Cocaria A ARTE DE COZINHAR EM LUME DE CHÃO
Quem observa esta série de potes de barro, tipo pucarinho, alinhados de forma aconchegada junto a uma linha fumegante de brasas no chão e ouve o estrepitar da combustão, entre o cheirinho que se evola desta fogueira rodeada de azinheiras, não pode deixar de ficar em silêncio. Há uma espécie de sacralidade neste ritual que se perscruta num mar de sensações à flor da pele e que passam pelo olhar, o cheiro, os ouvidos e, mais tarde, o paladar. Uma alquimia que evoca fecundidade, lar e partilha. Muito especial, mesmo.
Uma mulher, a chamada coqueira, fica rentinha aos potes alinhados, tal qual uma mãe atenta, velando pelo cozinhado que lá dentro se embala sobre o borbulhar macio e lento das brasas.
Este método de cozinhar em lume de chão do mundo rural garante uma sapidez única devido à equação de tempo de cocção, calor lento e recipiente fechado que permitem abeberar o alimento. Remonta a muitos séculos atrás, mas seria mais incisivamente a partir do século XIX que ganhou novo alento. Neste caso, a nossa “coqueira” eleita para hoje - da Herdade do Cebolal, em Vale das Éguas, Santiago do Cacém - vai ser Mariana. Aquela avó que todos gostaríamos de ter. Há 50 anos que cumpre este ritual que principiou com os trabalhadores da cortiça. Como uma maestrina, vigia
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