Para ver e ouvir
Há todo um cerimonial ritualizado nos modos de fazer minhotos que exprimem o caráter da região. Uma forma onde a verdadeira semântica da sustentabilidade é, de facto, uma maneira de viver e não uma moda. Cozinha-se com a Natureza e da Natureza. Ciclo mais natural não há.
Observar a D. Lúcia, na sua cozinha em Paredes de Coura é uma espécie de celebração a que se assiste, de preferência, em silêncio. É quase comovente apreciar a coreografia que as mãos desta mulher, numa dança compassada, desenham a cozinhar à lareira com lume de lenha de eucalipto.
Mãos que exprimem uma linguagem que é cultura pura, um artesanato que apetece acompanhar demoradamente com o olhar e que aquece o coração, na expressão de uma memória secular veiculada de geração em geração.
Acedendo amistosamente ao desafio da Revista de Vinhos, Dona Lúcia, uma courense dos quatro costados, vai reproduzir, passo a passo, um dos pratos mais emblemáticos da nossa cozinha, os rojões à moda do Minho, emblema tradicional da região, acompanhados de beloura, outra etnografia que a paisagem alimentar burilou.Trata-se de uma espécie de pão, em forma de enchido, feito de farinha de milho, centeio e trigo, com sangue de porco e temperos.
Ao prato está associada a tradição cultural da matança do porco, desmancha, e preparação da carne, até porque aqui em terras minhotas o suíno foi sempre marcante.
Já se torna cada vez mais rara entre as comunidades rurais, mas nos redutos onde persiste, é ainda seguida a