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Carmesim: Tons de Vermelho, #1
Carmesim: Tons de Vermelho, #1
Carmesim: Tons de Vermelho, #1
E-book294 páginas3 horas

Carmesim: Tons de Vermelho, #1

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Sobre este e-book

Uma propriedade isolada no meio e uma montanha. Um segredo obscuro que ameaça o futuro de toda a raça vampira.

Quando a vampira Emilie aceita virar professora particular na casa do dr. Owen Bennett, a última coisa que espera é cair de paraquedas no meio de um mistério perigoso.

Após passar os últimos cem anos acreditando que ficaria sozinha, a química inegável com o belo e excêntrico Owen - quem ela suspeita que também seja um vampiro - promete um futuro o qual ela nunca considerou possível.

Mas... há algo de errado na casa dos Bennett.

A ex-exposa de Owen aparentemente desapareceu, e ele se recusa a divulgar no que está trabalho ou sobre o que se trata a sua pesquisa.

Determinada a descobrir a verdade, Emilie dá de cara com um grande segredo que repercute por todo o mundo vampírico.

Quando as forças da escuridão intervém, ela é forçada a fazer uma escolha impensável: entre seu amor recém-encontrado ou o que sabe ser o certo a se fazer.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de jul. de 2020
ISBN9781071554593
Carmesim: Tons de Vermelho, #1

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    Carmesim - T.L. Christianson

    1

    Olhando para as direções anotadas à mão, suspirei e dei ré. Segundo o GPS do carro, não havia nem rodovia aqui. Estive perdida há meia hora já, tentando encontrar meu novo lar.

    Saí do carro, direto para a estrada de terra, e peguei meu celular para dar uma conferida.

    Sem sinal, obviamente.

    A floresta da montanha se estendia ao meu redor como uma cerca de proteção. Olhei para os finos relances de céu que escapavam de entre os altos pinheiros e tive uma ideia.

    Abrindo a mala do meu carro Tesla, fiquei procurando pelo amontoado de papéis dentro da maleta. Conferi as bordas e a assinatura do dr. Bennett.

    Eu sabia como encontrá-lo.

    Era verão, e se ele tivesse dirigido até aqui com a janela aberta, eu conseguiria seguir o cheiro.

    Eu estava com uma identidade novinha em folha. Acabei a assumindo quando a moça do andar de baixo, no apartamento em Nova York, morreu. Elizabeth Kepner vivia isolada do mundo. E éramos muito parecidas, ainda por cima. Ela se formou na Universidade Columbia e tinha acabado de terminar o mestrado em educação.

    Pouco após encontrar o corpo, descobri que ela foi contratada como professora particular para uma propriedade aos arredores de Durango, uma cidadezinha no Colorado. Seus alunos eram filhos de um viúvo e moravam em uma propriedade isolada.

    Era o tipo de distração que eu precisava no momento.

    Nada de multidões, poucas pessoas e um espaço aberto.

    O calor do ar da montanha circulou para dentro do carro através das janelas abertas. Sorri e assenti ao encontrar o cheiro desejado. Cheiros tem cor para mim, vi um fio verde enrolado virar à esquerda logo adiante.

    Respirei o ar fresco dos pinheiros e segui a trilha do cheiro e fiquei feliz em finalmente estar no caminho certo. Determinada a ganhar tempo, acelerei o carro.

    Após vários minutos, grandes portões de ferro bloquearam a estreita estrada de terra, forçando-me a diminuir até parar o carro. Olhando para a floresta ao redor, não pude ver o fim das grades em nenhum dos lados.

    Senti os cabelos na minha nuca se eriçarem, e um aviso interno deixou a minha boca seca. Pressionei o interfone e aguardei por uma resposta.

    — Olá? — Uma voz feminina com sotaque disse pelo interfone.

    — Ah, oi, aqui é a Elizabeth Kepner. Sou a nova professora? – Minha voz acabou em um tom de pergunta.

    Ela não respondeu.

    Dê meia volta, saia daí.

    Engoli em seco e mantive a cabeça erguida. Sou uma vampira, o que havia a temer? Tá, tem a prata, mas o que mais?

    Os portões se abriram, passei pela estrada sinuosa de cascalhos entre as árvores e adentrei em um padro. Lá, após o gramado alto, escondido por árvores de álamo, estava uma grande casa ao estilo vitoriano.

    Com minha mala em uma mão, tentei espiar pelas janelas de vidro antigo que cercavam a porta da frente antes de tocar a campainha. A casa era escura, por isso, após ficar parada lá por vários instantes, bati na porta com a mão livre.

    — Oi?

    Foi então que um SUV azul surgiu no prado, com suas rodas fazendo som sobre a estrada de cascalhos. Virei-me, observando o veículo conforme ele circulava a casa e estacionava ao lado. Descendo os degraus da entrada ornamentada, segui o pavimento de pedras em direção às agitadas vozes infantis.

    Dois jovenzinhos loiros vieram pulando em minha direção. As duas criaturinhas não se deram um único segundo para perguntar quem eu era, muito menos ver quem eu era, antes de se jogarem sobre mim, abraçando-me e cheias de coisas a contar.

    — Oi, Elizabeth! Eu me chamo Becca. Meu pai disse que você é de Nova York, e ele trabalha em Nova York. Ele também disse que, antes disso, você veio do Texas. Eu já estive lá, a vovó e o vovô moram lá. Nós fomos para o Álamo. Você já viu o Álamo? — Ela continuou a falar conforme o aroma de seu sangue me seduzia.

    Engoli em seco e prendi a respiração. Eu consigo. Examinei-a e fiquei pensando se o filho que não tive seria que nem essa menina. Seus brilhantes olhos azuis, maçãs do rosto avermelhadas e tranças de linho caindo pelas costas.

    Realmente, ela poderia ser minha filha.

    — Eba! Você chegou! — disse o garotinho, que segurava uma ovelha de pelúcia. Ele conseguiu se enrolar em volta de uma das minhas pernas, erguendo minha calça para expor meu salto de tiras com dez centímetros.

    — Calma lá… vamos recuar um pouco. — Afastei ele de mim. — Que tal nos apresentarmos direito? — sugeri, incapaz de tirar o sorriso do rosto. Além disso, eu precisava criar uma resistência a essas vontades que existiam dentro de mim.

    Senti a sede, a sede pelo sangue deles.

    — Tudo bem, jovenzinho. — Inclinei-me e estendi a mão para ele. — Sou Elizabeth Kepner. E você?

    — Eu sou Jack Bannett. — Ele apertou meus dedos, depois beijou o topo da minha mão, ergui uma sobrancelha. — É um prazer conhecê-la. Senhora Kepner. — Para uma criança de cinco anos, Jack falava como um adulto.

    — O certo é senhorita Kepner, e é um prazer conhecer vocês dois também. — Virei-me para Rebecca. — Prazer em conhecê-la, Becca. Você tem sete anos, certo?

    Senti um calafrio percorrer meu corpo antes da suave voz de barítono ecoar atrás de mim:

    — Não é todo mundo que quer ser abraçado por vocês, criançada.

    Virando-me, vi um homem que não se encaixava na minha definição de um cientista velho e chato. Ele não devia ter nem trinta anos. Dono de olhos âmbar pálidos e um cabelo castanho escuro despenteado, ele vestia uma camisa de botões azul bebê, jeans e chinelos, o que parecia ser o calçado padrão nesta cidade montanhosa.

    Senti-me atraída por ele imediatamente, e minha voz ficou presa na garganta. Fitei meu novo patrão, ele era lindo, de um modo antiquado.

    Os cantos de sua boca formaram um sorriso descarado, e ele estendeu a mão para mim.

    — Oi, sou Owen.

    — Me chamo Liz — suspirei. Conforme nossas mãos se tocaram, senti um pequeno choque elétrico percorrer meu corpo.

    Desejei por uma distração, mas Owen Bennett poderia ser mais do que eu daria conta.

    Anos atrás, eu jurei que jamais me envolveria em outro relacionamento.

    Da última vez que me apaixonei, pensei que aquilo iria me matar.

    Suspirei enquanto folheava o amontado de papéis na escrivaninha do meu quarto. Era tarde, e eu apreciava a casa silenciosa combinada aos sons da floresta vindo da minha janela.

    Ao que parece, eu não trabalhava diretamente para o doutor Bennett, mas sim para uma tal de Corporação Chronos. Pressionei os lábios e li a página seguinte. Era um acordo de não divulgação. Balancei a cabeça. O que raios acontecia nesta casa para precisar disso? Fiz uma rubrica e assinei no final da página.

    Abaixando o braço, abri minha bolsinha térmica e olhei para a parca quantidade de sangue que trouxe comigo. Após colocar bem pouco em um copo, levei-o aos meus lábios.

    Engoli o resto do copo após perceber que minhas reservas estavam começando a estragar.

    Logo eu precisaria conseguir mais sangue.

    Eu odiava sentir a sede.

    Quando ela me dominava, eu ficava incapaz de me concentrar. Sentia um tremor pelo corpo todo e meus olhos azuis ficavam escuros. Não era nada bom.

    Eu adorava as crianças, eram uns amores. Travessos, mas ainda adoráveis.

    Dar aulas, mas que loucura! Que bom que eu não precisava dormir muito, pois fiquei na internet a noite toda tentando descobrir o que usar e comprar para ensinar essas crianças.

    Quando fiquei sabendo que precisaria dar aula, achei que seria tranquilo. Ler, escrever e matemática básica, né? Mas o Jackzinho não consegue nem ler! Sou a primeira professora de verdade dessas criaturinhas.

    O pai deles disse que, agora que Becca tinha sete anos, em teoria, ela se enquadrava como ensino doméstico, e ele queria alguém com experiência! Pois é, irônico, eu sei. No entanto, compreendi que, dada a minha experiência de vida incomum, posso dar conta do recado.

    Eu queria saber por que o dr. Bennett apenas não manda eles para uma escola normal. E também, cadê a mãe desses dois? Não tem fotos, álbuns ou qualquer coisa dela. É como se ela nunca tivesse existo. Eles precisam ter vindo de alguém. Até poderia pensar que esses serzinhos foram adotados, não fosse pelo fato de serem verões loiras do pai deles.

    Após pedir alguns livros didáticos infantis para meus aluninhos no eBay, senti vontade de comer algo doce. Lembrei de ter visto alguns M&Ms em uma jarra na cozinha. Chocolate cai muito bem com sangue, dá pra acreditar? Difícil, eu sei.

    Eu não liguei as luzes da cozinha, pois consigo enxergar no escuro. Owen estava parado lá, segurando a porta da geladeira de aço. A luz refletia em seu rosto, peito exposto e cabelo escuro brilhoso.

    Ele não tinha um rosto exatamente bonito, mas angular, e juro que era um dos homens mais graciosos que já vi. Ele parecia ser jovem demais para estar trabalhando com coisas tão importantes e misteriosas.

    Fiquei observando-o das sombras. Eu me senti muito culpada, mas não tinha jeito. Ele ficou vasculhando pela geladeira, encontrou um pouco de leite e algo em uma prato de vidro que a cozinheira, Elaine, havia preparado. Era Elaine quem comprava toda comida necessária e preparava todas as refeições.

    Eu ainda não descobri o que Owen fazia na Corporação Chronos. Ele era um da área médica ou um especialista? O homem era como um muralha impenetrável. No entanto, eu também não era de sair falando da minha vida para os outros.

    Ele estava de costas para mim enquanto esquentava o prato no micro-ondas. Andei para trás até chegar no corredor, fiz um barulho lá e liguei a luz da cozinha. Então fingi estar surpresa.

    Tenho plena noção de que é errado envergonhá-lo dentro da própria casa, mesmo assim, foi mais forte do que eu. Queria que ele olhasse para mim. Queria ouvir sua voz poderosa e suave. Lembrava-me do vocalista da Metallica.

    — Sinto muito — disse. — Não achei que mais alguém estivesse acordado. — O que, em minha defesa, é a mais completa verdade até vê-lo na cozinha.

    Ele olhou para mim, seus olhos piscaram devido à claridade.

    Depois, ele se virou e foi embora sem dizer nada. Até deixou tudo no balcão na frente do micro-ondas.

    Suspirando, rapidamente subi no balcão, ao lado da comida descartada. Estendi o braço até a prateleira onde a jarra de cristal guardava os M&Ms e peguei um bom tanto. Após guardá-los no bolso, virei-me e dei de cara com Owen parado ao lado do balcão novamente, mas usando uma camisa dessa vez.

    Meu rosto ficou vermelho. Eu não costumo pagar um mico desses, tenho sentidos apurados, mas não ouvi ele se aproximando. Me dou uma colher de chá quanto a isso, pois estava pensando na cara que ele fez e tentando subir no balcão. Sou baixinha… Bom, para os tempos atuais! Mal chego aos 1,60 metros, isso de salto.

    De todo jeito, eu não conseguiria alcançar a droga do jarro sem subir no balcão. Então, lá estava eu, na frente do meu patrão, sentada sobre o balcão da cozinha dele.

    A risada que ele deu ecoou pela cozinha toda, eu assenti, dando todo espaço para que risse da minha cara, eu merecia isso.

    — E eu aqui achando que tinha colocado aí em cima para que ficassem longe das crianças. — Ele tinha um sorriso maldoso no rosto, senti um calafrio percorrer o meu corpo. Ele deu um passo na minha direção em vez de ir embora.

    Eu esperava que ele fosse se virar, pois descer de um balcão não é algo muito gracioso. No entanto, eu era forte e ágil, e consegui fazer isso melhor do que esperava.

    Meu patrão de cabelos escuros deu outro passo em minha direção.

    Trocamos olhares, e ele se inclinou para trás de mim. Não tive certeza do que ele iria fazer. Ele iria dar em cima de mim? Que babaca! Tirar vantagem de uma jovem indefesa. Meu coração acelerou, antecipando-se.

    Então ele colocou a tampa de cristal de volta à jarra de M&Ms e se afastou. Seu braço se esfregou no meu, e fiquei chateada por ele ter me ignorado dessa forma.

    Que bicho me mordeu? Fiquei toda excitada com o meu patrão excêntrico! Ele tinha dois filhos, e eu morava na casa dele.

    Mas meu corpo não estava nem aí.

    Lambi os lábios e arqueei o peito um pouco. Isso mesmo, perdi a cabeça.

    Owen tinha um cheiro próprio dele misturado ao cheiro da floresta. Tentei me convencer a parar, mas havia algo entre nós que me prendia ali. Era mais do que só minha ânsia por seu sangue; existia uma química entre nós dois.

    Eu podia ver um começo de barba em suas maçãs do rosto, e quis passar meus dedos lá. Seus lábios estavam levemente abertos, deixando os dentes tortos, mas de um jeito meigo, à mostra. O canto de sua boca se ergueu, e logo abaixo estava seu pescoço, palpitando rapidamente.

    Devo ter prendido a respiração, porque soltei todo o ar quando o micro-ondas apitou, destruindo o momento. Meu patrão voltou sua atenção para a comida.

    Ainda com as costas dele viradas para mim, dei um boa-noite que saiu mais sem mar do que eu gostaria.

    Argh! O que eu ia fazer agora? Queria que ele me beijasse. Queria tocar a pele dele.

    Eu me mantive dentro de uma caixinha, vivendo a vida de forma não sexual, por tempo demais. Sem ser tocada, sem tocar ninguém…

    Desde o Alexander. Ainda sinto uma dor no peito por ele. Quando voltei da guerra, e nos casamos, eu ainda tentava entender o que aconteceu comigo dentro daquela ambulância na noite em que fui atacada.

    2

    Meio De Agosto

    Meu quarto fica no terceiro andar, ao lado da sala de aula. Esse andar é um sótão chique super modificado. Tem várias lucarnas, e o teto se estendia por quase dois metro acima do chão.

    O espaço incomum dá um aspecto caseiro e agradável, embora precisasse de umas reformas aqui e acolá.

    Pressionando a mão contra a janela, senti o quão gelado estava do lado de fora e decidi sair do meu quarto sufocante. Além disso, fiquei curiosa e decidi que ia dar uma olhada na casa.

    De camisa e shorts de algodão, com meu cabelo com mais cachos que o saudável preso em um coque, eu saí do quarto andando na ponta dos pés.

    Indo para o segundo andar, dei uma espiada na Becca. Tocando em seu cabelo loiro, coloquei a boneca caída de volta em sua cama.

    Depois, fui ver o quarto do Jack, mas estava vazio.

    Meu coração bateu acelerado enquanto eu olhava ao redor, debaixo da cama e até no guarda-roupa. Eu sabia que ele não estaria lá, mas senti que deveria checar, por via das dúvidas. O que eu não daria para que esses dois pimpolhos fossem meus filhos de verdade.

    Meus pés pararam com um som oco quando encontrei o quarto de casal. A grande cama de dossel também estava vazia, só havia um edredom amarrotado.

    Onde estavam Owen e Jack? Estava quente até no segundo andar.

    Havia um alpendre velho aos fundos da casa e eu sabia que seria fresco e agradável a essa hora da noite. Por isso, fui para lá, usando a escadaria dos empregados para chegar a cozinha.

    O alpendre emitia uma luz fraca.

    Ao abrir a porta dos fundos, uma onda de ar fresco veio de encontro a mim, estremeci, apreciando. No entanto, minha alegria foi passageira, pois lá estava Owen, com Jack deitado em seu colo. Meu patrão estava lendo um livro e parou, olhando para mim.

    Ele assentiu, e retribuí o gesto.

    Fechando a porta, fui até uma das cadeiras de vime. A almofada era velha, porém limpa. Sentei e quis colocar meus pés sobre a mesa de centro, mas me pareceu ser algo impróprio de se fazer na frente do patrão.

    Cruzei os braços sobre o peito e reclinei-me na cadeira.

    Havia um ventilador ligado no canto do alpendre, o barulho dele preenchia o silêncio.

    Ficamos calados por muito tempo, e pensei que poderia cair no sono.

    — Você é uma coruja ou só tem insônia? — Então, Owen falou.

    Minha cabeça saltou da cadeira de supetão, olhei para ele e o garotinho magricela que trajava somente uma cueca de super-herói.

    — Não sei. Acho que sou as duas coisas. Não preciso dormir muito, mas também não é como se pudesse dormir sempre que quisesse.

    — Ah, entendo bem como é.

    — E aí, qual dos dois melhor te define? Coruja ou insônia? — perguntei.

    — Eu gosto das manhãs. Acho que, se pudesse dormir, seria um madrugador.

    — Sério? — Nossos olhos se encontraram. — Por quê?

    — Eu gosto quando os pássaros me acordam no verão, e tem aquele pequeno instante quando o sol está se erguendo, e o mundo fica quieto. É como se tudo tivesse parado, e eu estou lá, no silêncio. — O canto de sua boca se ergueu enquanto ele falava, sua voz era suave como mel, com um toque de sotaque do Texas.

    Eu conhecia bem a sensação da qual ele falava, sorri enquanto pensava nisso.

    — É bom mesmo. Quando o quarto está um pouco gelado por causa da noite e o céu ainda está um pouco escuro… eu também curto.

    Olhamos nos olhos um do outro por um bom tempo. Que segredos você está escondendo aí nessa sua caixola?

    O barulho do ventilador me deu sono, e reclinei-me de volta à almofada.

    — O que você achou da Tech? — A voz de Owen quebrou o silêncio.

    — Do quê?

    — Texas Tech. Como foi? O que você achou?

    Quase fiz uma careta, lembrei que a Elizabeth estudou lá antes de ir para a Columbia. Meu cérebro vasculhou tudo que eu sabia da escola, praticamente nada. Não hesitei, no entanto:

    — Era uma boa escola. As pessoas lá são legais.

    — O seu currículo da agência constava que você nasceu no Texas, mas não tem sotaque.

    — Ah, nem todo mundo de lá tem sotaque. É só um estereótipo.

    Agora, pense bem, eu nasci em um pequeno vilarejo aos arredores de Londres. Vivi toda a minha vida humana na Inglaterra. Estive nos Estados Unidos por quase um século e me adaptei um tanto. Às vezes, se baixo a guarda, eu mostro um pouco de sotaque, só que não o texano.

    — E eu achei que você sabia falar espanhol.

    — Faz um tempo desde que usei meu espanhol. — Ri, um pouco inquieta. — Tenho certeza de que logo pego o jeito após ficar aqui um tempo. — Mordi meu lábio e permiti que um sorriso contido aparecesse. Eu precisava aprender mais sobre a Elizabeth.

    Lembrete para mim mesma: aprenda espanhol!

    — E quanto a você? Onde estudou? — Respirei e soltei o ar pelo nariz.

    — Lá pro leste.

    — É mesmo? — Sua resposta vaga me fez pressionar os lábios. — Você é doutor. Doutor, de médico, ou por ter doutorado?

    — Os dois. — Ele soltou um sorriso torto.

    Semicerrei os olhos, e então

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