Apesar de ser primavera, fazia calor naquele 18 de outubro de 1970. Era início da noite, quando um grupo de artistas se reuniu no pátio da igreja de São Pedro dos Clérigos, no bairro de Santo Amaro, no Recife. À frente, estava o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna (1927-2014), que lançava ali a pedra fundamental de um movimento criado por ele, o Armorial. “O movimento lançado agora, sob a denominação de Armorial resultou de 25 anos de pesquisa”, declarou Ariano. Ou seja, o trabalho de uma vida. O projeto, que impactou a arte nordestina e nacional nas duas décadas seguintes, tinha como princípio básico a elaboração de uma arte erudita brasileira baseada no popular.
A festa naquela noite foi boa. Além do discurso do fundador, que criticou a demolição de construções históricas recifenses do século XVII, o evento contou com concerto da Orquestra Armorial de Câmara, sob regência de Clóvis Pereira. Numa sala junto à sacristia, uma exposição de arte trouxe trabalho de diversos pernambucanos.
Ariano e sua trupe tinham como principal objetivo criar uma autêntica arte brasileira baseada em suas raízes. Naquela época – e ainda hoje, por pura ignorância – havia uma desvalorização da cultura popular, encarada como algo folclórico. O que escritor fez foi jogar luz sobre essas linguagens para que as pessoas reconhecessem os valores brotados em solo nacional. Fazer o Brasil