Revista de Vinhos

MADEIRA Mergulho de autenticidade

Há um encanto muito próprio que rodeia a ilha da Madeira. É mais do que o bulício modorrento do turismo no Funchal, feito de estrangeiros e continentais em busca de um certo resquício do espírito colonial de outrora e do exotismo das temperaturas amenas constantes. É mais do que o azul safira do mar a entremear-se com o negrume da rocha basáltica. É mais do que o verde luxuriante que envolve toda a ilha, bem expresso na magnificência da floresta da laurissilva. E será, certamente, mais do que a riqueza e carácter do Vinho Madeira.

É mais profundo do que tudo isso: é a diversidade, mais rica do que seríamos levados a pensar, que é possível encontrar na Madeira. Caminhar pelos inúmeros percursos dos mais de 2000 kms. de levadas; ‘canyoning’ ou observação de aves; mergulho ou observação de cetáceos; gastronomia e património; identidade e nobreza de um espírito indomável que, ao longo de séculos, moldou e adaptou a face de um território, marcado pela atlanticidade, pelo exotismo subtropical do clima, pela generosidade das suas gentes.

A Madeira é tudo isso. Nas páginas seguintes, vamos mostrar as várias faces desta que é chamada a Pérola do Atlântico, e oferecer uma panorâmica de conjunto poucas vezes vislumbrada.

Comecemos pelo vinho: a área total de vinha registada na Madeira ascende a 421 ha., numa singularidade que abrange não apenas os modelos de viticultura, em espaldeira ou em latada - este o modelo tradicional, com altura entre 1 e 2 metros, aquele mais recente, em que a vinha é conduzida na vertical - mas até a própria instalação, já que podemos encontrar vinha junto ao mar, em socalcos (os tradicionais “poios”), em inclinações de grau impossível e numa enorme diversidade de altitudes, que podem ir dos 0 aos 800 metros.

O clima subtropical na costa sul, com invernos amenos e verões quentes e húmidos, temperado na costa norte e nos pontos mais altos da ilha, os solos geralmente argilosos, de origem vulcânica (basalto) e pH baixo (ácidos ou muito ácidos), a influência atlântica e o estágio dos vinhos, fazem com que o Vinho Madeira goze de características únicas, a primeira das quais a sua virtual indestrutibilidade, bem como a acidez eletrizante e a salinidade evidente. Não é, por isso, de estranhar, que alguns exemplares de Vinho Madeira do séc. XVIII, contemporâneos da fundação dos Estados Unidos da América (celebrada pelos próprios fundadores com um brinde deste generoso), tenham chegado incólumes até aos nossos dias.

O tempo é, aliás, fundamental para compreender a essência da Madeira: descoberta em 1419,

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