Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Gehenna - A Escolha - Parte I
Gehenna - A Escolha - Parte I
Gehenna - A Escolha - Parte I
E-book922 páginas5 horas

Gehenna - A Escolha - Parte I

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Mistério, suspense, terror e grande tensão acompanham este livro. Jeremy Stouk é um garoto, “aparentemente” normal, e é transformado em vampiro depois de um dos piores dias de sua vida. Ironicamente, depois de ser transformado em ‘imortal’, é praticamente jogado no ‘covil’ de uma família de vampiros. Com seus poderes recém-conquistados, porém, ainda não tão forte quanto um vampiro experiente e não sendo capaz de imaginar o que pode se tornar, ele se vê impedido de voltar para a sua família “viva”. Pondera que realmente necessita ficar na casa dos vampiros no Brasil, que o acolheram para não correr o risco de voltar para casa de seus pais e os atacar para saciar sua fome. Mas, muitas coisas acontecem ao seu redor até que precisa fugir e voltar para casa. Sua irmã gêmea, Jane, sabe que Jeremy está muito diferente, mas acaba aceitando seu irmão de volta. Após algumas revelações, Ela é transformada em vampiro por ele e daí em diante as aventuras dos dois irmãos imortais começa, inundada de mistérios a serem decifrados. Jeremy começa a receber vários ‘presentes’, o que causa cada vez mais curiosidade em saber quem era o seu mestre e o que estava planejando para eles. Buscam suas explicações em uma ‘Tia’ que reside na França, e chegando na Europa, os dois irmãos começam a entender a grandiosidade do mundo vampírico e ao mesmo tempo aprendem a lidar com seus poderes incríveis e mostram que não eram apenas ‘crianças da noite’, mas sim estavam em uma cruzada muito mais importante do que poderiam imaginar. A Gehenna! Esse livro de vampiros levará você à ficção de um humano cheio de poderes e além de tudo, imortal. Porém, sem nenhum sentimento de humanidade, onde o seu único desejo é simplesmente se manter em sua ‘quase vida’, onde é extremamente necessário, o sangue. A “pós vida” de um vampiro é cheio de maldições! Jamais se levanta numa noite sem que sua imortalidade seja defrontada, repleta de chances óbvias para se encontrar sua derradeira morte. ‘Imortalidade’ essa que pode ser superada por um vampiro mais forte e outras criaturas sinistras que aparecem em meio a sua pós-vida. Muitas brigas, grandes guerras até então irreal para eles, fazem parte de sua existência a cada noite em que se levantam. A guerra entre o mal contra o mal e a guerra entre a sua humanidade contra a sua vontade de sangue, altera todo o comportamento que um dia eles tiveram e com isso se tornam cada vez mais os monstros que realmente eram para ser. Sem emoção e muito menos apreço pela vida. A leitura deste livro lhe fará pensar, comer as unhas, ficar ansioso para tentar entender e decifrar tudo o que está acontecendo por onde Jane, Jeremy e os outros vampiros, que os acompanham, passam em sua pós vida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de nov. de 2018
Gehenna - A Escolha - Parte I

Leia mais títulos de Abel Biasi

Autores relacionados

Relacionado a Gehenna - A Escolha - Parte I

Ebooks relacionados

Fantasia para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Gehenna - A Escolha - Parte I

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Gehenna - A Escolha - Parte I - Abel Biasi

    GEHENNA

    A ESCOLHA

    PARTE I

    2

    Abel Biasi

    GEHENNA

    A ESCOLHA

    PARTE I

    3

    2006 por Abel Biasi

    Título

    GEHENNA – A ESCOLHA – PARTE I

    Todos os Direitos Reservados

    ABEL BIASI

    Capa

    ABEL BIASI

    Revisão Ortográfica:

    Mayra Reis Felipe

    Lio Fonseca

    2018

    4

    Gehenna

    A Escolha

    Parte I

    5

    Gehenna - A Escolha - Parte I

    "Hoje, os dias viraram noites, e as noites, os meus dias. O tempo

    parece não existir. Os segundos demoram uma eternidade e o meu rosto

    continua jovem do mesmo jeito de sempre.

    "O meu sofrimento é lutar nesta guerra, que não era minha, mas,

    agora, estou bem no meio dela."

    BRASIL, SEXTA-FEIRA, 30 DE MARÇO DE 1990.

    Estava voltando para casa, depois de uma das piores festas em que

    estive presente. Eram duas ou três horas da manhã, não tinha certeza, pois

    serpenteava pelas ruas. Por vezes, tentava enxergar algo, mas não sabia

    onde estava e nada reconhecia. Bêbado como um gambá, porém, ainda não

    havia caído.

    Havia tomado um chute de minha namorada e, a única coisa

    plausível, nestas tristes horas, é se afogar em um bom e velho uísque. O

    que com certeza, depois de alguns goles, sua percepção lhe prega peças.

    Entrei numa larga avenida e notei que estava mais escura do que o

    costumeiro. Olhava para as lâmpadas dos postes, estavam em baixa

    luminosidade e piscavam como se a carga elétrica não estivesse chegando à

    sua totalidade.

    Abaixei os olhos e bem à frente, cerca de duzentos metros, havia

    um homem parado. Era forte, mas não de assustar. Usava um sobretudo,

    que, logicamente, cobria seu corpo todo e um chapéu negro terminava por

    dar certo ar de mistério a sua silhueta. Estava parado, de cabeça baixa, ao

    meio da rua.

    Olhei para o chão e continuei a andar, sem conseguir me manter em

    linha reta. Depois de cambalear por mais alguns metros, olhei novamente

    para me certificar de que o homem ainda estava no mesmo lugar à minha

    6

    frente e, para minha surpresa, já não estava! Senti-me confuso e algo me

    chamou a atenção atrás de mim. Assustado virei-me à outra direção.

    As sensações não são descritíveis até o presente momento. Estava

    parado a dez metros de mim, às minhas costas! Mesmo eu estando bêbado,

    sabia que não havia andando tanto, a ponto de tê-lo ultrapassado, sem ao

    menos o tendo notado! Antes, ele estava a mais ou menos uns duzentos

    metros à minha frente! A confusão invadiu a minha mente, já tomada pelo

    efeito do álcool e fiquei ainda mais atônito. Foi quando gritei desesperado:

    - Quem é você? O que quer? Se está tentando me assustar,

    parabéns! Você está conseguindo. – disse com a voz meio mole.

    Para meu maior desespero ele não respondeu e quando deu o

    primeiro passo em minha direção, desapareceu repentinamente e reapareceu

    bem à minha frente! Notei seu rosto, um jovem senhor de meia idade,

    aparentava ter entre seus trinta ou quarenta anos, mas seus olhos

    aparentavam guardar muitos e muitos segredos de uma longa vida. Eram

    cheios de sabedoria, amargura, medo, sofrimento, dor, raiva e quando pude

    notá-lo, meu coração se encheu de todos estes sentimentos. Minhas pernas

    travaram e nem ao menos consegui correr. Fiquei estático, observando os

    seus profundos olhos. Foi quando disse:

    - Será meu escolhido. Lutará pela minha espada!

    Sua voz era aterrorizantemente assustadora! Fazia jus aos seus

    olhos, conhecedores de tudo e até mesmo do interior de qualquer pessoa.

    - Mas, como lutarei pela tua espada? Como sou teu escolhido? –

    perguntei confuso, balbuciando com a voz trêmula e exalando medo.

    - Saberás em breve o por quê! – disse e cravou seus dentes caninos

    e pontiagudos em meu pescoço.

    7

    A dor juntava-se com o espanto e os arrepios que eram

    avassaladores! O medo era o meu mais próximo amigo, porém desleal. Não

    havia como vencê-lo! O sangue, vagarosamente, extinguia-se de meu

    corpo! Fraco me tornava e caia à medida que tudo parava de rodar. Sentia

    que meu sangue esvaía-se! Por fim, caí ao chão. A lua era a minha única

    testemunha. Sentia-me vivo ainda, vendo-a. Meu pescoço ardia, estava

    quente, latejava em dois pequenos orifícios. Percebi que estava no limiar de

    minha vida, estava respirando de forma ofegante, procurando

    desesperadamente o ar que meu pulmão pudesse mandar à corrente

    sanguínea, mas, não havia sangue para oxigenar! Sabia que iria morrer!

    Apertei os olhos e enxerguei meu oponente. Estava agachado ao meu lado e

    olhava-me, mostrando-se cauteloso, mas sabendo muito bem o que fazia.

    - Queres viver meu jovem? – perguntou-me com aquela voz forte.

    - Sim! Sim! – balbuciei mais uma vez.

    Ele cortou seu pulso e derramou o seu sangue em minha boca.

    Aturdido neste momento, não entendi o que era aquilo, mas depois da

    primeira gota cair em meus lábios, agarrei o seu braço. Era de um gosto

    muito bom! Mas, não era de sangue e sim, de vida! O sabor fez com que

    tudo em mim voltasse ao normal, de forma que agarrei ainda mais o seu

    braço e tomei-lhe o sangue!

    Logo ele puxou seu braço e me empurrou. Caindo ao chão, meu

    corpo agora doía. Entretanto, a dor era inigualável, jamais aquela dor seria

    uma dor comum.

    - Estás morrendo! – disse ele - Seu corpo não aguenta mais esta

    inútil vida! Comprará a minha guerra, mas agora, tu serás imortal! Dormirá,

    mas voltará sem medo! – disse em sua voz aterrorizante.

    8

    Realmente! A dor da morte é insuportável! Fora apavorante! Meu

    corpo parecia se dobrar e quebrar por dentro! Era como se estivessem me

    esmagando, os ossos sendo virados aos avessos e, por fim, vagarosamente,

    meu coração parou, atrofiando-se, para nunca mais bater novamente!

    Pronto...Acabei de morrer...

    9

    Acordo em casa, em meu quarto e assim que abro meus olhos, a

    respiração toma conta de meu pulmão como um susto. Levanto-me e,

    parado, olho ao redor. Consigo ver tudo o que está em meu quarto de forma

    muito clara, com coloração mais brilhante, nítida. Ao mesmo tempo notei

    que tudo estava estranho. Irreal, talvez.

    Meu corpo parecia estar mais solto, leve e meus pensamentos mais

    rápidos. A sensação de que o velho se tornara novo pairava ao ar.

    Andei até o banheiro de meu quarto, fui diretamente ao espelho e

    levei um susto. Não vi meu reflexo ao primeiro instante! Voltei a olhar

    vagarosamente e logo percebi que não respirava e sobressaltei-me! Recuei

    e fiquei ao lado do espelho, para não olhar para ele. Levei a mão ao

    pescoço. Havia dois pequenos orifícios em minha artéria. Lembrei-me do

    que havia acontecido na noite anterior. – Será verdade? – perguntei-me em

    voz alta começando a ficar atônito.

    Desci a mão do pescoço ao peito, vagarosamente, cheguei ao

    coração e:

    - BLAM, BLAM, BLAM, BLAM! Ande Jeremy, já está dormindo

    há bastante tempo! Desça já, a janta está na mesa e está esfriando! – disse a

    voz de minha mãe ecoando do outro lado da porta.

    O susto, ali, foi imenso! Meu coração não batia! Olhei em volta

    novamente e o banheiro também estava diferente. A parede, ao fundo,

    havia tornado-se um portal, ao qual me levava novamente direto àquela

    noite anterior, a qual vi a sombra daquele homem de sobretudo e chapéu

    negros! Escutei novamente a sua voz que me disse:

    - Tente respirar. Irá disfarçar muito bem.

    Assustei-me mais uma vez com a voz, porém, havia se tornado um

    pouco mais familiar, bem mais do que eu quisesse até aquele momento.

    10

    Mesmo assim, fiz o que ordenou sem pestanejar. Os movimentos da

    respiração voltaram imediatamente. Em seguida, saí do banheiro e fui

    trocar de roupa. Ainda estava com as mesmas roupas da noite anterior, ou

    seja, a noite da terrível festa. Abri o armário e fui reparando nas roupas que

    estavam ali. Sempre gostei de me vestir bem, então peguei algumas calças e

    camisas e as joguei em cima da cama. Escolhi uma calça preta, estilo

    motoqueiro, que havia ganhado de minha namorada. Iria continuar a usá-la

    da mesma forma, mesmo sabendo que tudo havia terminado. Escolhi

    também uma camisa preta que havia ganhado de minha mãe. Vi que ali

    estava ainda uma bota preta que minha tia, qual vivia na França, havia

    mandado junto com um sobretudo. Todos pretos, pouco detalhados, mas

    muito finos. Porém, no Brasil, com seu calor, era raro usar aquelas roupas.

    Lembrei-me de quando havia lhe pedido para que um dia pudesse ir

    conhecer a França. Mas, dizia sempre estar muito ocupada com seus

    afazeres e em outra ocasião, em que estivesse mais tranquila, iria ligar para

    que eu pudesse ir. Mas, isto nunca acontecera na verdade e já havia perdido

    as esperanças de visitá-la. Vesti-me e fui ao espelho. Notei que as roupas

    me fizeram um pouco mais confuso, pois, nunca havia me vestido daquela

    forma. Entretanto, naquele momento, de um jeito ou de outro, sabia que era

    daquela forma que me vestiria dali em diante.

    Saí de meu quarto e desci as escadas bem devagar. Não estava com

    pressa de absolutamente nada. Uma calma pairava sobre mim como nunca

    havia sentido. As perguntas estavam se fazendo dentro de mim, como se

    brotassem de uma "mina d’água". Olhei para a sala e vi que meus pais

    estavam assistindo o noticiário. Ouvi a chamada que dizia com sua voz

    grave, quase cavernosa:

    11

    - Mais de trezentos morrem em boate" no sul da França! Fontes

    Francesas informaram que terroristas armados chegaram atirando contra

    um grupo rival e com isso atingiram cerca de trezentos civis. Outras fontes

    dizem que os terroristas atiravam em um grupo de soldados Franceses que

    estavam de folga com suas famílias. Há ainda informações de que havia

    dois soldados de alta patente, ainda não confirmadas. Assim, o exército

    Francês disse que ninguém atira em seus soldados e não paguem depois. "A

    vingança será conquistada, disse um dos soldados sobreviventes.

    - Nossa! Que violência! – disse minha mãe.

    - E isso vai somente piorar! Escuta o que estou lhe dizendo! –

    retrucou meu pai mudando de canal em seguida.

    Fui direto para a cozinha e vi que minha irmã estava, como sempre,

    "pregada" ao telefone.

    - Nossa! Mas é sério? – dizia ela – Eu não acredito! Espera um

    pouco aí, Kátia! Meu irmão está aqui, acabou de acordar. – tapou o telefone

    com uma das mãos. – Nossa, hein? O porre foi bom então? Chegou sexta

    de madrugada em casa e está acordando hoje? Dormiu quase dois dias!

    - Que horas é Jane? – perguntei.

    - Dezenove horas. Só que hoje é domingo!

    - Dormi mesmo um dia e meio? – perguntei retoricamente abrindo

    a geladeira e fechando-a em seguida, como se não houvesse nada para

    comer, mesmo estando cheia.

    - O que vai fazer hoje? – continuou ela ainda tapando o telefone

    com uma das mãos.

    - Não sei. Por quê? Tem algo em mente? – perguntei sem interesse,

    abrindo a geladeira novamente.

    12

    - Quer ir a uma festa comigo e as meninas? Você precisa sair!

    Esquecer um pouco a sua ex-namorada!

    - Ah! Já está sabendo então? – perguntei sabendo que não havia

    dito nada sobre o que aconteceu.

    - Sim! Nós nos encontramos por acaso ontem no shopping e ela

    estava com um sujeito grande e forte.

    - Entendi. – falei e sem fazer o menor desgosto para mim, pois,

    estava mesmo diferente!

    - Então, você vai querer sair comigo e as meninas, ou, vai quer

    ficar remoendo o que aconteceu? – falou ela pausadamente no início da

    frase e terminando quase como um apelo emocional não identificado

    naquele momento que estava sendo perturbador para mim.

    - Onde? – falei fechando a geladeira e indo agora ao fogão

    procurando algo para comer.

    - Na casa de uns "gringos" que a Kátia conheceu.

    - Hum... – deixei um tempo passar - Não sei. Talvez. – respondi

    olhando as panelas que estavam sobre o fogão e tendo certa aversão ao

    alimento.

    - Tudo bem Jeremy, faça o que quiser. – disse ela voltando em

    seguida a falar algo com sua amiga ao telefone.

    De repente, sinto algo invadir a cozinha, como um vento. Sinto-me

    pronto, como se fosse um instinto que não sabia que eu possuía. Minha

    irmã ao telefone sentiu também aquele vento, mas não notando o perigo,

    somente disse:

    - Jeremy! Feche a janela, por favor. Está muito frio. – voltando a

    falar ao telefone. – Mas, então Kátia! A que horas você vai para a festa? ...

    13

    Tudo bem então! Vou tomar um banho e lhe esperar! Tchau. Até daqui a

    pouco! – desligou o telefone e saiu correndo para o seu quarto.

    Fiquei ali mesmo, parado à cozinha, olhando de onde poderia ter

    vindo aquele ar gélido. A janela estava fechada, a porta também! Senti que

    algo me chamava para fora.

    - Jeremy! – gritou ela do último degrau da escada que ainda

    permitia-se ver a cozinha abaixo. - A Kátia disse que irá passar aqui lá

    pelas nove horas! – terminou e continuou correndo escada acima até seu

    quarto.

    Fiquei ali olhando para o nada, hora olhava para a janela, hora me

    perguntava o que teria sido aquele vento sem explicação. Continuava

    tendo as visões, ou apenas lembrando o que havia sido a noite anterior. Em

    pequenos flashes. O homem parado, o medo, seus olhos que me devoravam

    sem me tocar. Olhei para fora mais uma vez e pensei ter visto novamente

    aquele homem sorrindo de forma sarcástica para mim, sob a moldura opaca

    da janela. Abri a porta e saí. Não vi e nem mesmo senti nada. Desci os

    poucos degraus e agora estava ao meio do quintal. Apenas o leve vento

    tocava meus cabelos e eles voavam junto. Sim, estava uma bela noite de lua

    minguante e as estrelas, as quais eu fiquei a observar, formavam cadeias e

    aglomerados. Pude ver escorpião, as três Marias e até mesmo a Constelação

    de Sagitário. Mas de um jeito que nunca havia visto, estavam mais nítidas,

    pareciam até mais perto de mim.

    Senti, pela primeira vez, uma fome desesperada; não em meu

    estômago, mas em todo o meu corpo, em todo o meu ser. Minha cabeça

    parecia explodir; os músculos retraíam-se involuntariamente. Atordoado

    estava e com isso tomei mais um susto. Havia um gato, o qual eu nunca

    gostei. Pertencia a uma vizinha, também insuportável por sinal, daquelas

    14

    que fazem qualquer um perder a calma e vociferar alguma atrocidade para

    afugentar as maledicências da velha, e dizem que os animais pegam muito

    da personalidade de seu dono, assim sendo, ele era um gato que gostava de

    perturbar o meu sono. Era arisco e nunca ninguém conseguiu capturá-lo.

    Mas, essa noite, foi diferente! Quando tomei a mim, me vi sobre o gato, e,

    para o meu espanto, além de pegá-lo, fui traído pela fome. Cravei meus

    dentes em seu corpo. Ainda pude perceber os olhos do gato se assustando

    por tê-lo pego. Deu um grunhido enquanto cravava os dentes nele, mas

    logo cessou. Matei o gato.

    A sensação me consumiu, era doce, porém não tão saboroso, como

    pude perceber posteriormente. Tomei o que precisava para me saciar

    naquele momento rápido, não podendo deixar ninguém ver tal ação e joguei

    o resto fora. Não entendi primeiro como o peguei e depois muito menos,

    visto que lhe tomei sua vida. Mas, meu corpo parecia mais sóbrio e se

    dotava de algo que nunca havia sentido. Percebi que meus dentes estavam

    pontiagudos machucavam minha língua, mas o gosto do sangue, ah, isso

    era maravilhoso.

    Voltei a observar as estrelas. Parecia que eu flutuava em ver tal

    beleza. Porém, volto a perguntar-me, que horas eram?

    - Deve ser umas dezenove e vinte. – respondi para mim mesmo.

    Entrei pela porta da cozinha e olhei para o relógio em cima da

    geladeira, pregado à parede. Para meu espanto, eram exatamente vinte e

    uma horas. Fiquei intrigado. Mas não tive tempo para repensar o quanto

    havia passado as horas. Senti uma força a me puxar para a porta e muito

    rápido cheguei a ela. Parecia ter rodas em meus pés. Abri a porta

    rapidamente, o que assustou as meninas que haviam acabado de chegar e

    não tiveram nem ao menos tempo para apertar a campainha.

    15

    - Nossa Jeremy, uma bela transmissão de pensamento! – disse

    Michela um pouco assustada, quase com o dedo à campainha.

    Michela é uma garota bonita, morena, alta e cabelos negros. É

    digna de respeito quanto à sua beleza. Kátia é a outra garota que eu já

    conhecia, loira dos olhos verdes, um pouco mais baixa, mas uma linda

    garota. Mas, havia uma terceira, que eu ainda não conhecia. Olhei para ela

    e não me contive diante de tão radiante beleza. Fiquei sem ação olhando

    para aquele lindo rosto muito incomum.

    - Esta é Larisse, Jeremy. E Larisse, este é Jeremy, irmão de Jane. –

    disse Michela apresentando-nos.

    - Muito prazer Larisse. Encantado estou com a sua tremenda

    beleza. Seus olhos azuis e essa pele morena atiçam o medo que reside em

    mim.

    - Medo?! – perguntou ela extasiada.

    - Sim, medo! Medo de lhe querer! – respondi docemente.

    - Nossa! Hoje você está inspirado Jeremy! – disse Kátia meio

    assustada.

    - Acho que sim. – falei pausadamente. - E o nome desta inspiração,

    é Larisse. – falei olhando fixamente aos olhos dela.

    Com isso a garota também me olhava e eu mais me encantava com

    ela. Era de alguma descendência indígena e com olhos azuis claros, uma

    quase chamada, perfeita. Mas, algo mais estava acontecendo, Kátia e

    Michela, neste momento, também estavam de olho em mim. Além disso,

    sentia algo estranho em meu corpo, como se soubesse que estava muito

    bonito e atraente naquele momento.

    - Ei! Vocês não vão entrar? – disse Jane do alto da escada sem nada

    perceber.

    16

    - Oh, sim! Desculpem-me! Jane as espera em seu quarto. Entrem

    por favor! – falei tranquilamente como nunca antes, parecia até mesmo ser

    de forma galanteadora, como jamais pude dizer anteriormente. Sagaz,

    talvez.

    As três garotas foram entrando vagarosamente, enquanto eu as

    olhava, hipnotizado, diante aquela linda e maravilhosa garota.

    Depois que entraram, fui atrás e fiquei em meu quarto esperando

    escutar alguma coisa e, por incrível que pareça, consegui escutar

    absolutamente tudo o que estavam falando! Era como se eu estivesse dentro

    do quarto, junto com elas! Isso me assustou um pouco, pois fazia isso sem

    esforço algum de concentração. O fato, de tudo o que estava acontecendo

    comigo, era assustador! Um acontecimento atrás do outro, me mostrava que

    não estava normal e algo surreal estava acontecendo.

    - Nossa Jane? O que deu em seu irmão? – perguntou Michela se

    abanando.

    - Ele está muito estranho! – respondeu Jane. – Não está? Ele

    sempre está. – terminou sorrindo.

    - Estranho? Você está louca? Ele é simplesmente... Demais! – disse

    Larisse se jogando na cama de Jane. – Como você não me disse que seu

    irmão é um gato! – continuou Larisse.

    - Meu Deus! O que está acontecendo com vocês hoje? – perguntou

    Jane.

    - Nada! – responderam juntas. – Somente vimos o seu irmão de

    verdade, porque antes, ele somente dava atenção para a namorada dele,

    lembra? – falou Kátia e foi compreendida por Michela.

    - Eu não estou entendendo nada! – disse Jane. – Bom, vamos parar

    de falar do meu irmão. Com que roupa vocês acham que eu devo ir? –

    17

    continuou falando e se olhando ao espelho segurando um vestido à sua

    frente.

    - Seu irmão vai à festa? – perguntou Larisse.

    - Não sei Larisse. Acho que vai, mas eu é que não sei com que

    roupa eu vou! Dá pra ficar sem pensar no meu irmão só um segundo?

    - Não Jane, eu nunca havia notado ele! Ele é muito gato! – disse

    Michela novamente e beirando o óbvio.

    Sentei-me em minha cama e aquela conversa não estava me

    contentando. Tentei lembrar-me, do que fazia antes. Antes de me sentir

    daquela forma. Tive alguns flashes de meus pais, minha irmã, alguns de

    meus amigos e minha namorada. Lembrei-me também que havia visto ela

    na mesma festa, com outro cara, bem mais forte do que eu. Uma raiva

    encheu o meu ser e pude perceber, neste momento, que realmente eu estava

    muito diferente. Sentia-me diferente, mas ainda não entendia! Lembrei-me

    o porquê do porre.

    Olhei para as minhas mãos. As unhas haviam crescido rapidamente

    de um dia ao outro, estavam bonitas, afiadas e consegui cortar a ponta do

    dedo, somente passando levemente sobre a unha. Achei incrível! Fiquei

    mais atônito quando vi o mesmo corte se fechar instantaneamente! Incrível!

    Ainda escutava os assuntos no quarto da minha irmã, mas agora

    não falavam coisas interessantes, falavam somente de roupas, moda e

    outras coisas que para mim, não fazem sentido algum.

    - Mas, eu nunca havia visto seu irmão sem aqueles óculos! Hoje

    está sem! - Escutei Michela dizer.

    - Verdade Michela. – disse Jane, interrompendo o assunto e dando

    uma pausa. – Não o vi de óculos hoje. Vocês acreditam que ele dormiu

    desde sábado de madrugada até agora a pouco?

    18

    - Nossa! O que ele fez? – perguntou Kátia.

    - Talvez, este seja o seu sono de beleza. – falou Larisse.

    - Ah, para! Como uma pessoa pode dormir tanto assim? – falou

    Jane terminando o assunto.

    Como num passe de mágica tive um impulso e este se tornou

    realidade. Quando percebi minha ação, estava abrindo a porta do quarto de

    Jane e todas as meninas se assustaram, inclusive minha irmã. Vi Jane

    sentada à frente do espelho olhando suas roupas, Kátia sentada numa

    almofada, Larisse em cima da cama de Jane e Michela à janela fumando o

    seu cigarro.

    - Somente dormi muito porque não queria acordar para pensar no

    que minha ex-namorada fez comigo. Era isso o que eu queria falar para

    você Jane. – falei calmamente.

    - Coitado! Acho que você não precisa ficar pensando nela. Por que

    não vai à festa com a gente? – perguntou Michela.

    - Sim, eu vou à festa com vocês. – respondi.

    - Então se apronte que já estamos de saída! – disse Jane pegando o

    vestido e dizendo, - Achei você, é com você que eu vou!

    - Podem ir à frente, eu encontro vocês por lá. – respondi fechando a

    porta.

    Voltei ao meu quarto e estava espantado novamente. Tudo era mais

    fácil agora. Movimentava-me com mais facilidade, com leveza extrema.

    Sentia-me seguro, sem nenhum tipo de receio. Por fim, percebi que não

    existia mais medo. Comecei até a brincar com minha velocidade adquirida,

    que não se mostrava pouca. Surpreendia-me com cada movimento veloz

    que fazia. Andava de um lado a outro do quarto numa velocidade incrível.

    19

    Olhei ao espelho novamente e meus cabelos estavam mais bonitos.

    Pareciam mais negros, mais atraentes e um pouco mais lisos do que o

    habitual. Minha pele também estava mais bonita, lisa e com um ar pálido

    ao qual realçou o escuro dos meus olhos. Certamente, eu não estava como

    antes. Meus olhos estavam com uma profundidade e brilho que nem mesmo

    eu conhecia de mim mesmo! Negros, assim como a noite lá fora. Minhas

    sobrancelhas estavam coerentes com o resto de meu rosto. Pareciam terem

    sido feitas! Mas, o que havia mudado consideravelmente, foram os meus

    dentes. Até pareciam novos de tão brancos que estavam. Os pontiagudos

    que eram bonitos de se ver. Mas, neste momento não estavam crescidos,

    tanto quanto à hora em que consegui cravá-los no gato errante que cruzara

    meu caminho...

    Estava agora vestido todo de preto, furtivo. Nada mais do que a

    vestimenta comum para um vampiro. Peguei os óculos escuros que

    raramente usava e os coloquei. Já era noite, mas, para mim, agora, não fazia

    diferença nenhuma. A visão não ficava ruim, mesmo com as lentes escuras,

    pelo contrario, me davam uma sensação de tranquilidade e leveza. Desci as

    escadas e entrei à sala.

    - Jeremy! – chamou minha mãe. – Você já jantou?

    - Deixe o menino! – disse meu pai. – Você dormiu demais garoto,

    está tudo bem?

    - Estou melhor do que nunca! – disse dando uma volta em mim

    mesmo e retirando os óculos do rosto.

    - Tudo bem. – disse ele rindo e olhando para minha mãe.

    - Jeremy, chegou um pacote para você enquanto dormia ontem.

    Está aqui na mesa, quer ver o que é? Será que é da sua tia da França? –

    disse ela.

    20

    Achei aquilo estranho. Vi tal embrulho vermelho no meio da mesa.

    Era do tamanho de um livro comum ou um pouco mais grosso. Sentei-me

    ao meio do sofá, entre meu pai e minha mãe, que não tiraram os olhos da

    TV.

    - Nossa Jeremy! Você está muito elegante hoje! Assim que a mãe

    gosta.

    Olhei para ela e sorri e ela respondeu com um sorriso materno. Abri

    o pacote e havia uma espécie de caixa de jóia. Abri a tampa e a visão era

    magnífica. Havia um cordão de ouro com um grande pingente em forma de

    estrela e ao lado uma pequena adaga de ouro. Os peguei ao impulso,

    coloquei em meu pescoço, como se já soubesse que aquilo era para que eu

    usasse e a adaga coloquei-a no bolso do sobretudo.

    - Espero que saiba usar uma dessas. – disse meu pai.

    Sei que estava passando por uma experiência única e eu nem sabia

    o que era. Eu estava um tanto estranho, mas meus pais também. Exceto

    minha irmã, para ela tudo estava normal, como sempre. A calma e

    tranquilidade com que meus pais estavam eram, de uma forma, inquietante

    para mim. Mal sabia o que estava acontecendo comigo, para me preocupar

    com eles, mas, isto, seria revelado em breve.

    Fui então para a festa. Não sabia onde era, mesmo assim cheguei,

    como se houvesse um mapa em minha mente, como se eu soubesse o

    endereço. Parei a certa distância e fiquei a observar. A casa,

    extraordinariamente gigantesca e luxuosa, estava distante de minhas posses

    ou do círculo em que vivia. Alguns carros, à mesma altura da luxuosidade

    da casa, estavam estacionados em frente. Havia seguranças com cachorros

    por todos os lados. E, por incrível que pareça, o medo nem passou ao meu

    lado. Caminhei, porém, logo chegando ao portão, quatro seguranças me

    21

    pararam. Eram fortes e grandes em tamanho; eu parecia um garotinho perto

    deles.

    - O Senhor foi convidado? Está na lista? – perguntou o que parecia

    ser o chefe dos seguranças da portaria, com uma prancheta à mão.

    - Isso eu não sei, mas minha irmã e suas amigas estão aí dentro.

    - Muitas irmãs de alguém estão aqui dentro. – disse o segurança e

    começaram a rir desdenhosamente de mim.

    - Dei mais alguns passos à frente a fim de entrar e fui barrado

    novamente. O instinto me traiu quando um dos seguranças pegou o meu

    braço. Minha ação foi tão rápida que somente escutei algo se quebrando.

    Ficaram parados um olhando para o outro, enquanto o sujeito que tentou

    me segurar estava caído ao chão desmaiado, com o braço completamente

    torto. Olhei para aquilo e não senti nada, mas fiquei feliz por saber que

    poderia fazer aquilo. Os outros seguranças olharam para mim temerosos e

    se afastaram. Entrei calmamente, ficando até mesmo encorajado com

    aquela cena. Friamente continuei.

    Andava devagar e sorrateiro. Alguns convidados olhavam de canto

    de olho, outros

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1