Como destruir uma relação
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Sobre este e-book
Porém, depressa se confronta com o desmoronar de mais uma ilusão, ao deparar-se de novo com um homem fraco e desprovido de personalidade, sem coragem de se impor perante uma mãe controladora e duas filhas manipuladoras, que rapidamente a arrastam para um lugar secundário naquela relação.
A sogra, dona Florinda, só pensa em livrar o filho de mais um fracasso amoroso, nem que para isso tenha de recorrer aos mais impiedosos meios: feitiçaria, intrigas e falta de escrúpulos, a todos os níveis, são os seus principais trunfos para transformar a vida da rival num inferno na terra.
Ao longo de um penoso processo, do qual parece incapaz de se libertar, Bárbara descobre inesperadamente as bênçãos que se ocultam por entre os escolhos das piores fases da vida: encontra-se a si própria e reconhece o caminho que quer percorrer.
Ao mesmo tempo, observa e acompanha igualmente o percurso de outras mulheres que, apesar de calcorrearem trilhos diferentes do seu, perseguem incessantemente a mesma meta: o encontro com a felicidade…
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Como destruir uma relação - Ana Paula Job
ti…
CAPÍTULO UM
Bárbara, quarenta e dois anos. Sempre fora uma mulher forte e enérgica, sobrevivente de um casamento falhado, que acabara em convulsão.
Casara ainda muito jovem, com um homem fraco e sem personalidade, que manifestou, todavia, a força suficiente e a capacidade inata de lhe destruir os sonhos e de lhe fazer desmoronar as ilusões.
Desse casamento desastroso, resultaram dois filhos, a luz dos olhos de Bárbara, embora, por vezes, com a sua dificuldade em expressar os sentimentos maiores e mais profundos, demonstrasse pouca habilidade para o manifestar.
A nível emocional, seguiram-se anos de travessia no deserto.
Deu por si mesma várias vezes dispersa em relacionamentos (pouco) amorosos.
Deles pouco mais resultou do que a constatação desconcertante e amarga de que o tão aclamado e perseguido amor
parecia nada mais ser do que uma miragem, ou, quem sabe, apenas uma personagem fictícia, criada para, neste palco de angústias e de temores, nos proporcionar a fantasia de felicidade.
Os homens rodeavam-na, atraídos pelo seu magnetismo e sensualidade, mas, quando confrontados com a intenção de Bárbara de querer aprofundar a relação e assumir um compromisso, assustavam-se, ao deparar-se com a forte personalidade e com o carisma desta mulher, e afastavam-se, ainda no limiar do encontro.
Começou a pensar que algo de errado se passava com ela.
Observava as amigas e colegas, na sua maioria acomodadas à vida rotineira com os maridos e os filhos.
Pareciam, se não felizes, pelo menos aparentemente conformadas, no seu dia a dia, nem sequer imaginando que a vida pudesse oferecer algo mais do que o que lhes fora imposto, desde sempre, pelas convenções e pelos modelos de uma sociedade decadente e ultrapassada, e que elas seguiam obedientemente, sem nada questionar.
Antes dos múltiplos reveses que sofrera, ela sempre imaginara que havia um céu coberto de estrelas luminosas por descobrir.
Não só a nível pessoal, mas em todas as vertentes da sua vida…
Sempre sentira que algo secreto, misterioso e fascinante parecia estar à espera para se cumprir, no momento certo, e considerara que a vida, se insistíssemos em acreditar nisso, era uma aventura maravilhosa, e não um deserto de emoções e de vivências.
Porém, e ao contrário de todas as expectativas, nada parecia dar certo, na sua existência. Esta assemelhava-se a uma cadeia, em que cada elo ligava uma experiência negativa a outra, sucessivamente e sem cessar.
Começou a procurar explicações por outras vias…
Estudou diversas religiões e correntes espiritualistas, ansiando decifrar o sentido do falhanço das suas relações e das adversidades que, a todos os níveis, teimavam em ocorrer na sua vida.
Descobriu a lei do Karma, a lei de causa/efeito, e questionou-se se essa seria a razão do fracasso da sua vida amorosa.
Em vidas passadas teria usado mal essa energia e agora, certamente, encontrava-se a pagar por isso.
Passou a fazer terapia com uma psicóloga muito conhecida na praça.
Ela própria era divorciada, já por duas vezes, mas o seu segredo para manter a alegria era, segundo ela própria afirmava nas sessões de terapia, nunca desanimar e continuar a acreditar que, mais cedo ou mais tarde, o príncipe encantado chegaria.
Poderia vir um pouco desalinhado, mal vestido, até, e com poucas posses, somente com os despojos de guerra que sobrassem de outra relação, mas se continuassem a acreditar com muita força, ele chegaria. Era o poder do pensamento positivo, dizia ela.
Bárbara considerou que esta terapeuta era um pouco lírica e entusiasta de mais para o seu gosto; parecia um pouco fora do mundo real, com os pés pouco assentes na terra, e por isso deixou de a consultar.
Encontrou uma, bem mais realista e pragmática, em relação aos relacionamentos.
Era casada, mas via-se que há muito tempo perdera as ilusões e deixara de acreditar nos romantismos das histórias cor-de-rosa, transparecendo, nas suas sessões, duras críticas aos homens que, segundo ela, só queriam lavar o automóvel, ver futebol e beber copos com os amigos, aos fins de semana, deixando as mulheres a sonhar com idas à praia e passeios à beira- mar a dois.
Bárbara achou que esta terapeuta também não lhe servia, e decidiu desistir de fazer terapia.
Resolveu, em vez disso, arranjar um guru, que lhe diria, simplesmente, se valeria ou não investir em determinada relação.
A verdade é que todas estas experiências, mais ou menos sérias, mais ou menos desconcertantes, foram enriquecedoras, ajudando Bárbara a conhecer-se melhor e a familiarizar-se com as suas fraquezas e as suas forças.
Aprendeu, ao longo das suas buscas e do seu processo de descoberta, que o segredo a reter era deixar-se fluir com a vida, permitindo que esta a levasse aonde tinha de ir.
Descobriu, ainda, que, de tudo o que acontecia de aparentemente mau, se poderia extrair um ensinamento que lhe permitiria evoluir para, no futuro, encontrar algo melhor.
Com estas aprendizagens, tornou-se uma pessoa mais serena e confiante e mais recetiva aos planos, não que ela fazia para a vida, mas que a vida guardava para si.
Pelo menos ela assim queria acreditar, e essa convicção dava-lhe forças para prosseguir com ânimo e espírito positivo.
Pelo menos assim foi, até encontrar um novo amor
…
CAPÍTULO DOIS
Conheceu-o numa tarde cinzenta de novembro e foi-lhe apresentado por duas amigas.
Era um conhecido dos seus maridos e, cansadas de verem a companheira sem ter alguém que lhe carregasse as compras, e quem sabe o peso dos seus problemas, apressaram-se a informá--la das boas qualidades que o rapaz reunia.
Segundo as suas mais que bem-intencionadas palavras, tratava-se de um homem da sua faixa etária, com muito bons sentimentos, e que, desgraçadamente, há alguns anos, sofrera uma terrível deceção.
A esposa traíra-o com outro homem, durante o casamento, e, tendo alguns amigos descoberto esse facto, logo o convenceram de que o divórcio era a única solução.
Ao contarem a Bárbara o sucedido, imediatamente uma das suas amigas o idealizou na sua mente, dizendo que deveria ser um indivíduo carente de afeto e de atenção, e desejoso de encontrar uma mulher que lhe fizesse esquecer e superar o desgosto sofrido.
Foi envolto nesta aura de sofrimento e de dor, de traição e de desilusão que ele surgiu na vida de Bárbara…
Conheceu-o, enfim, na tal tarde cinzenta de outono.
Achou-o bem- parecido e empreenderam facilmente uma conversa agradável sobre assuntos triviais.
Era simpático e descontraído, e Bárbara pensou que não parecia magoado, nem traumatizado ou desiludido com coisa nenhuma.
Não lhe despertou nenhuma empatia especial e imediata, nem, quando olhou para ele, sentiu que já o conhecia de algum lugar.
Suspirou quando pensou nisso, pois lembrou-se de que esses eram alguns dos sinais que lhe tinham dito que anunciavam o aparecimento da alma gémea.
Pelo menos era o que ouvia nas palestras que frequentara sobre a questão das almas gémeas.
Resignou-se, no entanto. Já só queria encontrar um homem decente, que não tivesse medo de assumir compromissos e que a fizesse sentir-se bem. Querer encontrar a alma gémea já era pedir de mais!
Depois daquele dia, e de conhecer Mário (era esse o nome dele), decidiu marcar uma consulta com o seu guru, a fim de saber se valeria ou não a pena investir numa possível relação.
O guru, para sua grande alegria, disse-lhe que sim, que podia ir em frente, pois aquele homem seria uma espécie de anjinho na vida dela.
Ela decidiu, assim, conhecê-lo melhor e sucederam-se os encontros a dois, nos cafés e nos centros comerciais.
De vez em quando, durante as conversas, lembrava-se de que ele não fazia o seu coração querer sair do peito, nem sentia nenhum desejo arrebatador de lhe cair nos braços… Como quando se encontrava a alma gémea!
Mas logo se lembrou de que não tinha vinte anos e de que se encontrava no planeta Terra, em pleno século vinte e um, e de que provavelmente não existiam almas gémeas e nem o amor era como nos queriam fazer acreditar...
E continuou a pensar no mundo real em que vivia, nas pessoas que conhecia e no tipo de relacionamentos que tinham, até que se esqueceu completamente do que idealizara.
Sim, que até alguns dos casamentos aparentemente perfeitos das suas amigas afinal estavam rotos e cheios de buracos…
Então não é que o marido da Joana, sempre tão prestável e pacífico, lhe aparecera em casa de malas feitas?
Limitou-se a comunicar-lhe, com a sua habitual calma e serenidade, que ia viver com uma instrutora do ginásio que frequentava.
E a Joana que pensava que ele detestava deixá-la para ir treinar e que só fazia o frete para recuperar de uma lesão num joelho!
Já para não falar do que descobrira da Rita, que lhe confidenciara que o marido lhe controlava todos os passos e queria ter conhecimento de tudo o que ela fazia e de todos os lugares aonde ia.