Insônia da Matéria: Poemas e desesperanças
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Sobre este e-book
Insônia da Matéria é uma coleção de poemas escritos entre 2002 e 2007, correspondendo ao intervalo entre a redação de Ateísmo & Liberdade e O Vazio da Máquina. A atmosfera de perplexidade e de mal-estar que perpassa quase todos os poemas pode ser vista como um reflexo da angústia que se sente quando tentamos lidar com um problema que ainda nos escapa — como um fantasma que nos persegue, até que consigamos colocá-lo no papel.
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:: POEMAS
PASSAGEM
SENTIDO
ALMA
MIOPIA
EREMITA
ESCOLHAS
FELICIDADE
LOUCURA
LUTA
MÁSCARA
SENTIMENTO
CRIANÇA
SAUDADE
SILÊNCIO
SOLIDÃO
TRANSIÇÃO
AUSÊNCIA
ESPERANÇA
DESRAZÃO
VAZIO
SONHOS
TÉDIO
SENTENÇA
DISTÂNCIA
SOMBRA
COVARDE
NADA
ETERNAMENTE
GRÃOS
ILUSÕES
ACASO
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“Os poemas também são melancólicos. Fazem parte do livro e mostram misantropia, tédio, angústia e uma não-vontade latente de viver como em “Então abro os olhos / Profundamente lúcido / Arrependido de ter acordado.” Ou em “Isso me vem como um nojo de respirar” e ainda “Neste mais um-dia-qualquer / Tudo estava paralisado / Menos a angústia”. Percebe-se muita coisa dentro do autor e é uma pena as pessoas não se interessarem muito por poesias hoje em dia. Eu adorei!”
— Rosângela Dias
“Afora os ensaios, a história de Joe e os poemas são a forma que Cancian achou de se explicar através de desenhos: um complemento sofisticado e estilístico para balancear a crueza das palavras objetivas e diretas.”
— Jairo Moura
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Insônia da Matéria - André Cancian
nada
SUMÁRIO
prefácio
poemas
PASSAGEM
SENTIDO
ALMA
MIOPIA
EREMITA
ESCOLHAS
FELICIDADE
LOUCURA
LUTA
MÁSCARA
SENTIMENTO
CRIANÇA
SAUDADE
SILÊNCIO
SOLIDÃO
TRANSIÇÃO
AUSÊNCIA
ESPERANÇA
DESRAZÃO
VAZIO
SONHOS
TÉDIO
SENTENÇA
DISTÂNCIA
SOMBRA
COVARDE
NADA
ETERNAMENTE
GRÃOS
ILUSÕES
ACASO
PREFÁCIO
Os poemas que compõem este livro começaram a ser escritos por volta de 2002, quando percebi um tipo de dualidade, ou talvez mesmo uma cisão, no cerne da subjetividade humana.
Mesmo que precariamente, passei a investigar a natureza desse conflito, que veio a tornar-se cada vez mais central em meu pensamento.
Pessoalmente, sempre fui inclinado à racionalidade. Mas, ao mesmo tempo em que via o mundo numa perspectiva racional, perfeitamente lógica, baseada na ciência, tinha também a vaga percepção isso não era a questão toda — mas o que mais seria?
Procurava pelo sentido das coisas. Contudo, sabia que essa questão já havia sido solucionada — ora, o sentido é a perpetuação. Está em qualquer livro de Biologia. Então por que essa questão continuava a me incomodar? Não sabia dizer.
Perseguia-me a sensação de que havia uma incompletude fundamental no saber apenas racional da vida, e isso me causava um profundo mal-estar, pois minha razão dizia-me exatamente o contrário — que não havia incompletude alguma.
Por vários anos, tentei resolver essa questão, mas não conseguia sequer dar forma ao problema. Ainda sem entender claramente o que queria dizer, sentia a necessidade de expressar-me, e foi nesse processo de tentar trazer à luz algo que pertencia às profundezas que surgiram estes poemas.
André Cancian
2007
Poemas
A vida é um escárnio sem sentido.
Comédia infame que ensanguenta o lodo.
— Álvares de Azevedo
PASSAGEM
Despeço-me do sonho de viver
Do delírio de um dia conseguir
De uma vez apenas ter as mãos
E o coração onde quero e como
Sem desviar disso como perda
Do tempo que perco sem pesar
Não, não acredito mais em mim
Nem no que invento para dar-me
Uma segunda, outra chance
De provar o contrário
Do que sempre foi
A minha vida
Se abrigo algo com afeto
É porque já está morto
Porque aprendi o traquejo
De não abraçar-me ao que muda
Não pensar-me preciso quando sou
[meio
Minha saudade é sempre mais amável
Minha memória diz mentiras perfeitas
Que nenhuma realidade desmonta
Em um punhado de palavras
[e outro de mentiras
Mesquinhas em entrelinhas
Que me fazem sentir a vida
Como se sente uma pedra
[no sapato
De quem precisa correr atrás
Correr, com passadas medidas
Correr, sem ter qualquer meta
Chamando a coleção de feridas
De história da sua vida
História de um idiota
Certezas de uma besta
Percursos de um imbecil
Objetivos de um estúpido
Trouxeram-me até aqui
Foi a história de um erro
Levado até os