Adega

O poder da palavra

UMA DAS SEÇÕES CRUCIAIS de ADEGA em seus 18 anos foram as entrevistas. Dar voz aos personagens do mundo do vinho para que contem suas histórias é essencial e apaixonante. Cada um com sua filosofia, cada um com seu estilo, cada um com seus ensinamentos e também, às vezes, polêmicas.

Esta é uma seção da revista que tentamos ter todos os meses e é dedicada a quem literalmente faz o vinho ou “responde por ele”, ou seja, os donos ou CEOs das vinícolas, ou então os enólogos. Buscamos sempre personagens interessantes e notórios cuja visão certamente vai contribuir para o nosso aprendizado contínuo em relação ao vinho.

Durante muito tempo, não repetimos entrevistados, pois a quantidade de pontos de vista no universo do vinho é quase infinita, contudo, em alguns casos (raríssimos), voltamos a conversar com as mesmas pessoas, personalidades que, anos e anos depois de sua primeira entrevista, tinham ainda mais a dizer, ou então apresentavam novas perspectivas sobre o que havíamos tratado anteriormente.

Além disso, com o tempo, fomos incorporando novos aspectos a essas entrevistas, disponibilizando-as não somente na revista, mas também às vezes em vídeo no canal da TV ADEGA no Youtube e no Podcast ADEGA, que rapidamente se tornou um dos mais influentes do mercado do vinho.

Para esta edição comemorativa, selecionamos 18 das conversas mais marcantes que fizemos ao longo de nossa história, dentre as mais de 200 entrevistas que publicamos. Aqui você vai ver alguns destaques deles, mas poderá acessar o conteúdo completo nos QR codes ao final de cada uma delas. Confira a lista completa ao lado.

Alberto Antonini – edição 131
 Alejandro Vigil – edição 105
 Eduardo Chadwick – edição 168
 Felipe Tosso – edição 188
 Laura Catena – edição 185
 Michel Chapoutier – edição 205 Michel Rolland – edição 45
 Pablo Álvarez – edição 213
 Raúl Pérez – edição 212
 Paul Hobbs – edição 104
 Pedro Parra – edição 172
 Peter Sisseck – edição 91 Philippe Pacalet – edição 204
 Philippe S. de Rothschild – edição 62
 Pierre-Henry Gagey – edição 90
 Sebastián Zuccardi – edição 164
 Steven Spurrier – edição 103
 Vicente Dalmau – edição 189

ALBERTO ANTONINI

“Quando trabalho como assessor, gosto muito de trabalhar com produtores que têm suas próprias ideias, personalidades e querem entender para onde ir. Minha função é ajudar a conseguir isso.”

NÃO SÃO POUCOS OS ensinamentos de Alberto Antonini quando se tem o prazer de estar com ele. ADEGA já teve essa oportunidade várias vezes e, em uma delas, aproveitou para conversar longamente com o enólogo italiano que produziu sentenças icônicas como essas:

“Fazer o vinho para os consumidores significa perder a alma”.

“O vinho varietal é uma commodity.”

“Todas as modas passam, mas os grandes clássicos não morrem nunca.”

Mas usar a expressão “enólogo voador” para o definir é quase uma afronta a Alberto Antonini. “A única verdade nesse termo é que eu viajo muito”, afirma ele. Com uma trajetória que inclui ter sido enólogo-chefe da renomada Antinori e assessorar diversas vinícolas em todo o mundo (entre elas a Garzón, no Uruguai), além de tocar seus próprios projetos, como Poggiotondo na Itália, Alto Las Hormigas na Argentina etc., Antonini rejeita categoricamente a ideia de se enquadrar no antigo conceito de “flying winemaker” que simplesmente aplicava uma receita padrão em todos os lugares.

O enólogo italiano é intransigente ao defender a importância do terroir, a origem do vinho, em detrimento da ênfase na variedade de uva. Segundo ele, os grandes vinhos são reconhecidos por sua origem única. Nesta entrevista exclusiva, Antonini compartilhou suas ideias embasadas em mais de 35 anos de experiência na indústria vinícola. Confira os principais destaques.

“Quando me chamam de flying winemaker brinco e digo que sou um sailing winemaker, desloco-me por barco. Não gosto dessa categoria, pois são tipos muito chatos que vão com a mesma receita na maleta por todo o mundo. Eu faço o contrário, porque minha experiência não é para padronizar, é para dar força e tirar o que for singular dos diferentes lugares. Ao se padronizar o mundo do vinho, mata-se o vinho.”
“Lutei contra os três elementos que, para mim, são os inimigos do terroir: a sobrematuração, a sobre-extração e sobremadeirização.”

Perguntas destaque

Então você não tem um estilo?

Quando me perguntam se tenho um estilo, não tenho. Não gosto dessa ideia. Se tenho um estilo, minha presença mata o vinho. Se sou mais importante que a origem, mato o vinho. Globalizo, padronizo. O importante é entender o lugar e gerenciar para que o vinho seja a expressão pura e autêntica daquele lugar. É o que faço. Se tivesse um estilo, seria um desastre porque iria contaminar todo mundo com meu estilo e seria a morte do vinho. Quando disserem que se nota que é um vinho feito por Antonini, dou um tiro na cabeça. É a maior ofensa me que podem fazer. Não se deve notar a mão de alguém. Isso é ir contra o conceito de um grande vinho. Os homens podem mudar, mas não as marcas. Quando o enólogo quer se mostrar no vinho, mata o vinho.

Qual sua abordagem da enologia?

Em Poggiotondo, por exemplo, o que estou fazendo é passar a um cultivo natural, orgânico, porque creio que é a única forma que lhe permite expressar a autenticidade, a personalidade de um lugar, um terroir. Na agricultura convencional, utilizando muito produto químico, herbicida, fertilizante, mata-se um pouco o terroir, padroniza-se. Estou no orgânico pela qualidade da uva, pela identidade dos vinhos e porque a todo mundo gosta de ser amigável com a natureza. Interessa-me muito o aspecto de manter as características locais e isso se consegue somente com cultivo orgânico. A enologia também é assim. Quanto mais experiência tenho, menos coisas faço. Para fazer menos coisas, é preciso saber mais.

Confira a íntegra da entrevista

ALEJANDRO VIGIL

“Ambição não necessariamente tem a ver com obtenção de poder, então, a minha é conhecer. O problema mais grave é a curiosidade. Minha curiosidade é grande em respeito a tudo o que é vitivinícola”

NA VERDADE, FORAM DUAS entrevistas. A primeira ocorreu na edição 105, cerca de 10 anos atrás, e mais recentemente voltamos a conversar com Alejandro Vigil, enólogo da Catena Zapata, na edição 211, no começo deste ano.

Em ambas as entrevistas, mesmo com quase uma década de diferença entre elas, Vigil parece ser o mesmo. Ou quase. Bonachão, extremamente acessível e sem papas na língua. Na época da primeira entrevista, ele tinha apenas tatuagem com os dizeres Malbec e Juan Cruz (nome de seu filho). Anos depois, fez outra com o nome da filha Giuliana e Cabernet Franc (para não causar problema em casa). Hoje ele carrega nos braços os dois filhos e as duas castas com que mais se identifica.

Quem o observa e não o conhece, estranha que essa figura brincalhona edebochada seja, na verdade, uma das figuras centrais do vinho argentino e sul-americano. O “brincar com o vinho” o acompanha desde criança, quando brincava de criar mostos e fermentá-los. Até hoje ele faz questão de dizer que brinca na hora de elaborar seus blends e se descreve como uma mistura de artista e cientista.

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