Antologia Da Insânia
De Buy Chaves
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Antologia Da Insânia - Buy Chaves
AS EMPADINHAS DA MORTE
E
sta história sui gêneris, discorre sobre as iniquidades de uma família, que desprovida de escrúpulos ou qualquer complacência com o próximo, provocou fatalidades e tragédias na vida de muitos moradores da cidade em que morava, sinalizando que os desígnios de algumas criaturas, ficam nas mãos do mordaz destino e suas peripécias. Se inicia com mais um dia de rotina na vida de dona Erondina, quando ela caminhava pela horta do seu sítio, que ficava próximo a uma pequena cidade chamada Puxirum, no norte do Brasil. A casa era bem posta e jeitosa, pintada de azul com detalhes em laranja, junto a vários tipos de plantas, flores e hortaliças, que exerciam um certo fascínio. Havia também ao lado da casa um pequeno e organizado galpão e logo depois o poço com paredes de pedras e petúnias plantadas ao redor. Tudo era quase perfeito.
A idílica propriedade era cercada por uma floresta fechada, densa e desabitada, cortada somente por um ramal comprido vindo da cidade e passando a cem metros do sítio. Dona Erondina colhia alguns temperos, para fazer o recheio das famosas empadinhas vendidas em Puxirum. As vendas eram o sustento da família, constituída por ela, seu filho Marino e seu neto Guidinho. Sendo ex-professora de português aposentada, era uma senhora de semblante bondoso. Os cabelos brancos, suas bochechas rosadas e os óculos redondos a deixavam com ares de vovozinha.
Assim que pegou o cheiro-verde voltou pra casa e seu fogão a lenha. A cozinha, sempre muito limpinha e arrumada, remetia aos anos 50, com todas aquelas panelas e tachos tão brilhantes pendurados sob a pia, sempre refletindo as luzes das janelas. Dona Erondina estava um pouco preocupada, porque Diguinho ainda não havia voltado. Já teria dado tempo de ir à cidade, vender os quitutes e retornar. Lembrou-se de quando ela mesmo saía vendendo, pedalando a velha bicicleta, mas suas pernas inchadas e a idade já não lhe permitiam. Desde então, seu neto assumiu as vendas; pela razão de que todos da cidade adoravam as empadinhas da vovó Dina vendidas pelo menino em todo canto. E agora com triciclo de carrocinha.
Considerando, que Diguinho, apesar de ter somente 14 anos, era gordinho e bem grande pra idade que tinha (herança genética da sua mãe), não era de se estranhar a sua demora. Enquanto isso vovó Dina, como todos a chamavam, foi ajudar Marino, que estava na outra parte da casa moendo a carne para o dia seguinte.
– Vamos derreter a gordura no tacho de cobre pra colocar na massa. A festa de São João se aproxima e temos que fazer muita empadinha – disse ela, - mesmo sabendo que Marino nunca responderia, pois ficou mudo para o mundo desde que Leiloca, -sua esposa querida-, morreu acidentalmente ao cair no poço. A desafortunada foi se apoiar na parede de pedras para pegar o balde e como era muito gorda, pesando uns 140 quilos, as pedras cederam, houve um desequilíbrio e então ela foi caindo, caindo... e chegou lá no fundo toda quebrada. Contudo ainda estava viva, ficou gemendo durante um bom tempo e em função do seu peso, Marino não conseguiu içá-la. Tentou várias vezes, desesperadamente, até que ela parou de gritar. Por conseguinte, o cadáver teve que ficar lá mesmo naquele buraco escuro. E na cidade, ninguém soube do ocorrido. Depois deste flagelo Marino surtou, ficou ali em cima aquebrantado conversando com a defunta lá embaixo durante dias e dias, jurou perante o poço que jamais a deixaria sozinha! O coitado só falava com o vazio, coisas desconexas... frases românticas que se perdiam no eco obscuro. Em seu desatino, Leiloca estava vivinha da silva e ainda conversava com ele sem constrangimento. Tanto amor naquela escuridez. Porém com sua mãe, seu filho e o resto do mundo, Marino nunca mais pronunciou uma só palavra, mesmo com todo o esforço de dona Erundina, que tentava falar com ele, ajudá-lo. Todavia, foram debalde todas as tentativas, Marino não falou com mais ninguém, apenas com o poço.
O tempo passou e a velhinha foi se acostumando com as pavulagens do filho. Depois disso, as coisas começaram a ficar ruins para a família. Diguinho ainda era pequeno. Marino, enlouquecido, mal trabalhava, deixou seu emprego de agrônomo do estado e ficou em casa quase morrendo de tristeza, mergulhado no remorso profundo. Todos os dias ele ia até o poço e falava com sua fofucha:
– Nunca vou te deixar sozinha, meu anjo! – E colocava o ouvido em direção ao poço para ouvir melhor o que ela falava: ...Claro querida! Não vai demorar muito. E vagando sempre assim (entre o delírio e a realidade) tornou-se um homem estranho, sisudo e depressivo. Dona Dina, para sustentar a família, resolveu fazer empadinhas para vender na cidade e assim aumentar a renda, pois sua aposentadoria já não dava para nada. E foi desta maneira, que tudo começou. Porque depois de alguns meses da morte de sua mulher, Marino, ainda prostrado de melancolia, deu de andar pela mata que rodeava o sítio, a qual ele conhecia muito bem, pois foi criado por ali, e para ajudar sua mãe começou a colocar armadilhas para pegar pequenos animais. Levava sempre seu estilingue, era um exímio atirador, conseguia acertar um macaco de longe, e nas arapucas sempre caíam algumas mucuras, tatus, roedores e etc... qualquer carne para os recheios das empadinhas.
Ainda assim, com o tempo não havia tantos animais silvestres, pois os bichinhos fugiram depois que a demanda dos quitutes aumentou. Marino então, arriscou-se a ir mais longe, sempre muito discreto, aproximando-se da cidade para matar alguns cães e gatos vira-latas da periferia. Caçava sempre à noite, desse modo podia dar pelotadas nos bichinhos sem que os donos percebessem. Dona Dina nunca contestou a origem do produto, afinal seu filho poderia se recuperar da depressão e ainda estava trazendo matéria-prima pra casa. Entretanto, mesmo se ocupando com a tarefa de conseguir carne, o infeliz viúvo não esquecia sua Leiloca, que estava naquele poço tão solitária, sem ninguém para conversar. Ela era tão alegre e gostava de rir das brincadeiras dele. Sempre soltava uma gargalhada contagiante. Mas a vida teve que continuar, mesmo quando os moradores das cercanias começaram a guardar seus bichinhos de estimação, depois que muitos animais sumiram. Por conseguinte, esse tipo de carne também começou a escassear. Com o modo de pensar em desalinho, ele resolveu conseguir bastante matéria-prima de uma só vez e ao mesmo tempo levar companhia para sua mulher, que estava no fundo daquele poço tão solitária... Afinal, ele não poderia negar nada pra sua amada! E naquela manhã, como prova da sua alienação galopante, ele entrou pela cozinha e depositou em cima da mesa duas coxas humanas, fresquinhas e com alguma carne, dona Dina, sem nenhuma perplexidade, não se abismou e até incentivou o filho a trazer as outras partes do corpo, que também davam para aproveitar. Menos as cabeças! Essa parte ele lançava no poço, eram para Leiloca ter com quem prosear. Marino tinha certeza de que sua fofucha ficava muito feliz a cada visita. Depois ele cortava as mãos e os pés das vítimas e junto com as vísceras, descarregava para os jacarés que ficavam no lago próximo. Os ossos eram moídos e o pó colocado nas hortaliças como cálcio, (quimeras de um agrônomo louco). As roupas eram queimadas, e a carne cortada e moída, só então iam para o vinha-d’alho com bastante limão, cebola, temperos verdes e sem esquecer o manjericão para disfarçar o sabor da carne original.
As empadinhas da dona Dina iam fazendo fama. De vez em quando, alguém da cidade sumia. Ora era um caçador que se perdeu na floresta, ou um bêbado, que talvez tenha se afogado, depois dois ladrões fugindo da polícia e assim foi com os outros. A maioria era morta com pelotadas de estilingue, Marino usava bolinhas de gude pra abater suas vítimas.
Ninguém em Puxirum poderia imaginar, que estavam comendo as empadinhas recheadas com a carne de seus próprios parentes. Também não se pode deixar de esclarecer sobre o primeiro sacrificado, o seu Vicente, que morava sozinho numa tapera antes do buritizal. O pobre ancião morreu decapitado na própria rede. Suas coxas não tinham muita carne, mas em vida era um bom contador de estórias e falava bastante. Ótima companhia pra Leiloca!
Dona Dina e Marino ainda ficaram na cozinha, para as tarefas corriqueiras por mais um tempo, indo e vindo. As forminhas foram lavadas, cebolas cortadas, massa quase pronta. Enquanto isso na cidade, Diguinho vendia bem os produtos, como sempre, de vez em quando parava o triciclo em algum ponto mais movimentado, desta vez ficou perto da rodoviária, onde havia mais concentração de gente, pois já era véspera da festa junina. O menino não perdeu tempo:
– Olha as empadinhas, a melhor da cidade, ...empadinhas! – falava, meio cantando e todos já conheciam o seu bordão. Naquele momento Nice passou por ele com a filha Angelina