Gehenna - A Escolha - Parte I
De Abel Biasi
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Abel Biasi
Loucura Do Espelho - A Realidade Interna Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSingularidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÁlex Oliviére Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Gehenna - A Escolha - Parte I
Ebooks relacionados
O Homem Do Teto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistórias De Uma Não Vida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Cidadela Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstilhaços Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEra Uma Vez... Nota: 0 de 5 estrelas0 notasKelly E O Unicórnio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Segredos de Landara: Redescobrindo o Passado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMais Forte Que Seu Destino: Ama-me Agora e Sempre Nota: 2 de 5 estrelas2/5Choque Nota: 2 de 5 estrelas2/5Keela: Um romance dos Irmãos Slater Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Dama Ancestral Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRedenção Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Trófeu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCor De Mel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Corpo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFaces Do Destino Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNightmares - contos pós pandemia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFulano Arte Utópica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÉden Nota: 3 de 5 estrelas3/5Elizabeth Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRealidade Paralela Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCarol, É Poesia. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRio Das Justas Almas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOutra Face Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuatro Da Manhã Ferros Bar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlém de mim Nota: 5 de 5 estrelas5/5Projeto de Escrita do Ensino Médio 2.0 - Antologia de contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJulia Jones - A Fase da Adolescência - Livro 1 - O Meu Mundo em Ruínas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos Perturbadores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Cidade Dos Ventos Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Fantasia para você
Fausto (Portuguese Edition) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Transformação Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mata-me De Prazer Nota: 5 de 5 estrelas5/5A marca da besta Nota: 5 de 5 estrelas5/5SOMBRA E OSSOS: VOLUME 1 DA TRILOGIA SOMBRA E OSSOS Nota: 4 de 5 estrelas4/5Mundos apocalípticos Nota: 4 de 5 estrelas4/5A batalha do Apocalipse Nota: 5 de 5 estrelas5/5O clã dos magos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Carmilla - A Vampira de Karnstein Nota: 4 de 5 estrelas4/5Lasher: As bruxas de Mayfair Nota: 4 de 5 estrelas4/5As vidas dos santos Nota: 4 de 5 estrelas4/5As Aventuras de Alice no país das Maravilhas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO encantador de livros Nota: 4 de 5 estrelas4/5Phantastes Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Despertar Nota: 4 de 5 estrelas4/5As quatro rainhas mortas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sete minutos depois da meia-noite Nota: 4 de 5 estrelas4/5Coroa de Sombras: Ela não é a típica mocinha. Ele não é o típico vilão. Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Avaliações de Gehenna - A Escolha - Parte I
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Gehenna - A Escolha - Parte I - Abel Biasi
GEHENNA
A ESCOLHA
PARTE I
2
Abel Biasi
GEHENNA
A ESCOLHA
PARTE I
3
2006 por Abel Biasi
Título
GEHENNA – A ESCOLHA – PARTE I
Todos os Direitos Reservados
ABEL BIASI
Capa
ABEL BIASI
Revisão Ortográfica:
Mayra Reis Felipe
Lio Fonseca
2018
4
Gehenna
A Escolha
Parte I
5
Gehenna - A Escolha - Parte I
"Hoje, os dias viraram noites, e as noites, os meus dias. O tempo
parece não existir. Os segundos demoram uma eternidade e o meu rosto
continua jovem do mesmo jeito de sempre.
"O meu sofrimento é lutar nesta guerra, que não era minha, mas,
agora, estou bem no meio dela."
BRASIL, SEXTA-FEIRA, 30 DE MARÇO DE 1990.
Estava voltando para casa, depois de uma das piores festas em que
estive presente. Eram duas ou três horas da manhã, não tinha certeza, pois
serpenteava pelas ruas. Por vezes, tentava enxergar algo, mas não sabia
onde estava e nada reconhecia. Bêbado como um gambá, porém, ainda não
havia caído.
Havia tomado um chute de minha namorada e, a única coisa
plausível, nestas tristes horas, é se afogar em um bom e velho uísque. O
que com certeza, depois de alguns goles, sua percepção lhe prega peças.
Entrei numa larga avenida e notei que estava mais escura do que o
costumeiro. Olhava para as lâmpadas dos postes, estavam em baixa
luminosidade e piscavam como se a carga elétrica não estivesse chegando à
sua totalidade.
Abaixei os olhos e bem à frente, cerca de duzentos metros, havia
um homem parado. Era forte, mas não de assustar. Usava um sobretudo,
que, logicamente, cobria seu corpo todo e um chapéu negro terminava por
dar certo ar de mistério a sua silhueta. Estava parado, de cabeça baixa, ao
meio da rua.
Olhei para o chão e continuei a andar, sem conseguir me manter em
linha reta. Depois de cambalear por mais alguns metros, olhei novamente
para me certificar de que o homem ainda estava no mesmo lugar à minha
6
frente e, para minha surpresa, já não estava! Senti-me confuso e algo me
chamou a atenção atrás de mim. Assustado virei-me à outra direção.
As sensações não são descritíveis até o presente momento. Estava
parado a dez metros de mim, às minhas costas! Mesmo eu estando bêbado,
sabia que não havia andando tanto, a ponto de tê-lo ultrapassado, sem ao
menos o tendo notado! Antes, ele estava a mais ou menos uns duzentos
metros à minha frente! A confusão invadiu a minha mente, já tomada pelo
efeito do álcool e fiquei ainda mais atônito. Foi quando gritei desesperado:
- Quem é você? O que quer? Se está tentando me assustar,
parabéns! Você está conseguindo. – disse com a voz meio mole.
Para meu maior desespero ele não respondeu e quando deu o
primeiro passo em minha direção, desapareceu repentinamente e reapareceu
bem à minha frente! Notei seu rosto, um jovem senhor de meia idade,
aparentava ter entre seus trinta ou quarenta anos, mas seus olhos
aparentavam guardar muitos e muitos segredos de uma longa vida. Eram
cheios de sabedoria, amargura, medo, sofrimento, dor, raiva e quando pude
notá-lo, meu coração se encheu de todos estes sentimentos. Minhas pernas
travaram e nem ao menos consegui correr. Fiquei estático, observando os
seus profundos olhos. Foi quando disse:
- Será meu escolhido. Lutará pela minha espada!
Sua voz era aterrorizantemente assustadora! Fazia jus aos seus
olhos, conhecedores de tudo e até mesmo do interior de qualquer pessoa.
- Mas, como lutarei pela tua espada? Como sou teu escolhido? –
perguntei confuso, balbuciando com a voz trêmula e exalando medo.
- Saberás em breve o por quê! – disse e cravou seus dentes caninos
e pontiagudos em meu pescoço.
7
A dor juntava-se com o espanto e os arrepios que eram
avassaladores! O medo era o meu mais próximo amigo, porém desleal. Não
havia como vencê-lo! O sangue, vagarosamente, extinguia-se de meu
corpo! Fraco me tornava e caia à medida que tudo parava de rodar. Sentia
que meu sangue esvaía-se! Por fim, caí ao chão. A lua era a minha única
testemunha. Sentia-me vivo ainda, vendo-a. Meu pescoço ardia, estava
quente, latejava em dois pequenos orifícios. Percebi que estava no limiar de
minha vida, estava respirando de forma ofegante, procurando
desesperadamente o ar que meu pulmão pudesse mandar à corrente
sanguínea, mas, não havia sangue para oxigenar! Sabia que iria morrer!
Apertei os olhos e enxerguei meu oponente. Estava agachado ao meu lado e
olhava-me, mostrando-se cauteloso, mas sabendo muito bem o que fazia.
- Queres viver meu jovem? – perguntou-me com aquela voz forte.
- Sim! Sim! – balbuciei mais uma vez.
Ele cortou seu pulso e derramou o seu sangue em minha boca.
Aturdido neste momento, não entendi o que era aquilo, mas depois da
primeira gota cair em meus lábios, agarrei o seu braço. Era de um gosto
muito bom! Mas, não era de sangue e sim, de vida! O sabor fez com que
tudo em mim voltasse ao normal, de forma que agarrei ainda mais o seu
braço e tomei-lhe o sangue!
Logo ele puxou seu braço e me empurrou. Caindo ao chão, meu
corpo agora doía. Entretanto, a dor era inigualável, jamais aquela dor seria
uma dor comum.
- Estás morrendo! – disse ele - Seu corpo não aguenta mais esta
inútil vida! Comprará a minha guerra, mas agora, tu serás imortal! Dormirá,
mas voltará sem medo! – disse em sua voz aterrorizante.
8
Realmente! A dor da morte é insuportável! Fora apavorante! Meu
corpo parecia se dobrar e quebrar por dentro! Era como se estivessem me
esmagando, os ossos sendo virados aos avessos e, por fim, vagarosamente,
meu coração parou, atrofiando-se, para nunca mais bater novamente!
Pronto...Acabei de morrer...
9
Acordo em casa, em meu quarto e assim que abro meus olhos, a
respiração toma conta de meu pulmão como um susto. Levanto-me e,
parado, olho ao redor. Consigo ver tudo o que está em meu quarto de forma
muito clara, com coloração mais brilhante, nítida. Ao mesmo tempo notei
que tudo estava estranho. Irreal, talvez.
Meu corpo parecia estar mais solto, leve e meus pensamentos mais
rápidos. A sensação de que o velho se tornara novo pairava ao ar.
Andei até o banheiro de meu quarto, fui diretamente ao espelho e
levei um susto. Não vi meu reflexo ao primeiro instante! Voltei a olhar
vagarosamente e logo percebi que não respirava e sobressaltei-me! Recuei
e fiquei ao lado do espelho, para não olhar para ele. Levei a mão ao
pescoço. Havia dois pequenos orifícios em minha artéria. Lembrei-me do
que havia acontecido na noite anterior. – Será verdade? – perguntei-me em
voz alta começando a ficar atônito.
Desci a mão do pescoço ao peito, vagarosamente, cheguei ao
coração e:
- BLAM, BLAM, BLAM, BLAM! Ande Jeremy, já está dormindo
há bastante tempo! Desça já, a janta está na mesa e está esfriando! – disse a
voz de minha mãe ecoando do outro lado da porta.
O susto, ali, foi imenso! Meu coração não batia! Olhei em volta
novamente e o banheiro também estava diferente. A parede, ao fundo,
havia tornado-se um portal, ao qual me levava novamente direto àquela
noite anterior, a qual vi a sombra daquele homem de sobretudo e chapéu
negros! Escutei novamente a sua voz que me disse:
- Tente respirar. Irá disfarçar muito bem.
Assustei-me mais uma vez com a voz, porém, havia se tornado um
pouco mais familiar, bem mais do que eu quisesse até aquele momento.
10
Mesmo assim, fiz o que ordenou sem pestanejar. Os movimentos da
respiração voltaram imediatamente. Em seguida, saí do banheiro e fui
trocar de roupa. Ainda estava com as mesmas roupas da noite anterior, ou
seja, a noite da terrível festa. Abri o armário e fui reparando nas roupas que
estavam ali. Sempre gostei de me vestir bem, então peguei algumas calças e
camisas e as joguei em cima da cama. Escolhi uma calça preta, estilo
motoqueiro, que havia ganhado de minha namorada. Iria continuar a usá-la
da mesma forma, mesmo sabendo que tudo havia terminado. Escolhi
também uma camisa preta que havia ganhado de minha mãe. Vi que ali
estava ainda uma bota preta que minha tia, qual vivia na França, havia
mandado junto com um sobretudo. Todos pretos, pouco detalhados, mas
muito finos. Porém, no Brasil, com seu calor, era raro usar aquelas roupas.
Lembrei-me de quando havia lhe pedido para que um dia pudesse ir
conhecer a França. Mas, dizia sempre estar muito ocupada com seus
afazeres e em outra ocasião, em que estivesse mais tranquila, iria ligar para
que eu pudesse ir. Mas, isto nunca acontecera na verdade e já havia perdido
as esperanças de visitá-la. Vesti-me e fui ao espelho. Notei que as roupas
me fizeram um pouco mais confuso, pois, nunca havia me vestido daquela
forma. Entretanto, naquele momento, de um jeito ou de outro, sabia que era
daquela forma que me vestiria dali em diante.
Saí de meu quarto e desci as escadas bem devagar. Não estava com
pressa de absolutamente nada. Uma calma pairava sobre mim como nunca
havia sentido. As perguntas estavam se fazendo dentro de mim, como se
brotassem de uma "mina d’água". Olhei para a sala e vi que meus pais
estavam assistindo o noticiário. Ouvi a chamada que dizia com sua voz
grave, quase cavernosa:
11
- Mais de trezentos morrem em
boate" no sul da França! Fontes
Francesas informaram que terroristas armados chegaram atirando contra
um grupo rival e com isso atingiram cerca de trezentos civis. Outras fontes
dizem que os terroristas atiravam em um grupo de soldados Franceses que
estavam de folga com suas famílias. Há ainda informações de que havia
dois soldados de alta patente, ainda não confirmadas. Assim, o exército
Francês disse que ninguém atira em seus soldados e não paguem depois. "A
vingança será conquistada, disse um dos soldados sobreviventes
.
- Nossa! Que violência! – disse minha mãe.
- E isso vai somente piorar! Escuta o que estou lhe dizendo! –
retrucou meu pai mudando de canal em seguida.
Fui direto para a cozinha e vi que minha irmã estava, como sempre,
"pregada" ao telefone.
- Nossa! Mas é sério? – dizia ela – Eu não acredito! Espera um
pouco aí, Kátia! Meu irmão está aqui, acabou de acordar. – tapou o telefone
com uma das mãos. – Nossa, hein? O porre foi bom então? Chegou sexta
de madrugada em casa e está acordando hoje? Dormiu quase dois dias!
- Que horas é Jane? – perguntei.
- Dezenove horas. Só que hoje é domingo!
- Dormi mesmo um dia e meio? – perguntei retoricamente abrindo
a geladeira e fechando-a em seguida, como se não houvesse nada para
comer, mesmo estando cheia.
- O que vai fazer hoje? – continuou ela ainda tapando o telefone
com uma das mãos.
- Não sei. Por quê? Tem algo em mente? – perguntei sem interesse,
abrindo a geladeira novamente.
12
- Quer ir a uma festa comigo e as meninas? Você precisa sair!
Esquecer um pouco a sua ex-namorada!
- Ah! Já está sabendo então? – perguntei sabendo que não havia
dito nada sobre o que aconteceu.
- Sim! Nós nos encontramos por acaso ontem no shopping e ela
estava com um sujeito grande e forte.
- Entendi. – falei e sem fazer o menor desgosto para mim, pois,
estava mesmo diferente!
- Então, você vai querer sair comigo e as meninas, ou, vai quer
ficar remoendo o que aconteceu? – falou ela pausadamente no início da
frase e terminando quase como um apelo emocional não identificado
naquele momento que estava sendo perturbador para mim.
- Onde? – falei fechando a geladeira e indo agora ao fogão
procurando algo para comer.
- Na casa de uns "gringos" que a Kátia conheceu.
- Hum... – deixei um tempo passar - Não sei. Talvez. – respondi
olhando as panelas que estavam sobre o fogão e tendo certa aversão ao
alimento.
- Tudo bem Jeremy, faça o que quiser. – disse ela voltando em
seguida a falar algo com sua amiga ao telefone.
De repente, sinto algo invadir a cozinha, como um vento. Sinto-me
pronto, como se fosse um instinto que não sabia que eu possuía. Minha
irmã ao telefone sentiu também aquele vento, mas não notando o perigo,
somente disse:
- Jeremy! Feche a janela, por favor. Está muito frio. – voltando a
falar ao telefone. – Mas, então Kátia! A que horas você vai para a festa? ...
13
Tudo bem então! Vou tomar um banho e lhe esperar! Tchau. Até daqui a
pouco! – desligou o telefone e saiu correndo para o seu quarto.
Fiquei ali mesmo, parado à cozinha, olhando de onde poderia ter
vindo aquele ar gélido. A janela estava fechada, a porta também! Senti que
algo me chamava para fora.
- Jeremy! – gritou ela do último degrau da escada que ainda
permitia-se ver a cozinha abaixo. - A Kátia disse que irá passar aqui lá
pelas nove horas! – terminou e continuou correndo escada acima até seu
quarto.
Fiquei ali olhando para o nada, hora olhava para a janela, hora me
perguntava o que teria sido aquele vento
sem explicação. Continuava
tendo as visões, ou apenas lembrando o que havia sido a noite anterior. Em
pequenos flashes. O homem parado, o medo, seus olhos que me devoravam
sem me tocar. Olhei para fora mais uma vez e pensei ter visto novamente
aquele homem sorrindo de forma sarcástica para mim, sob a moldura opaca
da janela. Abri a porta e saí. Não vi e nem mesmo senti nada. Desci os
poucos degraus e agora estava ao meio do quintal. Apenas o leve vento
tocava meus cabelos e eles voavam junto. Sim, estava uma bela noite de lua
minguante e as estrelas, as quais eu fiquei a observar, formavam cadeias e
aglomerados. Pude ver escorpião, as três Marias e até mesmo a Constelação
de Sagitário. Mas de um jeito que nunca havia visto, estavam mais nítidas,
pareciam até mais perto de mim.
Senti, pela primeira vez, uma fome desesperada; não em meu
estômago, mas em todo o meu corpo, em todo o meu ser. Minha cabeça
parecia explodir; os músculos retraíam-se involuntariamente. Atordoado
estava e com isso tomei mais um susto. Havia um gato, o qual eu nunca
gostei. Pertencia a uma vizinha, também insuportável por sinal, daquelas
14
que fazem qualquer um perder a calma e vociferar alguma atrocidade para
afugentar as maledicências da velha, e dizem que os animais pegam muito
da personalidade de seu dono, assim sendo, ele era um gato que gostava de
perturbar o meu sono. Era arisco e nunca ninguém conseguiu capturá-lo.
Mas, essa noite, foi diferente! Quando tomei a mim, me vi sobre o gato, e,
para o meu espanto, além de pegá-lo, fui traído pela fome. Cravei meus
dentes em seu corpo. Ainda pude perceber os olhos do gato se assustando
por tê-lo pego. Deu um grunhido enquanto cravava os dentes nele, mas
logo cessou. Matei o gato.
A sensação me consumiu, era doce, porém não tão saboroso, como
pude perceber posteriormente. Tomei o que precisava para me saciar
naquele momento rápido, não podendo deixar ninguém ver tal ação e joguei
o resto fora. Não entendi primeiro como o peguei e depois muito menos,
visto que lhe tomei sua vida. Mas, meu corpo parecia mais sóbrio e se
dotava de algo que nunca havia sentido. Percebi que meus dentes estavam
pontiagudos machucavam minha língua, mas o gosto do sangue, ah, isso
era maravilhoso.
Voltei a observar as estrelas. Parecia que eu flutuava em ver tal
beleza. Porém, volto a perguntar-me, que horas eram?
- Deve ser umas dezenove e vinte. – respondi para mim mesmo.
Entrei pela porta da cozinha e olhei para o relógio em cima da
geladeira, pregado à parede. Para meu espanto, eram exatamente vinte e
uma horas. Fiquei intrigado. Mas não tive tempo para repensar o quanto
havia passado as horas. Senti uma força a me puxar para a porta e muito
rápido cheguei a ela. Parecia ter rodas em meus pés. Abri a porta
rapidamente, o que assustou as meninas que haviam acabado de chegar e
não tiveram nem ao menos tempo para apertar a campainha.
15
- Nossa Jeremy, uma bela transmissão de pensamento! – disse
Michela um pouco assustada, quase com o dedo à campainha.
Michela é uma garota bonita, morena, alta e cabelos negros. É
digna de respeito quanto à sua beleza. Kátia é a outra garota que eu já
conhecia, loira dos olhos verdes, um pouco mais baixa, mas uma linda
garota. Mas, havia uma terceira, que eu ainda não conhecia. Olhei para ela
e não me contive diante de tão radiante beleza. Fiquei sem ação olhando
para aquele lindo rosto muito incomum.
- Esta é Larisse, Jeremy. E Larisse, este é Jeremy, irmão de Jane. –
disse Michela apresentando-nos.
- Muito prazer Larisse. Encantado estou com a sua tremenda
beleza. Seus olhos azuis e essa pele morena atiçam o medo que reside em
mim.
- Medo?! – perguntou ela extasiada.
- Sim, medo! Medo de lhe querer! – respondi docemente.
- Nossa! Hoje você está inspirado Jeremy! – disse Kátia meio
assustada.
- Acho que sim. – falei pausadamente. - E o nome desta inspiração,
é Larisse. – falei olhando fixamente aos olhos dela.
Com isso a garota também me olhava e eu mais me encantava com
ela. Era de alguma descendência indígena e com olhos azuis claros, uma
quase chamada, perfeita. Mas, algo mais estava acontecendo, Kátia e
Michela, neste momento, também estavam de olho em mim. Além disso,
sentia algo estranho em meu corpo, como se soubesse que estava muito
bonito e atraente naquele momento.
- Ei! Vocês não vão entrar? – disse Jane do alto da escada sem nada
perceber.
16
- Oh, sim! Desculpem-me! Jane as espera em seu quarto. Entrem
por favor! – falei tranquilamente como nunca antes, parecia até mesmo ser
de forma galanteadora, como jamais pude dizer anteriormente. Sagaz,
talvez.
As três garotas foram entrando vagarosamente, enquanto eu as
olhava, hipnotizado, diante aquela linda e maravilhosa garota.
Depois que entraram, fui atrás e fiquei em meu quarto esperando
escutar alguma coisa e, por incrível que pareça, consegui escutar
absolutamente tudo o que estavam falando! Era como se eu estivesse dentro
do quarto, junto com elas! Isso me assustou um pouco, pois fazia isso sem
esforço algum de concentração. O fato, de tudo o que estava acontecendo
comigo, era assustador! Um acontecimento atrás do outro, me mostrava que
não estava normal e algo surreal estava acontecendo.
- Nossa Jane? O que deu em seu irmão? – perguntou Michela se
abanando.
- Ele está muito estranho! – respondeu Jane. – Não está? Ele
sempre está. – terminou sorrindo.
- Estranho? Você está louca? Ele é simplesmente... Demais! – disse
Larisse se jogando na cama de Jane. – Como você não me disse que seu
irmão é um gato! – continuou Larisse.
- Meu Deus! O que está acontecendo com vocês hoje? – perguntou
Jane.
- Nada! – responderam juntas. – Somente vimos o seu irmão de
verdade, porque antes, ele somente dava atenção para a namorada dele,
lembra? – falou Kátia e foi compreendida por Michela.
- Eu não estou entendendo nada! – disse Jane. – Bom, vamos parar
de falar do meu irmão. Com que roupa vocês acham que eu devo ir? –
17
continuou falando e se olhando ao espelho segurando um vestido à sua
frente.
- Seu irmão vai à festa? – perguntou Larisse.
- Não sei Larisse. Acho que vai, mas eu é que não sei com que
roupa eu vou! Dá pra ficar sem pensar no meu irmão só um segundo?
- Não Jane, eu nunca havia notado ele! Ele é muito gato! – disse
Michela novamente e beirando o óbvio.
Sentei-me em minha cama e aquela conversa não estava me
contentando. Tentei lembrar-me, do que fazia antes. Antes de me sentir
daquela forma. Tive alguns flashes
de meus pais, minha irmã, alguns de
meus amigos e minha namorada. Lembrei-me também que havia visto ela
na mesma festa, com outro cara, bem mais forte do que eu. Uma raiva
encheu o meu ser e pude perceber, neste momento, que realmente eu estava
muito diferente. Sentia-me diferente, mas ainda não entendia! Lembrei-me
o porquê do porre.
Olhei para as minhas mãos. As unhas haviam crescido rapidamente
de um dia ao outro, estavam bonitas, afiadas e consegui cortar a ponta do
dedo, somente passando levemente sobre a unha. Achei incrível! Fiquei
mais atônito quando vi o mesmo corte se fechar instantaneamente! Incrível!
Ainda escutava os assuntos no quarto da minha irmã, mas agora
não falavam coisas interessantes, falavam somente de roupas, moda e
outras coisas que para mim, não fazem sentido algum.
- Mas, eu nunca havia visto seu irmão sem aqueles óculos! Hoje
está sem! - Escutei Michela dizer.
- Verdade Michela. – disse Jane, interrompendo o assunto e dando
uma pausa. – Não o vi de óculos hoje. Vocês acreditam que ele dormiu
desde sábado de madrugada até agora a pouco?
18
- Nossa! O que ele fez? – perguntou Kátia.
- Talvez, este seja o seu sono de beleza. – falou Larisse.
- Ah, para! Como uma pessoa pode dormir tanto assim? – falou
Jane terminando o assunto.
Como num passe de mágica tive um impulso e este se tornou
realidade. Quando percebi minha ação, estava abrindo a porta do quarto de
Jane e todas as meninas se assustaram, inclusive minha irmã. Vi Jane
sentada à frente do espelho olhando suas roupas, Kátia sentada numa
almofada, Larisse em cima da cama de Jane e Michela à janela fumando o
seu cigarro.
- Somente dormi muito porque não queria acordar para pensar no
que minha ex-namorada fez comigo. Era isso o que eu queria falar para
você Jane. – falei calmamente.
- Coitado! Acho que você não precisa ficar pensando nela. Por que
não vai à festa com a gente? – perguntou Michela.
- Sim, eu vou à festa com vocês. – respondi.
- Então se apronte que já estamos de saída! – disse Jane pegando o
vestido e dizendo, - Achei você, é com você que eu vou!
- Podem ir à frente, eu encontro vocês por lá. – respondi fechando a
porta.
Voltei ao meu quarto e estava espantado novamente. Tudo era mais
fácil agora. Movimentava-me com mais facilidade, com leveza extrema.
Sentia-me seguro, sem nenhum tipo de receio. Por fim, percebi que não
existia mais medo. Comecei até a brincar com minha velocidade adquirida,
que não se mostrava pouca. Surpreendia-me com cada movimento veloz
que fazia. Andava de um lado a outro do quarto numa velocidade incrível.
19
Olhei ao espelho novamente e meus cabelos estavam mais bonitos.
Pareciam mais negros, mais atraentes e um pouco mais lisos do que o
habitual. Minha pele também estava mais bonita, lisa e com um ar pálido
ao qual realçou o escuro dos meus olhos. Certamente, eu não estava como
antes. Meus olhos estavam com uma profundidade e brilho que nem mesmo
eu conhecia de mim mesmo! Negros, assim como a noite lá fora. Minhas
sobrancelhas estavam coerentes com o resto de meu rosto. Pareciam terem
sido feitas! Mas, o que havia mudado consideravelmente, foram os meus
dentes. Até pareciam novos de tão brancos que estavam. Os pontiagudos
que eram bonitos de se ver. Mas, neste momento não estavam crescidos,
tanto quanto à hora em que consegui cravá-los no gato errante que cruzara
meu caminho...
Estava agora vestido todo de preto, furtivo. Nada mais do que a
vestimenta comum para um vampiro. Peguei os óculos escuros que
raramente usava e os coloquei. Já era noite, mas, para mim, agora, não fazia
diferença nenhuma. A visão não ficava ruim, mesmo com as lentes escuras,
pelo contrario, me davam uma sensação de tranquilidade e leveza. Desci as
escadas e entrei à sala.
- Jeremy! – chamou minha mãe. – Você já jantou?
- Deixe o menino! – disse meu pai. – Você dormiu demais garoto,
está tudo bem?
- Estou melhor do que nunca! – disse dando uma volta em mim
mesmo e retirando os óculos do rosto.
- Tudo bem. – disse ele rindo e olhando para minha mãe.
- Jeremy, chegou um pacote para você enquanto dormia ontem.
Está aqui na mesa, quer ver o que é? Será que é da sua tia da França? –
disse ela.
20
Achei aquilo estranho. Vi tal embrulho vermelho no meio da mesa.
Era do tamanho de um livro comum ou um pouco mais grosso. Sentei-me
ao meio do sofá, entre meu pai e minha mãe, que não tiraram os olhos da
TV.
- Nossa Jeremy! Você está muito elegante hoje! Assim que a mãe
gosta.
Olhei para ela e sorri e ela respondeu com um sorriso materno. Abri
o pacote e havia uma espécie de caixa de jóia. Abri a tampa e a visão era
magnífica. Havia um cordão de ouro com um grande pingente em forma de
estrela e ao lado uma pequena adaga de ouro. Os peguei ao impulso,
coloquei em meu pescoço, como se já soubesse que aquilo era para que eu
usasse e a adaga coloquei-a no bolso do sobretudo.
- Espero que saiba usar uma dessas. – disse meu pai.
Sei que estava passando por uma experiência única e eu nem sabia
o que era. Eu estava um tanto estranho, mas meus pais também. Exceto
minha irmã, para ela tudo estava normal, como sempre. A calma e
tranquilidade com que meus pais estavam eram, de uma forma, inquietante
para mim. Mal sabia o que estava acontecendo comigo, para me preocupar
com eles, mas, isto, seria revelado em breve.
Fui então para a festa. Não sabia onde era, mesmo assim cheguei,
como se houvesse um mapa em minha mente, como se eu soubesse o
endereço. Parei a certa distância e fiquei a observar. A casa,
extraordinariamente gigantesca e luxuosa, estava distante de minhas posses
ou do círculo em que vivia. Alguns carros, à mesma altura da luxuosidade
da casa, estavam estacionados em frente. Havia seguranças com cachorros
por todos os lados. E, por incrível que pareça, o medo nem passou ao meu
lado. Caminhei, porém, logo chegando ao portão, quatro seguranças me
21
pararam. Eram fortes e grandes em tamanho; eu parecia um garotinho perto
deles.
- O Senhor foi convidado? Está na lista? – perguntou o que parecia
ser o chefe dos seguranças da portaria, com uma prancheta à mão.
- Isso eu não sei, mas minha irmã e suas amigas estão aí dentro.
- Muitas irmãs de alguém estão aqui dentro. – disse o segurança e
começaram a rir desdenhosamente de mim.
- Dei mais alguns passos à frente a fim de entrar e fui barrado
novamente. O instinto me traiu quando um dos seguranças pegou o meu
braço. Minha ação foi tão rápida que somente escutei algo se quebrando.
Ficaram parados um olhando para o outro, enquanto o sujeito que tentou
me segurar estava caído ao chão desmaiado, com o braço completamente
torto. Olhei para aquilo e não senti nada, mas fiquei feliz por saber que
poderia fazer aquilo. Os outros seguranças olharam para mim temerosos e
se afastaram. Entrei calmamente, ficando até mesmo encorajado com
aquela cena. Friamente continuei.
Andava devagar e sorrateiro. Alguns convidados olhavam de canto
de olho, outros