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Um Raio de Esperança
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Um Raio de Esperança
E-book345 páginas4 horas

Um Raio de Esperança

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Sobre este e-book

Quão fortemente você precisa sacudir sua árvore genealógica para encontrar a verdade sobre o passado?

Rae Kerrigan, de 15 anos, nunca conheceu a história da família. Sua mãe e seu pai morreram quando era jovem, e é somente quando aceita uma bolsa de estudos para o prestigiado Colégio Interno Guilder, na Inglaterra, que um misterioso segredo familiar é revelado.

Os pecados do pai serão os pecados da filha?

Enquanto Rae tem dificuldades com seus novos amigos, uma nova escola e um amor arrebatado e proibido, também deve enfrentar o desafio final: receber uma tatuagem em seu décimo-sexto aniversário, com poderes específicos que podem amarrá-la a uma escuridão indescritível. Cabe a Rae desfazer as trevas do passado de sua família e obter um raio de esperança para seu futuro.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento5 de set. de 2017
ISBN9781507189160
Um Raio de Esperança
Autor

W.J. May

About W.J. May Welcome to USA TODAY BESTSELLING author W.J. May's Page! SIGN UP for W.J. May's Newsletter to find out about new releases, updates, cover reveals and even freebies! http://eepurl.com/97aYf   Website: http://www.wjmaybooks.com Facebook:  http://www.facebook.com/pages/Author-WJ-May-FAN-PAGE/141170442608149?ref=hl *Please feel free to connect with me and share your comments. I love connecting with my readers.* W.J. May grew up in the fruit belt of Ontario. Crazy-happy childhood, she always has had a vivid imagination and loads of energy. After her father passed away in 2008, from a six-year battle with cancer (which she still believes he won the fight against), she began to write again. A passion she'd loved for years, but realized life was too short to keep putting it off. She is a writer of Young Adult, Fantasy Fiction and where ever else her little muses take her.

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    Um Raio de Esperança - W.J. May

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    Este é um livro de ficção. Nomes, personagens, lugares, marcas, meios de comunicação e acontecimentos são produto da imaginação do autor ou usados apenas ficticiamente. O autor agradece as categorias e detentores das marcas registradas referenciadas nesta obra de ficção, que foram usadas sem permissão. A publicação/uso dessas marcas registradas não foi autorizada, associada ou patrocinada pelos titulares das marcas.

    Dedicatórias

    Cada livro que um autor escreve tem uma trajetória por detrás da história. Minha vida tomou um rumo diferente quando perdi meu pai para o câncer, em 2008. Este livro é dedicado a ele, pois mesmo na morte ele me ensinou como uma fé inabalável pode guiar-nos, e o quanto podemos servir de exemplo para os outros (mesmo quando ninguém está nos observando). Este livro, assim como todas as minhas obras, é resultado dessa coragem em correr atrás do impossível e seguir os sonhos. Obrigada, papai, ainda sinto a sua falta todos os dias.

    Tenho tantas pessoas para agradecer, por me encorajarem e me colocarem na direção certa para mostrar a todos o potencial de Rae:

    Meu marido, que me encoraja e me faz sentir a pessoa mais importante do mundo (eu te amo), e minhas três adoráveis crianças (que, mesmo estando fartos de verem mamãe sempre no computador, ainda a amam). Minha extensa família, por seu entusiasmo — minha mãe, irmãos e irmãs (incluindo cunhados e cunhadas), e minhas sobrinhas, leitoras versão beta, que leram e até escreveram um extenso relatório sobre Rae, antes de sua publicação! Meu agente incrível e supersincero, Dawn, que viu meu potencial quando nem eu mesma tinha a menor pista de que ele existia. Luci, minha editora, que entendeu Rae, e sabia exatamente como expressar seus pensamentos.

    Minha ótima equipe de críticos: Tiffany, Chrissy, Holly, Trish, Marti, Jayde, June, Marva, Wendy, e mais alguém que eu possa inadvertidamente ter esquecido de mencionar — vocês têm segurança e eu os amo por isso.

    Observação extra: agradecimentos especiais a Ray — por me deixar pegar emprestado seu nome.

    ÍNDICE

    Capítulo 1 – Colégio Interno Guilder

    Capítulo 2 – Provérbio da verdade

    Capítulo 3 - Diretor Lanford

    Capítulo 4 – Respostas indesejadas

    Capítulo 5 - Amigos?

    Capítulo 6 – Lições do passado

    Capítulo 7 - Tatu

    Capítulo 8 - Reitor Carter

    Capítulo 9 - Competição

    Capítulo 10 – Aula mágica

    Capítulo 11 - Cheeseburger americano em Londres

    Capítulo 12 – O baile

    Capítulo 13 - Correspondência

    Capítulo 14 - Dom

    Capítulo 15 – 13 e 14 de novembro

    Capítulo 16 – 15 de novembro

    Capítulo 17 – F-O-S

    Capítulo 18 – Jantar dos ex-alunos

    Capítulo 19 – Conselho amigo

    Capítulo 20 – Demônios pessoais

    Capítulo 21 - Enganada

    Capítulo 22 - Destino

    Capítulo 23 – Seu destino

    Capítulo 24 – Por que eu?

    Capítulo 25 – Desejos ocultos

    Capítulo 26 – A carta

    Capítulo 1

    Colégio Interno Guilder

    — Você não pode reverter o passado. Os pecados do pai são os pecados do filho ou, neste caso, da filha.

    As sinistras palavras do tio Argyle ecoaram na cabeça de Rae durante muito tempo, depois que ele a deixou no aeroporto.

    — Um provérbio verdadeiro — assim ele comentou a respeito. Quem falaria assim, nos dias de hoje? Algumas despedidas. Apertando o rabo-de-cavalo e tentando inutilmente esconder alguns cachos escuros atrás das orelhas, Rae olhou para o relógio e depois para a paisagem arborizada, através da janela do ônibus. Parecia estranho ver o sol. A chuva era tudo aquilo que se lembrava, quando morou na Grã-Bretanha há nove anos.

    Tentando ficar confortável, Rae enfiou o pé no assento e descansou a cabeça sobre o joelho enquanto olhava para a paisagem que brilhava. Um sinal fora da janela mostrava as milhas que faltavam para que seu ônibus alcançasse Guilder. Restavam ainda mais vinte e cinco minutos. Colocou seus fones de ouvido, soprou a franja na sua testa e olhou para fora da janela, para os campos de fazenda que passavam rapidamente, tentando deixar a música de seu iPod distraí-la.

    Não deu certo. Bem no momento em sentia aliviar a tensão em seus ombros e começava a se envolver com a música, algo chamou sua atenção. Uma fumaça negra flutuava perto do topo de uma colina verdejante. Rae olhou fixamente, seu coração palpitou quando uma velha lembrança começou a tomar forma. Ela sabia o que significava aquela fumaça. Já a tinha visto antes, há muito tempo.

    A casa de alguém estava queimando.

    Droga, droga, droga, não, eu não quero ir lá. Seu coração disparou e sentiu o estômago revirar, fazendo-a sentir náuseas.

    Soltando o joelho, agarrou o assento em sua frente, enterrando seu rosto nas costas das mãos e respirando fundo, como os terapeutas a haviam ensinado fazer. Passara anos fazendo terapia para tratar o que fora chamado de ataques de pânico. Não importava como as outras pessoas o chamassem. Para ela, era simplesmente o inferno; era como ser sugada de volta no tempo contra sua vontade, para um lugar onde nunca quisera voltar. Então, começou a respirar do jeito que lhe ensinaram, inspirar devagar, até encher todo o pulmão, então soltar a respiração lentamente, recitando o tempo todo, não é real, não é real, em sua mente.

    Isso ajudou a acalmar seu coração acelerado, e a fez sentir-se mais no controle, mas não apagou as lembranças. Nada na Terra poderia fazer isso. Retornar à Inglaterra pela primeira vez e ver a estranha fumaça fizeram Rae sentir-se com seis anos de idade novamente.

    Ela estava na sala antes de ir para a cama, brincando de colorir com marcadores novos, quando sua mãe lhe disse para levá-los para a casa da árvore que seu pai tinha construído para ela, e ali ficasse brincando até que a chamasse. Essa chamada nunca veio. As chamas lançavam sombras horrendas ao redor do interior da casa da árvore. A fumaça preta e fedorenta entrou e assustou a pequena criança de seis anos que ainda era, de uma maneira tal que jamais os monstros debaixo de sua cama tinham conseguido.

    Rae estremeceu e esticou-se, forçando-se a voltar ao presente. Poderia esta escola estar ainda mais longe da cidade?

    Olhando ao seu redor, no ônibus agora vago, perguntou-se se o motorista a tinha intencionalmente deixado por último. Ela viu as últimas e poucas pessoas saltarem em uma escola cerca de quinze minutos antes, qualquer coisa Roe ou algo parecido. Todas pareciam iguais, meninas bonitas de cabelo loiro, nenhuma delas era magra, pálida e alta como ela. Não eram amigáveis. Grande surpresa... Já estava acostumada. Na melhor das hipóteses, a tendência é que passasse despercebida. Então, lidou com elas da mesma maneira com que sempre lidava com aqueles que instantaneamente não gostavam dela, por nenhuma razão que pudesse imaginar. Rae evitou fazer contato visual e tentou parecer imersa no folheto do Colégio Interno Guilder. Não que ela não quisesse fazer amigos. Nunca teve realmente um. A maioria das crianças de sua idade não gostava dela ou não a notavam.

    Rae ficou aborrecida com o fato de Tio Argyle a ter pressionado tanto para que fosse quando Guilder enviou a carta. Tinha sido ele o responsável pela mudança da Escócia para Nova York, quando fora viver com eles, levando-a para longe da horrível tragédia da morte de seus pais e, agora, de repente, vibrava com a chance de sua volta? Não fazia nenhum sentido. Sentia-se um tanto retirada à força de seu colégio atual. Lá, Rae não tinha amigos íntimos, mas também não tinha inimigos, o que já era uma vantagem. As garotas de lá pareciam tão arrogantes como aquelas que saíram do ônibus há pouco, mas simplesmente a ignoravam. Rae sempre dizia a si mesma que, de qualquer maneira, não importava mesmo. Essas panelinhas eram tão antiquadas, em sua opinião.

    Outra coisa estranha, para a qual não conseguia encontrar uma resposta, era por que afinal Guilder iria escolhê-la? Como sabiam de sua existência? Seu tio vangloriava-se de como era importante ela ser selecionada, mas ele nunca explicou, em primeiro lugar, como o colégio chegou a saber dela. Rae tinha as notas necessárias, a parte intelectual sempre foi fácil para ela, mas não fazia nenhuma atividade extracurricular, nada que a fizesse se destacar. Então, como essa escola incrível, da qual nunca ouvira falar antes, decidira aceitá-la? Não fazia nenhum sentido. Bem que tentou, algumas vezes antes de viajar, encurralar seu tio e fazê-lo explicar parte dessa história ou mesmo tudo, mas ele sempre parecia estar ocupado.

    Apesar de não ser exatamente um comportamento incomum da parte dele, isso lhe dava um certo pressentimento, o que era algo que trazia consigo desde que recebeu a carta. Não conseguia entender o porquê, mas tinha um forte sentimento de que algo grande estava por vir. Se era bom ou ruim, não sabia.

    Um movimento, percebido pelo canto do olho, chamou sua atenção, afastando sua mente desse interminável círculo de perguntas. Virou-se então para olhar pela janela e ficou aturdida ao ver o maior pássaro que jamais vira em toda a sua vida. Seria uma águia? A coisa voou paralelamente ao ônibus, bem ao seu lado. Pressionando seu rosto contra o vidro frio, concentrou intensamente sua atenção sobre a visão curiosa. As grandes asas da ave bateram e arranharam a janela, fazendo com que Rae se sobressaltasse, e depois se desviaram. A menina observou seu gracioso voo, enquanto o pássaro subia vertiginosamente, para depois se lançar do alto e se acomodar no galho de uma grande árvore logo adiante. Quando o ônibus passou por ela, o pássaro pareceu olhar em seus olhos, hipnotizando-a. Rae sempre se perguntara como seria se fosse um pássaro, se pudesse voar tão livremente, ir a qualquer lugar onde o vento a levasse. Continuou a observar a ave até não poder mais vê-la; então, caiu de volta em seu assento, enquanto o ônibus corria pela longa estrada.

    Colégio Interno Guilder. Rae mordiscou um tanto forte demais a cutícula da unha do polegar e arrancou um pouco de pele, o que a fez estremecer. Não conseguia evitar, sempre fazia isso quando estava nervosa. Seria a única garota americana. Bem, não exatamente americana. Possuía um passaporte britânico, mas havia se mudado para Nova York, depois que seus pais morreram no fogo, deixando-a órfã. Então... nem de fato americana, nem britânica; um pouco das duas nacionalidades, mas sem pertencer a nenhuma das duas.

    O ônibus cruzou um marco de pedra envelhecido. Colégio Interno Guilder, fundado em 1520. Uma das melhores instituições de ensino da Grã-Bretanha. Rae leu essas palavras e se perguntou como uma escola poderia ser tão antiga e não ser encontrada em histórias ou on-line. Não havia achado nada sobre ela quando tentou pesquisá-la. O ônibus passou sob um arco antigo, que sustentava uma passagem coberta, marcada por janelas de chumbo, ligadas a duas torres redondas, de tijolo vermelho. O fluxo de gente que ia e vinha das portas na parte de baixo a fez pensar que se tratava de algum tipo de escritório. Ela esticou o pescoço para ter uma visão melhor. Os edifícios eram antigos, mas bem conservados e ostentavam a aura quase mágica de sua época Tudor original. Era quase de se esperar ver homens com calças justas e braguilhas andando pelos caminhos, conduzindo seus cavalos, com damas de espartilho, empoleiradas delicadamente sobre eles. A imagem mental a divertiu e Rae distraidamente sorriu. Seus olhos foram atraídos para as ornamentadas chaminés de tijolos, ao longo dos telhados dos edifícios. Vislumbrou os outros prédios. Este lugar parece enorme... espero não me perder aqui.

    O motorista parou em frente de um edifício com uma placa em relevo que dizia Aumbry House. O prédio antigo estava tomado pela hera, crescendo por toda parte. Parecia até ser mais velho do que Henry VIII, deixando Rae com horríveis visões de penicos, dançando em sua cabeça. Tomara que tenha encanamento interior...

    A porta do ônibus se abriu com um chiado. Rae recolheu suas duas pequenas malas e sua sacola de livros, seguiu pelo corredor e finalmente, abençoadamente, estava fora do ônibus.

    — Bem-vinda ao Guilder, Srta. Kerrigan. — Embaraçada, Rae virou-se para encarar a dona da voz, encontrando uma mulher alta e magra, parada nos degraus de concreto do prédio, com os olhos se virando de um lado e para o outro, parando em Rae por pouco mais de um alguns segundos.

    Rae olhou-a fixamente, imaginando de onde a senhora tinha vindo. Não estava lá há apenas um momento. Rae reparou na longa saia de lã da mulher. Isso aqui pode ser a Inglaterra, mas hoje está sufocante. Como essa mulher não está derretendo neste calor?

    — Sou Madame Elpis, a preceptora da sua casa. — A senhora desceu os grandes degraus de concreto, parando no último degrau e, com um movimento fluido, enfiou a prancheta sob uma axila e estendeu a mão.

    As feições da mulher faziam Rae lembrar as de um pássaro – seus cabelos pretos, olhos escuros e, principalmente, o nariz protuberante. Rae assentiu e deixou cair uma mala, para poder devolver-lhe o aperto de mão, mas seus dedos foram esmagados pelo aperto da garra da mulher. Ow, ow, ow! Então, você é extraordinariamente forte, já entendi.

    — Venha comigo. Não há tempo para bobagens. — Ela se virou e subiu os degraus, sem verificar se Rae seguia ou precisava de ajuda com as malas.

    Bufando, Rae agarrou suas coisas e começou a subir para seguir a mulher, ouvindo o motorista de ônibus rir enquanto fechava a porta atrás dela. Estarei passando os próximos dois anos aqui? Quanta alegria; que louca felicidade.

    Ruídos de algo martelando e perfurando, vindos de cima, saudaram Rae enquanto a menina passava pela entrada. O clamor ecoava por todo o edifício.

    — Os que têm quinze e dezesseis anos ficam no segundo andar — gritou Madame Elpis, para ser ouvida mesmo com todo aquele barulho. — Seu quarto é a última porta à esquerda. — Ela verificou o gráfico que trazia sob seu braço. — Molly Skye é sua colega de quarto. Suponho que possa encontrar o caminho. — A última parte foi mais uma afirmação do que uma pergunta.

    — Obrigada — respondeu Rae, um tanto incerta, sem saber o que mais dizer.

    Madame Elpis apontou para uma porta à sua esquerda.

    — A sala de estudos fica ali. As portas de vidro levam à sala de jogos. A porta à sua direita leva até minhas dependências. Você não pode entrar lá. — A mulher conduziu Rae pela escadaria sinuosa, feita de mármore preto e branco. — Os alunos mais jovens estão no segundo andar, os veteranos no terceiro e quarto. — Ela olhou para um velho relógio de bolso, pendurado em uma corrente ao redor de seu pescoço e, como se ainda fosse possível, endireitou-se mais. — O jantar é às cinco horas, em ponto. — Ela se virou, fazendo com que sua saia rodasse, e entrou em seu quarto, batendo a porta com um pontapé de sua bota.

    Rae soltou a respiração que não percebera estar segurando. Os golpes de martelos e o zunir de serras elétricas reverberavam pelo corredor. Ela estava tão nervosa, que mesmo que o martelar viesse de seu coração, e não teria sido capaz de notar a diferença.

    Rae levou um tempo subindo a escada de mármore e, uma vez no patamar de cima, dirigiu-se para a esquerda até o final do corredor. Mordendo o interior de sua bochecha, deu uma leve batida na porta que se encontrava ligeiramente aberta e olhou para dentro. Vazio. Cautelosamente, empurrou a porta e examinou seu novo quarto.

    Um espesso e exuberante tapete marrom cobria o chão. Duas camas, com edredons e travesseiros de camurça combinando entre si, estavam encostadas em paredes opostas. Uma delas já se encontrava repleta de malas meio vazias. Armários modernos com espaço amplo combinavam perfeitamente com as mesas antigas colocadas na parede, ao lado de cada janela de sacada. Rae inalou profundamente, absorvendo um odor de tinta fresca misturado ao cheiro singular de antiguidades.

    Finalmente! Tinha sido um longo e terrível dia de viagem. Grande parte da tensão começou a diminuir em seus ombros e ela abriu um sorriso pela primeira vez em horas.

    Rae deixou cair as malas no lado desocupado do quarto. Sua companheira de quarto, Molly, deve ter saído antes de desfazer totalmente as malas. As portas do seu armário estavam escancaradas, com cabides já cheios de roupas e mais sapatos do que Rae possuíra em toda sua vida. Ela nunca fora muito animada para se arrumar, mas reconhecia etiquetas de grife quando as via e, na verdade, reconheceu uma espantosa quantidade delas naquele armário. Com sorte, sua companheira de quarto não seria superficial. Rae ficou ali, imaginando como lidaria com isso, se tivesse que dividir o quarto com a Próxima Top Model do Guilder. A visão de sua companheira de quarto, pisando forte para cima e para baixo, de salto alto, praticando seu desfile, acabou por a distrair. De tal forma que não ouviu os passos que vinham pelo corredor até a porta.

    — O que está fazendo no meu quarto? — Rae pulou e largou sua bolsa. Uma garota elegantemente vestida estava na parada na porta de entrada. Possuía cabelos de um vermelho escuro, lembrando o tom de mogno, que as mulheres pagariam quantias insanas para tentar copiar. Oh, ótimo... bem, aqui vamos nós.

    — Molly? — Rae engoliu em seco. — Sou sua nova companheira de quarto.

    Molly olhou para Rae de cima a baixo.

    — Você é Rae Kerrigan? Imaginei alguém totalmente diferente. Não é nada assustadora! — Ela riu de sua brincadeirinha particular. Assustadora? Eu? Sobre o que ela está falando?

    — Meu nome é Molly Skye. Sou de Cardiff, no País de Gales. — Ela empurrou uma de suas malas para o chão e esparramou-se no pequeno espaço aberto na cama.

    Rae observou, confusa. Por que alguém pensaria nela como assustadora? Porque morava em Nova York? Teve uma terrível premonição de vir a ser a estranha dali, e as aulas ainda nem tinham começado.

    — Você não tem dezesseis anos, hein? Sem tatuagens? — Molly desviou o olhar para a cintura de Rae, como se esperasse que esta lhe mostrasse algo.

    Tatuagem? Rae apertou os olhos, tentando perceber melhor o sotaque de Molly. A maneira como ela falava, algumas das palavras eram difíceis de entender. Por que ela perguntaria se eu tenho uma tatuagem?

    — Faço aniversário daqui a três dias. Vai ser tão incrível! — Molly se recostou, apoiando-se nos cotovelos. — Quando será o seu?

    — Meu aniversário? Oh... somente em novembro. — Direta, em se tratando de informações pessoais. Ok, acho que já sei como será minha companheira de quarto.

    — Novembro? Tem uma longa espera pela frente. —Molly fez uma careta e balançou a cabeça. — Coitada de você. Será a última, certamente. — Ela pulou da cama. Rae reparou no estranho comentário, mas a boca de Molly falava cada vez mais rápido, então decidiu guardá-lo para exame em um momento posterior.

    — O que achou do nosso quarto? Muito legal, hein? Tirando a construção nos andares acima de nós. — Molly disparou um olhar irritado em direção ao teto. — Acabei de falar com um dos trabalhadores. Ele me disse que terminam às quatro. Começam novamente às oito da manhã! Pode acreditar nisso? Quem se levanta nesse horário, afinal?

    Uau. Molly pode falar sem precisar parar para respirar. Rae concordou e tentou acompanhá-la. Observou Molly apoiar-se ora na planta dos pés, ora em calcanhares, para frente e para trás, continuamente. Era uma atitude tipicamente nervosa, que Rae atribuía ao fato de conhecer novas pessoas. Todo mundo tem seus problemas, mas ainda assim é surpreendente, considerando quão rápido ela está falando.

    — Você pode acreditar que fomos convidadas para Guilder? Somos duas de dezesseis garotas, ao todo, em um território repleto de rapazes ricos, bonitos e supostamente inatingíveis. — Quando Rae não respondeu, Molly olhou para ela. — Você sabe por que está aqui, não sabe?

    Rae encolheu os ombros. A insônia estar devorando suas células cerebrais.

    — Para ser honesta, realmente não sei o que você quer dizer. Não tenho estado na Inglaterra desde os meus seis anos e não sei nada sobre Guilder. — Apesar de inúmeras buscas do Google e de ter o meu nariz enterrado na brochura do colégio, por uma hora, na viagem até aqui.

    — Você não é retardada ou algo assim, é? — Rae sacudiu a cabeça lentamente, imaginando se a sua nova e faladeira coleguinha de quarto a tinha insultado. Molly olhou, coçando a cabeça. — Você realmente não sabe, não é? — Ela olhou para cima e para a esquerda, obviamente lembrando algo importante. Depois se endireitou, como se citasse de memória um pouco da brochura — O Guilder é uma instituição educacional altamente procurada, mas é principalmente uma escola para os dotados. As pessoas que conseguem ir para o Guilder sabem o porquê. O resto do mundo não faz ideia!

    Rae enroscou os dedos com força, as unhas cravadas em suas palmas. Sentia-se estúpida e também irritada consigo mesma por se sentir estúpida. Não era algo com que desejava lidar, especialmente depois de um longo dia de viagem.

    — O que nos torna... dotados?

    Os olhos de Molly ficaram enormes. Ela andou pelo quarto.

    — Oh, meu... Nunca conseguirei acreditar nisso. É mesmo sério que você não sabe NADA?!

    Rae sentiu sua pressão arterial subir. Sabia que estava cansada, confusa e nervosa. Nada disso ajudava seu humor, mas estava determinada a não perdê-lo em relação ao que era apenas uma total estranha. Apertou bem os lábios para conter qualquer comentário brusco que pudesse vir a escapar. Não poderia essa cabeça-de-vento apenas responder a uma pergunta simples com uma resposta direta?

    Molly rodeou Rae, dramaticamente empinou seus ombros, e assumiu um rosto sério.

    — Quando completamos dezesseis anos, recebemos nossa marca de tinta.

    — O quê?

    — Uma tatuagem. — Molly inclinou-se para a frente e sussurrou:

    — Nos dá poderes especiais.

    Pausa ... dizer o quê?

    — P-Poderes? — Rae tentou não rir. Havia seu tio a encaminhado para uma instituição de loucos? — Você está brincando, não? — Tio Argyle dissera a ela que a experiência mudaria sua vida, mas não dissera como. Rae imaginou que ele se referia a seu crescimento — algo a ver com maturidade. E, claro, havia aquele provérbio bobo. Mas talvez ele a tivesse encaminhado erroneamente para um grande hospício.

    Molly acenou com a mão.

    — Estou falando sério. O dom é passado de geração em geração. — Ela soltou um suspiro exagerado. — Qualquer cara por aqui, que tenha dezesseis anos, possui uma tatuagem no interior de seu antebraço.

    Arrastando Rae para a janela, apontou para o edifício em frente delas.

    — Esse é o dormitório dos meninos. Vamos sair e caminhar. Vou parar um deles para lhe mostrar o que quero dizer.

    Seus olhos baixaram em direção às roupas de Rae, e seus lábios se apertaram.

    — Você gostaria de trocar de roupa, rapidamente, antes de sairmos?

    Rae riu, apesar da expressão séria de sua companheira de quarto. Molly, definitivamente, era louca, mas tinha razão. Rae vestira-se confortavelmente para viajar e, mesmo não sendo uma expert em moda, até mesmo ela recusava-se a encontrar seus novos colegas de classe tal como uma bruxa. Bem que poderia mudar de roupa.

    — Sim, só um momento.

    — Já estou descendo para tentar encontrar alguns rapazes legais. Encontre-me lá fora assim que estiver pronta. — Molly saiu, tagarelando sem parar, mesmo sem ninguém no corredor para ouvi-la.

    Rae abriu a mala mais próxima e agarrou as primeiras calças jeans e camiseta que encontrou. Hesitou e vasculhou um pouco mais em sua mala. Quanto aos jeans, tudo bem, eram novos, mas uma camiseta branca parecia muito simples. Encontrou uma regata Converse rosa, com uma estrela inscrita com brilhos. Soltou os cabelos, desejando que seus cachos negros indisciplinados fossem lisos como o cabelo perfeito de Molly. Nunca se incomodara com maquiagem, porque possuía longos cílios onde o rímel parecia apenas grudar e quase todo o resto a fazia parecer uma prostituta. Mantenha-se simples, era o que sua tia sempre lhe recomendara. Contentou-se então com o gloss e desodorante, e então pegou um par de sandálias antes de jogar sua bolsa debaixo do travesseiro. Agora, hora de descobrir sobre o que Molly estava balbuciando, ou pelo menos, encontrar alguns caras legais. Ela poderia ser invisível a maior parte do tempo, mas um colírio para os olhos era sempre algo bom, não importa de que lado do Atlântico fosse visto.

    Uma vez do lado

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