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2363: O futuro como você nunca imaginou
2363: O futuro como você nunca imaginou
2363: O futuro como você nunca imaginou
E-book440 páginas6 horas

2363: O futuro como você nunca imaginou

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Sobre este e-book

Os funcionários da embaixada americana em Paris são barbaramente assassinados. A CIA, que em 2363 é um órgão independente do poder público, afirma ter provas de que a operação foi arquitetada por pessoas ligadas ao governo francês. O povo americano pede uma ação enérgica do governo, mas este não pode confiar cegamente na CIA.
Então, para responder a pergunta "Tem a CIA, ou qualquer organização governamental, envolvimento no atentado à embaixada americana em Paris?" é contratada, sem que o presidente saiba, Gloria Sanson, uma prostituta que tem a rara habilidade de ler mentes. Sua missão, vasculhar a mente do diretor da CIA e sobreviver para contar o que viu. Há vinte anos no ramo, confiando na sua experiência e sorte, ela aceita o trabalho sem saber de um pequeno detalhe: é uma missão suicida.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de set. de 2013
ISBN9781301507887
2363: O futuro como você nunca imaginou
Autor

Y.N. Daniel

Em 2016 completo 10 anos escrevendo livros. 10 anos já é um tempo respeitável. Aqui é onde eu deveria escrever sobre mim. Mas ao invés disso vou lhe dizer uma coisa. Eu não sei o que as pessoas querem ler. Mas sei exatamente o que quero escrever. :D

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    Muito boa leitura.
    É um livro que recomendo para um bom entretenimento.

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2363 - Y.N. Daniel

2363

O futuro como você nunca imaginou

Y. N. D a n i e l

EDIÇÃO SMASHWORDS

* * * * *

Publicado por:

Y. N. Daniel no Smashwords

Copyright © 2013 by Y. N. Daniel

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO

Todos os direitos desta edição são reservados ao autor. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como traduzida, sem a permissão, por escrito do autor. Os infratores serão punidos pela Lei nº 9.610/98

* * * * *

Smashwords Edition License Notes

This ebook is licensed for your personal enjoyment only. This ebook may not be re–sold or given away to other people. If you would like to share this book with another person, please purchase an additional copy for each person you share it with. If you're reading this book and did not purchase it, or it was not purchased for your use only, then you should return to Smashwords.com and purchase your own copy. Thank you for respecting the author's work.

Notas sobre a licença desta edição Smashwords.

Este ebook está licenciado para seu divertimento pessoal. Este ebook não pode ser revendido ou cedido à outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este livro com outra pessoa, por favor adquira uma cópia adicional para cada pessoa com quem quer compartilhar este ebook. Se você estiver lendo este livro sem tê-lo comprado, ou não foi comprado para seu uso, então, por favor, você deve voltar ao Smashwords.com e comprar sua própria cópia. Muito obrigado por respeitar o árduo trabalho do autor.

* * * * *

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32

* * * Continua em De Vermelho e de Cinza * * *

Acontecimentos anteriores a história de 2363

Notas do autor

* * * * *

É impossível estar só.

* * * * *

Dedicado a todas as pessoas que ainda têm coragem de sonhar.

* * * * *

2363

* * * * *

CAPÍTULO 1

Foi em um típico dia de inverno, em que os ventos frios testavam a resistência das árvores, que Carl Emmet Velazquez acordou certo de que havia recebido uma mensagem de Deus todo poderoso. Mas ao contrário de uma pessoa comum, ele não saiu a correr e a gritar a notícia aos quatro ventos. E por isso nem seus três filhos, nem seus amigos e nem seus assessores desconfiaram de nada. Mas o fato é que Carl não era um homem comum. Ele era nada mais nada menos que o presidente dos Estados Unidos da América.

Nesse dia, ele tomou banho, escovou os dentes, no espelho do banheiro procurou novos sinais de envelhecimento em seu próprio rosto, procurou se mais cabelos brancos haviam conquistado novos territórios, arrumou a própria cama, vestiu uma camisa branca por baixo de um terno preto, escolheu uma gravata de finas listras diagonais brancas e azuis, sentou-se na cama para calçar meias pretas, escolheu um par de sapatos pretos, tomou café da manhã com seus filhos, respondeu perguntas de seus assessores, respondeu alguns e–mails pelo seu zscinolex, recebeu no salão oval uma menina de treze anos, do Missouri, vencedora de um concurso mundial de redação criado pela ONU, passeou nos jardins da Casa Branca enquanto falava com sua mãe pelo telefone, e teve que interromper a ligação para atender a do presidente da Associação Nacional de Rifles. Quando os dois presidentes se despediram, já passava das onze horas da manhã.

Ligações, encontros, despachos burocráticos, almoço, mais encontros, mais despachos, mais encontros e por fim, o momento mais esperado do dia.

"Membros do congresso, tenho o grande privilégio e a distinta honra de apresentar a vocês o presidente dos Estados Unidos da América. "

Todos no congresso se levantam e batem palmas. Não só porque é a coisa certa a se fazer, mas talvez também porque Carl Velazquez era um dos mais populares presidentes da história.

E de onde vinha toda essa popularidade? Inicialmente, vinha da oratória impecável e da inegável habilidade de andar descalço sobre brasas republicanas e democratas. Outra razão era a competência para controlar a doença crônica e autoimune do déficit público americano e, ao mesmo tempo, ter sucesso em manter baixas as taxas de desemprego. Mas outros presidentes do passado também haviam tido uma grande oratória, e também haviam conseguido controlar o déficit e a taxa de desemprego. Então, o que explicaria os índices estratosféricos de popularidade? Bem, um presidente homem, jovem, belo, viúvo, solteiro e com filhos, suscitava, não só nos Estados Unidos, mas ao redor do mundo, a simpatia de todas as faixas etárias do público feminino. Some-se a isto um absoluto sucesso no público gay masculino e o resultado eram índices diários de popularidade batendo na lua.

As palmas cessam e o discurso começa. Economia, política externa, os investimentos a serem feitos na educação de base, o sempre problemático sistema de saúde, a pena capital aplicada a todos os traficantes de drogas, em todos os estados, sem julgamento prévio, e outros temas sensíveis à nação são abordados. Mas então, faltando cinco minutos para o final do discurso, o presidente faz uma pausa. Depois, respirando profundamente, pressionando o tampo do púlpito a sua frente, espalmando bem os dedos das mãos, ele continua.

"Para finalizar, quero dizer a vocês, cidadãos desta grande nação, que existe um e somente um salvador, e o nome dele é Jesus Cristo. Obrigado a todos, Deus abençoe a vocês e Deus abençoe os Estados Unidos da América. "

Era o final do State of the Union, o discurso anual do presidente.

No dia seguinte, no Bom dia América, ao ser interrogado pela repórter Barbara Signorella sobre o fato de ter mencionado o nome de Jesus em um país com apenas quarenta por cento de cristãos, ele responde sem vacilar.

– Barbara, eu recebi uma mensagem de Deus, e foi Ele que me disse para dizer aquelas palavras.

– E como o senhor acha que os outros sessenta por cento dos americanos vão reagir a sua declaração?

Ele faz uma pausa antes de responder.

– Você é cristã?

– Sim, senhor presidente. Sou católica.

– Se Deus te pedisse para dar um recado ao mundo? Você não atenderia a esse pedido?

– É provável que sim. Mas as consequências são diferentes quando se é o presidente dos Estados Unidos, o senhor não acha?

Um dia depois da entrevista, a embaixada americana do único país cinzento democrático do mundo, a França, é invadida. E todos os seus funcionários, incluindo o embaixador, são mortos com tiros de metralhadoras convencionais à queima–roupa.

Horas depois do fato, o presidente François Popol Sivé Véret vem a público repudiar as ações dos que ele chamava de terroristas.

"Em nome do povo francês, venho a público dar os pêsames às famílias dos funcionários da embaixada americana. Reiteramos aqui nosso total repúdio a este crime bárbaro. E estejam certos de que faremos tudo para encontrar e punir os responsáveis por este crime abominável…"

O fato choca a opinião internacional. As imagens dos corpos sendo retirados do prédio da embaixada são transmitidas por todas as redes de televisão à exaustão. De todas as mídias brotam analistas políticos e econômicos que se põem a fazer mil análises e a formular mil hipóteses sobre a tragédia. Parecendo racionais e lógicos, os analistas expõem as implicações no curto, médio e longo prazo, falam da reação da população americana frente a um acontecimento tão chocante, ponderam sobre as possibilidades de retaliação, e levantam teorias sobre as possíveis causas de um crime tão bárbaro.

Na hypernet fervilham teorias conspiratórias as mais esdrúxulas. Espalham-se rapidamente os vídeos de depoimentos de pessoas que dizem ter visto tudo. Parentes das vítimas são procurados para dar declarações sobre o que estão sentindo, o que farão dali para frente e que ações esperam dos governos dos dois países. Um vídeo, em especial, torna-se um hit. A mulher do embaixador, grávida de sete meses, fala do marido com olhar perdido. Ela fala sobre como ele era um homem bom. Fala também dos planos para o futuro e ri, ao lembrar-se da briga que tiveram sobre a escolha do nome do bebê. Ao final, a câmera foca em uma lágrima solitária que cai e a música triste que pontua todo filme se encerra num fade–in. Em poucas horas, cem milhões de acessos.

Mas passadas quatro semanas, o massacre de Paris é notícia velha. Na sociedade do espetáculo do século vinte e quatro há pouca diferença entre as tragédias e as torradas que se comem no café da manhã. À noite, ninguém mais se lembra das torradas, e nem das tragédias, pois na manhã seguinte, novas torradas e novas tragédias estarão postas sobre a mesa.

E quando todos achavam que o show estava definitivamente fora de cartaz, que o sangue das vítimas havia se transmutado em vinho e a carne em plástico, um porta–voz da CIA vem a público e faz revelações perturbadoras.

"…temos provas irrefutáveis de que o massacre de Paris foi financiado, arquitetado e executado por agentes do governo Francês. As evidências não deixam dúvidas…"

O governo francês nega, e classifica as alegações da CIA de delírio pós-traumático. O governo americano, por sua vez, na pessoa do secretário de Estado, exige que o governo francês entregue os autores do massacre imediatamente.

Um ano de tentativas frustradas da diplomacia americana em trazer os criminosos à luz do dia, além da pressão popular, acabam por vaporizar as relações diplomáticas entre Estados Unidos e França. Carl Emmet se vê em um beco sem saída. A cada dia que passa, seu capital político se esvai pelo ralo das especulações. A pressão vem de todos os lados. Democratas e republicanos exigem que ele tome uma medida enérgica e definitiva. Com os recursos diplomáticos exauridos, o presidente se vê forçado a tomar uma medida drástica. E em um pronunciamento público direcionado ao governo francês, ele dá um ultimato.

"…O governo francês tem quarenta e oito horas para entregar os assassinos da embaixada. Caso isso não aconteça, medidas mais efetivas, para convencer o governo francês de que esta é a ação correta a ser executada, serão tomadas…"

A resposta do presidente francês vem no dia seguinte.

"…Depois de um ano de investigações do trágico evento na embaixada americana, as evidências encontradas não deixam dúvidas. Neste exato momento todos os participantes do atentado, sem exceção, encontram-se em solo americano. O atentado e as mortes tiveram a intenção de criar um pretexto irrefutável para invadir a França. Assim, infelizmente, não podemos atender ao ultimato do presidente Carl Emmet Velazquez, pois ele já tem as pessoas que afirma querer. "

Quando o presidente e seus assessores acabam de ver a mensagem do presidente francês no zscinolex de cem polegadas, suspenso por cabos de seda de aranha, amarrados em argolas de metal parafusadas no teto, os ponteiros de um relógio do século vinte, instalado na parede cor de casca de ovo, marcavam cinco da tarde.

Através do vidro impecavelmente limpo e frio da janela, Carl vê um jardineiro no alto de uma escada podando uma cerejeira.

– Por que ele está fazendo aquilo?

– Aquilo o que, senhor presidente? – pergunta um de seus assessores. Um de rosto adolescente, que usava um terno azul-marinho um número maior do que deveria ser.

– Podando aquela cerejeira. Eu conheço aquela árvore. Ela não precisa de poda. Alguém o faça parar imediatamente.

Os assessores se olham intrigados.

– Vocês estão surdos? Eu disse imediatamente.

– Eu tomo conta disso senhor presidente – o assessor de rosto adolescente sai da sala apressadamente.

– Senhor presidente, essa declaração tem que ser respondida imediatamente – observa Lila Daniels, a chefe de gabinete. Uma mulher encorpada que amava vestir-se de cinza. Os cabelos castanhos escuros na altura dos ombros tinham um formato indefinido, e pareciam não conseguir se decidir entre serem longos ou curtos. O rosto andrógeno, a voz grave e a pinta no queixo, conferiam a ela uma aparência pouco feminina. Tanto que quando Carl a viu, pensou tratar-se de uma transexual.

– Mais duas ou três semanas no máximo.

– Desculpe, senhor presidente, mas não podemos esperar duas ou três semanas frente a uma declaração como essa – pressiona Lila.

Ela não tinha a mais agradável das aparências, mas com ela, ele se sentia mais seguro do que com seus guarda–costas que seguiam seus passos dia e noite.

– Mais duas ou três semanas e ela vai florescer.

– Senhor presidente?

– A cerejeira, Lila.

Carl toca o vidro e sente o frio na ponta de seus dedos. Tantos assessores. E como era difícil guardar todos os nomes. Todos querendo atenção e todos querendo provar que eram indispensáveis. Passo mais tempo com eles do que com meus filhos. Durante os oito anos de mandato, Carl havia acompanhado suas vidas com grande interesse. Seus casamentos, seus divórcios, o nascimento de seus filhos, seus sonhos e aspirações políticas e, principalmente, a dedicação com que se entregavam ao trabalho de assessorar o presidente. Vindos das melhores universidades do país, eles eram o que de melhor a América podia oferecer em termos de inteligência e competência.

Durante vinte minutos eles fazem considerações sobre o pronunciamento do presidente francês. Algumas são aceitas pelo presidente, outras são refutadas. Alguns falam sobre os milhares de americanos que estão em solo francês, e o que uma medida enérgica implicaria para estes. Outros o lembram que apesar da pouca importância do comércio entre os dois países, o arsenal atômico francês devia ser levado em conta.

Aos poucos, os ânimos foram se exaltando, a temperatura do debate foi aumentando, e logo as opiniões estavam completamente polarizadas. E no meio dos dois times que haviam se formado, Carl, em silêncio.

"Pelo amor de Deus! A embaixada é solo americano! Como você pode ignorar isso?!"

"Eu não estou ignorando nada, mas temos que lembrar que estamos falando do país que nos deu dinheiro, armamento, soldados e navios na nossa guerra pela independência! "

"Isso foi no tempo em que a França era um país cristão! Estamos falando de um país cinzento com uma agenda claramente antiamericana. Só você não vê isso! "

"Não podemos basear nossas decisões em aspectos religiosos, isso seria completamente antiamericano. Se vamos fazer alguma coisa que seja baseada em fatos! "

"E as provas da CIA?!"

"A CIA? A CIA já deixou de ser um órgão do governo há séculos! E todos nós sabemos que ela tem sua própria agenda! "

Normalmente Carl deixaria o debate correr livremente, mas o peso de sete anos de presidência havia diminuído substancialmente seu estoque de paciência.

– Chega! – todos silenciam – A França é um país cinzento? Sim. Os cinzentos têm uma agenda antiamericana secular? Sim. Mas isso não é razão para eu jogar a primeira emenda na privada. Antes de serem cinzentos, cristãos, muçulmanos, budistas, judeus, ou seja lá que credo eles abracem, os cidadãos desta nação são americanos, e eles acreditam que seu governo os tratará de forma justa e equânime. Se algum de vocês acham que vou deixar que a história se lembre de mim como o presidente que inaugurou a perseguição religiosa neste país, pense de novo. Porque isso não vai acontecer!

Eles silenciam. Mas lá no fundo, queriam jogar-lhe na cara o erro político pantagruélico que ele mesmo havia cometido um ano atrás ao dizer, existe um e somente um salvador, e o nome dele é Jesus Cristo. Em um país em que a oposição às religiões tornava-se, a cada ano, maior e mais aguerrida, a declaração religiosa havia soado tal qual um convite r.s.v.p. direcionado a um vampiro para uma festa na praia, e com sol a pino. Ou seja, em uma tacada só, o presidente havia irritado tanto ateus como religiosos não–cristãos e, com isso, conseguira o incrível feito de nocautear sua imensa popularidade com alguns segundos de discurso. Popularidade essa que seus assessores haviam suado sangue para recuperar. E ao pensarem nisso, ouvir aquela indignação presidencial lhes parecia desnecessário e injusto.

– Vinte quatro horas. Me deem vinte quatro horas.

– Desculpe-me senhor presidente, mas algo assim não pode esperar vinte e quatro horas – pressiona Lila.

– Ergam o muro. Me deem vinte e quatro horas para pensar. Vão! Façam seu trabalho! Jimmy você fica.

Eles saem. O som das solas de seus sapatos tocando o carpete é mínimo. Mas o pof, pof, de alguns sapatos, indicava que alguns não estavam satisfeitos em ter que deixar a sala. Em um momento de crise internacional como aquele, o que o presidente precisava falar com um assessor como Jimmy Guevara que não era especialista em nada? E a prova disso, pensavam alguns assessores mal informados, é que durante toda a discussão, Jimmy não havia emitido uma única palavra. Sua presença era comprovadamente desnecessária, pensavam eles. Bem, o presidente não tinha a mesma opinião.

Grisalho, estatura mediana, olhos próximos, e canto dos lábios voltados para baixo, seu rosto dizia, não enche, otário. Além de assessor da presidência, Jimmy Guevara era seu melhor amigo. E a amizade não era por acaso. No submundo da política de Washington D.C., todos sabiam que os inimigos de Jimmy Guevara não duravam muito. Conhecido como El Diablo, Jimmy era implacável com seus inimigos. Suas dezenas de investigadores particulares e uma rede de contatos formada por prostitutas de rua, garotas e garotos de programa, cafetões, cafetinas, viciados, traficantes de drogas, policiais, promotores, juízes e donos de restaurantes, abasteciam–no diariamente com toneladas de informações sobre os pequenos e grandes deslizes de seus colegas de trabalho. Jimmy tem mil olhos. Reze para que um deles não esteja focalizado em você, era o que se dizia para todos os novos políticos que chegavam a Washington.

– Você entende que neste exato momento a imprensa deve estar enlouquecendo com a mensagem desse cara?

Carl se afasta da janela, vai até o frigobar, tira duas latas de cerveja, volta para sua mesa, dá uma das latas para Jimmy, senta-se na cadeira de escritório de espaldar alto revestida de couro, abre a lata e começa a beber.

– Por favor Jimmy, puxe uma cadeira. Sente-se.

Relutante, ele se senta abre a lata de cerveja e dá vários goles.

– Em vinte quatro horas eu darei minha resposta ao nosso amigo francês. Até lá, o muro estará erguido. Todos esses assessores têm que servir para alguma coisa.

Erguer o muro. A senha para, não deixe que eles cheguem até mim. Eu ainda não estou preparado.

– Os republicanos vão querer uma resposta à altura, Carl. Vai ser um inferno.

"Se você é mesmo o diabo, e se as coisas virarem um inferno, acho que você vai se sentir em casa. "

– O ano que passou foi difícil – um gole de cerveja.

– Difícil? Difícil só se for pra você, senhor presidente. Pra mim foi insano!

O presidente ri.

– Você acha isso engraçado?!

– Sim, eu acho – seu olhar é frio, quase indiferente.

O sol estava se pondo. Uma luz amarela alaranjada atravessava a janela e iluminava o lado esquerdo do presidente. Os olhos azuis-escuros de Carl, que em um primeiro momento pareciam castanhos, invadidos pela luz, tornam-se inesperadamente verdes. Jimmy conhecia aquele olhar. Um olhar frio mascarado por um sorriso caloroso que deixava as mulheres, literalmente, de quatro. Oito anos atrás, ele tinha visto aquele mesmo olhar. Esse é um jogo sem segundas chances, novato. Se você perde, perde tudo e mais um pouco, foram as primeiras palavras que Carl ouviu de seu futuro braço direito. Um mês depois, em um café localizado na Avenida New Hampshire, Carl estava olhando para fotos de um homem de quarenta e dois anos, em um beco escuro, beijando apaixonadamente um jovem aparentando ter não mais do que vinte anos. A decisão é sua. Se eu liberar as fotos agora, você vence as primárias. Faltava uma semana para decidir qual dos dois candidatos iria representar o partido democrata na eleição para presidente, e ambos estavam empatados. Se as fotos fossem liberadas, Carl venceria, não restava dúvida. Mas também não havia dúvidas de que a vida de Oscar Giovane Simons seria destruída. Aquelas fotos devastariam seu casamento de vinte anos, exterminariam sua carreira política e o condenariam ao total ostracismo. E então novato? O que quer que eu faça? , perguntou Jimmy. O futuro presidente não disse nada. Folheou as fotos, tamborilou os dedos em cima delas, tomou um gole de café, e deu aquele olhar frio que Jimmy estava vendo agora. Me faça vencer, Jimmy. No outro dia as fotos circulavam por todas as mídias do planeta. E como esperado, Carl venceu as primárias. E claro, Oscar teve sua vida completamente destruída.

– Você não está tendo outra revelação – Jimmy faz o sinal de aspas com os dedos – divina, está?

– Aquilo foi um erro – ele diz olhando para a lata.

– Ainda bem que você admite – ele se permite relaxar na cadeira – E então, o que vamos fazer?

– Amanhã, neste mesmo horário, eu direi a você e a todos o que vamos fazer – outro gole de cerveja – Como estão as garotas, Jimmy?

– Cada vez mais bonitas. Graças a Deus puxaram a mãe, caso contrário eu teria que pagar uma fortuna com psicólogos para enfiar autoestima nelas.

– Você não precisou psicólogo pra chegar até aqui.

"Não, não precisei. Tudo que tive que fazer foi sobreviver a um bairro violento cheio de traficantes de drogas, trabalhar desde os nove anos de idade feito um camelo, estudar à noite, completar um curso de contabilidade que eu odiava, mas que era o único que eu podia pagar, e aprender que todas as pessoas têm um ponto fraco. Mas quem sabe, se eu tivesse a sua aparência, tivesse crescido num bairro rico, tivesse estudado em Harvard, você estaria sentado na minha cadeira e eu na sua. "

– Você sabe. Pras mulheres é diferente – disse Jimmy.

– É, eu sei. A propósito, como vai a Cláudia?

– Me odiando e pedindo aumento da pensão.

– Ela e Patricia se davam bem. Até certo ponto eram parecidas.

– Parecidas? Sua mulher era um anjo, a minha…

– Sua ex–mulher está viva – ele diz as palavras usando de novo o olhar frio que provocava arrepios em Jimmy.

Os últimos raios de sol haviam se apagado. No vidro da janela, um suave tap tap anunciava a chuva fina que começava a cair na cidade.

– Sabe Jimmy, como seria bom se eu tivesse certeza absoluta de que a CIA não está envolvida nesse evento da embaixada.

– Você sabe que isso é impossível.

O presidente se levanta e aproxima o rosto a alguns centímetros do rosto de Jimmy.

– É, eu sei, mas desejar não é crime.

"Não, não é. Mas o que eu vou ter que fazer para realizar esse seu desejo é."

– Não, não é.

Carl dá dois tapinhas no ombro de Jimmy e se dirige para a porta.

– Agendei uma conversa com o diretor da agência para amanhã às cinco da tarde. Esteja aqui às quatro.

O assessor suspira e toma o resto de cerveja da lata.

– Até amanhã, Jimmy.

– Até amanhã, Carl.

CAPÍTULO 2

Naquela noite, os corredores da Casa Branca nunca lhe pareceram tão grandes e tão longos. Em cada canto, porta e quadro, ele via fantasmas do passado. Outros tempos, outros presidentes, outros dramas, outros segredos. Quantos Jimmys haviam passado por ali? Ele se perguntava. Quantos haviam caminhado por aqueles corredores? O número de presidentes era fácil saber. Assassinados ou não, todos tinham seus lugares garantidos nos livros de história. Mas os Jimmys, esses jamais seriam registrados. Pois um Jimmy parece uma coisa e é outra. Parece um assessor sem importância, mas é ele que evita e administra as pequenas e grandes crises no governo, sem que ninguém se dê conta disso. Vive nas sombras que o poder de Washington projeta, e de dentro delas observa tudo e a todos. Faz carreiras políticas decolarem ou as afunda. Faz o que ninguém tem estômago para fazer, e à noite dorme como uma pedra. Desde o primeiro presidente dos Estados Unidos, sempre houve um Jimmy. E naquela noite todos eles estavam olhando para aquele que caminhava com passadas largas arrastando atrás de si uma caixa de maus presságios.

"Vinte quatro horas. Ele quer vinte quatro horas. E eu quero encontrar a miss América nua no meu sofá quando eu chegar em casa. Humpf! Vinte quatro horas…"

Um gato preto sai de uma porta, para, e olha para ele com o mesmo verde que o sol do fim da tarde havia pintado os olhos de Carl. Um passo de Jimmy e o gato dá um salto e some por outra porta.

"Tantos corredores, tantas portas, e esse desgraçado escolheu logo o meu corredor pra atravessar? "

Lá fora, uma noite fria, chuvosa, sem lua e sem estrelas, o aguardava. Vá para casa, lhe dizia o vento frio em suas orelhas. Mas o dia ainda não havia acabado. A poucas quadras dali, outra realidade o aguardava. Uma realidade habitada por seres humanos cuja expectativa de vida era cinquenta vezes menor do que a média nacional.

Como de costume, ele examina a fauna noturna de dentro do seu magnocarro cinza que flutuava sobre o asfalto prateado, tal qual um tubarão nadando em águas profundas.

Darlene, Savanah, Consuelo, Tina, Trisha, ele conhecia todas e todas o conheciam. O relógio de rua marcava doze graus centígrados, mas a sensação térmica na pele chegava facilmente aos dois graus. Segurando sombrinhas e embrulhadas em capas de plástico que iam até o joelho, apenas as botas de vinil ficavam à mostra. De vez em quando, algumas abriam as capas para que os clientes pudessem avaliar o material antes que decidissem parar e, quem sabe, comprar a mercadoria.

Um luxuoso magnocarro preto para. Três delas abrem as capas e se debruçam sobre a janela do motorista.

Jimmy estaciona, e tira do porta–luvas um binóculo de visão noturna para ter uma visão clara sobre quem era o motorista. Ronan Mendes Joyce, senador republicano casado com uma economista e pai de uma filha adolescente viciada em safira, a droga mais vendida e consumida nos Estados Unidos. Um conservador moderado com hábitos previsíveis e fiel as suas mulheres. À sua esposa, com a qual estava casado havia quinze anos, e à Darlene, sua prostituta favorita.

Ela chega com uma linguagem corporal intimidadora. Ele aperta o zoom do binóculo e lê os lábios dela.

– Aí, cai fora. O cliente é da mamãe aqui.

Darlene é uma veterana das ruas, e elas sabem que se agressão evoluir para algo físico, é certo que uma delas não sairá viva da disputa. Por isso, as três rosnam ameaças para manter a dignidade das hienas que lutam por um osso com um leão, e depois se afastam, acreditando que em algum momento pegarão sua rival distraída. Um tiro, ou uma facada nas costas, e elas teriam uma prostituta a menos com quem concorrer nas calçadas. Este pensamento estaria correto se não fosse por um pequeno detalhe, Darlene era uma telepata. Pegá-la distraída em um lugar público, sem abafadores psíquicos, era praticamente impossível. A telepatia era a razão da sua longa carreira como prostituta de rua. Um segredo que, ao longo dos anos, havia sido escondido de todos com exceção de uma pessoa, Jimmy Guevara.

Ele não consegue saber o que ela fala para o senador. Mas logo depois o vidro sobe e o magnocarro some na escuridão.

Em seguida, ela se aproxima com a capa de chuva entreaberta e uma sombrinha preta na mão. Com os nós dos dedos, ela bate na janela do lado do passageiro da frente. Ele devolve o binóculo para o porta–luvas e o vidro desce.

– Como você soube que eu estava aqui?

Ela se debruça na janela.

– Só conheço um cara que pensa em chinês para se proteger de telepatas. Depois de todos esses anos você ainda não confia em mim?

– Eu não confio em ninguém. O que você disse pro senador?

– Disse pra ele passar amanhã.

– Hoje vai ser uma noite tensa na casa do senador.

Ela sorri.

– Ele é um bom homem.

– Ele é um bom homem, você é uma freira, e eu trabalho no exército da salvação.

– Você é uma pessoa horrível.

– Talvez, mas pago bem. Você não está com frio? Sempre foi um mistério para mim como vocês aguentam esse frio.

"O frio é a parte mais fácil. "

Ela suspira.

– Então Jimmy, você tem ou não um trabalho para mim?

Os dois se conheciam havia vinte anos. Jimmy foi seu primeiro cliente e o primeiro a lhe explicar a lógica das ruas. Evite programa com políticos, dizia ele. Eles pagam bem, mas em uma operação de queima de arquivo, seu nome será o primeiro da lista. Jamais deixe transparecer para um cliente o quão esperta você é. Homens não contam segredos às mulheres pelas quais se sentem ameaçados intelectualmente. Concorde com todos os comentários que seu cliente fizer. Isso o deixará de bom humor e o fará querer fazer outro programa com você. Nunca revele seu verdadeiro nome. Não dê pistas de onde você mora. Evite falar sobre o seu passado. E quando o fizer, minta. Invente uma história triste, mas não trágica. Com você, ele quer prazer e sexo, a tragédia fica por conta da esposa. E quando ela perguntou como ele sabia tanto sobre aquele tipo de vida, ele se limitou a dizer, a natureza humana não falha, docinho.

– Tenho. Coisa simples. Escaneamento básico.

Ele tira do porta–luvas um envelope preto e entrega para ela.

– Os detalhes estão aí. Nome, lugar, horário e o que tem que procurar.

– Você não está esquecendo nada?

– Ah – ele sorri, mostrando os dentes – é claro.

De dentro do paletó, ele retira o hyperfone e faz um depósito bancário.

– A outra metade depois do trabalho feito.

Ela tira o próprio hyperfone da bolsa e verifica sua conta bancária pessoal. Os zeros da cifra a impressionam.

– Uau! Quem sou eu pra recusar um trabalho, mas… Quem exatamente eu vou escanear?

– Está no envelope.

– Eu tenho um filho pra criar, Jimmy. Não me faça morrer antes da hora.

– Relaxe, é um trabalho simples.

– Da última vez que você disso isso, eu fiquei uma semana no hospital.

– Mas eu paguei todas as despesas, não paguei? – ele olha para a tela retrovisora do painel para ver se alguém ou algo os estava observando – o trabalho era simples até que ficou complicado. A

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