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Encontro entre poetas: As cartas de Geraldino Brasil e de Jaime Jaramillo
Encontro entre poetas: As cartas de Geraldino Brasil e de Jaime Jaramillo
Encontro entre poetas: As cartas de Geraldino Brasil e de Jaime Jaramillo
E-book459 páginas4 horas

Encontro entre poetas: As cartas de Geraldino Brasil e de Jaime Jaramillo

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Sobre este e-book

Encontro entre poetas é um registro da troca de cartas entre os poetas Geraldino Brasil, alagoano, e Jaime Jaramillo Escobar, colombiano, amigos de longa data, que, mesmo separados por 4600 quilômetros, cultivaram uma amizade entre trocas de admiração, alegrias, esperanças e afetos. Os trechos da correspondência foram selecionados e organizados pela filha de Geraldino, Beatriz Brenner, e impressionam pela sinceridade e pelo tom poético dos escritos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jan. de 2018
ISBN9788578585730
Encontro entre poetas: As cartas de Geraldino Brasil e de Jaime Jaramillo

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    Encontro entre poetas - Beatriz Brenner

    Agradecimentos

    Toda manhã, antes de escrever, tentei elevar meus pensamentos. A ideia era que tanto o ambiente quanto eu mesma estivéssemos, ambos, em sintonia com a missão que eu abraçara. Assim aconteceu. Houve momentos em que cheguei a despertar com o soar do silêncio. Olhava o relógio e dizia: Nem percebi. Já se passou todo esse tempo!. Senti paz. E assim foi cada dia. Cada semana. E seguiram-se os meses, os anos. Houve, claro, interrupções, dadas as demandas normais da vida. Mas todas administráveis. Nada que interferisse no fluxo de meu objetivo. Houve pausas que chegaram a me deixar reticente sobre o andamento do trabalho, mas logo percebi que eram necessárias.

    Por isso, tenho uma enorme gratidão à Existência que permitiu que tudo à minha volta contribuísse para tornar o meu sonho realidade.

    Gratidão aos amigos, que, cientes dos horários em que me reclusava, evitaram qualquer interrupção. A meus familiares, em especial à minha irmã Moema, ao cunhado Ruberson e às sobrinhas Patrícia, Priscilla e Pollyanna, pelo incentivo constante e vibrações positivas. Um obrigado especial a Patrícia, a quem eu transmitia o arquivo do livro, para que o backup fosse feito também em Atlanta.

    Agradeço por sentir tão perto a presença dos meus pais queridos. Pessoas que foram e são, agora em outro plano, grandes mestres que souberam nos conduzir para o caminho do bem. Ah, e que infância e adolescência lindas tivemos! Tão lindas, que cheguei a suplicar à minha mãe para que fosse má, assim eu não sofreria tanto quando chegasse a hora de sua partida. Esse foi o único momento em que ela não me atendeu! A eles, seres de grande sensibilidade e de alto nível de espiritualidade, meus mais profundos agradecimentos e puro amor.

    Aos queridos, Geraldino Brasil e Jaime Jaramillo Escobar, que me presentearam com um tesouro inestimável. Eles, que permitiram que eu garimpasse entrelinhas, à caça das joias raras que trocaram entre si. Por essa razão, o tesouro foi aberto e liberado à partilha. Coube a mim, então, repassá-lo ao leitor amigo, no intuito de torná-lo também beneficiário deste legado epistolar.

    Sonho que se sonha só é sonho que se sonha só. Sonho que se sonha junto é realidade. Com essa reflexão, o poeta Raul Seixas me ajudou a reforçar a certeza de que, sem o amparo de alguns anjos, seria impossível realizar esta obra. Sou grata, pois, às valiosas contribuições de Maria do Carmo Nino, que, com sua capacidade intelectual e profundo conhecimento do pensamento geraldiano, me orientou nas horas em que mais precisei. Além disso, aceitou o convite para escrever uma apresentação; de Paula Cordeiro, amiga de alma, uma das últimas pessoas que conversou sobre poesia com papai. Paula contribuiu com o texto da orelha deste livro; de Mário Hélio, a quem papai confiou parte de seu acervo literário. Por isso e pelo interesse que tem de que sua obra seja ampliada e difundida, meus sinceros reconhecimento e gratidão pelo estímulo para que eu fosse adiante com meu projeto; de Claudia Cordeiro, parceira na vida e na poesia, mulher do grande amigo de meu pai, poeta Alberto da Cunha Melo. Agradeço por seus ouvidos e coração; de Lúcia Moura, que, após haver catalogado as correspondências de papai, me forneceu informações essenciais para compor esta obra; de Jaime Jamarillo Escobar, que me supriu de valiosas informações, fossem por e-mail ou por telefone, e que, mesmo em seu mundo particular de poeta, lá da Colômbia, esteve comigo, de mãos dadas, durante toda a caminhada – esse Jaime a quem decidi, em 2011, abraçar além dos e-mails e do telefone, e que me acolheu de forma tão amorosa em Medellín. Levou-me às modernas bibliotecas e parques da cidade. Apresentou-me aos poetas colombianos, admiradores de meu pai, dos quais ouvia, com euforia hija de Geraldino Brasil, hija de Geraldino Brasil!. Levou-me ao "taller de poesia", que acontece na Biblioteca Piloto, do qual é o mestre atuante. Lá, pude vivenciar a aula que proferiu sobre papai. Jaime foi incansável. (Você é um amor. TQM!)¹; de Patricia Azevedo e Carla Gama, que dividiram comigo emoções.

    Essas pessoas-anjo cederam não apenas seu valioso tempo, mas sua amizade e amor, para que esta obra se tornasse realidade. Sinto por elas admiração e gratidão.

    Estendo os meus agradecimentos à Companhia Editora de Pernambuco – Cepe, por seu diretor presidente, Ricardo Leitão, ao diretor de Produção e Edição, Ricardo Melo, e ao Conselho Editorial, por seus representantes Tarcísio Pereira (presidente), Evaldo Costa, Haidée Camelo Fonseca, Maria Lúcia Cavalcanti Moreira e Wellington de Melo.

    Recife, agosto de 2016.

    11 Abreviação de Te Quiero Mucho, forma carinhosa como a Organizadora e o poeta colombiano se despedem.

    Relatos inspiradores em cartas trocadas, entre 1979 e 1995,

    por dois poetas de enorme afinidade – um, brasileiro; o outro, colombiano:

    Geraldino Brasil e Jaime Jaramillo Escobar

    Ponto de partida

    Em 13 de novembro de 2010, assistia à conversa do autor convidado, Benjamim Moser, sobre a biografia que escrevera de Clarice Lispector, intitulada Clarice ,. O momento fazia parte da programação da VI FLIPORTO – Festa Literária Internacional de Pernambuco, que acontece, anualmente, na cidade de Olinda.

    A vibração de Moser, enquanto respondia as perguntas que lhe fazia o interlocutor, era tão forte, que me alcançou na plateia. Fui tocada.

    Naquele instante, decidi escrever também uma biografia. Mas logo a pergunta: sobre quem? Gerou-se um certo esforço para que a resposta viesse à tona. Os sons das palavras vibrantes de Moser se misturavam aos meus pensamentos embaralhados. Finalmente, a luz! O biografado seria o poeta Geraldino Brasil, pensei quase em voz alta... Ele que esteve meu pai, enquanto seu período na terra. Nada mais justo.

    Senti-me preenchida de certezas e profunda alegria, já que à minha vida, a partir daquele momento, havia sido acrescido mais sentido psicológico. E que sentido!

    Alguma explicação ao leitor, no entanto, é necessária, para que compreenda sobre como foi possível, prosseguir com a ideia. Em 1996, logo após a partida de papai, contratei a bibliotecária e amiga Lúcia Moura, para catalogar o vasto arquivo do poeta. Quis evitar qualquer extravio do material de valor inestimável. E, como era e ainda sou a única representante da família no Brasil, senti-me redobradamente responsável.

    Para iniciar a pesquisa, pensei em ir a Alagoas, aos lugares por onde passou, no Engenho Boa Alegria, onde nasceu. Até fiz alguns contatos. Porém, em meio às minhas elucubrações (que não foram poucas), algo me levou até as cartas, em especial as que meu pai trocara com o também poeta e seu tradutor colombiano, Jaime Jaramillo Escobar. Lendo-as por cima, percebi que as informações de que precisava estavam ali. Acheia-as preciosas por estarem, claro, escritas na primeira pessoa. Ou seja, eles mesmos desvelariam suas próprias histórias:

    – Em 1933 tinha eu 7 anos. Nasci no campo, vim para a cidade quando você nascia. Morei em muitas ruas em Maceió....

    – Region escarpada e pobre, en Antioquia – donde nascí – la vida es violenta y azarosa. La aridez y la avaricia de sus gentes y su utilitarismo corresponden a la psicologia de un pais de asesinos y ladrones...

    Que maravilha! Só faltava organizar meu tempo e mergulhar na leitura, agora atenta, das cartas. Leitura que me permitisse selecionar trechos cujos assuntos se inter-relacionassem. Até aí, não tinha a menor ideia de como iria compor o livro.

    A correspondência com o poeta Jaime havia sido arquivada em duas pastas distintas: Cartas masculinas/Emitidas – Jaime Jaramillo Escobar e Cartas masculinas/Recebidas – Jaime Jaramillo Escobar. As Emitidas eram em cópias-carbono, costume que papai adotava sempre que escrevia a alguém. No total, foram consultadas 131 cartas: 73 enviadas a Jaime e 58 recebidas de Jaime; inúmeros postais e bilhetes.

    Bem, para evitar ferir os valiosos originais, providenciei a reprodução de todo esse material.

    À medida que lia, me deslumbrava. Os assuntos abordados eram atualíssimos e de grande alcance, além de serem expostos com transparência, abertura e humor! Mas, para que esse deslumbre não viesse a interferir em meu trabalho, precisei ter um diálogo comigo mesma. Inquietava-me pensar que, o que quer que eu fosse produzir, não deveria ser movido por qualquer excesso de emoção. Geraldino e Jaime fluiriam livremente. Afinal, foram 16 anos – de 1979 a 1995 – de troca de cartas. Um longo período que lhes foi agraciado, para que amadurecessem. Amadurecessem ao ponto de se tornarem amigos e confidentes, motivo que os levou a ultrapassar os limites do campo da poesia, razão maior pela qual o destino os uniu.

    Nunca se viram pessoalmente, porém a sensação era a de se conhecerem há muito tempo – e sobre isso se expressa papai em sua carta de 24 de agosto de 1982:

    Já te disse tantas vezes, não nos conhecemos apenas desde 1979.

    Para não ocupar o tempo do leitor, tampouco espaço, neste livro, com questões corriqueiras, selecionei trechos que viessem a instigá-lo a uma reflexão, ou mesmo que viessem a surpreendê-lo pela originalidade das percepções dos poetas.

    Outra decisão importante foi a de conservar as missivas com o mesmo frescor dos idiomas com os quais eles se comunicaram em suas respectivas línguas-mãe.

    A decisão surgiu a partir da crença de que os que fossem ler este livro seriam capazes de compreender não apenas os idiomas em si, mas, principalmente, teriam a possibilidade de penetrar nos sutis meandros das expressões dos poetas. Sim, a pontuação, ortografia e eventuais erros gramaticais também foram respeitados.

    Muitas outras cartas foram catalogadas por Lúcia em pastas diversas. Cartas de/para poetas, leitores, jornalistas e críticos literários, entre tantas outras. Material tão rico, que poderia se tornar um compêndio literário, caso optasse em dedicar o resto de minha vida para fazê-lo...

    Uma lástima, no entanto, que esse modo de nos correspondermos esteja em extinção com o advento e a supervalorização da tecnologia. A sensação gostosa da expectativa da chegada do carteiro – e como curtíamos a vibração do nosso pai! A renovação que as cartas lhe traziam. A alegria de escrever a alguém e de imaginar este alguém recebendo, tocando, abrindo e até querendo sentir os cheiros do outro, não há comparação. Essa dinâmica humana está longe de ser resgatada...

    Foi graças ao intercâmbio epistolar entre meu pai e Jaime que cada uma de nós – mamãe, a mana Moema e eu – pôde vivenciar uma experiência de poucos. Experiência essa que até hoje repercute e que, ao longo da elaboração desta obra, me emocionou por várias vezes.

    Por meio de alguns relatos, cheguei a sentir as dores que meu pai sentira quando menino, jovem e adulto, algumas das quais eu ainda desconhecia, como as suas alegrias também. Em outros momentos, sorri, até gargalhei. Xinguei, falando alto com algumas das situações e com quem nelas estava envolvido. Conversei com ele, e até me surpreendi com certas observações que fez sobre mim em particular. "O que, papai?! Você pensava assim!?", exclamei várias vezes...

    O mais incrível foi que, ao ler as cartas, revisitei momentos de grande intensidade e significado de minha própria vida. Jovem, sonhadora, atenta ao futuro e, ao mesmo tempo, contida e eufórica diante das descobertas do presente. Foi a esse meu ambiente psicológico que a experiência de meu pai se somou e dela tirei uma das mais puras, plenas e sinceras lições de vida.

    Por isso, e muito mais, tenho pelos poetas Geraldino e Jaime uma gratidão enorme, sem contar com a afinidade e amor que sinto por ambos. Eles, que me ensinaram que uma verdadeira e rica amizade pode ser, sim, fortemente mantida, nutrida e perpetuada mesmo com a dificuldade assinalada por uma distância física de cerca de 4600 quilômetros.

    Com amor,

    Beatriz Brenner

    Bairro das Graças, Recife

    Janeiro de 2014

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    Afinidades eletivas: sintimento no encontro em forma de abraço

    por Mª. do Carmo Nino

    "A vida é a arte do encontro, embora haja

    tanto desencontro pela vida."

    Vinícius de Moraes

    Em um filme de história memorável – Nunca te vi sempre te amei ¹ –, tomamos ciência de um relacionamento à distância, por meio de cartas, no qual o amor pelas palavras, pelos livros e pelas ideias assume o protagonismo entre duas pessoas que nunca se encontram pessoalmente.

    De imediato, pensei nessa história quando comecei a refletir sobre a correspondência empreendida por esses dois poetas que nunca se viram, mas cujas missivas trocadas ao longo de dezesseis anos comprovam a real eficácia no compartilhamento de ideias, em que afinidades e humores puderam emergir sem que a distância fosse empecilho para um abraço entre valores, ideais e crenças, estabelecendo as bases de uma sólida amizade.

    Sempre me pareceu que o senso comum, ao pensar no caráter de virtualidade, deixasse de lado a força inerente ao significado da própria palavra latina virtus, que significa força, impulsão inicial. Virtus não é uma mera eventualidade restrita aos limbos do possível (essa seria a característica do que é potência, ainda sem existência real), pois virtus, enquanto energia, age de maneira fundamental, configurando-se como algo dentro da realidade. Pensar a troca de correspondências entre seus autores à luz dessas questões traz a evidência do quanto a intensidade e sinceridade das ideias sobre os desafios da própria aventura do viver, dos ensinamentos por meio de prazeres e de mazelas, assim como sobre a artesania do fazer poético contido em suas linhas estão representadas e inseridas nas respectivas trajetórias e obras dos poetas.

    Apenas por essas razões, este empreendimento coordenado por Beatriz Brenner, a filha de Geraldino, ela também escritora, já seria um presente para os leitores da literatura brasileira e de língua espanhola. Mas ainda tem mais: esta iniciativa é um estímulo à amizade e à criação poética por parte daqueles aprendizes que se dispuserem a ver nestas linhas uma exaltação à escrita, à sensibilidade compartilhada, como se fôssemos, todos nós, se e quando assim o quisermos, capazes de comunicar a outrem nossas emoções e, nesta troca, construir um corpus capaz de motivar e proporcionar uma identificação em larga escala de impressões, sejam elas alegrias ou lamentos. Sintimentos. Uma forma de exercer nossa condição incontornável e imensamente rica de seres sociais, de não nos sentirmos sozinhos e também de celebrar os encontros felizes.

    No início, primeiro contato de um poeta colombiano que descobre um livro de poesias de um outro, um brasileiro: os poemas de Geraldino Brasil arrebataram a sensibilidade poética de Jaime Jaramillo Escobar, a ponto de este lhe escrever pedindo o assentimento para traduzi-lo para o espanhol e prover também aos colombianos a possibilidade de conhecer nosso autor nordestino. A este primeiro abraço seguiram-se outros, e gosto de imaginar o quanto de expectativa, emoção, surpresa, encantamento, ao longo desta conversa, esta troca de cartas pôde proporcionar a seus agentes. Talvez tenhamos, em tempos atuais, perdido um pouco desta dimensão devido à instantaneidade com que os contatos se fazem (e consequentemente se desfazem), sem que o devido tempo de espera dê lugar a uma ansiedade positivamente reveladora – isso sem falar no que é intrínseco ao processo, com tudo aquilo a que o diálogo materializado por cartas dá direito: textura, cor, tato, olfato. Sensorialidades. Sensações.

    Se ser poeta é se proporcionar a experiência e gozo deste bem súbito², é dedicadamente dar-se à alegria de ordenar, medir, escolher as palavras que cabem nas emoções individuais que necessitam urgentemente aflorar, sejam elas apaziguadoras ou inquietantes, o resultado emerge como um corpo em busca de órgãos. Todo poema, tessitura que é, se completa e se mensura no encontro com a face e a memória do mundo, composta nada menos por todos nós, com nossas experiências e anseios – e ele tem como ambição maior tornar-se um corpo coletivo, capaz de, simplesmente, um grande abraço.

    1 O filme é baseado no livro 84 Charing Cross Road.

    2 Título de um dos livros de poemas de Geraldino Brasil, lançado em 1986.

    Como tudo começou...

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    Esclarecimentos

    Jaime apresenta Geraldino Brasil em texto escrito em 30 de novembro de 1980, para a revista colombiana ECO, que publicava poemas do meu pai.

    Mais tarde, pedi a ele que escrevesse algumas palavras sobre o intercâmbio. O texto que enviou intitula-se Explicación. Este revela o Jaime do Terceiro Milênio, da era da tecnologia, utilizando o e-mail em vez do carteiro. O Jaime pós-Geraldino e após tantas andanças por meio da vida e de tudo o que atraiu para si. O Jaime ainda – e para a nossa alegria – cheio de luz, inspiração e disposição, todas nutridas pelo profundo amor às artes e pelo que é bom e belo que ainda resta nesse mundo.

    Esse Jaime que conheci em 2011, em Medellín, por não mais suportar continuar a viver sem abraçar aquele com quem papai viveu a fase mais feliz de sua vida!

    Na mesma época em que escrevia a Jaime, meu pai também manteve intensa correspondência com o crítico literário, tradutor e poeta gaúcho Paulo Hecker Filho, para quem apresentou a poesia de Jaime. Logo, Paulo o reconheceu como um intelectual e um poeta. Vou tentar traduzir os três títulos de Jaime que achei mais marcantes e poéticos.... A partir daí, o vínculo se estabeleceu entre os três.

    Por sorte, encontrei Paulo apresentando o poeta colombiano, em seu livro X-504 – Jaime Jaramillo Escobar, de 1986. Não tive dúvida de transcrevê-la para este livro, até como uma homenagem póstuma ao querido poeta e amigo do meu pai, Paulo Hecker Filho.

    Outro personagem marcante e muito querido, frequentemente citado nas cartas, é Otto Morales Benítez. Otto manteve estreita relação com minha família, chegando a ir a nossa casa quando veio em Recife em visita oficial. Na ocasião, Otto estava curioso. Quis se certificar de que Geraldino Brasil não era mais um pseudônimo adotado pelo excêntrico poeta Jaime Jaramillo Escobar, ou mesmo um fantasma... Ele conta como foi essa história!

    Hoje, aos 93 anos, ainda não se desligou de algumas das atividades que o consagraram na Colômbia como jurista, político, pesquisador, acadêmico e ministro.

    Observei, quando estive com ele em Bogotá, em 2011, o quanto Otto ainda mantém acesa a chama da criação literária, baseada em suas reflexões de cunho humanístico e poético.

    Foi uma alegria imensa para mim o fato de ele haver aceitado meu pedido para escrever algumas linhas sobre o que significou para si, sua família e para os colombianos, a amizade entre os poetas brasileiro e colombiano. Seu relato, com toques espirituosos, enriquece enormente este livro.

    Recife, 2013

    Em tempo: Hoje, dia 23 de maio de 2015, soube, com pesar, do falecimento de Otto. Mas, para meu consolo, lembrei-me da alegria dos afins que o recepcionaram no outro plano. A sua gargalhada abalará os céus, Otto!

    Geraldino Brasil

    Un hombre flaco del Nordeste, hombre que no había sido creado por Dios sino por João Cabral de Melo Neto, me contó que Dios, al concluír la Creación, se detuvo a mirarla desde Recife, que es desde donde el mundo se ve más hermoso. Murió de infarto y allí está enterrado en Recife, con una crucecita blanca de madera encima, y por eso es que nacen tantos poetas en Recife y en sus alrededores y cuando están chicos juegan en las calles de Recife para después poder escribir eso en sus poemas.

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    Nació Manuel Bandeira en Recife, nació João Cabral de Melo Neto en Recife, nació Jorge de Lima en Alagoas, nació Lêdo Ivo en Maceió (Alagoas), nació Joaquim Cardozo en Recife, nació Mauro Ramos da Mota en Recife, nació Geraldino Brasil en Maceió y en Recife.

    Geraldino, 54, ha publicado seis libros. Con los tres últimos se sitúa entre los grandes del Brasil. Su poesía está hecha para todos como el sol y el agua y por eso la cantan y le ponen música, porque un verso suyo le ayuda a vivir a la gente y el que no sabe hacer milagros no es poeta.

    Después del gran salto de Manuel Bandeira, Geraldino Brasil viene despeñado, poeta caído del cielo. Con Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Jorge de Lima, Murilo Mendes, con Lêdo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, João Cabral de Melo Neto, José Paulo Moreira da Fonseca, impregnados por esa eternidad que el mar descarga en los puertos. Los grandes poetas alumbran de lejos. Poeta-faro en la costa de Pernambuco.

    Conocí a Geraldino Brasil en su libro Poemas Insólitos e Desesperados, breve volumen que ayudado por muchas manos viajó desde Maceió hasta Bogotá y me perseguía por toda la casa sin que yo me animara a leerlo, por el título y la carátula. Un día le dije: Ven acá, librito, y al abrirlo fue como si hubiera partido un coco.

    La poesía brota de Geraldino por esa herida del costado. Traigan toda clase de vasijas, recojamos esta sangre preciosa. El poeta es un torrente

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