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A voz do narrador e da personagem através da memória em Machado de Assis e Milton Hatoum
A voz do narrador e da personagem através da memória em Machado de Assis e Milton Hatoum
A voz do narrador e da personagem através da memória em Machado de Assis e Milton Hatoum
E-book233 páginas2 horas

A voz do narrador e da personagem através da memória em Machado de Assis e Milton Hatoum

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Sobre este e-book

Os estudos literários vêm se expandindo à luz de pesquisas realizadas por várias disciplinas, como a Teoria Literária e a Crítica Literária. Essas "duas damas" são inseparáveis em qualquer estudo de texto, pois uma analisa a produção do escritor como fenômeno em si, sua natureza, sua estrutura e suas transformações através do tempo, enquanto a outra exige um posicionamento do analista, em relação ao corpus trabalhado. Neste aspecto, este livro, como resultado da dissertação de Mestrado de Cristiane de Mesquita Alves transita nos terrenos da Teoria e da Crítica Literárias, pois a pesquisadora faz uma comparação entre os protagonistas dos textos: Esaú e Jacó, de Machado de Assis e Dois Irmãos, de Milton Hatoum. No desenvolvimento do estudo, a autora demonstra perspicácia e profundidade na interpretação das vozes que aparecem nas duas narrativas, salientando aproximações e divergências, dentro dessa polifonia. (Prof. Dr. José Guilherme de Oliveira Castro)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de mar. de 2018
ISBN9788546211159
A voz do narrador e da personagem através da memória em Machado de Assis e Milton Hatoum

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    A voz do narrador e da personagem através da memória em Machado de Assis e Milton Hatoum - Cristiane de Mesquita Alves

    Irmãos

    PREFÁCIO

    O assunto era velho e bom para atar conversa; aproveitamo-lo e chegamos ao desembarque, depois de trocarmos muitas ideias e impressões. Confesso que as minhas mãos eram mais novas que o assunto inicial, e eram curtas; as dele tinham sobre elas a vantagem de evocações e narrativas. (Assis, Machado de. Memorial de Aires. Edição Especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013)

    Os estudos literários vêm se expandindo à luz de pesquisas realizadas por várias disciplinas, como a Teoria Literária e a Crítica Literária. Essas duas damas são inseparáveis em qualquer estudo de texto, pois uma analisa a produção do escritor como fenômeno em si, sua natureza, sua estrutura e suas transformações através do tempo, enquanto a outra exige um posicionamento do analista, em relação ao corpus trabalhado.

    Neste aspecto, este livro, como resultado da dissertação de Mestrado de Cristiane de Mesquita Alves, transita nos terrenos da Teoria e da Crítica Literárias, pois a pesquisadora faz uma comparação entre os protagonistas dos textos: Esaú e Jacó, de Machado de Assis e Dois Irmãos, de Milton Hatoum. No desenvolvimento do estudo, a autora demonstra perspicácia e profundidade na interpretação das vozes que aparecem nas duas narrativas, salientando aproximações e divergências, dentro dessa polifonia.

    Para a comprovação dos dados hipotéticos, Cristiane tomou como suporte as teorias de vários pensadores dos estudos literários, entre os quais aparecem: Eclea Bosi, Antônio Candido, Barthes, Bakhtin, Kátia Canton, Maurice Halbwachs, Ricoeur, Candau, Bauman, Cândida Vilares Gancho e outros. Todas essas teorias deram solidez às ideias apresentadas na análise dos textos realizada pela pesquisadora.

    No que se refere ao estudo dos protagonistas, a autora parece brincar literariamente com as características, com as semelhanças e com as diferenças entre Pedro e Paulo, na narrativa de Machado de Assis, e Yaqub e Omar, no romance de Milton Hatoum. Também se observa que Cristiane lança um novo questionamento: Por que não são Aires e Nael as personagens mais importantes dos dois romances em estudo, em vez de Pedro e Paulo, em Machado de Assis, e Yaqub e Omar, em Milton Hatoum? Isso prova que a hipótese construída pela pesquisadora é rica e tem probabilidade de gerar novas hipóteses e, consequentemente, novos trabalhos sobre o tema abordado.

    Portanto, a leitura desta dissertação, que tive o prazer de orientar no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura, da Universidade da Amazônia, remeteu à teoria de Machado de Assis sobre o perfil do crítico literário: conhecedor do fenômeno da literatura, imparcial, delicado e tolerante. Por isso, acredito que não foi por acaso que Cristiane Alves de Mesquita escolheu um dos romances do grande escritor brasileiro para objeto de sua pesquisa, visto que esses mesmos traços do crítico se refletem na redação deste trabalho.

    Por tudo isso que foi apresentado, pode-se dizer que está surgindo com vigor um novo nome, no terreno dos Estudos Literários.

    Belém, 09 de julho de 2017

    Prof. Dr. José Guilherme de Oliveira Castro

    Professor Titular da Universidade da Amazônia (Unama)

    INTRODUÇÃO

    Francamente, eu não gosto de gente que venha adivinhando e compondo um livro que está sendo escrito com método. [...] Não pus a pena na mão, à espreita do que me viessem sugerindo. Se quer compor o livro, aqui tem a pena, aqui tem papel, aqui tem um admirador; mas, se quer ler somente, deixe-se estar quieta, vá de linha em linha; dou-lhe que boceje entre dois capítulos, mas espere o resto, tenha confiança no relator destas aventuras. (Assis, 2002, p. 61)

    Porque a autora que inicia a escrever este livro irá começar a desenrolar um novelo de dois tubos de linhas que teceram dois grandes romances da Literatura Brasileira. Um do final do século XIX e outro da chamada era da pós-modernidade literária. Dois grandes autores de épocas distintas que se assemelham em temas e inquietações literárias quanto à construção de suas personagens. E para respeitar as linhas cronológicas de vida dos escritores, vai-se o primeiro por período artístico: Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), fluminense, um dos mais importantes escritores da Literatura Brasileira, autor de inúmeros contos, crônicas, peças de teatro e dois livros de poesias (Crisálidas (1864) e Falenas (1870)), e nove romances distribuídos em duas fases artísticas, que não se devem ser classificados com precisão ou em romântica ou em realista-naturalista de acordo com Coelho (2008).

    Machado de Assis foi

    incapaz de seguir escolas ou modelos [...] atravessou três estádios da vida intelectual brasileira, mantendo sua independência literária e conservando sua individualidade artística. Se aderiu a correntes fez em parte. (Coelho, 2008, p. 230),

    Machado empregou faturas desses estilos de época em suas obras, sobretudo nas liberdades narrativas peculiares à segunda fase começam sobre o signo de Sterne, conforme a conhecida indicação de Machado de Assis [...] (Schwarz, 2012, p. 230), destacando-se sempre por sua originalidade em suas tessituras, das quais, centraliza-se neste estudo, a penúltima Esáu e Jacó (1904). Para Schwarz (2012), a novidade dos romances de Machado de Assis está de fato na segunda fase de sua literatura, principalmente quanto à figura do narrador.

    Embora Machado de Assis tenha se destacado na História da Literatura por sua originalidade, não se deve negar suas influências e/ou leituras e releituras. Para Afrânio Coutinho:

    Machado de Assis não pode ser criticamente entendido e explicado sem o estudo de suas fontes estrangeiras, pois talvez não haja outro que, sendo como um autêntico escritor brasileiro, refletindo o seu país como um espelho, tenha tão bem aproveitado do estudo da literatura universal. (Coutinho, 2014, p. 47)

    Outro crítico literário que compartilha com o pensamento de Coutinho é Benedito Nunes, ao afirmar que:

    Como Sterne, Machado de Assis ousa fintar a fugacidade do tempo, com a diferença de que o dribla em lances mais extensivos, como em Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), contando a história a partir do fim, da morte do narrador para trás. Para trás caminha Bentinho de Dom Casmurro (1899), num movimento de vaivém. (Nunes, 2013, p. 53)

    Ainda sobre Machado de Assis, Coelho (2008) acrescenta:

    Efetivamente, ele exprimia suas ideias, vazava suas emoções nessa forma indecisa, nessa arte simulada de não deixar propriamente as imagens, deixando apenas entrevê-las. Para não avançar muito ou para ser pouco entendido, ele ousava mais sugerir que dizer, obrigando o leitor a concluir-lhe o pensamento meio expresso e meio oculto. Palavra em Machado de Assis jamais tem extensão exagerada ou valor excessivo. (Coelho, 2008, p. 230)

    Neste estudo, há mais uma pretensão e/ou interpretação ou mesmo mais uma leitura das tantas que permitem a obra deste escritor único da Literatura Brasileira.

    Já o segundo, o manauara Milton Assi Hatoum (1952), professor, pesquisador, tradutor e um dos mais respeitados autores da atualidade. Publicou seu primeiro livro em 1989, Relato de um Certo Oriente, dentre outros romances, contos e crônicas, mas, que o escolhido para discursar com o romance de Machado de Assis nesta pesquisa é o premiadíssimo livro Dois Irmãos (2000). Hatoum é um

    Homem do mundo e em permanente mudança, Milton Hatoum é também um escritor universal. Sua rica infância no mundo árabe de Manaus e a experiência de andarilho moldaram o escritor que é hoje. Bem redigida, sua literatura é limpa de cacos modernistas e lembra os grandes romances do passado. Não por acaso, suas grandes paixões são Flaubert e Faulkner, dois excelentes mestres na arte de tornar universal um mero drama familiar. (Vale, 2007, p. 17)

    Ele passou a infância e uma parte da juventude na cidade de Manaus. Em 1967, mudou-se para Brasília, onde estudou no Colégio de Aplicação da UnB. Morou durante a década de 1970 em São Paulo, onde se diplomou em Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, trabalhou como jornalista cultural e foi professor universitário de História da Arquitetura. Em 1980, viajou como bolsista para a Espanha, onde morou em Madri e Barcelona. Depois passou três anos em Paris, onde estudou Literatura Comparada na Sorbonne. Autor de quatro romances premiados, sua obra foi traduzida em doze línguas e publicada em catorze países. Foi professor de literatura francesa da Universidade Federal do Amazonas (1984-1999) e professor visitante da Universidade da Califórnia (Berkeley/1996). Foi também escritor residente na Yale University (New Haven/EUA), Stanford University e na Universidade da Califórnia (Berkeley). Bolsista da Fundação Vitae, da Maison des Ecrivains Etrangers (Saint Nazaire, França) e do International Writing Program (Iowa/EUA).

    Hatoum publicou também ensaios e artigos sobre literatura brasileira e latino-americana em revistas e jornais do Brasil, da Espanha, França e Itália. Alguns de seus contos foram publicados nas revistas EuropeNouvelle Revue Française (França), Grand Stree (Nova York) e Quimera (México). Participou de várias antologias de contos brasileiros publicados na Alemanha e no México, e da Oxford Anthology of the Brazilian Short Story.¹

    Em parceria com o filósofo e crítico literário paraense Benedito Nunes, publicou Crônica de duas cidades: Belém e Manaus, em 2006, pela Secult-PA.

    Hoje, Milton Hatoum mora em São Paulo, onde é colunista do Caderno 2 (O Estado de S. Paulo). O autor também foi colunista dos extintos site Terra Magazine e da Revista Entrelivros.

    Passadas as premissas sobre os autores, vai-se a pesquisa propriamente dita. Os dois romances são construídos de muitas singularidades e, também, de muitos encontros. E dois são os responsáveis por promover as inquietações deste estudo: a construção da voz de quem narra e as personagens escolhidas para protagonizar os relatos. E, é sobre a primeira que se preocupará em desvendar as dúvidas para se chegar à resposta da seguinte problemática, aqui levantada: Por que não são os narradores Aires e Nael as personagens mais importantes dos dois romances em estudo, em vez de Pedro e Paulo em Machado, e Yaqub e Omar em Hatoum?

    Todo estudo será desenvolvido com esta finalidade, responder a esta pergunta-chave, que se tem como objeto de pesquisa. E, para comprovar a pergunta-hipótese levantada neste problema, analisar-se-á como objetivo geral um estudo de literatura comparada, a partir dos conceitos dos autores Remak, Pichois & Rousseau e Weisstein organizados por Carvalhal e Coutinho em seu livro Literatura Comparada – Textos fundadores, método usado entre as narrativas dos romances já citados que se apresentam de forma semelhante, e ter-se-á como centralização maior, desenvolver um estudo sobre a questão da memória que norteia cada um dos narradores, pois são eles os escolhidos pelos dois autores dos diferentes romances, as personagens que ganham vida e voz detentora de todos os conhecimentos a respeito de todas as demais personagens, e o mais instigante, são eles, nas suas condições de velhos, os portadores das vozes narrativas, que conduzem os fatos a partir das revisitações de seus passados, inclusive, fazendo juízos de valor sobre as ações dos protagonistas e, muitas vezes, colocando suas falas, nos discursos de outros, para atenuarem suas próprias decisões (narradores).

    Para tanto, foram usados alguns pontos específicos para se chegar à interrogativa feita, e justificar a metodologia neste livro empregada. As leituras foram realizadas de modo comparativo em três momentos. A primeira seleção foi por meio de escolhas de autores que se empenharam em escrever sobre a memória; a segunda, os que debruçaram sobre a função e a importância do narrador dentro da obra, narrador enquanto personagem, bem como autores que demonstraram porque nos relatos narrativos a personagem é o principal elemento dos mesmos; e a terceira elencada, escreveu-se sobre as questões de identidade; em síntese, um estudo de literatura comparada presente nos três tópicos em comum aos romances escolhidos. Ao término das leituras destes três grupos feitos para se realizar a pesquisa, dividiu-a em seções.

    A primeira seção o caro leitor terá a oportunidade de ler, e os iniciados, de reler conceitos sobre a memória, desde a individual à coletiva proposta por Maurice Halbwachs, também foram utilizados conceitos de Henri Bergson de seu livro Matéria e Memória, além dos discursos de Paul Ricoeur e Ecléa Bosi nas perspectivas de seus dois estudos: Memória e sociedade, lembranças de velhos (1987) e O tempo vivo da memória. Ensaios de Psicologia Social (2013), Yates, dentre outros autores que embasaram teoricamente os discursos memorialísticos das personagens Aires de Esaú e Jacó e Nael de Dois Irmãos. Nesta seção, também há duas importantes divisões para quem não teve a oportunidade de ler na íntegra as duas narrativas, então, houve a necessidade de um convite às leituras, e para fascinar o leitor deste texto, depois de toda conceituação teórica sobre memória, há Os recordados de Aires – a apresentação de todas as personagens do romance de Machado de Assis Esaú e Jacó, e sua contextualização histórica. Ademais, há Os flutuantes da mente de Nael, o passeio agora se dá por Manaus e todas as personagens participantes do relato do curumim amazônida que apresenta quem flutua em sua memória até a formação de sua identidade. Também, nesta seção, há algumas considerações sobre a vida e a obra dos autores, os estilos literários em que pertenceram, no caso de Milton Hatoum, que pertence!

    A segunda seção é a parte que dissertará sobre a narração, o narrador propriamente dito, desde a sua destecitura a valorização de Aires e Nael, na condição de personagens mais importantes nos processos das narrativas. Quanto à figura do narrador, sua importância e caracterização, empregou-se nesse tópico as contribuições do filósofo alemão Walter Benjamin, Vitor Manuel de Aguiar Silva, ideias emprestadas do processo de enviesamento elaboradas por Katia Canton, Roland Barthes; dentre os pesquisadores sobre os narradores de Machado de Assis, escolheu-se em particular: Betella, Schwarz e Villaça, sobre Milton Hatoum, Valle e o próprio depoimento do escritor em revistas e sites oficiais, além de outros ícones da narrativa desde os brasileiros, aos estrangeiros, para não só conceituar a importância do narrador dentro de uma narrativa, mas também, já será o caminho necessário para se comprovar e responder a indagação da qual se fez como objeto de pesquisa para este livro.

    Corroborando com as ideias apresentadas na seção anterior: a segunda seção é a que responde à interrogação. Essa seção foi assim denominada em duas frações: Destecendo o narrador... Retecendo a personagem e Novos personagens, nela foram feitas longas transcrições das próprias obras em estudo, além das teorias de Candido, Rosenfeld, Bakhtin e outros, nas quais comprovam as afirmações realizadas em todo o livro.

    Por último, a terceira. Chegado aos fins dos fios das linhas dos tecidos dos romances, Aires (levando em consideração só o romance Esaú e Jacó) e Nael, são obrigados a costurar o ponto final de suas histórias, sem depender ou se sustentar em outrem. E esta derradeira página foi intitulada de Achados de identidade. Nessa seção, foram estudados os conceitos de Candau, Bauman, Stuart Hall, etc., para justificar a identidade de Aires e, principalmente, Nael, dentro das narrativas elencadas.

    Nessas notas introdutórias, também é necessário dar outra informação ao leitor deste livro. Apesar de ser dividida em três seções, esta obra é bem à Machado de Assis, ou seja, fragmentada, vai-se, volta-se pelos campos da memória,

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