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Da Fábrica ao Samba no Pé: O Samba de Dalva
Da Fábrica ao Samba no Pé: O Samba de Dalva
Da Fábrica ao Samba no Pé: O Samba de Dalva
E-book169 páginas1 hora

Da Fábrica ao Samba no Pé: O Samba de Dalva

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Sobre este e-book

Pelas tramas da academia e pelos fios da memória, Hamilton Celestino da Paixão Filho é autor-narrador-protagonista da sua história, da sua experiência como pesquisador, da sua descoberta e encantamento no encontro com Dalva Damiana de Freitas, Dona Dalva do Samba de Roda, trabalhadora da fábrica de charutos Suerdieck, fundada na Bahia em 1988 e que ficou famosa na Europa.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de set. de 2020
ISBN9786558201779
Da Fábrica ao Samba no Pé: O Samba de Dalva

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    Da Fábrica ao Samba no Pé - Hamilton Celestino da Paixão Filho

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    APRESENTAÇÃO

    Da Fábrica ao Samba no Pé: o Samba de Dalva

    Pelas tramas da academia e pelos fios da memória, Hamilton Celestino da Paixão Filho é autor-narrador-protagonista de sua história, da sua experiência como pesquisador, da sua descoberta e encantamento no encontro com Dalva Damiana de Freitas, Dona Dalva do Samba de Roda, trabalhadora da fábrica de charutos Suerdieck, fundada na Bahia em 1988.

    Fábrica que ficou famosa na Europa pela qualidade do fumo que usava, está localizada na cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, região de aspectos de vida arcaizantes, de plantação agrícola dos primórdios da colonização no Brasil, que circunda a baía de Todos os Santos e sempre esteve interligada à cidade do Salvador por uma linha histórica contínua. Abriga uma população majoritariamente negra, consciente das suas africanias, da memória do seu legado cultural trazido de Aruanda em manifestações lúdicas e religiosas tradicionais, o candomblé, os mandus, o zambiapunga, o negro fugido, o maculelê, a capoeira, o samba de roda. Sua economia fumageira prosperou no século XVIII com o comércio de tabaco da região, alimentado pelo tráfico negreiro com a então denominada Costa da Mina, no golfo do Benin, em territórios onde se encontram povos do grupo ewe-fon, denominados de jejes e minas entre nós. Esse contingente humano escravizado veio ao encontro da população proveniente do mundo banto do Congo e de Angola, ali já estabelecida, a qual, mais tarde, juntaram-se os nagôs trazidos de Ketu e os yorubás da Nigéria na última fase do tráfico.

    Naquela época, a Bahia tinha necessidade de um grande número de trabalhadores para as plantações de fumo, mas também devia criar um mercado maior de consumo para colocar o excesso da produção classificada como terceira qualidade, cuja exportação era proibida pela Coroa Portuguesa.

    Esse tipo de fumo, embebido em melaço de cana e posto em rolos, foi introduzido na Costa da Mina com tal aceitação a ponto de ser a mercadoria mais valiosa para a negociação de escravizados naquela região, um mercado que era feito diretamente com mandatários locais. Em consequência, durante todo o século XVIII, a Bahia não só teve mão de obra escravizada em abundância, sobretudo mulheres, vistas pela sua fragilidade ante a força bruta do homem para as frequentes razias e guerras interétnicas locais, como manteve quase que o monopólio do tráfico externo com aquela região até a sua extinção defintiva no Brasil, a partir de 1856.

    Na divisão de trabalho, os homens formavam o contingente como escravos do eito, enquanto a força do trabalho feminino era empregada nos trabalhos domésticos, como escravas de jó (de jinjó, da casa, em Angola), e nos barracões, onde a mão de obra feminina era bem mais barata do que a masculina. Além disso, como charuteiras, delas não se exigia esforço muscular nem resistência física às intempéries ao ar livre nos campos, podendo usufruir os domingos de folga para louvar seus deuses e ancestrais com sambas, visto aos olhos alheios como uma atividade lúdica, sem nenhum conteúdo religioso, sustentado pela música e toques dos atabaques, base da resistência e continuidade cultural na opressão.

    E o que é o samba?

    Samba, ao ser apropriado na categoria de gênero musical-dançante representativamente brasileiro, foi esvaziado do seu conteúdo religioso original de música-dança para louvar aos deuses e ancestrais na celebração congo-angolana, e, contagiado pela cadência rítmica e gestual do semba, dança popular em Angola semelhante à nossa umbigada, saiu então dos terreiros e barracões para ganhar o mundo.

    Quando Noel Rosa, nos anos 30, compôs o samba Feitio de Oração, e, 30 anos mais tarde, Vinicius de Moraes, na canção intitulada Samba da Bênção, afirma que um bom samba é uma forma de oração, ambos reiteraram algo absolutamente correto do ponto de vista do significado original de rezar, orar da palavra samba em línguas angolanas, em que o samba funciona como um espaço favorável à dramatização da vida, portanto também lembrado na expressão popular brasileira sambou, tem que rezar/dançar. Nesse sentido, a sambista brasileira Genilda Gomes de Souza, radicada na Alemanha, em entrevista à Brazine de janeiro de 2005, revista bilíngue alemão-português publicada em Berlim, declarou: o samba é a minha religião.

    Em resposta às nossas preces, o samba (palavra, dança/música, estado de espírito) vem demonstrar, também de forma emblemática, a força do influxo que as tradições negro-africanas exerceram na constituição e conformação do pertencimento de brasilidade, tecida no bojo de uma etnicidade de natureza negro-mestiça. Se é verdadeiro que a língua substancia o espaço identitário de um povo e compõe o seu patrimônio imaterial, vale lembrar, parafraseando uma conhecida composição de Caymmi, de quem não gosta de samba, brasileiro não é.

    Samba do requebrado na palma da mão, sambado no pé, em contato direto do corpo com a terra-mãe, com suas raízes ancestrais, essa é Dona Dalva do Samba de Roda. Mulher negra, humilde, líder de uma comunidade sociocultural reconhecida como patrimônio nacional brasileiro por se tornar, na música e na solidariedade grupal, a expressão emblemática de uma nação da qual faz parte, em Da fábrica ao samba no pé: o samba de Dalva, Hamilton Celestino da Paixão Filho a enobrece e exalta em forma de oração.

    Cidade do Salvador da Bahia, outubro de 2016.

    Dr.ª Yeda Pessoa de Castro

    Professora na Universidade Federal da Bahia (UFBA) Etnolinguística

    Doutora em Línguas Africanas pela Universidade Nacional do Zaire

    Consultora técnica em Línguas Africanas do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo

    Membro da Academia de Letras

    Dedico este livro à memória de meu pai, que não vai poder dizer como sempre dizia: Diga aí, Zé de Miúdo, quando sempre eu chegava de minhas conquistas. Sua luz me segurou nessa travessia...

    De forma especial, às mulheres de minha família: Amenaide Santana, mãe e guerreira, e Ana Clara Santana da Paixão.

    Valda, você é parte dessa caminhada cultural. Que bom que você surgiu como uma amiga e que sempre acreditou nos meus sonhos e percursos... como andamos...

    Este livro tem um cuidado e uma dedicação especial vindo das mãos de Hildete Costa.

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por não me deixar tropeçar nunca.

    De forma muito especial, a Dona Dalva Damiana de Freitas, Dona Dalva:

    Na Cachoeira ninguém fez mais samba do que eu, através do amor, da ansiedade que eu tinha de brincar, mas não tinha sapato e roupa pra estar no meio das procissões e das missas. No samba se vai de chinelo, de pé descalço, roupa remendada, e todo mundo brinca. Para o samba eu dou minha vida, o meu cansaço. E ainda não vi os próprios filhos da terra planejar uma coisa de felicidade pra mim, sem ser do dente pra fora. Mas o meu cansaço se torna alegria porque não tenho amor ao dinheiro, tenho amor ao fazer, a engrandecer Cachoeira. (Voz de D. Dalva).

    A minha orientadora e

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