Dos sentimentos de honra na literatura política do antigo regime: As consepções de Montesquieu
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Dos sentimentos de honra na literatura política do antigo regime - Thiago Rodrigo Nappi
Reitora:
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Vice-Reitor:
Ludoviko Carnasciali dos Santos
Diretor:
Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello
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Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
N217d
Nappi, Thiago Rodrigo.
Dos sentimentos de honra na literatura política do antigo regime [livro eletrônico] : as consepções de Montesquieu / Thiago Rodrigo Nappi. – Londrina : Eduel, 2017.
1 Livro digital.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7216-893-9
1. Montesquieu, Charles de Secondat, baron de, 1689-1755. 2. Literatura política. 3. Honra. 4. História. I. Título.
CDU 82:32
Direitos reservados à
Editora da Universidade Estadual de Londrina
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Fone/Fax: (43) 3371-4674
e-mail: eduel@uel.br
www.eduel.com.br
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
2017
Agradecimentos
Os primórdios desta pesquisa são fruto da participação em estudos e em debates no interior do Grupo Mestres do Passado: História e Política no Antigo Regime (hoje Nehro – Núcleo de Estudos de História da Retórica e da Oratória Políticas), Projeto de Ensino desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina, sob a coordenação do professor Marcos Antônio Lopes. Seu desenvolvimento deu-se por meio de estudos realizados sob a orientação do professor Sezinando Luiz Menezes durante os semestres de duração do curso de pós-graduação. Meus sinceros agradecimentos a ambos por terem auxiliado e acreditado neste trabalho.
Agradeço ainda a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram até aqui, mãe, namorada e alguns poucos, mas bons, amigos.
Sumário
Agradecimentos
Prefácio
Introdução
I
Sobre as sociedades de corte do Antigo Regime e a constância dos sentimentos de honra
II
Montesquieu e as ideias de honra no pensamento político e na literatura do Antigo Regime
III
Acerca do duelo como expressão da honra e a questão da deferência
Considerações Finais
Posfácio
REFERÊNCIAS
"falo da honra, que reina como um monarca,
sobre o príncipe e o povo."
(Montesquieu, Do espírito das leis)
Prefácio
Montesquieu,
a honra e a igualdade entre os desiguais no Antigo Regime
Tive o privilégio de ter convivido com Thiago Rodrigo Nappi, como seu orientador, entre os anos de 2013 e 2014, período em que desenvolveu a sua dissertação de mestrado, no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Maringá, que resultou na presente publicação.
Inspirado, por um lado, pelo Contextualismo liguístico da Escola Histórica de Cambridge, especialmente pelos estudos de Quentin Skinner e John Pocock e, por outro lado, pelos estudos de Norbert Elias sobre a sociedade de corte e o processo civilizador na Europa durante a modernidade, Thiago Nappi analisa, a partir da obra de Charles Louis de Secondat, o Barão de la Brède e de Montesquieu, os sentimentos de honra na literatura política do Antigo Regime.
Muito já se escreveu sobre Montesquieu e sua obra. Igualmente abundantes são os estudos que o utilizam como fonte. Afinal, Montesquieu foi um dos principais escritores do século XVIII, tendo contribuído fundamentalmente para a construção da crítica ao Antigo Regime, ao Absolutismo Monárquico e ao poder do Clero. Pode-se afirmar, inclusive, que sua obra se constitui em um dos pilares sobre os quais se construíram os ideais de liberdade e igualdade (política), valores que ainda hoje são almejados pela sociedade contemporânea. A despeito da vasta produção bibliográfica sobre Montesquieu, o trabalho de Thiago Nappi mostra, como bem sabem os historiadores, que a renovação do conhecimento é realizada não apenas incorporando novas fontes, mas também revisitando fontes já conhecidas a partir de novos olhares.
Para Thiago Nappi, a honra não deve ser pensada como um conceito filosófico atemporal
, descolado da sociedade que lhe atribuiu um determinado significado. Ou seja, ao evitar anacronismos, pecado capital para o historiador, o livro busca a compreensão do sentimento de honra tal como o entendiam os homens do século XVIII. Para o autor, esse sentimento foi utilizado pela nobreza como uma forma de distinguir-se dos demais segmentos sociais, requerendo os privilégios e as distinções dos quais ela própria julgava ser merecedora
.
Para a devida compreensão do significado da honra para a nobreza daquela época, Thiago Nappi considera que é necessário a análise da literatura política do período e, especialmente, da obra de Montesquieu. A obra desse pensador possibilitaria ao historiador a compreensão desse sentimento como legitimador das desigualdades sociais, isto é, sua dimensão política. Concomitantemente, conforme afirma Thiago Nappi, a honra participa dos ritos sociais de instituição, de atos de ‘magia social’ constitutivos, enquanto tais, dos grupos sociais homogêneos
.
Ao tornar o nobre distinto, a honra contribui para homogeneizar, igualizar a nobreza. Ou seja, ao mesmo tempo em que contribui para tornar a nobreza distinta do restante da sociedade, ela estabelece uma igualdade entre os membros dessa mesma nobreza. Isso explica, por exemplo, porque o duelo, um das formas mais importantes de expressão da honra, somente poderia ocorrer entre nobres. No entanto, as transformações que ocorrem na sociedade e no Estado Moderno, ao final do Antigo Regime, promovem transformações significativas na nobreza e no significado do sentimento de honra. São exatamente essas transformações no sentimento de honra que estão no cerne deste trabalho.
De acordo com o anteriormente exposto, o livro Dos sentimentos de honra na literatura política do Antigo Regime: as concepções de Montesquieu percorre caminhos que estimulam o desenvolvimento de novas pesquisas sobre o significado dos sentimentos e das ideias em determinadas configurações sociais.
Por fim, gostaria de retomar um relato de Eric Hobsbawm, o conhecido historiador inglês. Certa ocasião, Hobsbawm foi convidado para proferir uma conferencia inaugural do ano acadêmico na Universidade Central em Budapeste. Depois de refletir sobre a história contemporânea da Europa Central e sobre os usos do passado para as construções ideológicas, o conferencista propôs uma reflexão sobre o trabalho do professor. Para o historiador, ao concluírem seu curso, os professores ministrarão aulas para uma maioria de estudantes comuns com opiniões maçantes, que obtêm graus medíocres na faixa inferior das notas baixas, e cujas respostas nos exames são quase iguais
. Haveria ainda outro grupo de alunos, uma minoria, aqueles que obtêm as melhores notas
, que estabelecem diálogos consistentes, que fazem indagações inteligentes. No entanto, no entendimento do historiador, esses últimos cuidarão de si mesmos, ainda que seja para eles que você gostará de lecionar
. Finalmente, Hobsbawm conclui, os outros são os únicos que precisam de você
.¹
Ao longo de minha vida profissional, a situação descrita tem se renovado anualmente – isso não significa que o trabalho com aqueles que necessitam de mim
também não possa ser prazeroso. De qualquer forma, o autor deste livro não esteve entre os que precisaram de mim. Embora jovem, Thiago Nappi era dotado de autonomia acadêmica e sólida formação intelectual; seguramente esteve entre aqueles que cuidam de si mesmos
. Por conseguinte, estava entre aqueles com os quais mais gostamos de trabalhar. Infelizmente, a violência do trânsito, entre as tantas violências presentes no cotidiano brasileiro, abortou precocemente a vida de um jovem e promissor historiador.
Coube-nos, assim, a triste tarefa de prefaciar um livro que poderia ser o primeiro de uma série de estudos que resultassem em importantes contribuições historiográficas, mas que, infelizmente, foi o último.
Sezinando Luiz Menezes
Maringá, março de 2016.
¹ HOBSBAWM, Eric. Sobre a História – ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 21.
Introdução
não é porque o sentimento da honra transformou-se em uma dessas ruínas magníficas, mas inúteis cuja silhueta ergue-se com nobreza sobre as planícies sombrias; é, pelo contrário, porque [esse] sentimento parece bastante vivo, bastante forte, bastante excitante para que os moralistas em busca de moral queiram analisá-lo bem de perto [...], para servir de exemplo aos construtores de todos os tempos, pois coloca-lhes sob os olhos um ideal.
(Lucien Febvre, Honra e pátria)
O apogeu dos sentimentos de honra como instrumento regulador de prestígio social se deu, como demonstram inúmeras análises, sob o Antigo Regime. Entretanto, há consideráveis indícios de que o estudo das questões referentes à honra remeta a duas fontes básicas a serem investigadas em períodos históricos distintos. Em um primeiro momento, é preciso pensar no ideal feudal, fortemente presente nos denominados romances de cavalaria, literatura com forte apelo popular, presente ainda no Renascimento, e até um pouco depois dessa época, que versava acerca da vida aristocrática. Tratava-se de uma espécie de literatura ficcional com a missão de embaralhar a realidade efetiva e o campo da fantasia. Nesse plano, o real e o imaginário fundiam-se em um mesmo complexo de alegorias. Mas, em um momento mais avançado da história, a análise da problemática da honra remete aos círculos monárquicos ou sociedades de corte da Época Moderna, as quais provavelmente constituíam uma espécie de sociedade à parte