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Sermão da Montanha
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E-book220 páginas3 horas

Sermão da Montanha

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Sobre este e-book

"O Sermão da Montanha é a nova forma de viver de quem é discípulo de Cristo". É assim que o Padre Ricardo Neves define o texto bíblico que deu origem a esta publicação. Nela estão reunidas as catequeses que apresentou entre 2012 e 2014 ao chamado «Grupo de Peregrinos» da Paróquia de Santo António do Estoril, à qual se dedicou incondicionalmente nos últimos quatro anos da sua vida. As 25 catequeses sobre o Sermão da Montanha gravadas então pelo grupo foram posteriormente passadas à forma escrita pelas Irmãs Concepcionistas do Mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior, com as quais o autor tinha uma profunda vinculação, e finalmente editadas e preparadas para assumirem a forma deste livro.
IdiomaPortuguês
EditoraLucerna
Data de lançamento23 de jun. de 2016
ISBN9789899207165
Sermão da Montanha
Autor

Padre Ricardo Neves

O Padre Ricardo Neves entrou para o seminário com 15 anos e foi ordenado em 1997. Passou vários anos a trabalhar no seminário de Caparide, em Lisboa, na formação de candidatos ao sacerdócio. A nomeação para o Estoril foi a sua primeira missão como pároco. Faleceu a 6 de agosto de 2015 vítima de doença prolongada.

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    Pré-visualização do livro

    Sermão da Montanha - Padre Ricardo Neves

    Padre Ricardo Neves

    Sermão da Montanha

    Caminho de um peregrino

    As citações bíblicas constantes da presente edição

    foram extraídas do site capuchinhos.org/biblia

    Título

    Sermão da Montanha – Caminho de um peregrino

    Autor

    Padre Ricardo Neves

    Edição e copyright

    Lucerna, Cascais  •  Junho de 2016  •  © Princípia Editora, Lda.

    Conceção da capa

    Rita Maia e Moura e Inês Sanches

    Ilustrador

    António Sousa Lara

    Lucerna

    Rua Vasco da Gama, 60-B – 2775-297 Parede – Portugal

    +351 214 678 710  •  lucerna@lucernaonline.pt  •  www.lucernaonline.pt

    facebook.com/Lucernaonline  •  instagram.com/lucerna_online

    Prefácio

    Uma vida em forma de Cruz

    É frequente a referência aos dois braços da Cruz, vertical e horizontal como são. Frequência reveladora da verdade que transporta, podemos acrescentar. Todavia, do dizer ao saber o caminho pode ser longo. Algumas vezes não dura muitos anos, mas percorre sempre uma grande distância interior. Talvez a maior de todas, que vai da cabeça ao coração, como também há quem diga.

    E como há quem viva. O Padre Ricardo Neves percorreu essa distância nos anos que passou na Terra, que não foram muitos mas foram extraordinariamente preenchidos. Conheci-o adolescente e jovem, quando se formou nos seminários do Patriarcado. Já dava sinais, muitos sinais, dessa distância interiormente percorrida. Depois, como padre, formador de seminaristas e pároco, muitas pessoas beneficiaram com isso. Hoje, quando permanece connosco doutro modo, oiço repetidos ecos do bem que lhes fez, a partir do muito que aprendeu com Cristo.

    Agradeço a feliz iniciativa de recolher, transcrever e editar algumas das catequeses do Padre Ricardo neste livro que tanto bem fará aos seus leitores. Não terá o rosto que assim se exprimia, senão na recordação, na imaginação, ou na fotografia. Mas o que diz e o modo como o dizia irrompem em cada linha do discurso transcrito.

    Tudo é direto, como só acontece com quem já sabe e não precisa de andar à volta do assunto. Tudo é expressivo, com alusões fortes e certeiras. Fala de Cristo e das Bem-Aventuranças, lembra-nos o Sermão da Montanha como quem realmente O ouviu e já subiu ao monte.

    Não acontece assim com muitos. Mas acontece em alguns por todos e para todos. Aconteceu com o Padre Ricardo, por ele e para nós. Nos dois braços da Cruz, vertical e horizontal como são.

    Porque ele era também horizontal. No que isto significa de pés assentes na terra chã de nós todos, gente deste mundo de penas e sonhos. Tinha sentimentos fortes, reagia com espontaneidade e humor, ralhava ou gargalhava conforme os casos, amava a beleza, tinha e mantinha amizades. Sofria, se era de sofrer; brincava, se era de brincar.

    Mas o traço horizontal da sua vida cruzava-se ao meio com o vertical que vai da Terra ao Céu, como o descobrira em Cristo. Por isso, a conversa podia passar rapidamente do agradável ao profundo, do jocoso ao sério, do episódico ao mais duradouro. Porque nele os dois braços não se sobrepunham, cruzavam-se realmente, fazendo de cada momento uma ocasião de outra coisa, do aquém ao além e vice-versa.

    Neste livro, encontramos muitos exemplos do que vai dito. Frases como «no meio do sofrimento, serão consolados aqueles que se abrirem a Deus e ao caminho que Ele traça no meio desse mesmo sofrimento» (p. 30); «Deus sofre onde sofrem as pessoas» (p. 63); «Deus prega no mundo uma estaca de amor» (p. 106) estão impregnadas da sabedoria da Cruz.

    Sabedoria que não reduz existencialmente nada, em nós e nos outros, mas encontra Deus no âmago das coisas, fazendo de tudo uma oportunidade de mais. Como também o sabia e continuamos a ouvir: «porque sempre acreditámos – porque acreditamos no mistério de Cristo – que há mais para o Homem» (p. 51); ou «Deus só me pede que corte porque me está a dar mais» (p. 79)…

    Houve no Padre Ricardo, e bem cedo houve, a descoberta da vida em Cristo como capacitação absoluta para a Terra e para o Céu. Outro modo de indicar um «Reino», que, sendo de Deus, corresponderá às mais profundas aspirações de todos. O que obriga a levantar os olhos para um horizonte menos raso e a acolher uma vontade muito maior do que a nossa. Vontade que nos leva mais longe, porque não desiste de nos oferecer tudo. Neste sentido vão outras frases a ler: «A paz que Jesus encontrou na sua Morte e na sua Paixão resulta da sua sintonia com a vontade do Pai» (p. 41); «a vontade de Deus é o melhor sabor para as coisas» (p. 50); «a vontade de Deus é sempre boa» (p. 189).

    Muito cedo o Padre Ricardo encontrou em Cristo uma possibilidade total, que agora plenamente vive. Encontrou terra firme, «porque esta nova terra não é um sítio, é uma forma de vida» (p. 32). Tudo num encontro em que a vida lhe coube inteira, fosse aonde fosse, seminário, paróquia ou hospital: «o Reino é a construção da vida humana a partir da relação com Jesus» (p. 168).

    E assim continua a ser, na glória da Cruz. Obrigado, Padre Ricardo, e mil graças a Deus, que nos ofereceu o teu testemunho.

    + Manuel Clemente

    Introdução

    «O Sermão da Montanha é a nova forma de viver de quem é discípulo de Cristo.»

    É assim que o Padre Ricardo Neves define o texto bíblico que deu origem a esta publicação. Nela estão reunidas as catequeses que apresentou entre 2012 e 2014 ao chamado «Grupo de Peregrinos» da Paróquia de Santo António do Estoril. As 25 catequeses sobre o Sermão da Montanha gravadas então pelo grupo foram posteriormente passadas à forma escrita pelas Irmãs Concepcionistas do Mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior, com as quais o autor tinha uma profunda vinculação, e finalmente editadas e preparadas para assumirem a forma deste livro. Assim se procura que elas cheguem a um muito maior número de pessoas, quer as que tenham tido o privilégio de conviver de perto com o Padre Ricardo e já conheçam a sua tão cativante forma de comunicar a Palavra de Deus, quer as que procurem a nova «arquitetura de vida» que estas páginas desvendam de forma tão apelativa e singular..

    Diz-nos o Padre Ricardo que «a meditação da Palavra de Deus traz-nos a fecundidade, a vitalidade contagiosa do Espírito Santo. Jesus no Evangelho compara a Palavra de Deus a uma semente, como conta a Parábola do Semeador. E a semente não é a árvore toda, mas traz consigo a potencialidade dessa árvore, porque traz consigo a vida e uma vida que depois, em contacto, se desenvolve, desabrocha, contagia. Ora, a Palavra de Deus traz-nos a fecundidade própria do Espírito Santo e por isso tem a capacidade de realizar em nós aquela mesma sabedoria que Deus tem, uma sabedoria capaz de ver claro, de discernir, de permanecer em Deus e permanecer na sua vontade, de construir o que é próprio do seu Reino.

    […] quando meditamos o Sermão da Montanha, estamos no coração da sabedoria evangélica, no coração do ensinamento de Jesus. E, se é verdade que, numa ou noutra palavra, o Sermão da Montanha é muito concreto, ele quer ser mais do que concreto, quer ser fundante, quer dar aqueles elementos de raiz que permitem arquitetar uma forma de ser e de estar novas. […] a meditação (e, como se diz na espiritualidade tradicional quando se fala do método da meditação da Palavra de Deus e de leitura da Palavra de Deus, a meditação e a ruminação) é uma espécie de mastigar da Palavra, é uma insistência, como se fosse feita aos poucos, partindo em pedacinhos e espremendo até poder engolir para depois assimilar. A meditação da Palavra de Deus é uma pedagogia de assimilação, não é uma pedagogia de conhecimento teórico, académico, é uma pedagogia de assimilação, e assimilação do que está dentro da Palavra de Deus, que é a vontade de Deus. À medida que mastigamos a Palavra, assimilamos, tomamos como nossa, tomamos para nós a vontade de Deus; ensopa-nos de modo a que, entrando dentro dos nossos tecidos humanos, depois se desenvolva em decisões, em atitudes, em formas de ser. Esta meditação, ruminação, insistência tem este poder assimilativo, é uma pedagogia de assimilação. Às vezes distraímo-nos e pensamos que é uma pedagogia de aquisição de conhecimentos teóricos, elaborados ou académicos, ou sistemáticos. Claro que, em certos momentos, é preciso também organizar ideias, mas para quem reza não é isso ainda. Quem reza é para que se impregne dentro, para que fique dentro».

    Infelizmente, as catequeses reunidas neste volume não estão completas, na medida em que não chegam a seguir todo o texto bíblico. Fica em falta o aprofundamento dos versículos 12-23 do capítulo 7 do Evangelho de São Mateus, que a falta de saúde do autor não lhe permitiu concluir. No entanto, até para essa situação ele nos deixou um esclarecimento importante:

    «Nós, graças a Deus, andamos a rezar as palavras de Jesus. Não andamos a rezar as meditações do Padre Ricardo ou qualquer linha espiritual. E porque é que eu digo isto? É que isto, para mim e para vocês, é mesmo importante: a Palavra de Jesus é que tem santidade. Santidade. Tem luz, tem força, força criadora; e, quando ela ressoa realmente em nós, projeta-nos para onde Jesus nos quer. Leiam os meus tópicos, que às vezes ajudam e outras vezes desajudam, mas os tópicos existem por causa de cada uma destas sentenças de Jesus, destas palavras de Jesus no Sermão da Montanha. E estas, nós precisamos de gravá-las. É bonito o facto de os judeus ortodoxos andarem com a Torá na cabeça: punham um rolinho pequenino dentro de uma bolsinha e andavam com ela na cabeça, para ver se entrava... Mas entrava aquela palavra, a Torá, e não as outras coisas que depois iam ouvir aos mestres... A Torá é que era preciso que entrasse, que a Lei ficasse gravada no coração».

    1.

    As Bem-Aventuranças: a Boa Nova do Reino

    As Bem-Aventuranças são, no conjunto do Sermão da Montanha, uma espécie de pórtico de entrada. Um pórtico que abre a porta, abre a riqueza do Sermão da Montanha e ao mesmo tempo lhe sugere a sua orientação. E o que me parece importante nesta meditação das Bem-Aventuranças? Penso que interessa mais interiorizá-las do que debatê-las, pôr em perspetiva o que elas valem ou não valem, o que significam ou não significam… Mais do que isso, interessa que, à medida que se vai repetindo, que se vai insistindo na bem-aventurança, cada um possa pô-la no coração. É esse o objetivo: que estas Bem-Aventuranças fiquem uma a uma dentro do nosso coração de tal maneira que enformem os nossos sentimentos e os nossos movimentos interiores. Para além do exercício racional de perceber o que elas significam, de extrair as suas implicações, era bom repeti-las, de modo a que ficassem dentro, como uma espécie de elã que desenvolva toda a nossa interioridade. Fez-me lembrar logo que, quando andávamos na escola, quando eramos miúdos, repetíamos para saber de cor. Sabem o que quer dizer «saber de cor»? «Saber de cor» é uma expressão latina que significa «saber de coração». É isso que se pretende. Era bom que a repetição que vamos fazer, a insistência que vamos fazer na bem-aventurança, no-la pusesse não na memória intelectual, mas na memória afetiva, quer dizer, na sede do coração.

    Não obriguem as Bem-Aventuranças a justificar-se. Elas não têm de se justificar, elas não têm de certificar, mostrar um certificado de qualidade; elas são uma proposta de caminho. Não gastem energias a tentar que elas se justifiquem para terem lógica dentro da vossa cabeça, porque não terão lógica dentro da vossa cabeça. Elas são uma realidade teologal, de Deus, e, portanto, aquilo que é importante é cada um deixar que elas se imponham ao coração – deixem-me dizê-lo assim, desta maneira mais violenta… porque é disso mesmo que nós precisamos. Gastar energias a debatê-las, compreendê-las, para que, depois de muito claras, então «me entrem pela cabeça adentro e me façam não sei o quê…» é só conversa, porque serei eu a tentar modelá-las à minha maneira. Aquilo que é necessário é que elas se imponham como são, e eu me adeque, quer dizer, me configure a elas.

    As Bem-Aventuranças, quer na composição de Jesus, quer na maneira como São Lucas e São Mateus as trabalharam, foram escritas em cima de um texto muito especial – Isaías 61 –, que é um texto messiânico sobre a missão do profeta; mas o que ele anuncia é uma das ações do Messias e a instauração do Dia do Senhor. O texto é muito bonito e nós já o conhecemos: «O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu. Enviou-me para levar a boa nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação dos exilados e a liberdade aos prisioneiros, para proclamar um ano da graça do Senhor, o dia da vingança da parte de Deus, para consolar os tristes, para coroar os aflitos de Sião, para mudar a sua cinza em coroa, o seu semblante triste em perfume de festa e o seu abatimento em cânticos de alegria. Então serão chamados terebintos de justiça, plantação do Senhor para sua glória» (Is 61, 1-3)NE*.

    Este texto do profeta Isaías fala, tal como muitos outros, do tempo messiânico, do tempo em que o Messias virá e voltará a instaurar o Reino prometido de Deus, que é uma reposição da terra prometida. É curioso que, na história do povo de Israel, há sempre estes segmentos. Já com Abraão: Deus prometeu a Abraão uma terra boa e deu-lha. Depois, quando estavam no Egito, prometeu-lhe uma terra boa (outra vez!), uma terra onde cresce a abundância; e eles saíram do Egito e chegaram à terra prometida.

    Portanto, todas as referências de futuro, quanto ao tempo messiânico, são referências a que se instaurará um tempo num sítio que será cheio de abundância, de alegria, de festa, de paz. Um tempo em que tudo aquilo que já foi vivido nestas «terras prometidas» ao longo da história de Israel se completará. É isso que o profeta Isaías está a anunciar: Deus promete e compromete-Se com a felicidade do seu povo. E as Bem-Aventuranças tratam disto. Elas não são um conjunto de sentenças moralistas, mas o anúncio de uma novidade maravilhosa: o Reino de Deus. Esse tal tempo da felicidade está a aproximar-se, está próximo, está no meio de nós e, portanto, já está a acontecer. As Bem-Aventuranças querem anunciar isso. É o tempo do Reino de que Jesus já tinha começado a falar nos capítulos anteriores, no início da sua pregação; o que Ele está a dizer é que o Reino de Deus está próximo. O Reino de Deus é um acontecimento que já está a desenvolver-se e, por isso, aqueles que o acolhem, aqueles que o vivem desenvolvem atitudes e formatos novos de vida.

    Na simbologia bíblica, esta vinda do Reino trata sempre de um rei. A vinda do rei nas profecias messiânicas não é o anúncio de uma terra nova, porque eles já sabiam onde era a terra, aquela que estava consolidada desde sempre, onde tinham entrado e de onde tinham saído várias vezes. A grande questão era o anúncio do rei. Tanto que, quando Jesus diz no Evangelho que «o Reino está próximo, o Reino já está no meio de vós», está a referir-Se a Si. O Reino no meio de vós é o Rei no meio de vós! E o Rei no meio de vós o que é? Porque é que produz o Rei? Porque o Rei estabelece relações e catalisa relações e formas de vida que desenvolvem um Reino, um novo Reino. Na simbologia bíblica é isto que está aqui em jogo: a vinda do Reino é a vinda de um Rei que vai exercer o seu poder e a sua justiça. Este Rei, dono do Reino, instaurador do Reino, exerce um poder, uma justiça, e esse poder – e esta é que é a novidade – está fora das métricas, dos ritmos do mundo. A justiça deste Rei exerce-se dentro do mundo mas com umas métricas, com uns ritmos diferentes dos do mundo. Por isso é que pode anunciar a consolação no meio do choro, pode anunciar a propriedade do Reino de Deus para os que são mansos e por aí adiante… Pode associar realidades que parecem, segundo os critérios do mundo, completamente incompatíveis. Por exemplo, quanto aos mansos, é muito sugestivo, porque a lógica do mundo é que quem tem poder e tem força é que é dono, é que é proprietário… A lógica do Reino de Deus é outra! O manso é que é proprietário do novo Reino, de uma forma diferente.

    Neste sentido, o Rei, Jesus, exerce esse poder para conduzir à realização definitiva. O Rei não está a trabalhar para a mera constituição temporal de um reino, está a trabalhar para uma meta muito mais longa. Está a trabalhar para uma meta que será a última, e aqui a última não é a que não tem mais sequência, é aquela que será a mais completa de todas, onde tudo se completará. É por isso que, como dizem algumas das Bem-Aventuranças, os débeis, os injustiçados, os que sofrem, os que choram, os que são vítimas de violência podem ter esperança, porque estão sob um poder, o de Jesus ressuscitado, Senhor do novo Reino que trabalha para a consumação definitiva e não para a circunstância histórica do deve-haver que cada etapa da História tem.

    Um segundo elemento que acho importante para perceber as Bem-Aventuranças é que elas acontecem na pessoa de Jesus. Dito de outra forma: elas são o espelho da vida, do percurso e da missão de Jesus. Portanto, quando as proclama, Jesus, de certa maneira, descodifica o seu percurso e a sua missão. A forma como Ele exercerá a sua missão e como a definirá está ali. Vemos que, ao longo de todo o itinerário de Jesus, é Ele quem realiza a bem-aventurança da misericórdia, a bem-aventurança da mansidão, a bem-aventurança do choro e da perseguição, a bem-aventurança da pobreza… Se é em Jesus que se consubstanciam

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