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Escatologia: A polêmica em torno do milênio
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Escatologia: A polêmica em torno do milênio
E-book272 páginas3 horas

Escatologia: A polêmica em torno do milênio

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Sobre este e-book

Se você ainda não se decidiu a respeito das últimas coisas, este livro é para você. Se já se decidiu, mas tem procurado uma apresentação imparcial de outros conceitos sobre o Milênio e sobre a Tribulação, esta obra irá fornecer as informações que você precisa.

Millard J. Erickson oferece um tratamento imparcial do amilenismo, pós-milenismo e pré-milenismo, seguido por capítulos sobre dispensacionalismo, pré-tribulacionismo, pós-tribulacionismo, e pontos de vista tribulacionistas intermediários (mesotribulacionismo, o conceito do arrebatamento parcial, e o pós-tribulacionismo iminente).

Pastores, seminaristas e demais cristãos que aceitaram o desafio de responder às questões cruciais de seu tempo têm agora em suas mãos uma ferramenta valiosíssima para auxiliá-los no ensino da Palavra e na proclamação do Reino de Deus.

Publicado anteriormente sob o título Opções contemporâneas na escatologia.
IdiomaPortuguês
EditoraVida Nova
Data de lançamento21 de fev. de 2024
ISBN9786559672561
Escatologia: A polêmica em torno do milênio

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    Escatologia - Millard Erickson

    parte 1

    Conceitos escatológicos contemporâneos


    capítulo 1

    Schweitzer e Dodd


    Introdução

    Em diversos aspectos, o século xix foi um período de intensa agitação teológica. A síntese ortodoxa, embora houvesse variação da luterana para a reformada e até para a católica romana, mantinha um entendimento básico da natureza da teologia, conservando-se firme por um tempo considerável. Contudo, nesse período, novos conceitos da própria natureza da religião irrompiam sobre a igreja, e produziam mais transformações radicais na natureza fundamental da teologia do que talvez já ocorrera em todos os séculos anteriores, desde o tempo do Novo Testamento. Sempre existiram segmentos radicais no cristianismo, mas em termos gerais ficavam somente à margem. Agora, essas transformações passaram a influenciar as correntes predominantes da igreja.

    Em boa parte, essas alterações eram resultados de novos desen­volvimentos no universo de conhecimento, os quais afetaram as doutrinas tradicionais do cristianismo. Na filosofia, as críticas de Immanuel Kant levantaram a questão sobre a possibilidade de se com­provar a existência de Deus ou até sobre o fato de possuirmos qual­quer conhecimento daquilo que vai além do nosso conheci­mento empírico. Na ciência natural, A origem das espécies, de Charles Darwin, desafiou a doutrina cristã da criação especial do homem. A aplicação da crítica histórica e literária à Bíblia parecia minar alguns pontos de vista tradicionais acerca da data e autoria dos livros bíblicos, bem como da historicidade de grandes segmentos das narrativas.

    Aqueles que aceitavam esses desenvolvimentos tinham de encontrar novas abordagens à teologia. A maioria concordava que a essência da religião em geral e do cristianismo especificamente não consiste de crenças. Um dos ramos tratava o cristianismo como juízo de valores e o tornava, em grande medida, uma questão de ética ou conduta. Outro ramo, seguindo a liderança de Friedrich Schleiermacher, concebia o cristianismo primariamente como uma questão de sentimento. Esses dois ramos concordavam que os dogmas e as crenças cristãos deveriam ser cuidadosamente exami­nados, avaliados e justificados, e não simplesmente sustentados com credulidade. Isso dava um novo molde ou uma nova chave à teologia — inclusive à escatologia.

    Em meio a esse mar tempestuoso de novos desenvolvimentos, os cristãos do século xix tinham certeza de uma coisa: como cristãos, deviam, de algum modo especial, estar relacionados e focados em Jesus, chamado o Cristo. No entanto, isso tornou ainda mais urgente a pergunta: Quem realmente é esse Jesus? A busca pelo Jesus histórico foi uma tentativa de voltar-se para Jesus a fim de compreender quem ele realmente era. Enquanto o estudioso que buscava a Jesus tateava em seu caminho de volta, envolvido por uma névoa de séculos de tradição eclesiástica e construção teológica, ele encontrava e des­crevia a vida, a personalidade e os ensinos de Jesus. Aplicava-se às narrativas dos evangelhos os mesmos métodos de pesquisa histórica utilizados na investigação de quaisquer acontecimentos históricos ou materiais literários.

    Em termos teóricos, essa busca primava pela objetividade, deixando de lado pressupostos dogmáticos e tradições eclesiásticas a favor de um tipo mais científico de pesquisa. Métodos utilizados por historiadores não comprometidos eram adotados, na esperança de realizar esse ideal. O alvo não era defender quaisquer crenças específicas acerca de Jesus. O fato de não ser possível sustentar, pelas evidências, as ideias sobre Jesus, tornava cada vez mais difícil a aceitação dos conceitos tradicionais. Comentaristas posteriores têm questionado o fato de esses estudiosos terem sido tão objetivos e de seu método ter sido tão livre de influências controladoras quanto declaravam e desejavam.

    Aplicando suas pesquisas aos evangelhos, os que estavam nessa busca encontraram um retrato de certa forma diferente do conven­cional. Embora os pormenores diferissem entre um estudioso e outro, o contorno geral era de um mestre basicamente humano que direcionava os homens mais ao Pai do que a si mesmo. Jesus chamava os homens a crer com ele, não nele.

    Um dos temas dominantes no ensino de Jesus, diziam eles, é a paternidade de Deus.¹ Deus criou todos os homens e continua a dar-lhes vida, cuidando deles com tanto zelo quanto um pastor vigia suas ovelhas. Conhece e protege cada um deles, do mesmo modo que nenhum pardal pode cair por terra sem o conhecimento e permissão do Pai (Mt 10.29-31). Jesus falou que o Pai sabe até o número de fios de cabelos que cobrem a cabeça de uma pessoa (Mt 10.30).

    O infinito valor de uma alma humana é um corolário dessa doutrina.² Por Deus ter a cada ser humano em tão alta estima, também deveríamos estimar nosso próximo. Isso contribuiu para a ênfase na fraternidade dos homens. Jesus reduziu toda a lei a dois mandamentos: amar ao Senhor Deus com todo o coração e amar ao próximo como a si mesmo. Se a parábola do filho pródigo é o modelo do relacio­namento que o homem deveria ter com Deus, a parábola do bom samaritano é o modelo do relacionamento que o homem deveria ter com outros homens.

    O ensino de Jesus a respeito do reino de Deus³ era considerado básico e central para toda a sua perspectiva e mensagem. Albrecht Ritschl, que talvez tenha tratado dessa doutrina de forma mais ampla, disse que o cristianismo não é um círculo, com um só centro, mas uma elipse, com dois focos — as doutrinas da redenção (a operação da graça divina) e do reino de Deus (a atividade ética do homem).⁴ Esse reino é uma comunidade ética composta de homens e distinguida pela ação recíproca, que é motivada pelo amor. O reino é estabelecido pelo homem, mas não destituídos de religiosos. Jesus fundou esse reino. Sua relevância encontra-se primariamente em sua vida, não em sua morte. Ele é o exemplo perfeito do tipo de humanidade que será unida no reino. É a revelação completa de Deus como amor.

    Embora as vidas de Jesus propusessem ideias variáveis a respeito do reino, elas tinham um denominador comum: Deus reina aqui e agora. De acordo com Jesus, o reino chegou a ele e por ele. Não é um reino com leis externas, com dimensões possíveis de serem discernidas na sociedade em marcas visíveis, pelo contrário, é um reino de Deus dentro do coração humano, um reino que tem se tornado uma realidade para um número crescente de pessoas. Sua propagação por toda a raça humana é tanto horizontal (de um indivíduo e grupo para outro) quanto vertical (de uma classe social para outra).

    O reino que Jesus trouxe é diferente, em sua natureza, de qualquer coisa que o tenha precedido. Nesse sentido, veio de uma vez por todas, e sua natureza não mudaria com o passar do tempo. Seu crescimento era gradual e não de tipo. À medida que o homem estendesse o reino para as diversas áreas da sociedade, progressi­vamente, a sociedade se tornaria cristianizada. Essa crença e esperança foram vividamente ilustradas em 1908 quando uma nova revista religiosa foi chamada Christian Century [Século cristão]. Por detrás desse nome, havia a crença de que o século xx seria o século cristão. O reino de Deus estava aqui ou deveria estar em breve. Seria instaurado progressivamente através dos esforços dos cristãos, não mediante algum acontecimento cataclísmico como a segunda vinda de Cristo. A natureza do reino agora não é diferente do que será em qualquer tempo do futuro. Alguns dos que susten­tavam esse conceito do reino enfatizavam o papel de Deus em sua realização; outros enfatizavam o papel de instituições e programas humanos.

    As passagens escatológicas ou apocalípticas nas Escrituras eram tratadas de duas maneiras básicas: a primeira era interpretar a passagem de modo não escatológico ou não futurista; a segunda era simplesmente descartá-las ou desconsiderá-las (bem como outros segmentos da Bíblia).

    Aqueles que seguiam essa última abordagem destacavam a analogia da noz e da casca. Embora seja de um período mais pos­terior, a obra de Harry Emerson Fosdick (1878-1969) ilustra bem essa abordagem. Conforme Fosdick entendia, a forma tradicional da doutrina de que a justiça triunfará é a segunda vinda de Cristo.⁵ Segundo essa forma da doutrina, Jesus voltará à terra de modo literal, nas nuvens do céu. Não é de surpreender que as pessoas do século i aceitassem e empregassem semelhante figura. Consideravam a terra como um paralelogramo achatado, sendo então apropriado pensar em alguém que subia às nuvens e descia delas. Nem é de surpreender que essa esperança assumisse uma forma messiânica, visto que esse foi um período de intensa agitação política. À medida que uma nação sucedia à outra, crescia o conceito de que Israel seria liberto por um rei terrestre que restabeleceria o reino de Davi. Durante o período intertestamentário e nos escritos apócrifos, o panorama do presente tornou-se cada vez mais pessimista. A libertação necessariamente viria através de um acontecimento repentino e surpreendente — o dia do Senhor — envolvendo uma invasão messiânica da terra, vinda do céu.

    Fosdick concluiu que hoje não podemos sustentar tal ponto de vista, por estar ligado a um conceito obsoleto da realidade. Mas, ao rejeitar essa ideia, estamos apenas tirando e descartando a casca. A noz (a vitória da justiça sobre a terra) permanece intacta, e Fosdick continuou a crer nela. Embora a casca da doutrina (a volta física de Jesus) fosse adequada para tempos passados, uma forma nova deveria ser encontrada para os nossos tempos. E Fosdick tinha uma outra sugestão. Não se baseava no fato de o homem simplesmente transformar o caráter humano e a sociedade por seu próprio esforço, mas na operação de Deus através dos cristãos para modificar a sociedade. Fosdick a expressou da seguinte forma:

    Tenhamos, nós mesmos, esse espírito, e que Deus possa operar sua vitória em nós e através de nós; persuadir outros a serem transformados pela renovação de suas mentes; que possamos nos esforçar por uma melhor organização da sociedade para que o propósito divino possa ser promovido e não impedido por nossa vida econômica e política; e então, aguardaremos pelo aconte­cimento na forma e no tempo dele — essa tem sido nossa postura e pregação, as quais nos parecem cristãs.

    Escatologia consistente

    Temos notado um crescente consenso entre liberais a respeito da escatologia do Novo Testamento. A despeito de muitas variações, eles concordam que o reino é ético em sua natureza. É aqui e agora, dentro da história. Não é algo que virá catastroficamente em algum tempo futuro.

    Mas, nessa aparente parede sólida, fendas começaram a surgir. Escritores sugeriram que algo estava errado com a visão liberal. Alguns propuseram um acordo, unindo um conceito verdadeira­mente escatológico ou futurista com a ideia do reino como uma rea­lidade ética presente. Outros, porém, tentaram um completo rom­­pi­mento. Um deles foi Johannes Weiss, que em 1892 publicou Jesus’ Preaching on the Kingdom of God [A pregação de Jesus sobre o reino de Deus]. Nessa obra, Weiss abordou o ensino de Jesus de uma perspectiva totalmente diferente. Em vez de pressupor que Jesus estava falando acerca de um reino ético, concluiu que a visão de Jesus era completamente escatológica ou até mesmo apocalíptica e futurista. Em vez de um reino ético de Deus no coração do homem, que se expandiria paulatinamente através do tempo, o reino se estabeleceria surpreendentemente no futuro. A partir daí o esquema de Weiss recebeu o nome de escatologia consistente (ou radical).

    Se Weiss abriu uma fenda na parede, Albert Schweitzer (1875-1965) fez uma rachadura completa. Em dois de seus livros, Schweitzer dirigiu-se explicitamente à questão da escatologia. O pri­meiro foi intitulado Das Abendmahl [A santa ceia], e a segunda metade da obra foi publicada em inglês com o título The Mystery of the Kingdom of God [O mistério do reino de Deus]. De certa forma, o autor definiu nessa obra sua posição de forma mais clara do que em seu livro posterior e mais conhecido, The Quest of the Historical Jesus [A busca pelo Jesus histórico]. Schweitzer examinou extensivamente e praticamente demoliu as vidas de Jesus liberais e então propôs uma interpretação alternativa. Weiss aplicara a ideia da escatologia consistente aos ensinos de Jesus; Schweitzer, no entanto, aplicou-a ao Novo Testamento como um todo.

    Schweitzer é um exemplo moderno de um gênio universal. Aos 30 anos já era organista, filósofo e estudioso do Novo Testa­mento. Logo após se voltou para a medicina e se tornou missionário, exercendo a profissão de médico em Lamberene, na África. Embora Schweitzer tivesse sido treinado no liberalismo clássico dos seus dias, começou a perceber suas falhas. Não voltou, entretanto, a uma abordagem pré-crítica da Bíblia. Aceitou a validade do método liberal do estudo crítico, mas rejeitou algumas de suas conclusões. O problema brotava ou de pressuposições incorretas, ou da aplicação incompleta e inconsistente do método, ou ainda dos dois juntos. Se nos abrirmos para a possibilidade de que o Novo Testamento é genui­namente escatológico, podemos explicar os fenômenos de modo mais adequado. Mas, se aceitarmos as suposições liberais e seguir­mos à risca seu método de estudo bíblico crítico, encon­traremos certas incoerências.

    Schweitzer, conforme notamos, adotou o mesmo método usado pelos liberais que buscavam a Jesus e utilizou as mesmas fontes. Na maioria das vezes ele, assim como Weiss, William Wrede e outros, desconsiderava o quarto evangelho por considerá-lo muito diver­gente dos sinóticos para ser historicamente fidedigno. Schweitzer também usou pouco o Evangelho de Lucas, pois sentia que nele a teologia de Paulo tinha sido imposta na narrativa. Lucas fazia parte do círculo de Paulo, conforme indicam as passagens em Atos com a utilização de nós. Visto que Lucas escreveu depois do período da influência direta de Paulo sobre ele, seu evangelho deveria provavelmente ser desconsiderado por qualquer pessoa que desejasse chegar à vida e aos ditos de Jesus. As fontes principais de Schweitzer, portanto, foram Marcos e os logia (ditos em Mateus), que consi­derava como tendo sido derivados de uma fonte identificada como fonte Q (a primeira letra da palavra alemã fonte, Quelle). Até mesmo a construção dos fatos do evangelho feita por Mateus era considerada com considerável ceticismo. Os ditos de Jesus relatados em Mateus eram considerados bem fidedignos, mas pensava-se que a narrativa tivesse sido influenciada por acontecimentos e conceitos posteriores.

    Schweitzer, portanto, praticamente repercorreu o trilho dos que buscavam o Jesus histórico. Schweitzer aplicou o método deles às fontes que aceitavam como autênticas, e a sua avaliação dos resul­tados deles foi bem negativa: Seja qual for a solução final, o Jesus histórico, de quem a crítica do futuro — tomando como ponto de partida os problemas reconhecidos e admitidos — quer traçar o retrato, nunca poderá prestar à teologia moderna os serviços que reinvindicou da parte de seu Jesus meio-histórico e meio-moderno.⁷ Frequentemente pensamos que o grande problema da cristologia seja o das duas naturezas de Cristo: Deus e homem combinados em uma pessoa. Para Schweitzer, o problema de combinar um Jesus parcialmente histórico e parcialmente contemporâneo numa só pessoa é muito mais difícil. Na realidade, ele achava que os dois não tinham sido combinados de modo bem-sucedido.

    O problema é que o Jesus que emerge de tal esforço é fictício. A famosa declaração do padre George Tyrrell vem à mente: O Cristo que Harnack vê, olhando para trás, em dezenove séculos de trevas católicas, não passa da reflexão de um rosto protestante liberal, vista no fundo de um poço profundo.⁸ De modo semelhante, Schweitzer sugeriu que o Jesus de quem o pesquisador liberal falava e escrevia não tinha realidade alguma: O Jesus de Nazaré que se apresentou como sendo o Messias, que pregava a ética do reino de Deus, que fundou o reino dos Céus sobre a terra e que morreu para dar à sua obra sua consagração final, nunca teve qualquer existência. É uma figura projetada pelo racionalismo, dotada de vida pelo liberalismo e vestida pela teologia moderna com vestes históricas.

    Esse Jesus da história não é de forma alguma um produto da pesquisa histórica, mas do pensamento do século xix e xx. Apa­ren­temente, a tentativa de se chegar à vida de Jesus era uma tentativa de trazê-lo para o presente, mas ele não poderia ser capturado dessa maneira.

    Mas Jesus não fica; ele passa pelo nosso tempo e volta para o dele. O que surpreendeu e assombrou a teologia dos últimos quarenta anos foi que, a despeito de todas as interpretações forçadas e arbitrárias, não conseguiu mantê-lo em nosso tempo, mas teve de deixá-lo ir. Ele voltou ao seu próprio tempo, não devido à aplicação de qualquer ingenuidade histórica, mas pela mesma necessidade inevitável que faz com que o pêndulo, ao ser solto, volte à posição original.¹⁰

    Se Jesus tem de ter relevância em nosso tempo, não será pelo de fato de ele tornar-se como nós, mas por o enxergarmos como verdadeiramente foi. A imagem de Jesus como alguém que mera­mente ensinou um reino ético foi destruída — não pela crítica externa, não por pessoas que adotam uma abordagem funda­men­tal­mente diferente da pesquisa histórica, mas pelo fracasso do método de levar em conta problemas internos significantes. Fra­cassou porque tinha de ignorar dados importantes. Assim, tanto a hermenêutica não escatológica como a interpretação ética de Jesus devem ser substituídas por uma hermenêutica completa­mente escatológica.

    O conceito não escatológico de Jesus falhou em desvendar o mistério de Jesus. Talvez outra chave hermenêutica se encai­xasse melhor, explicando mais dos fenômenos da vida de Jesus e com menos distorção. Somente quando a imagem esca­tológica de Jesus é projetada, sua vida e ensinos passam a ter sen­tido. Ao enfatizar as presentes dimensões do reino, os ensinos de Jesus também passam a incluir acontecimentos vindouros — a vinda de Jesus.

    A expressão a segunda vinda de Jesus ou sua volta emprega-se comumente hoje. Schweitzer não gostava dessas expressões. Não era o termo de Jesus. Do ponto de vista de onde Jesus estava, tratava-se da vinda dele, e era uma vinda futura. Tendemos a contrastar a vinda futura de Jesus com sua morte: sua morte representava o grau mais elevado, sendo às vezes referido como estado de humilhação; sua vinda é a realização plena do estado de exaltação que começou na ressurreição e se intensificou em sua ascensão. Para Schweitzer, esses estados não são antíteses. Ele não diz: "Morreu, mas virá de novo, mas Morre e está vindo." O primeiro é instrumental em relação ao último. Jesus disse: Devo sofrer, e o Filho do Homem aparecerá nas nuvens do céu. Schweitzer considerava que Jesus colocava sua morte numa conexão temporal-causal com a vinda escatológica do reino.¹¹

    Alguns sugeriram que a ideia escatológica fosse uma reflexão posterior de Jesus.

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