrar o infinito enquanto seus amigos,
sentados à grama, faziam canções que diziam sobre paz, alegria, drogas e
liberdade. Dizia-se que todos eram irmãos, não importando a origem, a cor
ou forma de pensar. Se ainda estivéssemos assim, poderíamos ter evitado
muitos desastres na vida humana, até mesmo os sistemas desta sociedade
seriam completamente diferenciados. Mas, como tudo o que é bom, dura
pouco, aqui está o que viramos.
Assim enquanto via o filme, fumava também o meu cigarro, dando
asas à minha pequena mente. Logo escutei a voz de meu outro eu.
- Vê? Sua mãe sentada à grama está a pensar o que fará no futuro.
Ela queria ser médica, mas, como você mesmo sabe, as coisas não se
realizaram do jeito que ela desejasse que fosse.
- Por que estou vendo isso? – perguntei olhando para os lados,
procurando-o.
- Para que entendamos o presente, temos que saber alguns
acontecimentos passados. – disse ele.
- Interessante! Nunca pensei que minha mãe tivesse sonhos, e ainda
mais, que desejasse ser médica! Surpreendente!
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Loucura do Espelho
- Seu pai queria ser astronauta. – disse a voz.
- Meu Deus! E eu pensava que eu viajava muito!
- Realmente, aquela foi a época de ouro! Gostaria de ter vivido
nesta ocasião. – disse meu outro eu, fazendo surpreender-me com seu
comentário.
Aquele filme parou novamente. Vi que estava olhando ao espelho,
vendo-me. O filme novamente voltou a se movimentar, quando percebi,
estava dentro dele. Estava ali, propenso às vontades que até então,
mostravam não serem minhas. Aparecia agora, a época em que meus pais
se conheceram. Era uma grande bagunça na verdade. Correria e gritos,
tiros, bombas e cavalaria armada debandavam ao lado contrário dos
estrondos. Cachorros latiam, sendo dificilmente contidos pelos policiais da
tropa canina. Numa esquina, meu pai, ainda bem forte e com cabelos
compridos, bate de frente com minha mãe. Pequenina, ela cai e seus óculos
também vão ao chão. Ela se levanta, pega seus óculos e sai correndo para o
lado ao qual meu pai vinha. Vendo que ela corria para o lado errado, meu
pai a puxou e a segurou em seus braços. Beijou-a. No momento certo, pois,
em seguida, a tropa da cavalaria passou ao lado deles perseguindo um
grupo de jovens arruaceiros. Desvencilharam-se um do outro. Olharam para
o bando de garotos que agora apanhavam cruelmente dos policiais. Os
olhos se encontraram numa forma de agradecimento mútuo e correram de
mãos dadas para o outro lado da rua. Saíram assim da confusão e
começaram a conversar.
A Realidade Interna
19
Loucura do Espelho
Voltei a mim. Ao espelho, estava o outro eu. Meu cigarro havia
chegado ao fim de forma que o joguei ao vaso sanitário, dando descarga em
seguida. Peguei o maço de cigarros e acendi um.
- Isso realmente aconteceu? – perguntei enquanto soltava fumaça
do cigarro.
- Bem, você acabou de ver com seus próprios olhos, não foi?
- Sim, mas, é real?
- O que acha ser real? Acha que eu sou real? – perguntou ele num
tom de sarcasmo com seu rosto dentro da moldura do espelho.