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O cansaço dos bons: A logoterapia como alternativa ao desgaste profissional
O cansaço dos bons: A logoterapia como alternativa ao desgaste profissional
O cansaço dos bons: A logoterapia como alternativa ao desgaste profissional
E-book211 páginas4 horas

O cansaço dos bons: A logoterapia como alternativa ao desgaste profissional

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Sobre este e-book

Você acorda cansado e termina exausto o seu expediente de trabalho? Percebe que ficou insensível, frio e duro em relação às pessoas ao seu redor? Acredita que trabalha demais e inutilmente, e o que faz perdeu seu sentido?
Talvez você esteja sofrendo de burnout, uma forma de desgaste profissional que acomete especialmente profissionais da saúde, educação, trabalho social, assistência espiritual, enfim, quem trabalha com gente e para gente.
A atual sociedade de consumo pós-moderna favorece esse desgaste, manifestado por um número crescente de profissionais, impedindo-os de se sentirem realizados com seu trabalho e, em última análise, com a própria vida.
Neste livro, Roberto Almada propõe-se a "contribuir para que a terra continue sendo bonificada pelas pessoas boas, pelas pessoas honestas", sem que elas "morram tentando". Sua abordagem é diferenciada: com o instrumental da logoterapia, deseja transcender a dimensão individual da pessoa, para abri-la às suas relações de sentido e, sobretudo, às suas relações interpessoais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de out. de 2015
ISBN9788578211417
O cansaço dos bons: A logoterapia como alternativa ao desgaste profissional

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    O cansaço dos bons - Roberto Almada

    obras".

    Capítulo 1

    O DESGASTE PROFISSIONAL DOS QUE AJUDAM (BURNOUT)

    "O trabalho é para nós o único caminho que nos leva do sonho à realidade.

    […]

    O sinal de que o trabalho é feito para nós, sempre que não seja desumano, é uma alegria que não diminui nem mesmo pelo cansaço."

    Simone Weil

    1. Susana, uma médica cheia de energia

    Ao saírem, encontraram um homem de Cirene de nome Simão. E o requisitaram para que carregasse a cruz.

    Evangelho de Mateus

    Susana é uma mulher com seus trinta e oito anos, profissional responsável, atenta a seus pacientes e generosa com seu tempo. É o tipo de médica que deixa qualquer paciente tranquilo, confiante e, ainda que possa parecer exagerado, até mesmo amigo. Durante o ensino médio, nunca lhe faltaram amigos. Chamavam-na de a psicóloga porque escutava as histórias, interessantes ou chatas, cheias de novidade ou repetitivas, de toda a classe. Todos se confessavam com ela. Quando chegou o momento de escolher uma profissão, ficou na dúvida entre estudar psicologia, aproveitando sua capacidade de escutar, ou o curso com que poderia servir à humanidade mais concretamente. Com esse propósito, escolheu medicina.

    Durante a faculdade, foi militante nos grêmios estudantis e, para manter-se economicamente, dava plantão como enfermeira numa clínica geriátrica. Rapidamente reconheceu a desumanização da medicina em quase todos os setores do hospital-escola e na clínica geriátrica. Já tinha escutado falar disso nas reuniões do Centro Acadêmico, mas a realidade é muito mais crua do que a dialética política. Ao ver a angústia mesclada com a resignação dos doentes diante de tanta indiferença, seu coração jovem e sincero rebelou-se. Primeiro com a denúncia política. Susana participou de manifestações, pichou paredes, pintou faixas com slogans revolucionários e proferiu seus primeiros discursos contra a velha política de saúde. Contudo, ficou insatisfeita com o pouco resultado alcançado.

    Restava-lhe um plano B: trabalhar à contracorrente da indiferença, estabelecendo relações humanas, autenticamente humanas, com seus pacientes. A solidariedade demonstra-se com fatos e não com palavras. Susana então agia para esquivar-se da burocracia hospitalar: pedia aos laboratórios farmacêuticos medicamentos que não estavam disponíveis, passava noites cuidando de doentes agonizantes, aconselhava familiares dos pacientes e ia até a casa deles para aplicar injeções ou fazer curativos pós-operatórios. Tudo, óbvio, gratuitamente; era inconcebível que essa gente pobre que ia ao hospital pudesse pagar honorários. Mas Susana sentia-se recompensada com o beijo de uma criança, o agradecimento de um aposentado materializado numa sacola de verduras da própria horta ou com o choro de emoção de um jovem pai ao ver o ganho de peso de seu bebê após uma grave pneumonia.

    Quando se tornou médica, pediram-lhe que atendesse no ambulatório do bairro duas tardes por semana. Apesar do pouco tempo de que dispunha, Susana aceitou com entusiasmo. Sempre quis fazer algo pela comunidade. Por ser atenta e responsável, a Associação de Moradores solicitou-lhe que assumisse a direção do ambulatório, e isso acrescentou mais uma reunião semanal à sua já complicada agenda. Todavia, a essa mulher não faltavam nem energia, nem entusiasmo, nem fé.

    A propósito de fé, Susana começou a dedicar suas tardes de sábado a ministrar palestras de educação sexual a jovens e noivos da paróquia. Nunca havia pensado nisso; sim, era de tradição católica, mas não frequentava a Igreja. Padre Carlos soube dela e foi procurá-la, pois não havia na paróquia ninguém apto a essa tarefa. Nos anos anteriores tinha ido um médico velho e católico; ele, talvez por essas características, ele fosse chato demais para os jovens. Susana, jovem e próxima, era a pessoa certa. Disse-lhe padre Carlos: Você é a única que pode fazer isso! E como parecia ser mesmo, Susana não pôde recusar o pedido. Ademais, como ela queria fazer tudo muito bem, tratou de compensar seus parcos conhecimentos sobre a matéria lendo algo sobre a moral católica. Bastava dormir um pouco menos…

    No entanto, a Susana não chegavam somente palavras e gestos de gratidão. Com o tempo, foi recebendo algumas críticas de seus colegas, muito sutis no início, mas bem ásperas depois. Elas se explicavam pelo fato de o forte compromisso de Susana desnudar a superficialidade e a indiferença de muitos. Quem ela pensa que é? Madre Teresa de Calcutá? Surgiram até mesmo psicanalistas de botequim que, murmurando, relacionavam sua precisão obsessiva na vida profissional com a sua solteirice. Murmuravam ao redor dela. E como não havia aceitado dos administradores do hospital propostas de pesquisas antiéticas, Susana foi ganhando também a desconfiança e a antipatia de seus chefes. Seus pais, mais queixosos pela idade e frequentemente abandonados por essa filha que vivia absorvida pelo trabalho, passaram a recriminá-la. Com o decorrer dos anos, Susana teve de dedicar mais tempo a seus pais, cujos achaques dos anos os tornaram mais necessitados dos cuidados da filha doutora.

    Por outro lado, Susana começou a constatar que alguns de seus pacientes, apesar de todos os seus cuidados, não melhoravam. Alguns não seguiam o tratamento proposto e, embora garantissem estar sendo fiéis às dietas ou ter deixado o álcool, os exames clínicos (e o hálito!) mostravam o contrário. Nem sempre era pela falta de dinheiro; muitas vezes, somente por desleixo. Susana descobriu que estava mais interessada na saúde dos pacientes do que os próprios pacientes. Também se foi revelando, aos poucos, uma velha verdade: a medicina não cura todas as doenças. Fato muito conhecido e bem aceito pela humanidade, cuja evidência os médicos parecem ser os últimos a reconhecer. Um dia encrespou-se diante de uma senhora surda e senil, enquanto pensava: Quem me mandou tratar desta velha esclerosada? Que sentido faz? Assustou-se; algo estava mudando em seu coração. Outro dia irritou-se e tratou com desconsideração uma mulher que carregou sacolas pesadas logo após receber alta de uma cirurgia abdominal. Ao ver que os pontos da cicatriz se tinham soltado, ficou desconcertada. Nunca tinha sido tão grosseira!

    As forças começaram a abandoná-la, e ela já não dispunha de sua habitual energia. O esgotamento não era somente físico; também a mente foi ficando lenta e confusa. Passou a não sentir nada pelas pessoas. Chegou até a comentar com alguns amigos: Sinto-me vazia; acho que não tenho mais nada para dar… Os corredores do hospital transformaram-se em caminhos intermináveis, seus passos tornaram-se desanimados, e seu sorriso, tido como encantador, virou artificial, uma careta. Certa vez, escondeu-se na enfermaria para evitar uma paciente chata; não tinha coragem nem energia necessárias para encará-la. Sua memória ficou frágil.

    Lenta e quase imperceptivelmente, Susana entrincheirou-se. Reduziu o número de contatos e manteve-se na esfera estritamente profissional. Enfim conseguiu, como seus colegas, não mais se comover com o sofrimento alheio. Seus pacientes transformaram-se em meros números, em doenças para tratar, e suas necessidades humanas, em temas que não lhe diziam respeito. Durante a consulta, aprendeu a mudar de assunto quando a conversa se tornava muito pessoal.

    Graças a essa burocratização, ela pôde continuar trabalhando; internamente, porém, Susana já não se sentia mais a mesma. Tinha a sensação de estar usando máscaras de acordo com o momento e o papel que lhe cabia: médica, filha, militante política ou catequista. Sua vida fragmentou-se numa sucessão de períodos desvinculados. E começou a ser o que jamais imaginara vir a ser um dia: uma peça a mais na desumanização da medicina.

    Um nosso amigo comum, colega de ambos, indicou meu nome para que ela se consultasse comigo.

    Ao terminar a narração de sua história, Susana me confessou seu sentimento de fracasso e de inutilidade. Isso seria definitivo? Sentia-se culpada por sua incoerência. Onde fora parar o ideal de sua vida? Por outro lado, esses ideais a estavam levando à autodestruição, e ela estava apavorada. Jogar a toalha parecia ser a única saída, acompanhada da pergunta: Será que nasci para a medicina?

    2. O esgotamento profissional. Definição da síndrome

    Erguendo-se após a oração, veio para juntos dos discípulos e encontrou-os adormecidos de tristeza.

    Evangelho de Lucas

    A história de Susana repete-se hoje, com diferentes nuanças, em muitas pessoas. Profissionais da saúde, docentes, trabalhadores sociais, voluntários, sacerdotes, frades e missionários, policiais, funcionários públicos e empregados da iniciativa privada, políticos e até mesmo donas de casa sofrem dessa forma de desgaste, ignorando, na maioria dos casos, estarem sofrendo um transtorno.

    Nas histórias delas, é possível encontrar elementos comuns que permitiram aos pesquisadores – em geral, médicos e psicólogos – reuni-los em uma síndrome, descrever suas características e assinalar a sua evolução. Esse conhecimento foi útil para elaborar estratégias terapêuticas e preventivas.

    A síndrome do esgotamento profissional foi chamada de diferentes maneiras. Como acontece geralmente, o nome sugerido tem a ver com a concepção causal e evolutiva do médico que o emprega. O termo burnout, em inglês, é o mais conhecido. Foi utilizado pela primeira vez em 1974 por Herbert Freudenberger, um psiquiatra que trabalhava como assistente voluntário numa clínica de recuperação de toxicodependentes em Nova York. Muito observador, o doutor Herbert percebeu que os voluntários que cuidavam desses pacientes, em sua maioria jovens, ingressavam nesse serviço com grande entusiasmo; porém, com o passar do tempo, o contato com o mundo das drogas levava-os à depressão e a transtornos emocionais. Os que haviam começado o trabalho com grandes expectativas e energia transformavam-se em pessoas cansadas e tristes. Por fim, mostravam-se pouco compreensivos com os pacientes e irritavam-se com eles. Nas reuniões de equipe, a atitude frente aos usuários do serviço era cínica e, consequentemente, pessimista quanto ao decurso do tratamento. O doutor Herbert Freudenberger deu a essa situação o nome de burnout, termo que se usava na própria clínica de reabilitação para descrever o cérebro danificado pelo consumo crônico de drogas, posto que normalmente se dizia: "Este sujeito está com o cérebro queimado (burned out)". Assim, ele definiu o burnout como um estado de fadiga ou frustração produzido pela dedicação a uma causa, estilo de vida ou relação que não produz o resultado esperado.

    Freudenberger estava convencido de que as pessoas idealistas, ingênuas, otimistas, em suma, boas, se entregavam a seu trabalho excedendo as próprias possibilidades pela necessidade inconsciente de terem uma imagem positiva de si mesmas. Essas pessoas poderiam ser comparadas a fósforos que primeiro, quando riscados, se acendem vivamente; em seguida, sustentam uma chama fraca por pouco tempo e, finalmente, se apagam. Sabemos muito bem quão inútil é um fósforo queimado.

    O que fundamentalmente se produziu foi um esgotamento dos recursos psicológicos dessas pessoas para enfrentar as exigências do trabalho de assistência a terceiros. Elas perderam o sentido existencial de sua vocação inicial por causa do desequilíbrio prolongado entre o sentido da tarefa realizada e a realidade objetiva do fracasso. Tudo isso levou a uma baixa autoestima.

    O termo burnout pertence também à linguagem aeronáutica. Chama-se assim ao módulo do foguete que contém o combustível e que, cumprida a missão de levar a cápsula para fora da atmosfera, fica girando vazio e inútil pelo espaço sideral. Ambas as imagens, tanto a do cérebro queimado do toxicômano quanto a do foguete como lixo espacial, têm conotação negativa. No meu entender, são inadequadas, pois indicam situações sem retorno; mas, como veremos, a evolução da síndrome nem sempre está fadada ao esgotamento total das forças e ao conseguinte abandono da atividade. Muitas pessoas superam esse mal graças a um processo de aprendizagem, com ajuda externa ou com seus próprios recursos, e não são obrigadas a repeti-lo pouco depois de retomar suas atividades.

    De qualquer forma, em nosso trabalho usaremos indistintamente os termos burnout, desgaste profissional ou desânimo profissional. Os três termos já são populares e cada um remete à mesma síndrome. Pessoalmente prefiro o último, desânimo profissional, porque a etimologia nos remete a ânimo, alma. Que é o princípio vital do ser humano, e coloquialmente o princípio de alguma coisa. Muitas vezes dizemos: Fulano é a alma daquele escritório. Pois lhe dá o timbre e o ritmo. No futebol, o papel da torcida é justamente animar, mesmo se o time está perdendo. Trata-se, portanto, de uma palavra que têm uma conotação positiva, mesmo na necessidade. Isso me leva a pensar que, em meio ao desânimo profissional, é possível abrir-se para criar alma nova. Diz também da esperança de encontrar o apoio de uma torcida fiel que siga animando mesmo na derrota.

    A psicóloga Cristina Maslach, estudiosa da síndrome, define-a como a resposta adequada a um estresse emocional crônico cujas características principais são: esgotamento físico e emocional, atitude fria e despersonalizada na relação com os demais e um sentimento de inadequação para as tarefas que vinham sendo realizadas anteriormente. Portanto, seguindo o esquema da doutora Maslach, podemos descrever a síndrome mediante estas três dimensões: esgotamento emocional, despersonalização e sentimento de baixa realização

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