Teoria da História em debate: Modernidade, narrativa, interdisciplinaridade
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Teoria da História em debate - Fernando Gomes Garcia
Fernando Gomes Garcia, Breno Mendes e Andrea Vieira (orgs.)
Teoria da História em Debate
Modernidade, Narrativa, Interdisciplinaridade
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Coordenação Editorial: Kátia Ayache
Revisão: Isabella Pacheco
Capa: Márcio Santana
Diagramação: Márcio Santana
Edição em Versão Impressa: 2014
Edição em Versão Digital: 2014
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Sumário
Teoria da História em Debate
Página de Créditos
Prefácio
CAPÍTULO I: HEGEL E A RAZÃO MODERNA RADICALIZADA NO ESPÍRITO
1. A retomada da Razão antiga como Razão purificada na modernidade
2. A História como Espírito racional e salvador
3. O Espírito e a Liberdade
Referências
CAPÍTULO II: CONTENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM TORNO DO CRONÓTOPO DA MODERNIDADE
Introdução
1. Modernidade | Temporalização
2. Pós-Modernidade | Destemporalização
Considerações finais
Referências
CAPÍTULO III: PAUL RICOEUR E A NARRATIVA HISTORIOGRÁFICA: PARA ALÉM DO DEBATE EPISTEMOLÓGICO, A DIMENSÃO ÉTICA
Introdução
I) A narrativa na historiografia contemporânea e o impacto de Tempo e Narrativa
II) As implicações éticas da narrativa
III) Narrativa e vida prática: aprender lições com a historiografia?
Referências
CAPÍTULO IV: O PODER DA PALAVRA: HÁ LIMITES SOBRE O QUE A HISTÓRIA PODE NARRAR?
Referências
CAPÍTULO V: LIBERDADE DE EXPRESSÃO? A NEGAÇÃO DA HISTÓRIA DO GENOCÍDIO DE JUDEUS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
1. O caso de Pedro Varela
2. A questão da liberdade de expressão
3. Pedro Varela e a busca por legitimidade
Referências
CAPÍTULO VI: DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE A HISTORIOGRAFIA E A HISTORIOGRAFIA DA CIÊNCIA
Introdução
1. Distanciamento Entre a História e História da Ciência
2. Debates Acerca do Conceito de Historiografia
3. Possíveis Aproximações Entre História e História da Ciência
4. Possíveis Interfaces Entre o Pensamento de Kuhn e Febvre
Referências
CAPÍTULO VII: PENSANDO A LITERATURA - O ROMANCE E SUAS POSSIBILIDADES DE ANÁLISE
Introdução
1. Algumas propostas da historiografia para a abordagem da literatura
2. O romance: Contribuições das ciências humanas ao estudo da literatura
Conclusão
Referências
CAPÍTULO VIII: CRISE E INDEPENDÊNCIA NA HISTORIOGRAFIA PORTUGUESA: A HISTÓRIA DO BRASIL DE FRANCISCO SOLANO CONSTANCIO
Referências
CAPÍTULO IX: DE SÚDITO A CONSUMIDOR - OS INTELECTUAIS, OS ESTUDOS CULTURAIS E O LATINO-AMERICANISMO NUM MOMENTO DE GLOBALIZAÇÃO DOS SABERES
1. Intelectuais e poder: o dilema do intelectual latino-americano a partir do latino-americanismo
2. Os Estudos Culturais no Cone Sul latino-americano: reorganização intelectual e reinscrição da genealogia latino-americanista
Referências
POSFÁCIO
Organizadores
Paco Editorial
Prefácio
Fernando Gomes Garcia
Breno Mendes
Vindo a público com o nome de Teoria da História em debate, cabe aos organizadores explicar, além do título, o motivo da publicação deste livro. Em nosso caso, a resolução de um problema exige a solução de outro. Os textos aqui coligidos são originários de um Simpósio Temático – História da Historiografia e Teoria da História –, coordenados por Fernando Garcia e Breno Mendes durante o I EPHIS (2012) – Encontro de Pesquisa em História, evento criado por iniciativa dos discentes de Pós-Graduação em História da UFMG. Cabe, portanto, situar o leitor a respeito do evento como um todo e, mais especificamente, sobre o Simpósio Temático que proporcionou a produção e a apresentação dos textos ora publicados. Apesar de alguns desses textos permanecerem tal qual foram apresentados, a grande maioria deles passaram por grandes ou pequenas reformulações, de modo que seu resultado, apesar de manter fidelidade ao tema, não são idênticos aos anteriormente produzidos para exposição oral, sem a pretensão de alcançar mais público. Isto, por si, já é suficiente para demonstrar que há uma diferença radical entre o livro e o evento, a que se soma o óbvio; como nem todos os trabalhos debatidos no simpósio encontram-se nesta coletânea, o contexto das mesas em que foram apresentados foi desfeito, dando lugar a uma nova organização, a divisão em capítulos, que merece ser justificada. Assim, este prefácio se reveste de diversas missões, que esperamos que se cumpram para a melhor apreciação do livro pelos leitores que ora o têm em mãos.
Sendo um dos frutos do I EPHIS, exige-se a remissão à ocorrência do evento, aos bastidores da organização do simpósio, à experiência que foi coordená-lo, às mesas onde originalmente surgiram estes trabalhos, aos debates acontecidos e, finalmente, ao critério de seleção dos trabalhos para comporem a coletânea. Também é necessário explicar, mesmo que superficialmente, a diferença entre a concepção primeira do livro e seu formato final, bastante reduzido em textos e com uma organização diferente dos temas. Reconhecendo que, apesar de ser um fruto de um Simpósio Temático, o resultado do livro é uma ocorrência substancialmente diferente do evento, além das satisfações sobre os critérios de seleção dos textos, para que não se tenha a errônea impressão de que vieram parar aqui por fruto do acaso, como viajantes que ocorrem hospedar-se numa mesma pensão e, por isto, obrigado à convivência com o outro – com esse reconhecimento e para impedir uma impressão assim, é necessário ressaltar as afinidades entre um texto e outro. É necessário dizer por que um texto segue-se ao outro, e não o inverso; é preciso ressaltar e fazer ver o que cada um tem de semelhante, não obstante as diferenças, e demonstrar que, mais do que apenas conhecidos tendo em comum apenas o lugar onde estão de passagem, possuem uma origem e destino comuns, como se aparentados fossem. Este prefácio tem como tarefa, finalmente, justificar porque os textos que aqui se encontram sentam-se à mesma mesa; há, por certo, um fio condutor que leva de um texto ao outro, que permite um diálogo e debate vivo entre cada um; que são partes do mesmo todo, e que este todo se faz relação com suas partes – que esta coletânea é um livro uno e sólido, não apenas um apanhado de textos dispersos.
Para cumprir essa tarefa, primeiramente daremos a conhecer o que é/foi o I EPHIS e como se deu o simpósio que nós, organizadores do livro, coordenamos, dentro do evento, assinalando o que dele permanece neste livro e em que este é diferente e acrescenta ao primeiro – porque faz sentido reunir os trabalhos lá apresentados, aqui. Em seguida passaremos a explicar a sequência dos capítulos ao indicar os diálogos possíveis entre eles, esperando que procedendo assim, a experiência do leitor seja mais rica.
* . *
O I EPHIS começou a ser desenhado em 2011, por iniciativa de alguns alunos do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, que detectaram certa falta de espaço para os pós-graduandos, mais especificamente em História, de discutir seus trabalhos em eventos de grande porte. Ao mesmo tempo em que, de nós, é cobrada a produção e participação em eventos, nossas intervenções, paralelas às de pesquisadores com maior bagagem, nem sempre resultavam em experiência proveitosa para nossas pesquisas, em que pudéssemos discutir com maior profundidade trabalhos muitas vezes em estágios iniciais. Dessa percepção surgiu a iniciativa que contou, em sua Comissão Organizadora, com os mestrandos Warley Gomes, Mariana Bracarense, Mariana Silveira, Ana Marília Carneiro e Fabrício Vinhas; além dos doutorandos Francisco de Mendonça Júnior, Gabriel da Costa Ávila e Raul de Oliveira Lanari. Mesmo já com a pretensão de realizar novas edições do evento, a proposta inicial era modesta, com o intuito de não ter mais do que cinco simpósios temáticos simultâneos, temerosos de que com mais do que isso o evento ficasse por demais fragmentado, com discussões muito específicas e isoladas, concentrando poucos comunicantes esparsos cá e lá.
Dentro da perspectiva de que seriam possíveis apenas poucos simpósios temáticos, Fernando Garcia e Breno Mendes, nós, dois dos organizadores deste livro, decidimos enviar uma proposta que contemplasse a Teoria da História, campo de pesquisa em franca expansão no Brasil e que necessita de constantes esforços para se consolidar como legítimo e importante também para os historiadores que não desenvolvem pesquisas na área. No caso da UFMG, instituição referência no ensino superior brasileiro, os estudos em Teoria da História encontram-se, em alguma medida, marginalizados – mesmo que seja crescente o número de pesquisadores que se dedicam aos mais diversos problemas epistemológicos, éticos e políticos do fazer historiográfico. Dada a importância desses temas, não poderia faltar um simpósio temático voltado para estas mais diversas discussões. Neste esforço, elaboramos uma proposta ampla, que acolhesse os mais variados trabalhos, sem que isso constituísse empecilho para o diálogo entre eles, que não violentasse a especificidade de cada um e não comprometesse a qualidade das discussões. É por achar que fomos bem sucedidos nessa tarefa, que os trabalhos foram excelentes e que as discussões foram proveitosas, que decidimos dar continuidade ao debate, publicando o resultado deste evento em formato de livro.
O I EPHIS superou as expectativas de seus organizadores, recebendo 16 propostas de simpósios, que resultaram em 10 diferentes fóruns de debate, específicos para cada tema. Todos eles bem avaliados pelos organizadores e demais participantes. O nosso foi muito bem acolhido pela Comissão Organizadora, que apesar de, em função da proposta inicial de abarcar apenas cinco simpósios, ter sugerido uma fusão com outra proposta, optou por manter a estrutura originalmente apresentada. E não foi um erro: de um máximo de 40 comunicações por simpósio, o nosso aprovou 31 trabalhos divididos em 10 mesas. Dos apresentadores inscritos, 16 eram da própria UFMG, enquanto os demais 15 mantinham vínculo com outras universidades de Minas e do Brasil – sendo, inclusive, alto o número de participantes oriundos de outros estados, como Rio de Janeiro e Goiás, os mais significativos, quantitativamente, dentre todos. A titulação dos participantes variou entre graduados (2), mestrandos e mestres (18) e doutorandos e doutores (11).
A proposta de nosso simpósio, para além de prosseguir em uma seara aberta, no Brasil, por notórios historiadores como José Honório de Rodrigues, Manoel Salgado Guimarães e Francisco Iglésias, era abrir-se para pesquisas que, como Droysen, se perguntassem o que significa pensar historicamente
, investigando os fundamentos da história como ciência, sua pretensão à racionalidade, sua especificidade entre os campos de conhecimento, trazendo à tona os fundamentos que dão forma à pesquisa histórica. De igual modo, estávamos abertos às investigações em História da Historiografia que examinassem os lugares sociais de produção do discurso histórico, historicizando o processo de escrita da história sem deixar de se apoiar nas reflexões teóricas que se preocupam com as condições de possibilidade deste conhecimento. Abríamo-nos também para quem quisesse discutir temas caros à História da Ciência, desde que voltados a uma perspectiva interdisciplinar e trouxessem reflexões de cunho epistemológico e fizessem questionamentos sobre a História da Historiografia das Ciências.
Tudo transcorreu sem nenhum problema, com participação de pessoas de diversas universidades, cidades e graus de titulação, salas sempre com um quórum satisfatório, e mesmo surpreendente, e discussões prolíficas que ultrapassavam, inevitavelmente, o limite de 1h30min durante os debates na sala e inclusive, quando findadas, nos corredores e arredores. Com mesas sobre assuntos diversificados, mesmo na falta de algum comunicante, a força dos trabalhos, suas qualidades e o potencial despertado para realização de um debate qualificado e rico também são evidências de sucesso. Conversando com os apresentadores e com o público presente, o sentimento foi de que o simpósio temático foi muito caro a todos que dele participaram, a experiência foi aprovada em geral. Creio que a proposta do I EPHIS foi alcançada e, em especial, os interesses do simpósio temático que propomos, mais do que alcançados, creio que foram ultrapassados.
Realizamos as discussões em mesas intituladas Paul Ricoeur e a Historiografia Contemporânea
; Historiografia luso-brasileira: encontros e desencontros
; História da Historiografia Brasileira
; Experiências do tempo e modernidade
; História das Idéias, Historiografia da Ciência e História da Filosofia
; A fundamentação do conhecimento histórico na Historiografia Alemã
; Múltiplos objetos de História da Historiografia
; Historiografia Francesa Contemporânea
; História, Literatura e Ficção
; e, por fim, Teoria da História: a narrativa na escrita da História e seus limites
. Em um ambiente essencialmente francófilo, dominado por admiradores da dita Escola dos Annales e seus sucessores, hasteamos a bandeira alemã e discutimos autores como Hegel, Dilthey, Gadamer, Rüsen, sem que para isto fosse necessário queimar a bandeira francesa, representada, especialmente, por Paul Ricoeur e Foucault; num espírito cosmopolita, discutimos também autores ingleses; e, como não poderia deixar de ser, tremulou com as demais flâmulas o verde e amarelo introduzido pelas excelentes exposições relacionadas à História da Historiografia Brasileira. Todas as mesas tiveram intenso debate, inevitavelmente extrapolando o tempo previsto para as discussões e causando encurtamento dos intervalos – para o qual, muitas vezes, também, prosseguiram as discussões; não seria desmerecer as demais, portanto, se destacássemos o vigor, a riqueza e o melhor espírito de polêmica que pôde ser observado, especialmente, nas mesas Historiografia Francesa Contemporânea
, com apresentações de Lorena Lopes, Rodrigo Cracco e Daniel Barbo, com acaloradas discussões sobre os marcos entre modernidade e pós-modernidade. A mesa mais frequentada e que mais originou debate, por sua vez, foi A fundamentação do conhecimento histórico na Historiografia Alemã
, na qual apresentaram Augusto Leite, Edmar da Silva, Gustavo Batista e Ana Paula Hilgert, ficando no centro do debate o pensamento gadameriano, diltheyano e hegeliano. Outra mesa que também chamou atenção pela extensão e discussão foi Teoria da História: a narrativa na escrita da História e seus limites
que a despeito de ser a última, contou com um grande público. Nesta mesa apresentaram trabalhos Leonardo de Jesus da Silva, Daniela Félix e Fernando Garcia. Até as mesas que se iniciaram no inconveniente horário de 9 da manhã foram prestigiadas por um público fiel.
* . *
Em princípio, a proposta de organização deste livro visava à inclusão de mais artigos dos que os que ora constam no sumário, mas por diversos motivos de incompatibilidade de agenda, os inicialmente 26 trabalhos escolhidos tiveram que ser reduzidos para não mais que 9, além de um posfácio, escrito por Sandra Alves, colega que, apesar de não ter apresentado nenhuma comunicação, prestigiou o evento com sua presença em todas as mesas e fazendo colocações para os proponentes. A eliminação dos trabalhos não se deu por motivos de qualidade, pelo que lamentamos a ausência deles neste compêndio. A divisão original compreendia duas partes, uma orientada mais especificamente para questões de Teoria da História, e outra que preferimos, pelo seu viés, intitular de História da Historiografia. Da primeira parte, restaram os trabalhos de Davidson Diniz, que estaria acompanhado de mais outros três trabalhos concernentes à temporalidade; o de Breno Mendes e Fernando Garcia, aos quais se seguiria mais um problematizando a narrativa histórica; e o de Marcelle Braga, que formaria um par discutindo História e Literatura. A parte então prevista para ser a segunda tem como remanescente os trabalhos de Andréa Vieira, Augusto Bruno, Thamara Rodrigues, Silvia Cáceres e Daniela Félix, os quais não mais compõem as seções completas de História da Ciência e Literatura, Historiografia Alemã, Francesa e Luso-Brasileira, igualmente uma que trataria das feridas
da modernidade. Todavia, a redução permitiu que os autores trabalhassem melhor seus textos, contando com maior tempo e espaço para desenvolver seus argumentos e ampliá-los, em relação ao que foi apresentado no simpósio.
A configuração anterior do livro o aproximava em maior medida das apresentações orais e discussões que se seguiram, sendo que o novo formato o transforma em um acontecimento novo e, de certa maneira, independente, necessitando uma justificação mais detida sobre os textos que o compõem – como dialogam entre si e como, sendo partes de um conjunto, compõem um todo coeso. A norma que os junta será doravante exposta; o que poderia parecer um bocado de textos reunidos e separados ao sabor de ventos incertos e vontade arbitrária demonstrará ter uma sequência indispensável entre um texto e outro, tornando a leitura uma espécie de continuação de problemas colocados, resolvidos e ampliados; que sob o nome Teoria em Debate se reúnem os que têm mais que apenas um destino intermediário em comum, mas também a origem e um destino maior; e que os falantes se complementam harmonicamente como as diferentes notas de um acorde musical, ao contrário de um conjunto dissonante de vozes que competem entre si.
A insistência com que o tempo é tematizado pelos capítulos deste livro é o primeiro elo entre eles que deve ser destacado. As formas como o intelecto humano representa o tempo e as sociedades o experimentam, levando-se em conta seus desdobramentos éticos e narrativos, é uma proposta que pode ser facilmente identificável. Augusto Leite em seu texto sobre como a Razão tornou-se substância e télos da temporalidade, mapeia algumas dessas implicações, e de alguma maneira, inaugura o assunto que será trabalhado pelos demais trabalhos que a ele se seguem. Podemos dizer que o assunto de Hegel e a Razão moderna radicalizada no Espírito é como a modernidade se estabeleceu, com sua crença insuprimível na Razão – a Vernuftglaube –, diferenciando-a de suas versões clássicas e medievais, uma vez constatado seu fracasso em tornar terreno o paraíso do Deus cristão. Desvencilhando-se do erro teológico
diagnosticado na modernidade, os renascentistas construíram uma ideia de Razão que tornava o homem, não subordinado a Deus, mas parceiro da divindade na criação do mundo. A racionalidade possibilitaria a perseguição da felicidade sem incorrer, para isto, em dogmas religiosos, barganhando sua vida neste mundo em função da salvação extraterrena de sua alma. Desde os renascentistas, de acordo com Leite, a Razão imiscuiu-se em todas as atividades humanas, passando da metafísica às ciências, religião e política, filosofia e história – nenhum terreno escaparia a ela.
Hegel, com sua filosofia idealista, seria quem de maneira mais perfeita e absoluta desenvolveria a temática da Razão e de suas relações com o tempo. Em uma leitura notadamente benjaminiana, denunciando a formação de seu autor, Leite critica a teodicéia hegeliana em busca dessa razão suprema. O papel da ciência, ao formular conceitos, era desbravar o mundo dando às coisas nomes, estaria colocando o homem em seu patamar de cocriador