Como educar no século XXI?: O guia antipânico para pais e mães
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Sobre este e-book
Mas eles também são responsáveis por várias de dores de cabeça, porque educá-los é um desafio e tanto.
As crianças e os adolescentes do século XXI nasceram num mundo completamente tecnológico, muito diferente daquele em que fomos criados.
Como lidar com bullying, nudes, crianças que não desgrudam do celular? Como orientá-los em relação ao consumo de álcool, muitas vezes presente em festinhas de 15 anos? Como reagir quando querem fazer sexo no quarto ao lado? O que dizer se desistem da faculdade porque decidiram ser youtubers?
Da primeira infância à chegada da maioridade, este livro reúne respostas para 21 situações difíceis que muitos pais e mães certamente enfrentarão – mas que não precisam ser motivo de pânico.
Patricia Chaccur: Executiva de marketing com longa carreira em multinacionais, Patricia Chaccur liderou a área de comunicação de empresas como Nike e Avn até que, em 2015, tirou um sabático para dedicar-se à função de mãe. Entre idas e vindas à porta da escola do filho, resgatou sua paixão pela escrita e passou a publicar crônicas sobre maternidade e dilemas femininos. Alguns desses textos foram apresentados em sua palestra "Feliz por opção", a convite do TECx São Paulo. Pati Curi: Apaixonada por educação e todos os seus desdobramentos, Pati Curi é formada em pedagogia pela PUC- SP e atua na área há 28 anos, acompnhando o desenvolvimento dessa ciência e acreditando em seu poder de transformação. No início de 2016, criou e passou a administrar o grupo do Facebook "Como educar no século XXI", no qual são promovidos debates reflexivos voltados para mães e pais de crianças e adolescentes. Tiago Tamborini: Tiago Tamborini é psicólogo clínico, especializado no atendimento de crianças e adolescentes pela USP. Iniciou sua carreira trabalhando com pacientes adictos, foi professor universitário e há 15 anos dedica-se o tratamento de jovens e à orientação às famílias. Palestrante e sócio-fundador da UP2U Carreira, já teve a oportunidade de orientar milhares de estudantes no importante processo de desenvolvimento de seus projetos de vida.
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Como educar no século XXI? - Pati Curi
CAPÍTULO 1
Infância
1.
QUERO MEU TABLET!
JULIANA, MÃE DE ISABELA, 5 ANOS
Minha filha de 5 anos não tem mais interesse em brincar. Suas bonecas e brinquedos ficam largados, enquanto ela só quer assistir à TV e usar o tablet. Como lidar com isso? É como se ela não estivesse vivenciando a infância.
TIAGO
Talvez seja interessante responder a essa pergunta com uma história. Vou contar mais ou menos como seria um dia típico da minha época de criança, por volta dos 10 anos…
Naquele tempo, eu estudava à tarde e, por isso, logo que acordava, minha primeira atitude era ir para a televisão, assistir ao programa do Bozo – um dos grandes pedagogos
da geração dos anos 1980 e 1990…
Com a Vovó Mafalda, Papai Papudo e todas as brincadeiras absolutamente inadequadas que eles faziam.
Depois disso, eu podia escolher entre Xuxa, Angélica e Mara Maravilha. Na hora do almoço, começava a TV Colosso… Quem se lembra disso? Alguns cachorros que ficavam fazendo palhaçadas, entre um desenho e outro. A cereja do bolo era, antes de ir para a escola, almoçar vendo Chaves, com toda a cultura e expressividade de que ele era capaz.
PRECISO DEIXAR CLARO QUE NENHUM APARELHO ELETRÔNICO É CAPAZ DE DESTRUIR UMA GERAÇÃO.
Então, chegando à escola, minha missão era esconder dos professores o fone de ouvido do meu discman. Aliás, era uma versão supermoderna, daquelas que eu podia balançar e o movimento não interferia na música. Mas era importante que eu colocasse o fone por trás da orelha, para que os professores não me vissem usando; porque, se vissem, pegariam meu discman e só devolveriam na reunião de pais.
No final da tarde, eu voltava para casa e a primeira coisa que fazia, enquanto comia um lanche ou jantava, era ligar a televisão. Aí, na maioria das vezes, estava passando uma novela ou jornal.
O mais incrível é que ainda sobrava tempo para eu andar de bicicleta, brincar de pique-esconde, jogar bola, soltar pipa, jogar bolinha de gude e tantas outras coisas que eu costumava fazer na rua.
Acho que essa história não soa muito atípica para todos os que passaram pelas gerações de 1980 e 1990, não é mesmo? Quantos de nós tivemos como grandes mestres os apresentadores de televisão, ou os personagens dos desenhos…
Eu vejo hoje algumas pessoas criticando a Peppa Pig, mas duvido que quem critica não tenha visto Tom & Jerry, Pica-Pau e todas as sacanagens que acompanhavam esses desenhos. O que estou querendo dizer com isso é que devemos ter muito cuidado para não problematizar uma geração, desconsiderando o fato de que os problemas mudam, mas muitas vezes há semelhança entre eles.
O computador, o tablet, o celular e o videogame não são, necessariamente, os grandes vilões desta geração, ou os responsáveis pelos jovens não estarem na rua jogando bola e andando de bicicleta.
Na verdade, tudo isso veio para ficar e não podemos lutar contra os avanços tecnológicos. Temos, sim, que saber usá-los a nosso favor; por exemplo, nas áreas da educação, da saúde, da comunicação… Existem usos legais e interessantíssimos para a tecnologia, por isso não podemos dizer que ela é simplesmente algo ruim e que traumatiza as crianças.
Outra coisa que preciso deixar claro é que nenhum aparelho eletrônico é capaz de destruir uma geração. Nós mesmos fomos educados com a televisão, nas décadas de 1980 e 1990, e nem por isso somos uma geração perdida. Sim, talvez sejamos pessoas que leem menos, que perderam um bom tempo que poderia ter sido usado adquirindo cultura, mas não somos uma causa perdida.
Também precisamos olhar para a questão do exagero. Mas o que exatamente seria um uso exagerado da tecnologia? É quando seu filho ou filha está conectado(a) a um celular, tablet ou videogame, a ponto de prejudicar uma vida saudável.
Agora, o que é uma vida saudável? É uma vida na qual a troca social existe, o olho no olho existe, o esporte e o lazer existem, o sono existe… Então, a partir do momento em que a criança passa a ter um ou mais desses fatores prejudicados, podemos saber que ele está exagerando.
JULIANA
Consegui entender a analogia, e essa história até me levou a uma longa e gostosa viagem no tempo… Fomos, sim, a geração da televisão e de outras invenções tecnológicas. Mas, por outro lado, tínhamos uma educação mais rígida, com regras e disciplina.
O que me apavora é perceber que minha filha, tão nova ainda, já esteja imersa nesse mundo eletrônico. Como posso mensurar o que é um uso exagerado?
TIAGO
A questão é que o exagero pode acontecer tanto em uma hora de uso da tecnologia por dia quanto em cinco horas. Isso não está estritamente ligado ao tempo em que seu filho fica nesses aparelhos, mas sim às consequências que eles trazem.
Se a criança tem uma vida saudável, se está indo bem na escola, se é responsável e estuda, lê, pratica esportes, brinca, tem amigos, dorme na hora certa, talvez ela possa ficar mais tempo no computador, celular ou tablet. Esta criança está conseguindo equilibrar o uso da tecnologia dentro das suas diversas