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De carpinteiro a Deus
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E-book355 páginas9 horas

De carpinteiro a Deus

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Sobre este e-book

Book description:
 

Como foi que Jesus de Nazareth, um pregador judeu, terminou sendo chamado “Filho de Deus” e adorado por milhões de crentes? Este controvertido, mas reflexivo livro mostra como, ao longo de três séculos, a figura de Jesus foi gradualmente elevada até se tornar, no Concilio de Nicéa de 325 d. C., igual a Deus. Entretanto, neste caminho teve que passar por muitas disputas e divisões no interior da nascente fé cristã. 
Esta obra tenta responder perguntas controvertidas sobre as origens do cristianismo. Quem foi originalmente Jesus: um mestre da Lei, um filósofo cínico, um zelote, um profeta apocalíptico? O quanto são confiáveis os Evangelhos historicamente? Qual foi o contexto histórico e religioso onde surgiu a adoração a Jesus? Considerou Jesus realmente Deus durante sua vida? Quais foram as razões históricas de sua crucificação? Como explicar as aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos? Por que houve tantas formas de conceber Jesus nos dois séculos posteriores a sua morte: docetistas, gnósticos, separacionistas, marcionistas, arianistas? O que Jesus ensinou originalmente? Os Evangelhos conservam pistas sobre a gradual divinização de Jesus? Quais as consequências geradas depois das declarações do Concilio de Nicéa? 
É uma proposta para descobrir a base de um debate mais objetivo das origens do cristianismo, “De carpinteiro a Deus”, o terceiro volume desta coleção dedicada a descobrir as raízes do cristianismo, nos oferece aspectos até agora desconhecidos da figura de Jesus de Nazareth que nos farão refletir melhor nossas crenças. Como sinaliza o autor: “Será próprio da fé que busca certezas avançar através das seguintes páginas”.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento8 de set. de 2016
ISBN9781507154557
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    De carpinteiro a Deus - julio cesar navarro villegas

    DE CARPINTEIRO A DEUS

    A POLÊMICA HISTÓRIA DE COMO

    JESUS CHEGOUA SER O FILHO DE DEUS...

    E O QUE ACONTECEU DEPOIS.

    ––––––––

    Julio César Navarro Vichegas

    Amazon Mexico Services

    Todosos direitos reservados.

    © 2015, CreateSpace Independent Publishing Platform

    A subsidiariadaAmazon Mexico Services

    ISBN-13: 978-1512260274

    ISBN-10: 1512260274

    Impresso nos Estados Unidos da América.

    A Marisol, esposa e amiga leal,

    por seu carinho epaciência.

    Scis quia ego amo te.

    (Você sabe que eu te amo) 

    A Marco Antônio,

    meu pequeno legionário,

    por todo ensinamento.

    ÍNDISSE

    INTRODUÇÃO

    O que une o mundo cristão? Quando usamos o termo cristianismo, o que queremos dizer? Para dizer a verdade, ocristianismo moderno é extraordinariamente diferente. Pensem nas enormes diferenças entre as diversas religiões, seitas e cultos cristãos. Temos os católicos romanos com suas opiniões sobre o Papa e a VirgemMaria. Temos os mormos com suas opiniões sobre Joseph Smith eo anjo Moroni. Temos os batistas, ortodoxos gregos, presbiterianos, manipuladores de serpentes, Testemunhas de Jeová e fundamentalistas bíblicos.

    Ou pensem nas várias crenças essenciais para um ou outro grupo religioso. Alguns cristãosacreditam no nascimento virginal, na ressurreição física no céu e no inferno literalmente. Outros pensam que não necessitam crer nisto. Alguns cristãos pensam que o Papa éinfalível, outros pensam que a Sagrada Escritura eo Antigo Testamento sãoinfalíveis. Alguns cristãos pensam que os bebês devem ser batizados por aspersão, enquanto outros pensam que os adultos devem submergir-se. Alguns pensam que umou outro batismo é bom; entretanto, outros pensam que se não forem batizados em suaprópria igreja, não poderão se salvar, e assim por diante.

    Todos estes grupos, porém, têm algo em comum: Jesus não foi um simples humano, mas o próprio Deus. Como chegaram a esse consenso? Como equando Jesus homem se fez Deusdiante dos seus olhos? Como veremos, nãoé uma pergunta banal. A noção teológica de que Jesus é Deus,abrange toda a cristandade; mas isso não é a opinião dos historiadores quando tentam descrever a história de Jesus, o ser humano que caminhou pelaantiga região daGalileiaem Israel. Isto pode não ser tão importante para a concepção cristã, mas seráà medida queavançarmosem nosso estudo.

    Durante séculos, os estudiosos vêmtrabalhando para entender quem foi Jesus histórico, como veremos no próximo capítulo. Entre os mesmos estudiosos também há várias opiniões. Alguns veem Jesus como um rabino que interpretou a Escritura. Assim disse Jesus aos seus discípulos na Bíblia judaica, dando a sua interpretação da LeiMosaica, a Torá, ede acordo com esta interpretação, Jesus proclamou que havia duas regras principaisna Bíblia: amar a Deus com todo o teucoração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças, de acordo com o livroDeuteronômio6,eamaraopróximocomo a ti mesmo, segundo o livro de Levítico 19. Estes são os dois ensinamentos de Jesus como rabino que ensinava a lei, a Torá.

    Outros não veem Jesus como um intérprete, mas como um reformador social. Alguns ressaltam que havia mulheres próximas a ele, e elas estavam envolvidas ativamente na pregação, elevando assim o papel das mulheresno seu ministério e até sugerindo que Ele era um pro-feminista.

    Outros ressaltam que ensinoua seus discípulos a partilhar seus bens,  opondo-se ao que hoje chamamos de sistema capitalista, eassim ser uma espécie de pro-marxista.

    Outros dizem que é melhorcompreender Jesus como umfanático que buscava derrotar os romanos por meio da força. Afinal, quando Jesus foipreso na área de Getsemani, seus discípulos sacaram espadas e lutaram por ele. Para que as espadas, a menos que Cristo liderasse uma rebelião armada? Além disso,ele foi crucificado por se fazer chamar o rei dos judeus, uma posição de natureza política: Jesus, aparentemente, tinha intenções políticas.

    Outros insistem que Jesus seria talvez, uma espécie de filósofo cínico. No mundo antigo, os cínicos não eramcomo entendemos hoje: pregavam não para uma vida num mundo material, mas sim para uma vida espiritual. Jesus não foi um anti-materialista ao dizer: não te preocupes com o que você ou come, mas sim com as coisas espirituais? Visto desta forma, Jesus foi sim uma espécie de filósofo cínico.

    Outros veem Jesus como um profeta apocalíptico. Ele pregou que Deus logo iria intervirna história para vencer as forças do mal e trazer o Reino do Bem a todos. De acordo com esta ideia, Jesus se dedicou a pregar a chegada eminente do Reino de Deus. Ele falou do Filho do Homem, que viria do céu para destruir tudo o que se opunha a Deus e estabelecer o Seu reino. Jesus disse a seus discípulos: Vocês doze reinarão os doze tronos no futuro reino de Deus. Jesus disse àquelas pessoas que se arrependessem até a chegada do Reino, porque senão elas seriam expulsas, quando ele chegasse. Assim, Jesus pode ser visto como um profeta apocalíptico que acreditava no fim eminente.

    Mas quase todos os estudiosos sérios concordam em ver Jesus como um judeu que durante sua vida foi considerado um simples mortal. Aqueles que pensam assim não negam em absoluto que Jesus era divino: somente afirmamque a divindade de Jesus não foi reconhecida por seus seguidores durante sua vida terrena, ele pode ou não ser divino. Além disso, todos argumentavam que, por alguma razão, Jesus terminou opondo-se a Lei, que foi condenado por opor-se ao Estado romano e que foi humilhado, torturado e crucificado. Como é que um pregador judeu, executado por crimes contra o Estado, chegou a ser visto como Deus e Senhor criador do céu e da terra, conforme creem hoje milhões de pessoas? Para resumir a questão central: como Jesusse tornou um Deus?

    Aparentemente, esta questão tem apenas interesse teológico, e poderia ser importante apenas para os estudiosos e cristãos. Mas na realidade, é uma questão que interessa a todosos interessadosna história, seja ou não cristão.

    Esta obra mostrará que é uma das importantes perguntas históricas da civilização ocidental. Talvez seja audacioso, mas é possível respaldá-la. Acivilização ocidental nunca teria desenvolvido tal conhecimento se Jesus nunca tivesse sido declarado Deus. A explicaçãoexige algumas informações.

    Diga o que disser, Jesus de Nazaré foi essencialmente um pregador judeu que anunciava a eminente chegada do Reino de Deus para todos. Isto se acha em todas as doutrinassobre Jesuse nenhum estudioso discute isso. Os seguidores de Jesus eram camponeses galileus de classe inferior,que falavam aramaico. Como Jesus, eram judeus, seguiam a lei judaica, os costumes judaicose entre eles se viam como judeus. Durante o ministério de Jesus, seus seguidores ignoravam que se planejava fundar uma religião. Em sua visão, Ele estava lhes dando uma interpretação correta e verdadeira de sua religião, o judaísmo. Como veremos nas páginas seguintes, seus seguidores não tinham absolutamente nenhuma ideia, durante a vida de Jesus, de que Ele era divino. Foi somente depois da morte de Jesus que muitos seguidores começaram a crer que Ele ressuscitou e foi elevado aostatus de divino. Para eles, de algum modo e em algum sentido, este novo Jesus era um ser divino. Isso os levou a fundar uma nova religião. Nãopelo judaísmo que conheciam ou pelos ensinamentosde Jesus terreno, mas uma religião cristãbaseada na ideia de que o Nazareno era um ser divino, morto e ressuscitado.

    Se Jesus nunca tivesse sido considerado Deus, seus seguidores continuariam ligados a suas comunidades judaicas, pensando que o que foi ensinado eram revelações verdadeiras sobre o que o judaísmo era divulgado e deveria ser. Em outras palavras, os seguidores de Jesus teriam permanecido numa seita do judaísmo; mas como eles começaram a crer que Jesus era mais que humano, sua mensagemcomeçou a atrair pessoas de fora, não judias. Os missionários, como o apóstolo Paulo, insistiamem que não era preciso ser judeu para se tornar um seguidor de Jesus. Paulo argumentou que a morte e ressurreição de Jesus nos ligavam diretamente com Deus, por isso não precisava ser judeu para crer na morte e ressurreição de Jesus. Foi assimque a mensagem da salvação de Jesus pode sair do judaísmo e dirigir-se aos gentios.

    Como veremos mais adiante, os não judeus começaram a se converter à fé em Jesus com maior frequência que os judeus. Osnãos judeus ou gentios, politeístas ou adoradores de muitos deuses, foram convertidos a seguidores de Jesus. Nas religiões dos gentios, os deuses tinham vários graus de poder. Alguns eram mais poderosos que outros, eo mundo dos deuses se sobrepunhamao mundo dos humanos, onde alguns tambémeram mais poderosos. Nestas antigas religiões, os assuntos divinos e humanos frequentemente se sobrepunhameaspessoas acreditavam que algumas pessoas eram essencialmente divinas. Assim, os antigos acreditavam em pessoas que eram seres divinos, humanos divinos, homens-deuses. Os nãosjudeus, que se converteramao crer em Jesus após o trabalho missionário de Paulo e outros, não tinham problemas em crer em humanos divinos. Uma vez convertidos, a fé dos gentios no homem-deus Jesus, começou a difundir-se por todo o mundo romano.

    Desde sua criação até os três séculos seguintes, ocristianismo cresceu 40% a cada década graças ao trabalho evangélico dos seguidores de Jesus. Ao longo do tempo, estes 40% começaram a aumentar de forma marcantee alcançar resultados impressionantes. No início do século IV d. C., quase 5% do império era cristão. Logo, o imperador Constantino se converteu a esta fé. Antes dele, os imperadores eram contrários aocristianismo; mas agora, graças a outros convertidos, ele tinhase tornado umimperador cristão. Quando Constantino se converteu a mudança foi total. Os cristãos passaram de perseguidos a ser a força religiosa dominante e ao final do século, terminaram sendo a religião oficial do Império; como apoio imperial ele conseguiu consolidar o poder secular com suas ideias teológicas, incluindo a de um Jesus divino.

    Se os seguidores de Jesus não tivessemacreditado que ele era imortal e divino, ocristianismo teria permanecido no judaísmo, nunca teria iniciado uma nova religião, o império romano nunca teria sido absorvido pela religião cristã, como resultado, a história da antiguidade mais recente, da idade Media do Renascimento, da Reforma e a modernidade como conhecemos hoje nunca teria acontecido. Por isso digo que quando os primeiros cristãos afirmaram que Jesus era Deus, isso alterou totalmente o curso da história para sempre.

    Quando seus primeiros seguidores começaram a chamá-lo de Deus não só afetou a história do Ocidente, mas a milhões de vidas atualmente. Em nossos tempos, uns doisbilhões de pessoas se consideram cristãos: 2 de cada 7 pessoasno mundo. A grande maioria destes cristãosacredita que de algum modo Jesus é Deus. O cristianismo afetou não só o que essa gente crê, mas tambémseumodo de vida, suas decisões éticas, suas filiações políticas, as teorias econômicas que apoiam e as estruturas sociais que divulgam. Se Jesus tivessepermanecidoum ser humano, a grande maioria dos cristãos não teria a fé que guiasse suas crenças, sua ética, suas opiniões sociais e políticas. O mundo seria sem dúvida nenhuma, muito diferente.

    Para nos orientar sobre esta obra, énecessário considerar alguns contextos. Primeiro será útil uma rápida linha do tempo e um panorama dosprimeiros cristãos.

    Vamos olhar a linha do tempo. Não conhecemos a vida de Jesus. A data de seu nascimento dada pelos estudiosos se situa no ano 4 a. C. A razão: Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, mas este morreu no ano 4 a. C. Parece-nosestranho que Jesus nasça 4 anos antes, mas esse é o ano estimado que os estudiosos reconheçam hoje.

    Jesus morreu por volta do ano 30, provavelmente quando Pôncio Pilatos era o governador da Judéia. Seu mandato vai de 26 a 36 d. C., de modo que é possível que Jesus tenha morrido no ano 30.

    O primeiro autor cristão foio apóstolo Paulo. Escreveu suas cartas entre o ano 50 e 60 d. C. Os Evangelistas escreveram pouco depois. Marcos é, talvez, o primeiro evangelista, logo em seguida Mateus, Lucas e João. Marcos escreveu seu evangelho entre o ano 65 e 70, João em 95, de modo que estas obras surgiram há cerca de 50 anos depois da morte de Jesus, e seguiram aparecendo 65 anos depois.

    Parece que durante o período do Novo Testamento, ou seja, o primeiro século da fé cristã havia diferentes visões sobre Jesus, Deus, a salvaçãoe outros conhecimentos. Hoje temos a tendência de ver ocristianismo como um fenômeno monolítico onde todos acreditavam mais ou menos o mesmo. Naverdade, os estudiosos descobriram que originalmente não era assim: havia muitas crenças diferentes sobre aspectos importantes daquelecristianismo, é difícil estabelecer exatamente no que as diversas comunidades acreditavam no primeiro período. Grande parte se deve a escassez de nossas fontes de informações.

    Sabemos no queacreditavam algumas dessas comunidades, como as estabelecidas pelo apóstolo Paulo que escreveu suas cartas nos anos 50. Mas ele difere em relação a seus opositores em muitos aspectos. Isto prova a existência de uma ampla gama de ideiasno inicio do cristianismo, porque em suas cartas Paulo devia atacar aqueles que colidiam comele, os que não eram judeusou pagãos, mas os cristãos que sustentavam outros pontos de vista. Por exemplo, quando escreveu sua carta aos Gálatas, Paulo havia estabelecido uma comunidadelá e disse a eles que o modo de estar com Deus eraacreditando na ressurreição de Jesus. Outros missionários cristãoschegaram a Galícia, insistindo que os gentiosque acreditavam em Jesus deviamtornar-se judeus para segui-lo. Aos seus olhos, a lógica era impecável: Jesus foi judeu, foi enviado por Deus judeu, foi enviado ao povo judeu e seu retorno cumpriu a profecia judaica. Seeles queriam seguir a Jesus judeu, então deveriamconverter-se como judeus. Isto tinha sentido para os missionários, mas não para Paulo. Paulo escreve sua carta aos gálatas para dizer- a esses cristãos gentios que não devem tornar-se judeus, poisassimeles confundiriamo fato de que a salvaçãovem somente através da morte e ressurreição de Jesus, não por ser judeus. Como se vê, houve vários grupos cristãos pregando coisas diferentes, neste caso debatendo se era importante ser judeu ou não.

    Vamos agora à carta de Paulo aos Coríntios. Paulo também tinha opositores em Corinto, onde havia fundado outra grande comunidade. Depois de deixar a cidade, começaram a surgir diferentes opiniões, incluindo asde Paulo; Ele disse que quando alguémacreditava em Cristo, entrava em uma nova criação, um renascimento, tornando-se uma nova pessoa. Paulo não acreditava que os que depositavam sua fé em Jesus jáeram perfeitos: o pecado existia no mundo, a salvação final seria mais tarde, quando Jesus voltasse do céu, para destruir as forças do Mal e estabelecesse seu reino na terra. Os seguidores tinham uma opinião diferente: alguns acreditavam ter uma nova criação em Cristo, que já estavam experimentando os benefícios da salvação e que nada iria acontecer. Em outras palavras, isto era o melhor que havia, o céu é na terra e este era o modo de perpetuá-lo. Paulo considerava isto totalmente erróneo, então ele escreveu sua carta aos Coríntios para explicar-lhes que faltava muito por acontecer para que vissem os benefícios da salvação. Aqui está outro conflito onde os cristãos acreditavam em coisas diferentes.

    Esta primeira diversidadeé mais evidente nos períodos seguintes. Para o segundo e terceiro século d. C., ocristianismo era assombrosamente diverso. Os líderes e suas congregações chocavam-se em aspectos muito simples. Isto pode ser visto nas ideias sobre Deus. Nos séculos II e III, 100 ou 200 anos após a morte de Jesus, havia enormes diferencias sobre como acreditar em Deus, incluindo pontos como quantos deuses existiam. Era o Deus do Antigo Testamento ou do Novo? Não era acaso o primeiro um Deus de ira e o segundo um Deus de amor? Então, não são Deuses diferentes? Alguns acreditavam que havia12 Deuses, outros acreditavam que eram 30. Um grupo acreditava que havia 365 Deuses! O criador deste mundo era um Deus bom? Olhem ao seu redor: existem terremotos, furacões, tsunamis, fome, morte e guerras. Pode Deus criar tanta miséria? Alguns cristãos diziam que sim, mas que Deusfazia isso por outras razões. Outros diziam que Deus nada tinhaa ver com este mundo: seu Criador não era um Deus bom. E então a Criação? É a Criação própria de um Deus amoroso, ou um lugar maligno feito por deusesfracos e perversos? Será que este mundo será perdoado, destruído ou transcendido? Bem, depende de qual grupo cristão estamos falando. Além disso, havia diversos tipos de Escrituras entre os grupos cristãos, especialmente da Bíblia judaica. Deveria ver a Bíblia judaica como uma revelação do Deus verdadeiro ou como um livro que perverte a comunidade? Para muitos cristãos não judeus, o Antigo Testamento possuía leis muito estranhas. Não se pode comer presunto, camarão, deve se cortar partes do pênis dos bebês? As crianças desobedientes devem ser executadas? Será executado todo aquele que trabalheno sábado? Realmente Deus quer que acreditemosnisto? Alguns acreditavam que a lei fora dada por Deus, outros não.

    Essas diferenças foram discutidasnos séculos II e III, especialmente sobre quem era Jesus. Alguns cristãos destes séculosafirmavam que Jesus foi humano, mas não divino. Como podia Jesus ser Deus, se Deusera um só? Esses cristãos insistiam que a divindade de Jesus era uma blasfêmia, porque para afirmar que a divindade deveria acreditar em dois Deuses, isso não podia ser porque Deus disse que Ele é o único Deus e mais ninguém. Sob esta ideia, Jesus foi homem, mas não Deus.

    Outros cristãos tinham a ideia contrária: Jesus era Deus, mas não humano. Se Cristo é Deus então não pode ser humano. Deus não pode ser humano porque Deus não pode ser visível. Tudo era mera aparência. Segundo estes cristãos, Jesus foi um fantasma, não tinha um corpo material.

    Outros cristãosdiziam que Jesus era dois seres diferentes: um homem, Jesus, mas temporariamente habitado por um ser divino, Cristo, que lhe deuo poder para fazer milagres e difundir ensinamentos formidáveis. Logo, Cristo abandonou Jesus crucificado, poiso Cristo divino não podiasofrer por isso Jesus gritou: Deus, por que me abandonaste? Porque segundo esses cristãos, Cristo abandonou Jesus.

    De acordo com outra visão cristã, Jesus foi Deuse homem, mas devido a ser em parte Deuse parte homem. Metade e metade. Outros ainda insistiam em que Cristo era totalmente Deus e totalmente homem, ao mesmo tempo, mas sob uma única pessoa. Como chegar a um acordo assim?

    O debate sobre quem foi Jesus culminouno início do século IV d. C., após a conversão de Constantino. Naquela época, os líderes da Igrejacomeçaram a debater sobre a fé que deviam ter todos os cristãos. Estas foramàsdoutrinas cristãs que foram estabelecidas por escrito, declarações de fé para todos os que se declarassem cristãos. A mais famosa dessas profissões de féé o Credo de Nicéia, chamado assim porque foi emitido por um conselho de bispos da Igreja reunidos para debater aspectos da fé em Nicéia, na Turquia moderna. O Concilio de Nicéia ocorreu em 325 d. C. O Credo de Nicéia é claro e definitivo em suas afirmações de que Cristo é Deus. Não éo mesmo Deus Pai, mas sim igual a Ele em todo sentido e não está subordinado a Ele. Segundo este credo, Cristo sempre existiueé o criador do universo. Estaé a crença central da igreja cristã, como tempo foi a crença dos imperadores romanos.

    Se Cristo tivesse permanecido um judeu crucificado, eles não teriam visto Deus, ocristianismo não haveria crescido exponencialmente ao longo do tempo, milhõesde pessoas não se converteriam,o imperador romano não se converteriaeocristianismo não seria a religião de Roma nem a religião do Ocidente. Como resultado, a maioria de nós aindaseriapagã.

    ––––––––

    Vejamos agora umavisão geral do livro. Ao longo dos capítulos seguintes, buscaremos responder algumas perguntas importantes: Como entendiam os povos antigos, tanto pagãos como cristãos, que os deuses se tornaram humanos, ecomo os humanos se tornaram deuses? Quais eram as principais características da pregação e da missão de Jesus? Em especial, o que ensinava Jesus sobre si mesmo? O queexatamente os primeiros cristãosdisseram que Jesus era maisdo que umprofessor judeu?Quando declararam pela primeira vez que Jesus foi Deus? Uma vez dito isso, o que davam a entender comisso? Como estavam debatendo a natureza de Cristo nos séculos seguintes? Como surgiuno século IV a ideia que hoje sustentam muitos cristãos, de que Jesus não só foi divino, mas plenamente Deus, criador do céu e da terra? Esmas que essas perguntassejamagora consideradas importantes, etambém interessantes.

    ––––––––

    Como este livro é destinado a um grande público, eu decidi não sobrecarregaro leitor com umconjunto de notas explicativas. Qualquer pessoa que quiser se aprofundar nas questões tratadas, terá facilmente a respectiva bibliografia, que como verá, é altamente acadêmicaeconfiável. Apesar de ser uma reconstrução teórica, a hipótesesustentada neste livro se baseia em autoridade econtinuo estudo que abrange um período de mais de cem anos.No entanto, também quero esclarecer que não se pretende com este exercício intelectual adotar ou criar uma atitude acusatória ou descrenteem relação à religião: considero que todos que creem devemter a oportunidade de conhecera origemhistórica de suaconvicção religiosa; na verdade, quempertence a esta categoria, deve sustentar sua crençano própriofundamento, poisno final, toda crença religiosaé um fenômeno social com um ponto de partida no tempo. Ousar conhecer as possíveis origens de uma crençafornece uma maior convicção para transmiti-la e naturalmente a possibilidade de enfrentar discussões históricas e teológicas sobre a origem do cristianismo. No mundo da argumentação, devemos estar preparadospara possíveis exceções sobre o que desejamos pensar e enfrentar as possíveis réplicas do oponente em um debate.

    Escrever uma obra como esta requereucoragem. Ler esta obra também vai requerer o mesmo. Será próprio da fé que busquemcertezas eavancemnas páginas seguintes.

    CAPÍTULO 1

    DEUSES GRECO-ROMANOS

    QUE SE TORNARAM HOMENS

    Quando nos propomos estudar as primeiras origens docristianismo, enfrentamos o desafio de saber por onde começar. Uma opção, a mais comum, poderia ser o primeiro livro do Novo Testamento, o evangelho de Mateuse logo estudar os Evangelhos sequencialmente como uma primeira abordagem: Mateus, Marcos, Lucas e João. Nestes livros se consagram a vida e obra de Jesus de Nazaré, seus milagres etestemunhos, todo seu ensinamento; desde seu milagroso nascimento até sua espetacular ressurreição, estes quatro livros nos oferecem uma série de dados históricos para conhecer o surgimento da crença cristã.

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