Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Aqueles Que Acreditam
Aqueles Que Acreditam
Aqueles Que Acreditam
E-book402 páginas5 horas

Aqueles Que Acreditam

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Seria correto desobedecê-la? Sua vida poderia depender da resposta.

[Aqueles que acreditam]

Esses sinais seguirão aqueles que acreditam...

Fugindo dos Serviços Sociais e de outras pessoas que não entendem suas crenças, Nathan e sua mãe, a pastora Billie Ashbury, mudam-se para outra cidade.

Nathan enfrenta, novamente, os desafios de fazer novos amigos e de guardar os segredos de sua família. Mas, o que ele realmente enfrenta, é sua fé duvidosa e a conciliação de suas ações com o que sua devota mãe lhe ensinou desde berço. Seria correto desobedecê-la? Sua vida poderia depender da resposta.


"...envolvente, deixa você na dúvida, um pouco assustador às vezes, bom final."

“Foi uma ótima história e gostei de ler. Pode acabar sendo um dos muitos livros que volto a ler.”

“Eu lutei com algumas das mesmas coisas que Nathan, e foi como se estivesse lendo minha própria história.”

IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de mar. de 2024
ISBN9781667471457
Aqueles Que Acreditam
Autor

P.D. Workman

P.D. Workman is a USA Today Bestselling author, winner of several awards from Library Services for Youth in Custody and the InD’tale Magazine’s Crowned Heart award. With over 100 published books, Workman is one of Canada’s most prolific authors. Her mystery/suspense/thriller and young adult books, include stand alones and these series: Auntie Clem's Bakery cozy mysteries, Reg Rawlins Psychic Investigator paranormal mysteries, Zachary Goldman Mysteries (PI), Kenzie Kirsch Medical Thrillers, Parks Pat Mysteries (police procedural), and YA series: Medical Kidnap Files, Tamara's Teardrops, Between the Cracks, and Breaking the Pattern.Workman has been praised for her realistic details, deep characterization, and sensitive handling of the serious social issues that appear in all of her stories, from light cozy mysteries through to darker, grittier young adult and mystery/suspense books.

Autores relacionados

Relacionado a Aqueles Que Acreditam

Ebooks relacionados

Ficção Literária para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Aqueles Que Acreditam

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Aqueles Que Acreditam - P.D. Workman

    CAPÍTULO 1

    Nathansentiu como se eles estivessem sob um microscópio enquanto carregavam as caixas e as malas para dentro de casa. As pessoas estavam olhando. Eles não pretendiam, mas Nathan podia sentir seus olhos nele. As pessoas na rua queriam apenas andar. Os vizinhos olhando através das janelas. Haviam muitos olhares.

    Nós éramos apenas uma família normal, Nathan pensava, como um mantra. Nada diferente por aqui. Éramos apenas uma família normal, como qualquer outra. Mesmo sem a mudança no meio do mês, as pessoas provavelmente teriam notado. Billie, sua Mama, em uma longa e fluida saia branca e preta, seu lindo cabelo preto derramando nas costas de sua blusa branca de mangas compridas. E o próprio Nathan, com seu cabelo quase preto, um palito de dente fino lutando para carregar malas e caixas tão pesadas quanto ele.

    Eles fizeram algumas viagens do carro para casa, quando Nathan chegou para pegar outro carregamento e viu uma garota atrás da cerca, do lado de fora, olhando com um interesse indisfarçável.

    Oi!, disse ela.

    Oi, Nathan disse de volta, num tom de quem sabia não ser muito amigável. Ele foi ao carro pegar outro carregamento.

    A garota estava há alguns passos atrás dele, seguindo-o para poder continuar a conversar. Ela era uma loira porca, mascando chiclete de boca aberta. Provavelmente tinha dez anos de idade.

    Qual seu nome?, ela perguntou.

    Nathan.

    Sou Delia.

    Nathan saudou e levantou a caixa nomeada cozinha. Virou-se e voltou para casa. Ela o seguiu até a cerca e parou. Pelo menos ela tinha um limite. Ela ainda estava lá quando ele colocou a caixa na cozinha e voltou para o carro, cruzando com Mama na porta da casa. Ela deu um sorriso malicioso e Nathan supôs que falava de Delia. Mais tarde, ela estava provocando-no por já ter uma nova namorada. Como se Nathan nunca tivesse uma namorada antes.

    Quantos anos você tem? Delia continuou, quando Nathan se aproximou dela.

    Onze.

    Onze? Você não parece ter onze, contestou.

    Bom, eu tenho.

    Você é muito pequeno para ter onze, pontuou Delia.

    Nathan cerrou o maxilar e puxou uma mala que estava entalada entre o banco da frente e o de trás. Ele jogo todo o seu peso para cima, enfatizando o fato de Delia ter dito que ele era muito pequeno. Então ele tentou soltar.

    Você precisa de ajuda? Delia perguntou.

    Não.

    Ela subiu no banco da frente do carro e Nathan abriu sua boca para atacá-la por ter metido seu nariz onde não foi chamada. Ela libertou a alavanca debaixo do banco, que lhe permitiu deslizar o banco para frente. A caixa se soltou. Nathan suspirou.

    Obrigado, resmungou e recuou para fora do carro a fim de levar a caixa para dentro de casa.

    Ele parou para descansar depois de colocá-la no chão. Mudança era um trabalho quente e cansativo. Ele estava trabalhando nisso há apenas vinte ou trinta minutos, mas já estava exausto, pronto para deitar e dormir. Nathan parou na porta do quarto de Mama, respirando profundamente, procurando energia para continuar a trabalhar.

    Você está bem, docinho? Mama questionou.

    Sim, Mama. Apenas cansado.

    Não falta muito.

    Eu sei. Ele se endireitou. Eu só preciso pegar algo para beber, aí ficarei bem.

    Nathan foi para a cozinha e abriu a torneira de água fria. Ele esfregou suas mãos na água gelada e jogou um pouco no rosto para refrescar. Depois colocou a boca no fluxo e engoliu água abaixo. Ele estava com tanta sede. Estava com sede até mesmo antes de começar a trabalhar. Agora ele estava quente, cansado e com mais sede ainda.

    Depois de matar a sede, Nathan fechou a torneira d'água e forçou-se a marchar de novo para fora, para enfrentar a garota e o resto do trabalho.

    Você tem mesmo onze? Delia perguntou. Sério, realmente, do fundo do seu coração? Você não está só me provocando?

    Sério, de verdade, argumentou Nathan. Eu não minto.

    Uau. Eu pensei que você estava, tipo, na terceira série.

    Nathan abanou a cabeça em sinal de desgosto. Obrigado.

    Mas você é mais velho do que eu.

    Nathan arrastou uma caixa pesada que continha um terrário e um equipamento para fora do carro. Uhul.

    Ele voltou para casa, hesitando sobre onde colocar o terrário. Ele acabou deixando na sala de estar, mesmo pensando que provavelmente não era lá que Mama colocaria. Só era mais fácil.

    Só um pouco mais, pequenino, Mama o encorajou, enquanto ia para fora de casa para levar outro carregamento.

    Nathan fez um som de quem estava concordando e a seguiu para fora. Ele esperou enquanto ela tirava uma caixa, depois trocaram de lugar para que ele pudesse ir buscar a última caixa grande, e Mama voltava para casa.

    É sua mãe? Delia perguntou.

    Nathan olhou para ela, franzindo a testa. Quem mais poderia ser? Sua irmã? Sua avó? É.

    Ela é muito bonita.

    Nathan sorriu, sentindo seu rosto quente.

    É, concordou. Ela é.

    Ele começou a caminhar rapidamente em direção à casa. Ele mal podia suportar o peso da caixa.

    Por que ela está toda arrumada? Delia queria saber, seguindo-o por alguns passos.

    Nathan não queria ouvi-la.

    Bom, acho que é tudo, disse Mama, limpando a testa suada.

    Nathan deixou a caixa com um baque. É isso, concordou.

    Você é um ótimo ajudante, Nathaniel, aprovou Mama. Eu não posso te chatear.

    Nathan encolheu os ombros. Não tem mais nada para ajudar, pontuou. Não posso deixar você fazer tudo sozinho.

    Ela deu-lhe um abraço apertado. Esse é meu garoto, disse com carinho.

    Nathan abraçou-na de volta, depois contorceu-se para se soltar. Ela o segurou por alguns instantes e deu-lhe um beijo na testa, rindo.

    Eu posso te segurar o dia todo.

    O rosto de Nathan ficou vermelho. Ele encolheu os ombros.

    Você gosta daquela garotinha lá fora? Mama perguntou.

    Eu nem conheço ela. Ela é uma peste.

    Você ainda não conhece, Mama disse de volta. Como sabe que ela é uma peste?

    Eu só sei.

    Você vai precisar fazer amigos. É legal ter alguém da sua idade que mora perto. Mesmo sendo uma garota.

    Ela não tem minha idade. Ela é muito nova.

    Ela não pode ser tão mais nova assim. Você deveria ser legal com ela. Ela pode te apresentar às outras crianças da vizinhança.

    Eu fui rude com ela.

    Ele sentiu uma pontada de culpa no estômago quando falou. Bom, ele não havia dito nada rude. Talvez sua atitude foi um pouco menos carinhosa do que deveria, mas é porque ele estava trabalhando, com calor e cansado. Ele apenas não tinha tempo nem energia para visitá-la agora.

    Vou trancar o carro, ofereceu Nathan.

    Obrigada, querido. Você é um ótimo ajudante.

    Nathan voltou para fora de novo. Inspirou profundamente, dando uma olhada rápida à sua volta para avaliar o novo bairro. Era um dia quente, com um céu azul reluzente. A casa que eles alugaram era pequena e parecia um pouco surrada. Todas as casas da rua eram parecidas em tamanho e espaço. Algumas estavam degradadas e outras bem conservadas. Não haviam muitas crianças por lá. Na verdade, a única criança além dele, agora, era Delia, ainda observando-no com muita curiosidade.

    Nathan foi para o carro e trancou as duas portas e bateu o porta-malas.

    Foi... legal te conhecer, Nathan disse para Delia, tentando consertar sua frieza de antes. Obrigada... por ser tão receptivo.

    Ela sorriu, grata por isso. Ela deu um leve pontapé na cerca com a ponta de um de seus tênis cor-de-rosa.

    Eu tenho muitos amigos, disse ela.

    Uhum.

    Eles só não podem sair agora. Eu posso apresentá-los a você mais tarde.

    Claro, seria muito legal, concordou Nathan. Mas, interiormente, recuou. Ele não queria ser um espetáculo, uma curiosidade. Ele não queria ser apresentado a ninguém de uma vez. Ele só queria passar desapercebido. Agindo como se sempre morasse ali.

    Tem uma limonada ou algo do tipo? Sugeriu Delia.

    Não. Ele olhou para ela. Quando foi que ela pensou que ele teria tempo para pegar ou fazer alguma limonada? Eles mal haviam levado as caixas para casa.

    Ah... você quer?

    Nathan fez que não. Eu não costumo beber limonada ou suco, disse ele sem jeito. Apenas água.

    Chá gelado?, ela sugeriu.

    Nathan fez que não.

    Apenas água, Delia repetiu, balançando a cabeça como se fosse louca. E Coca?

    Nathan assentiu. Só se for 'diet', advertiu Nathan.

    Delia encarou a figura frágil de Nathan. Você não precisa de dieta, observou Delia.

    Ele encolheu os ombros e não explicou. Delia suspirou.

    Vou pegar uma pra você, disse ela, com relutância, como se ele tivesse exigido, ao invés dela ter simplesmente oferecido primeiro. Me espera aqui, tá?

    Nathan assentiu. Ele viu Delia correr para sua casa, algumas casas para baixo. Não levou muito tempo até ela voltar com três latas na mão.

    Eu trouxe uma para sua mãe também, explicou.

    Obrigado, disse Nathan. Isso foi realmente legal.

    Ele pegou as duas latas dela e hesitou. Ele não queria levá-la para dentro de sua casa e apresentá-la. Mas não parecia educado deixá-la para fora e levar a lata para Mama.

    Entre, disse relutante, virando para sua casa.

    Delia foi logo atrás. Nathan viu Mama na sala, vasculhando as caixas. Ela olhou, limpando a testa suada com as costas do braço. Nathan lhe entregou uma das Cocas 'Diets'.

    Isso é pra você. De Delia", explicou, gesticulando para ela.

    Obrigada, Delia, Mama disse, com entusiasmo. Ela pressionou a lata fria em seu rosto. Era tudo o que eu precisava agora. Ela abriu o lacre e deu um longo gole. Sou Billie Ashbury. E acho que você conheceu meu Nathaniel.

    Billie? Delia repetiu, franzindo as sobrancelhas.

    De onde eu venho, Billie também é nome de menina, explicou Mama.

    Ah. Ok. Os olhos de Delia estavam atentos à roupa pouco convencional da Mama. Você está muito bonita."

    Obrigada. Você é muito gentil. Mama sorriu para Delia. Está se preguntando o porquê de eu estar usando um vestido? Num dia de mudança em que pode ficar todo sujo?

    Delia encolheu os ombros e girou na ponta dos pés. É lindo, observou.

    Sou pastora, disse Mama. Sabe o que é isso?

    Delia refletiu por um momento, olhando curiosa para dentro das caixas.

    É como uma pregadora? questionou.

    Mama assentiu. Isso mesmo, concordou. Sou uma pregadora.

    Delia pareceu cética. Eu acho que não existem garotas pregadoras, ela disse, cerrando os lábios.

    Bom, existem muito mais onde eu costumo pregar. E existem ainda menos em nosso país, mas quando Deus te chama, não importa se é menino ou menina, é melhor você ouvi-lo.

    Delia bebericou a Coca. Você ouve ele te chamar?, questionou.

    É só uma expressão, Nathan interrompeu, irritado por ela não ter entendido. Os mal-entendidos levavam à provocação e ao bullying, e Nathan tinha certeza de que enfrentaria muito disso sem que as pessoas pensassem que sua mãe era louca por ter ouvido a voz de Deus chamá-la. Não quer dizer que ela escuta uma voz.

    Mama esfregou as mãos nos ombros de Nathan, tranquilizando-o, para que ele soubesse de que estava tudo bem, que não precisava se chatear com isso.

    Deus chamou em meu coração, ela explicou a Delia. Tive um sentimento caloroso sobre o que ele queria que eu fizesse.

    Ah. Delia assentiu. Ok.

    Nathan procurou uma forma elegante de terminar a conversa e levar Delia para fora. Ele fez um sinal para a porta.

    Eu te acompanho, ele ofereceu. Obrigado novamente pela Coca.

    Delia dirigiu-se lentamente para a porta, olhando para ele com as sobrancelhas franzidas. Eles chegaram até a porta e Delia foi logo para as escadas.

    Você não tem nenhum móvel, observou Delia.

    Nathan revirou os olhos. Vamos pegar alguns, ele disse. Você não pode colocar móveis dentro do carro.

    Um caminhão de mudança virá trazer? Não deveria ter chego hoje?

    Vamos comprar alguns aqui, Nathan explicou. Sua mão estava na porta, tentando arranjar uma oportunidade para fechar e não ter de ficar sempre explicando-lhe tudo. É mais fácil do que encontrar quem transporte.

    Ah. Você vai pegar móveis novos agora? Onde vai dormir esta noite?

    As perguntas não iriam terminar. Nathan fechou a porta. Tchau, obrigado pela Coca, repetiu enquanto a fechava na cara de Delia.

    Nathan trancou-na. Na ponta dos pés, conseguia ver através do olho mágico e observou que ela ficou ali um minuto, surpreendida, quando finalmente decidiu ir embora. Delia saiu por um caminho que, pelo olho mágico, parecia muito comprido e estreito. Nathan bufou, aliviado por tê-la fora do caminho. Ele voltou para a sala de estar e foi ver o que mais Mama precisava dele.

    Uma parte da mudança que Nathan gostou foi da tradição deles comerem a primeira refeição no chão da sala, iluminada por uma vela. Normalmente pizza. Claro, os cabos não estavam ligados, então não havia TV para assistir. Eles nem tinham uma TV ainda, Nathan pensou com tristeza, mesmo que o cabo estivesse ligado. Então, ao invés disso, contavam histórias uns aos outros; algumas inventadas, outras recordações de viagens e outros lugares, e algumas das escrituras ou sermões preferidos. Depois da pizza ter sido servida, jogaram cartas.

    Nathan estava feliz. Embora não gostasse de ser enraizado e ter de mudar de casa novamente, de começar uma nova escola no meio do ano e de fazer novos amigos, estava feliz por estar com sua Mama, com suas tradições e memórias, sabendo que era amado e cuidado. Seguro.

    Foi um longo dia, e Nathan estava cansado. Não jogaram por muito tempo, até seus olhos começarem a ficar pesados demais. Ele bebeu outro copo de água gelada, mas não conseguia mais deixar seus olhos abertos.

    Mama riu. Já está querendo dormir, pequenino?, questionou.

    Nathan concordou, esfregando os olhos. Mama colocou as cartas de lado e desenrolou os sacos de dormir pelo chão da sala. Nathan arrastou-se para dentro do seu, enquanto ela buscava algumas almofadas. Era tão bom deslizar entre os cobertores quentes e descansar seu corpo.

    Aqui, deite, querido, disse Mama, colocando uma almofada por baixo da bochecha quando Nathan levantou a cabeça pesada uma última vez.

    De olhos fechados, sentiu Mama deslizar dentro de seu saco de dormir ao seu lado. Ouviu um clique de foto e resmungou, abrindo um pouco seus olhos. Mama aproximou seu rosto do dele e tirou outra fotografia dos dois com seu celular.

    Precisamos de foto da nossa casa nova, pontuou.

    Então tire foto da casa, resmungou. Eu não.

    Ela riu e voltou para seu travesseiro. Ela cantarolava enquanto publicava. Então Mama começou a rezar, com a voz subindo e descendo ritmicamente. Nathan tentava se manter acordado, respondendo um conjunto de améns, mas estava tão cansado, que caiu no sono enquanto ela pedia ao Todo-Poderoso.

    A manhã chegou bem rápido, especialmente sabendo que ela viria a escola. Ele havia tentado convencer Mama a deixá-lo ficar em casa mais um dia ou dois para ajudar a arrumar a casa, mas ela não cedeu.

    Também gostaria que ficasse em casa, querido, disse ela com uma voz triste. Mas agora tem que ir para a escola. Você não quer perder mais do deve. Suas notas não têm sido muito boas e eu não sei onde é sua turma nesta escola em comparação com a última. E você vai querer fazer amigos, encorajou.

    Nathan terminou de enrolar o saco de dormir e sentou no chão, enquanto Mama servia pãezinhos de canela macios e pegajosos, ainda quentes da padaria. Nathan cutucou o rolinho, com o estômago num nó apertado e ansioso.

    Não me importo com amigos, ele disse. Eu preferia ficar em casa com você.

    Ela deu-lhe um sorriso brilhante e voltou a olhar para o seu pão, tentando cortá-lo em pedaços com uma faca de plástico e um garfo.

    Tem mais molho, apontou ela, batendo na tampa do pote de adicional de cobertura. Nathan gostaria que ela tivesse comprado algo que não fosse tão doce logo de manhã. Deu uma pequena mordida no pão, girando-o na boca como um degustador de vinho, antes de mastigar e engolir. Não faça isso, Nathaniel. Não é nada educado."

    Eles comeram em silêncio por alguns minutos.

    Eu não posso ficar em casa com você só hoje? Sugeriu Nathan. É só um dia, não faz diferença.

    Está nervoso, pequenino?

    Nathan encolheu os ombros e deu outra mordida.

    Vai ficar tudo bem, Mama prometeu. Quanto mais cedo se habituar à nova escola, melhor. Também não gosto de ter de obrigá-lo a ir, mas é assim que o mundo funciona. Pais e crianças têm de separar as coisas, tipo escola. É bom para você. Vai te ajudar a crescer.

    Nathan bebeu um copo de água. Sentia-se como estivesse de ressaca, sempre pela manhã. Capaz de beber uma jarra inteira de água. Por que não posso estudar em casa?, questionou. Outras pessoas estudam.

    Eu sei... e eu adoraria fazer isso com você... mas... ela lutou para encontrar palavras. Mesmo que outras pessoas estudam, pode ser uma espécie de bandeira vermelha para as autoridades... faz com que suspeitem... precisamos de..., interrompeu.

    Nathan sabia sem que ela terminasse a frase. Eles precisavam ser normais. Não podiam ter autoridades olhando para eles com desconfiança, investigando, pensando que precisavam de uma mão. Ele acenou com a cabeça e cortou o pão em pedaços menores.

    Vai comer isso? Ou só estragar? Mama questionou.

    Ele olhou para cima, afastando-o dele. Não estou com fome. Meu estômago está embrulhado.

    Ele acenou, fazendo um som de simpatia. Não estou surpresa. Mas tudo isso vai funcionar. Você sabe que sempre tudo se resolve, se nós seguirmos a orientação do Espírito.

    Eu sei, Mama. Eu tento acreditar, confessou, mas minha fé não é tão forte como a sua.

    Ela pegou uma de suas mãos. Ainda não, 'baby'. Mas você é novo. Só recebi minha chamada quando já era mais velha. Você tem sempre sido guiado e protegido pelo Espírito, mesmo quando era apenas um bebê de colo.

    Nathan assentiu.

    Quando for tão velho como eu, continuou Mama, terá muito mais fé do que eu tenho agora.

    Nathan engoliu. Seus olhos encheram de lágrimas diante da garantia dela. Ele, com certeza, não se sentia dessa forma. Sentia que sua fé era apenas uma folha de relva, soprada pela brisa. Ele queria ser forte como ela dizia, mas hesitava em cada coisinha. Ele hesitou.

    Mama soltou suas mãos e acabou de comer o pão. Ela começou a apanhar os farelos, e Nathan juntou-se a ela, amassando o que restava de seu pão num guardanapo, atirando-o para o saco de lixo com o resto. Mama esfregou-o nas costas, entre os ombros.

    Certo, 'baby'. Hora de ir para a escola.

    Ele já não discutia nem a convencia mais. Pegou sua mochila, já pronta para a escola, e jogou no ombro. Mama procurou em sua carteira e entregou-lhe algumas notas de dólar.

    Aqui está, pegue o que quiser para o jantar, está bem? Nem me importo se for só porcaria. Apenas pegue algo para comer.

    Eu vou, concordou Nathan, colocando bem no fundo do bolso para não deixar cair.

    Ela abriu caminho até à porta, e Nathan saiu enquanto ela trancava. Mama lançou-lhe um olhar de dúvida quando ele ficou no meio do caminho olhando para a casa. Tem alguma coisa errada?, questionou.

    Não. Estou apenas tentando memorizar, explicou Nathan, repetindo o número da casa para si mesmo várias vezes, procurando quaisquer características da casa que a tornassem diferente das outras casas do quarteirão. Cerca de estacas brancas. Venezianas falsas. A da direita tinha um buraco grande no canto que fazia parecer que alguém tinha dado uma dentada. Como uma dentada numa casa de gengibre, disse Nathan a si próprio. Isso era algo que ele não se esqueceria.

    Te busco depois da escola, disse Mama. Não vai se perder.

    Nathan assentiu. Certo. Mas tenho que saber reconhecer nossa casa.

    Número quarenta e dois, ela pontuou. Você pode se lembrar disso.

    Quarenta e dois, Nathan repetiu. Virou-se lentamente e foi para o carro.

    CAPÍTULO 2

    Quantos anos ele tem?" repetiu a mulher do escritório, olhando para Nathan por cima do balcão.

    Ele tem onze. Sexta série.

    Ele não parece estar na sexta série, disse a mulher, com ar de dúvida. Tem certeza?

    Mama suspirou e abriu sua carteira para encontrar a certidão de nascimento de Nathan. Ela deixou sobre o balcão. Olha, insistiu, pontuando a data no papel. Eu sei a idade do meu filho!

    A mulher olhou por um momento, e colocou na copiadora o cartão, junto de todos os formulários que Mama havia preenchido. Regressou ao balcão, lançando a Nathan outro olhar incrédulo, e dividiu cuidadosamente os papeis copiados, entre ela e a mãe. Ela analisou os papeis e, por cima deles, olhou para Nathan.

    Se Nathan se sentar numa das cadeiras, fez um gesto para os lugares dos visitantes ao longo da parede frontal do escritório. Dentro de alguns minutos, um dos funcionários irá levá-lo para a sala de aula.

    Nathan respirou fundo e deu alguns passos em direção às cadeiras.

    Nathaniel Ashbury, Billie disse num tom alarmante, e Nathan congelou, virando-se para ela. Não me diga que não vai dar um abraço e um beijo de despedida em sua mãe.

    Nathan revirou os olhos e deu uma pequena risada, aproximou-se dela para dar-lhe um abraço rápido e um beijo de despedida. Mas ela agarrou-o e segurou-no com força, meio sufocando com seu aperto.

    Ah, bebê, cantarolou. Fique bem. Vai dar tudo certo, você vai ver.

    Vou ficar bem, Mama, protestou ele, lutando para se soltar do aperto. Olhando para a cara dela, viu lágrimas brotarem em seus olhos e que ela estava lutando para não as deixar transparecer.

    Sou um garoto crescido, disse ele, firmemente. Já comecei em escolas novas antes e sempre me saí bem. Agora, vai pra casa, compre mobília e comece a montá-la para nós. Assim, podemos nos sentar à mesa para jantar e agradecer ao Senhor por todas as nossas bênçãos.

    Amém, concordou ela. Apertou-lhe a mão e saiu com pressa da sala, com a cabeça baixa para que ninguém visse as lágrimas.

    Nathan suspirou profundamente e engoliu as suas próprias lágrimas. Escolheu uma cadeira e sentou. Era um pouco embaraçoso estar ali sentado sozinho, esperando. Podia nunca ter estado naquela escola, mas ele sabia, instintivamente, que era ali onde os desordeiros se sentavam enquanto esperavam para falar com o diretor ou com um dos outros funcionários. Se você estivesse em apuros e fosse mandado para a diretoria, era aqui onde ficava, em exposição, até alguém lidar contigo. Estava perfeitamente consciente de que, qualquer aluno que passasse atrás dele pelo corredor enquanto fosse para a aula, pensaria que ele estava metido em problemas por qualquer coisa, em vez de estar apenas à espera de alguém que o levasse até sua sala.

    Nathaniel Ashbury?

    Nathan deu um pulo ao ouvir seu nome. Olhou para cima e viu um homem parado, olhando para ele e para a folha de papel que tinha em suas mãos. Nathan levantou-se rapidamente.

    Nathan, senhor. Me chamo Nathan.

    Nathan, então. Prazer em conhecê-lo. Sou o diretor Falstaff.

    Nathan ofereceu sua mão e eles apertaram-na com firmeza. A mão de Nathan foi engolida pelo aperto do diretor.

    Um rapaz muito bem-educado, elogiou Falstaff. Vamos te levar para a sua sala?

    Sim, senhor. Obrigado.

    Falstaff fez sinal para a porta do escritório, e Nathan saiu logo na frente. Então, o diretor assumiu a liderança.

    Você tem aula de Inglês, primeiro, disse ele. "Já começou Depois, educação física. Acho que hoje vai ficar de fora, já que ainda não tem roupa de ginástica. Mas pelo menos vai ver onde está tudo.

    Nathan assentiu. Educação física não era sua matéria favorita. Muitos garotos viviam por isso, sabia ele. Uma oportunidade para queimar o excesso de energia, para se movimentar ao invés de ter de ouvir um professor dando aulas. Mas Nathan era muito pequeno, muito fraco e se cansava muito rápido. Era natural que ficasse nos últimos lugares da sala e que fosse zoado nas costas do professor, ou até mesmo pelo próprio professor. Inglês era melhor. Ele decidiu focar nisso. Seguiu o diretor por várias voltas e reviravoltas, e logo deu meia volta.

    A Sra. Davis é a sua professora, prosseguiu Falstaff, calmamente. Ela é uma verdadeira joia. Vai gostar dela. Todos os alunos gostam dela.

    Nathan assentiu.

    Agora, não sei em que ponto está seus estudos. Se sua última escola estava à frente ou atrás da nossa, ou em que ordem você fez suas matérias. Se estiver com problemas, quero que me diga. Minha porta está sempre aberta. E você pode conversar com sua professora. Temos uma sala de reforços disponível para aqueles que, por uma razão ou outra, estão atrasados e precisam de um reforço especial. Não quero que se envergonhe caso precise usá-la. O que é que parece pior, usar a sala de reforços para poder acompanhar o nível do ano, ou se recusar a ser visto por lá e não passar de ano?

    Certo, concordou Nathan.

    Sua mãe disse que talvez precisasse de ajuda extra... Ela os fez pensar que Nathan era lento. As coisas poderiam piorar?

    Falstaff conduziu-o até à porta fechada de uma sala de aula. Bateu à porta e abriu-na. A professora que estava à frente da sala fez silêncio e olhou curiosa em direção deles, querendo saber o que estava acontecendo.

    Sra. Davis, tem um novo aluno transferido, anunciou Falstaff, numa voz muito mais alta do que era necessário. Este é Nathaniel--Nathan--Ashbury. Ele vem de... o diretor interrompeu e olhou para Nathan para que contasse os detalhes.

    Olá, Nathan cumprimentou a Sra. Davis e a sala em geral. Onde você quer que eu me sente?

    Bem, vejamos, Sra. Davis era alta, magra e uma ruiva flamejante. Nathan sequer sabia que aquele cabelo tinha uma cor assim, tão brilhante. Teremos de pedir que tragam outra mesa para você, porque já estão todas ocupadas. Mas, por hoje, Bly Munro está doente, então pode pegar o lugar dele. Fez um gesto para uma das do fundo. Bly Munro devia ser um rapaz grande, porque sua carteira era enorme, maior do que qualquer outra na sala. Nathan deslizou para a cadeira e logo se sentou, para poder ver por cima da mesa. A sala encheu-se de risadinhas.

    Já chega, avisou o Diretor Falstaff, acalmando-os. Bom, aproveite, Nathan. Bem-vindo à nossa escola.

    Nathan assentiu. O diretor se retirou, puxando a porta atrás de si com um estrondo. Sra. Davis olhou Nathan por um minuto.

    Você vai precisar de uns livros, ela disse, mais para si própria do que para Nathan. Dirigiu-se a um armário ao fundo da sala e remexeu-o, retirando vários manuais e livros de exercícios. Você tem um lápis ou uma caneta?, questionou ela.

    Nathan acenou com a cabeça e enfiou a mão na mochila, sentindo-se quente e tonto. Quando se inclinou, começaram a aparecer luzes brilhantes em seus olhos, e teve de se segurar e endireitar-se por um momento, esperando que a sensação passasse. Sra. Davis colocou os livros em sua mesa.

    Terá de ficar com eles hoje. Não temos armários e ainda não tenho uma carteira para você poder guardá-los. Hoje estamos neste aqui, pressionou o dedo indicador sobre um livro didático da cor púrpura. Página cinquenta e dois. Continue a fazer o melhor que puder e falarei contigo mais tarde para ver onde está. Certo?

    Nathan abriu o livro e olhou até o final da página. Sra. Davis voltou à frente da sala e retomou a lição de onde havia parado. O livro aparentava ser novo. Não é um exemplar usado e surrado, com as páginas cheias de lombadas, como se encontra em algumas escolas. A última escola de Nathan era um pouco pobre. Num bairro pobre, com financiamento escolar insuficiente. Lá mal haviam livros intactos. Era bom ter uma apostila assim, novinha em folha, sem palavrões escritos nas margens. Significava que também ninguém tinha assinalado todas as respostas dos exercícios, mas Nathan teria de viver com isso.

    Havia sussurros à sua volta, e Nathan olhou ao redor. Alguns alunos estavam de olho nele. Ainda se ouviam algumas risadas. Nathan imaginou que tinha uma aparência bem cômica, seu corpo magro esticado até onde podia alcançar para ver o professor por cima da enorme carteira, com os pés balançando livremente, a cinco centímetros do chão. Sentia-se como uma criança brincando de ser adulto. Ele abaixou a cabeça, tentando ignorar as risadas.

    Educação física foi como Nathan esperava ser. O treinador olhou de forma crítica, analisando-o como se fosse uma coisa quebrada.

    "O que

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1