QUANDO ME PERGUNTAM quais são as três cepas de que mais gosto, as que mais admiro, os dois primeiros nomes que sempre menciono são bem óbvios. Nebbiolo de Barolo, é claro, e Pinot Noir da Borgonha, especialmente os de ChambolleMusigny. Quem, que está no mundo do vinho, não gosta do que essas regiões produzem? Você teria que estar fora de si. São também, aliás, gostos caros. Na minha adega não tenho nem 1% dos vinhos de que gostaria de ter dessas regiões, mas como trabalho como crítico de vinhos – uma vida emprestada – tive a sorte de experimentar muitos deles. Não tenho orçamento para comprar uma Ferrari, mas já pilotei algumas, no fim das contas.
A terceira das minhas opções é ao mesmo tempo mais excêntrica e, definitivamente, mais acessível para o bolso de um escritor: Baga da Bairrada. Sim, assim como parece.ou o Chambolle; partilha com eles a mesma estrutura tensa, quase monolítica, a mesma austeridade que me lembra as igrejas românicas. Tem muito a ver com o fato de que eu gosto de variedades tânicas e tanto Nebbiolo quanto Pinot (sim, Pinot é tânico, embora você tenha ouvido há séculos o contrário) e Baga são ricos em taninos. Mas quando esses taninos crescem em solos de cal – como é o caso nessas três áreas – o resultado é mais do que avassalador, é pungente. O calcário nas encostas da Bairrada não só oferece sabores salinos e perfumes frutados, mas sobretudo aquela sensação de boca firme, tensa, elétrica que eu, pelo menos, gosto de combinar com carnes cozidas ou, já agora, com o famoso leitão da Bairrada, uma instituição em si.