Meditando a Palavra 1: Advento e Natal
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Meditando a Palavra 1 - Padre Augusto César Pereira
ABREVIATURAS DOS LIVROS DA BÍBLIA
(em ordem alfabética)
INTRODUÇÃO
Advento e Natal se completam
A Igreja Católica celebra o Ano Litúrgico em três ciclos: Natal, Páscoa e Tempo Comum. Todos os fatos fundantes do cristianismo são celebrados neste período, engrenados uns nos outros para formar a história da salvação
.
Celebrar é fazer lembrança permanente desses fatos marcantes, para que não caiam no esquecimento. Ao mesmo tempo que impede o esquecimento, incentiva o compromisso com a proposta do projeto de Deus.
O Advento inicia o Ano Litúrgico. Celebra o começo da história da salvação com a encarnação e nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Jesus é o profeta do projeto do Pai, totalmente comprometido com o plano de salvação elaborado pelo Pai e aceito livremente por ele.
No entanto, o Advento consagra a maior parte das quatro semanas para manter acesa a lembrança da segunda vinda de Jesus Cristo. É evidente: a primeira vinda já aconteceu. A segunda vinda, no final dos tempos, será a definição do que vai ser o novo céu e a nova terra
, acenados em Apocalipse (21,1).
A mensagem do Advento
O Advento é carregado de sentido com a mensagem da Boa-Nova que Jesus virá estabelecer em sua segunda vinda ao mundo. Por isso, a Escritura desse tempo acena, até com cores carregadas, para o chamado fim do mundo
e o tremendo dia do julgamento.
A Palavra, no entanto, oferece consideração mais profunda dos textos chamados apocalípticos. Isto é, para que a Boa-Nova aconteça, é necessário que chegue ao fim o mundo da opressão, da injustiça, da corrupção. O mundo e a sociedade, estruturados com base nesses contravalores, precisam desaparecer para dar lugar ao mundo e à sociedade dos valores eternos do amor, da fraternidade, da justiça, da solidariedade, da honestidade, da partilha.
Na verdade, esse tipo de mundo escandaloso já recebeu o golpe de morte. A morte de Jesus Cristo na cruz e sua gloriosa ressurreição têm como consequências o fim daquele tipo pecaminoso de convivência humana e o surgimento de uma vida nova garantida pela ressurreição do Senhor.
O duelo
entre a morte e a vida, entre o mundo antigo e o novo, é simbolizado por duas características: aquele, com o abalo das forças celestes do sol, da lua, das estrelas e da confusão da terra que se abre para engolir a humanidade; o mundo novo é a luz fulgurante das descrições do acontecimento da ressurreição.
O profeta Isaías, por exemplo, joga com imagens como esta de que Jerusalém não precisará mais da luz do sol durante o dia nem da lua à noite, porque a luz será o Senhor (Is 60,1-3; 19-20). O livro do Apocalipse retoma as imagens para ilustrar o novo céu, a nova terra e a nova Jerusalém (Ap 21,22-23; 22,5).
O Advento dá a maior importância para o novo mundo de Deus. O Advento lembra a resposta de Deus ao mundo corrupto falido, com a proposta da solidariedade e os valores do Evangelho para iluminar a caminhada do povo e a construção da paz.
O projeto do Pai é positivo: não é projeto de combate ao pecado; é o projeto de construção do Reino. O Evangelho tem valores próprios para a construção do mundo novo, segundo o coração de Deus.
A espiritualidade do Advento é a esperança da segunda vinda de Jesus Cristo com a definição do novo Reino que já começou.
Celebrações natalinas
O Tempo do Advento é parte integrante do Tempo do Natal.
Note-se que o foco de cada celebração do Tempo do Natal é sempre o seguinte: o Filho de Deus, encarnado, manifesta-se ao povo em nossa carne mortal. Isso acontece até na celebração dos santos durante a semana, os quais, a exemplo de Jesus Cristo, pelo testemunho de vida e até o martírio, deram sua vida pelas causas do povo de Deus. O martírio, muito mais que representar o feito heroico de uma pessoa corajosa, quer significar o compromisso radical dessas pessoas com o projeto do Pai até suas últimas consequências. A celebração da Liturgia é a atualização do que foi a missão e o martírio do Menino no futuro, e continuado na vida de seus seguidores. A perseguição e o martírio por causa da fé ou das consequências da fé são sinais evidentes de que a Igreja perseguida tem credenciais para se apresentar como a verdadeira Igreja de Cristo.
Se a Liturgia faz a memória do passado dos santos, tem a intenção de abrir a perspectiva para o futuro sem esquecer o presente atual. A santidade é tão atual quanto foram homens e mulheres de seu tempo os santos, nas suas épocas.
Roteiro auxiliar para sua reflexão
Ofereço-lhe esta proposta de um roteiro para auxiliar o caminho de sua reflexão e tirar muito fruto para sua vida cristã:
1. Leia calmamente ao menos o Evangelho indicado para cada dia.
2. Faça uma oração ao Espírito Santo para que ele inspire o início, o caminho e a conclusão de sua reflexão.
3. Em que me empenharei hoje para dar algum sinal de esperança do mundo novo ao meu redor?
4. Encerre, pedindo a força do Espírito para que a resolução que você tomou hoje, o/a leve a testemunhar realmente o seu compromisso cristão.
5. É interessante dar atenção à reflexão diária do papa Francisco, especialmente nos domingos e quartas-feiras.
Nota: Recomendo, para quem desejar acompanhar a celebração do dia a dia de cada tempo litúrgico na Liturgia da Igreja Católica, que é sumamente útil que tenha em mãos o chamado Diretório Litúrgico, ou seja, o calendário litúrgico diário, que se adquire nas livrarias católicas que oferecem vários modelos.
Sugestões para a reflexão em grupo
Neste roteiro, sugiro fazer confronto entre a prática de Jesus Cristo e a prática da comunidade.
1. Como fazia Jesus Cristo?
2. Como faz a nossa comunidade?
3. O que podemos manter e aperfeiçoar?
4. O que precisamos transformar?
5. Quais decisões tomar para transformar alguma situação?
6. Manter o clima de oração, durante a reflexão.
7. Convide algum dos participantes a fazer a oração de encerramento.
Bom proveito!
TEMPO DO ADVENTO
DOMINGOS
ANO A
1º Domingo
O Is 2,1-5 • Sl 121(122) • Rm 13,11-14a • Mt 24,37-44
O tema da vigilância
Com o primeiro Domingo do Advento, a Liturgia católica inicia o novo Ano Litúrgico. Conhecemos vários tipos de anos
que têm início em dias diferentes do primeiro de janeiro. Por exemplo: o ano escolar, que inicia em fevereiro ou março. O Ano Litúrgico tem início com o Tempo do Advento. Advento significa chegada. É a chegada de Cristo. Tem havido muita incompreensão do significado dessa vinda de Cristo. Para entendê-la, vejamos o que é a compreensão do Advento, na Liturgia.
O Tempo do Advento consta de quatro semanas. Essas quatro semanas são divididas em dois momentos: o primeiro vai até o dia 16 de dezembro. Consta, em geral, de dois domingos. A Igreja nos convida a refletir sobre a segunda vinda de Cristo. De 17 de dezembro em diante, as comunidades e os cristãos preparam a comemoração do Natal. O Natal, como sabemos, recorda o nascimento de Cristo.
O evangelista que nos proporá a Palavra de Deus, neste novo Ano Litúrgico A, é São Mateus. Seguindo esta introdução, vamos acompanhar a celebração da missa do primeiro domingo do Advento, na espera da segunda vinda de Cristo. Para a reflexão de hoje, o Evangelho propõe o tema da vigilância.
Saber o dia e a hora do fim dos tempos é curiosidade que Jesus Cristo não quer satisfazer, porque não coopera em nada para o Reino.
Estamos iniciando um novo Ano Litúrgico, com o Tempo do Advento. O Tempo do Advento nos leva a refletir em torno das duas vindas de Cristo.
A primeira vinda de Cristo já aconteceu: o nascimento do Filho de Deus feito gente como nós. É o fato histórico que comemoramos no Natal.
A segunda vinda ainda não aconteceu. Ela acontecerá no fim dos tempos. Jesus Cristo prometeu que voltaria ao mundo no final dos tempos.
A primeira vinda de Cristo garante a segunda vinda. Assim como ele veio uma primeira vez, virá uma segunda vez. Na primeira vez, ele veio para iniciar a obra da salvação. Aquilo que foi iniciado na primeira vinda será completado na segunda vinda. Logo, a Igreja faz bem em convidar-nos a refletir em torno das duas vindas. Ambas são importantes para a humanidade.
Interessa, agora, perguntar-nos o que temos a ver com estas duas vindas de Cristo. Da primeira, já sabemos tudo. Da segunda, o que sabemos? Com relação à primeira vinda de Cristo, no Natal, nada mais podemos fazer: ela já aconteceu. O nosso compromisso é com a segunda vinda. Esta, sim, podemos e devemos preparar. Como prepará-la, se não sabemos nem o dia nem a hora em que irá acontecer?
A Palavra que acolhemos, hoje, do profeta Isaías e do apóstolo Paulo, já dá a direção de nossa reflexão. A Palavra do Evangelho completa. Com certeza, tanto a primeira vinda de Cristo como a segunda têm como finalidade nosso bem, nossa felicidade. Deus nunca se manifesta para condenar o povo de Deus. O próprio acontecimento do dilúvio, a que Jesus se refere no Evangelho, aconteceu não como castigo, mas como purificação da humanidade. De acontecimentos como o dilúvio, surge sempre uma nova etapa no caminho da salvação.
Pois aí está o ponto-chave da nossa reflexão neste domingo. A segunda vinda de Cristo, como a primeira, será para nossa felicidade. Isso parece difícil de entender, porque fomos formados, desde muito tempo, para ter medo da segunda vinda de Cristo. Na verdade, interessa cultivar a esperança na segunda vinda de Cristo. Esperança de quê?
A esperança da segunda vinda de Cristo tem por base o mundo novo que vai surgir. O fim dos tempos – anunciado na Bíblia – não significa alguma coisa pavorosa, mas esperançosa. Por que razão esperançosa? Porque haverá novo céu e nova terra
. Não se trata tanto do fim do mundo, mas do começo do céu. Para que o novo aconteça, é preciso que termine o velho. Deus não quer destruir o nosso mundo, mas quer transformá-lo.
Este é o nosso envolvimento com a preparação da segunda vinda de Cristo. Assim como o