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Liturgia da Palavra II: Reflexões para os domingos, solenidades, festas e memórias
Liturgia da Palavra II: Reflexões para os domingos, solenidades, festas e memórias
Liturgia da Palavra II: Reflexões para os domingos, solenidades, festas e memórias
E-book1.371 páginas41 horas

Liturgia da Palavra II: Reflexões para os domingos, solenidades, festas e memórias

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Sobre este e-book

Este segundo volume traz as reflexões para a celebração litúrgica dos domingos, solenidades, festas e memórias dos santos. Sua linguagem é acessível, de fácil entendimento para a comunidade. Serve para quem deseja aprofundar os textos da liturgia diária, ou meditá-los no dia a dia. Ajuda preciosa aos ministros ordenados e também aos leigos, com tantos afazeres e pouco tempo para preparar uma reflexão adequada. As reflexões são essencialmente bíblicas, porém contextualizadas com a realidade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de jan. de 2015
ISBN9788534940801
Liturgia da Palavra II: Reflexões para os domingos, solenidades, festas e memórias

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    Liturgia da Palavra II - Padre José Carlos Pereira

    Capa Liturgia da palavra II: reflexões para os domingos, solenidades, festas e memóriasRosto Liturgia da palavra II: reflexões para os domingos, solenidades, festas e memórias PAULUS Editora

    SUMÁRIO

    Capa

    Rosto

    Introdução

    Abreviaturas

    Primeira Parte - Ano A

    Tempo do Advento

    1º Domingo

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    Tempo do Natal

    Missa da noite (24 de dezembro)

    Missa do dia (25 de dezembro)

    Sagrada Família de Jesus, Maria e José

    2º Domingo depois do Natal

    Domingo da Epifania do Senhor

    Batismo do Senhor

    Tempo da Quaresma

    1º Domingo

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    Domingo de Ramos

    Tríduo Pascal e Tempo Pascal

    Quinta-feira Santa

    Sexta-feira Santa

    Sábado Santo

    Domingo de Páscoa

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    6º Domingo

    Ascensão do Senhor

    7º Domingo da Páscoa

    Domingo de Pentecostes

    Solenidades do Senhor que ocorrem no Tempo Comum

    Santíssima Trindade

    Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

    Sagrado Coração de Jesus

    Tempo Comum

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    6º Domingo

    7º Domingo

    8º Domingo

    9º Domingo

    10º Domingo

    11º Domingo

    12º Domingo

    13º Domingo

    14º Domingo

    15º Domingo

    16º Domingo

    17º Domingo

    18º Domingo

    19º Domingo

    20º Domingo

    21º Domingo

    22º Domingo

    23º Domingo

    24º Domingo

    25º Domingo

    26º Domingo

    27º Domingo

    28º Domingo

    29º Domingo

    30º Domingo

    31º Domingo

    32º Domingo

    33º Domingo

    34º Domingo - Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

    Segunda Parte - Ano B

    Tempo do Advento

    1º Domingo

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    Tempo do Natal

    Natal do Senhor - Missa da noite (24 de dezembro)

    2º Domingo depois do Natal

    Domingo da Epifania do Senhor

    Batismo do Senhor

    Tempo da Quaresma

    1º Domingo

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    Domingo de Ramos

    Tríduo Pascal e Tempo Pascal

    Quinta-feira Santa

    Sexta-feira Santa

    Sábado Santo

    Domingo de Páscoa

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    6º Domingo

    Ascensão do Senhor

    7º Domingo

    Domingo de Pentecostes

    Solenidades do Senhor que ocorremno Tempo Comum

    Santíssima Trindade

    Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

    Sagrado Coração de Jesus

    Tempo Comum

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    6º Domingo

    7º Domingo

    8º Domingo

    9º Domingo

    10º Domingo

    11º Domingo

    12º Domingo

    13º Domingo

    14º Domingo

    15º Domingo

    16º Domingo

    17º Domingo

    18º Domingo

    19º Domingo

    20º Domingo

    21º Domingo

    22º Domingo

    23º Domingo

    24º Domingo

    25º Domingo

    26º Domingo

    27º Domingo

    28º Domingo

    29º Domingo

    30º Domingo

    31º Domingo

    32º Domingo

    33º Domingo

    34º Domingo - Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

    Terceira Parte - Ano C

    Tempo do Advento

    1º Domingo

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    Tempo do Natal

    Natal do Senhor

    Sagrada Família de Jesus, Maria e José

    2º Domingo depois do Natal

    Domingo da Epifania do Senhor

    Batismo do Senhor

    Tempo da Quaresma

    1º Domingo

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    Domingo de Ramos

    Tríduo Pascal e Tempo Pascal

    Quinta-feira Santa

    Sexta-feira Santa

    Sábado Santo

    Domingo de Páscoa

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    6º Domingo

    Ascensão do Senhor

    7º Domingo

    Domingo de Pentecostes

    Solenidades do Senhor que ocorrem no Tempo Comum

    Santíssima Trindade

    Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

    Sagrado Coração de Jesus

    Tempo Comum

    2º Domingo

    3º Domingo

    4º Domingo

    5º Domingo

    6º Domingo

    7º Domingo

    8º Domingo

    9º Domingo

    10º Domingo

    11º Domingo

    12º Domingo

    13º Domingo

    14º Domingo

    15º Domingo

    16º Domingo

    17º Domingo

    18º Domingo

    19º Domingo

    20º Domingo

    21º Domingo

    22º Domingo

    23º Domingo

    24º Domingo

    25º Domingo

    26º Domingo

    27º Domingo

    28º Domingo

    29º Domingo

    30º Domingo

    31º Domingo

    32º Domingo

    33º Domingo

    34º Domingo - Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

    Quarta parte - Próprio dos Santos

    Janeiro

    Dia 1º - Solenidade de Maria, Mãe de Deus

    Dia 25 - Festa da Conversão de São Paulo, Apóstolo

    Dia 26 - Memória de São Timóteo e São Tito, bispos

    Fevereiro

    Dia 2 - Festa da Apresentação do Senhor

    Dia 22 - Festa da Cátedra de São Pedro, Apóstolo

    Março

    Dia 19 - Solenidade de São José, Esposo da Virgem Maria

    Dia 25 - Solenidade da Anunciação do Senhor

    Abril

    Dia 25 - Festa de São Marcos, Evangelista

    Maio

    Dia 1º - Memória de São José Operário

    Dia 3 - Festa de São Filipe e São Tiago, Apóstolos e mártires

    Dia 14 - Festa de São Matias, Apóstolo

    Dia 31 - Festa da Visitação de Nossa Senhora

    Junho

    Sábado após o segundo domingo depois de Pentecostes - Imaculado Coração de Maria

    Dia 11 - Memória de São Barnabé, Apóstolo

    Dia 24 - Solenidade da Natividade de São João Batista

    Dia 29 - Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos

    Julho

    Dia 3 - Festa de São Tomé, Apóstolo

    Dia 16 - Festa de Nossa Senhora do Carmo

    Dia 22 - Memória de Santa Maria Madalena

    Dia 25 - Festa de São Tiago Maior, Apóstolo

    Dia 26 - Memória de São Joaquim e Santa Ana, pais de Nossa Senhora

    Dia 29 - Memória de Santa Marta, discípula de Jesus

    Agosto

    Dia 6 - Festa da Transfiguração do Senhor

    Dia 10 - Festa de São Lourenço, Diácono e Mártir

    Dia 15 - Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

    Dia 22 - Memória de Nossa Senhora Rainha

    Dia 23 - Festa de Santa Rosa de Lima, Virgem

    Dia 24 - Festa de São Bartolomeu, Apóstolo

    Dia 29 - Memória do Martírio de São João Batista

    Setembro

    Dia 8 - Festa da Natividade de Nossa Senhora

    Dia 14 - Festa da Exaltação da Santa Cruz

    Dia 15 - Memória de Nossa Senhora das Dores

    Dia 21 - Festa de São Mateus, Apóstolo e Evangelista

    Dia 29 - Festa de São Miguel, São Gabriel e São Rafael, Arcanjos

    Outubro

    Dia 2 - Memória dos Santos Anjos da Guarda

    Dia 7 - Memória de Nossa Senhora do Rosário

    Dia 12 - Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida

    Dia 18 - Festa de São Lucas, Evangelista

    Dia 28 - Festa de São Simão e São Judas, Apóstolos

    Novembro

    Dia 1º - Solenidade de todos os Santos

    Dia 2 - Comemoração de todos os fiéis defuntos

    Dia 9 - Festa da Dedicação da Basílica do Latrão

    Dia 18 - Memória facultativa da Consagração das Basílicas de São Pedro e de São Paulo, Apóstolos

    Dia 21 - Memória da Apresentação de Nossa Senhora

    Dia 30 - Festa de Santo André, Apóstolo

    Dezembro

    Dia 8 - Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

    Dia 12 - Festa de N. Sra. de Guadalupe, padroeira principal da América Latina

    Dia 26 - Festa de Santo Estêvão, mártir

    Dia 27 - Festa de São João, Apóstolo e Evangelista

    Dia 28 - Festa dos Santos Inocentes, mártires

    Considerações Finais

    Sobre o autor

    Coleção

    Ficha Catalográfica

    Notas

    INTRODUÇÃO

    Desde a V Conferência do Episcopado Latino Americano e Caribenho (Aparecida, 2007), a Igreja no Brasil tem dado ênfase em seus Documentos às homilias, ou reflexões sobre a Palavra de Deus, dentro e fora de nossas celebrações, reafirmando que é importante promover uma comunicação mais direta e objetiva, principalmente nas homilias alicerçadas na Palavra de Deus e na Vida (cf. Doc. 104, CNBB, n. 204). É esse o objetivo deste livro de reflexões para os domingos, solenidades, festas e memórias. Aqui estão contidas reflexões que foram preparadas com esmero, tendo em conta as leituras bíblicas correspondentes a cada celebração do calendário litúrgico dos anos A, B e C. São reflexões com linguagem simples, porém profunda e questionadora, que podem auxiliar padres e leigos na preparação de suas reflexões para as celebrações, catequese, cursos e palestras, ou para o aprofundamento pessoal de quem acompanha a liturgia dominical e demais celebrações do calendário litúrgico. Mais que um livro de homilias, essa obra pretende ser um subsídio de reflexão da Palavra de Deus, com o intuito de responder aos desafios propostos pela Igreja, no Documento de Aparecida , de oferecer formação bíblica em nossas comunidades paroquiais. A cada Domingo, Solenidades, Festas e Memórias do calendário litúrgico, você encontrará uma reflexão bíblica encarnada na realidade, numa estreita ligação entre a Palavra e a vida, contudo sem dispersar o leitor do eixo central de cada celebração e do Mistério celebrado.

    A encíclica Evangelii Nuntiandi (n. 43) afirma que muitas comunidades paroquiais, ou outro tipo, vivem e consolidam-se graças à homilia de cada domingo. Assim sendo, não podemos deixar de preparar bem nossas reflexões para essas ocasiões. Foi pensando também nessa realidade constatada na Evangelii Nuntiandi , ainda tão presente em nossas comunidades eclesiais, que este roteiro foi preparado. Ele quer oferecer à Igreja mais um importante recurso para a preparação das reflexões bíblicas, que foram aqui colocadas conforme a sequência do ano litúrgico e podem ser aproveitadas na íntegra, tal qual se encontram aqui neste livro, ou adaptadas para a realidade de cada comunidade. Poderá ser utilizada também parte de cada uma dessas reflexões, ou as ideias-chaves que nelas aparecem e que poderão ajudar na preparação da reflexão que cada um fará. Em vista disso, cuidamos para que as reflexões não tivessem uma linguagem prolixa, mas sim uma linguagem mais simples, com uma metodologia clara e envolvente, como pede a CNBB (cf. Doc. 104, n. 204), evitando que as reflexões ou homilias, sobretudo nas missas e celebrações da Palavra, se delonguem pela falta de objetividade e clareza. Assim, que as celebrações, ou mesmo as reflexões pessoais sobre a Palavra, possam ser um real encontro com Deus, com a própria pessoa e com a comunidade.

    Em suma, essas reflexões foram preparadas com a utilização do método da Lectio Divina , ou Leitura Orante da Bíblia, método que poderá ser utilizado também pelo leitor na preparação da sua reflexão. Assim sendo, sugerimos que, antes de ler as reflexões aqui propostas, sejam lidos, meditados, rezados e contemplados os textos bíblicos correspondentes à liturgia do dia, que se encontram indicados antes de cada reflexão, pois assim se extrairá deles uma riqueza maior, e as reflexões aqui propostas se recobrirão de maior significado e entendimento, podendo ser ampliadas conforme as luzes apontadas pela Leitura Orante. Desse modo, a proposta é fazer com que a pessoa leia antes a Palavra de Deus para escutar o que ele tem a dizer e, assim, conhecer sua vontade e viver melhor essa Palavra, empregando-a na sua vida e na vida da comunidade, de modo que a Palavra seja de fato o verbo encarnado, que concede vida em plenitude. Para tanto, o primeiro passo é colocar-se diante de Deus como fez Samuel: Fala, Senhor, que teu servo escuta (1Sm 3,10). Porém, escutar, silenciar, para ouvir Deus, não depende somente de nós, mas de uma série de fatores que nos cercam e, sobretudo, de Deus, que nos possibilita entrar em contato com ele e fazer com que ouçamos a sua voz através da Palavra escrita. Por essa razão, é preciso criar um ambiente que facilite a meditação e reflexão da Palavra e da leitura dos textos aqui propostos. Um ambiente de silêncio e recolhimento, sem muitas interferências externas.

    Enfim, que este subsídio possa ajudar todas as pessoas que têm sede de compreender a Palavra de Deus e passá-la adiante, num processo contínuo de evangelização. Portanto, use estas reflexões nas suas reflexões pessoal e comunitária, nos retiros, na pregação da Palavra (homilia ou sermão), na catequese ou círculos bíblicos, ou em qualquer outra ocasião que demande explicação da Palavra de Deus.

    ABREVIATURAS

    Os títulos dos livros bíblicos são abreviados da seguinte maneira:

    PRIMEIRA PARTE

    ANO A

    TEMPO DO ADVENTO

    (cor: roxa)

    1º Domingo

    & Is 2,1-5 | Sl 121(122) Rm 13,11-14a | Mt 24,37-44

    Quando estamos esperando a chegada de uma pessoa muito querida na nossa casa, nós a preparamos com todo carinho, aguardando ansiosamente a sua chegada. Ficamos felizes desde o momento em que sabemos da sua vinda. Enfeitamos a casa; providenciamos algo especial para oferecer; damos o melhor que temos: o melhor quarto, a melhor cama, a melhor comida, os melhores talheres e pratos etc. Enfim, queremos que ela seja bem acolhida, e para isso oferecemos o melhor que temos. Quem já recebeu alguém muito querido em casa sabe muito bem disso. É esse espírito que invade nosso coração no tempo do Advento. Advento é aquele tempo que enche o nosso coração de alegria porque preparamos o Natal do Senhor, isto é, a vinda de Jesus. Por essa razão, o Natal é uma das festas mais importantes do nosso calendário litúrgico, perdendo apenas para a Páscoa. Começamos, nesse tempo, a enfeitar nossas casas com flores, luzes, símbolos natalinos. Alguns desses símbolos nem têm muito a ver com Jesus, são símbolos usados no comércio, mas não deixam de ser símbolos alusivos de um tempo diferenciado. Assim, o espírito do Natal é o momento em que sentimos essa alegria da espera de uma noite tão importante, como se espera uma pessoa querida, que está para chegar a qualquer momento, ou como se espera um filho. Nesse tempo, ficamos mais sensibilizados. Ajudamos mais aos outros, sobretudo com presentes e outras atitudes que seriam tão importantes se continuassem depois do Natal. Esse clima de preparação está na liturgia desse tempo. Veremos, nesses quatro domingos, o que fazer para estarmos preparados para receber Jesus, de modo que esse tempo não passe como qualquer outro tempo, mas deixe em nós a marca da conversão, da mudança para melhor.

    Os dois primeiros domingos falarão da segunda vinda. Por essa razão, a liturgia tem uma característica escatológica. Os outros dois domingos falarão da primeira vinda, isto é, do nascimento de Jesus propriamente dito. Desse modo, somos convocados a preparar nosso coração, e não somente a nossa casa, para essa chegada transformadora. De nada adianta uma casa toda enfeitada de luzes se o coração de quem nela habita continuar nas trevas. Por essa razão, antes de qualquer preparação externa, preparemo-nos internamente, pois essa preparação é a mais importante. É disso que tratam as leituras desse primeiro domingo do Advento, o tempo da preparação para a chegada do Senhor, ao falar de um tempo novo, no qual reinarão a paz e a justiça.

    Em vista disso, a liturgia da Palavra desse tempo nos mostrará, de diferentes formas, como nos preparar para essa vinda. Estejamos, portanto, atentos. Atentos aos símbolos litúrgicos desse tempo, como, por exemplo, a coroa do advento, que a cada domingo será acesa uma vela, símbolo da nossa atenção e vigilância; a cor roxa, símbolo da penitência e da conversão e tantos outros sinais que nos ajudam preparar melhor para esse momento grandioso, marco de um tempo novo, num mundo onde as injustiças terão um fim e a paz, de fato, reinará.

    É o que anuncia o profeta Isaías na primeira leitura. Numa linguagem figurada, Isaías fala do monte da casa do Senhor. Ele estará firmemente estabelecido no topo da montanha, como símbolo de poder, visibilidade e estabilidade, enfim, de segurança. Diante de um mundo com tantas inseguranças e medo, receber o anúncio de um tempo e de um lugar de segurança e paz é o que todos desejam. Como isso será possível? É o próprio Isaías quem dá a receita. Basta que os instrumentos que provocam a morte sejam transformados em instrumento de trabalho, em algo que favoreça a vida. É isso que ele propõe ao dizer transformar suas espadas em arados e suas lanças em foices. Como podemos atualizar essa proposta de Isaías? É transformando as armas de guerra em instrumentos que defendam a vida. É transformando nossas práticas perversas e maldosas em algo que ajude o próximo.

    Paulo, na Carta aos Romanos, da segunda leitura de hoje, fala a mesma coisa, porém com outras palavras: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia. E ele vai mais adiante, agora dando alguns exemplos: deixar atitudes como as da gula e das bebedeiras, as orgias sexuais, as imoralidades, as brigas, as rivalidades. A essas atitudes podemos acrescentar tantas outras, de acordo com o que cada um pratica, que é preciso que sejam abandonadas se queremos que esse tempo novo aconteça.

    O evangelho fala da chegada desse tempo numa hora e num momento inesperados. Não que isso seja algo para ser levado ao pé da letra, mas para mostrar que não há data nem hora marcada para a vinda do Reino. Ele acontece aos poucos, de acordo com o nosso proceder, no cotidiano da nossa vida. Assim sendo, Mateus mostra a vinda do Filho do homem comparando-a a um episódio narrado no livro do Gênesis, o tempo de Noé. Essa comparação simbólica é para nos alertar da necessidade de estarmos vigilantes, atentos nos afazeres da vida. Não deixar que as preocupações diárias nos impeçam de cuidar da vida e das coisas de Deus. Assim, a liturgia de hoje, mais especificamente o evangelho, nos chama a atenção para a vigilância e, consequentemente, a preparação. Vamos nos preparar adequadamente para o Natal do Senhor. Que essa grandiosa celebração não seja apenas um momento na nossa vida ou na nossa liturgia, mas o marco de um tempo de mudança, para melhor, na nossa vida e no nosso mundo. Isso é possível, para que haja empenho, dedicação, atenção e vigilância. Tudo isso deve levar ao serviço ao próximo, à prática do amor e da caridade para com todos, principalmente para os que mais necessitam.

    Com tudo isso que vemos na liturgia desse primeiro domingo do Advento, lembramos que estamos iniciando um novo tempo. Esse novo tempo está simbolizado não apenas no novo ano e tempo litúrgico, mas, sobretudo, nesse tempo de preparação e memória da vinda do Senhor, para a qual preparamos nossa vida e o nosso coração. Esse tempo novo sonhado pelo profeta Isaías, pelo Apóstolo Paulo e, sobretudo, por Jesus só será possível se fizermos essa preparação, conforme sugere a liturgia da Palavra de hoje.

    2º Domingo

    & Is 11,1-10 | Sl 71(72) Rm 15,4-9 | Mt 3,1-12

    Este segundo domingo do tempo do Advento nos faz um apelo a prepararmos a chegada do Senhor, preparando seus caminhos. Preparar os seus caminhos consiste em endireitá-los, ou seja, eliminar tudo aquilo que representa obstáculos. Foi esse o clamor do profeta Isaías na sua profecia, ao anunciar João Batista, o precursor de Jesus: esta é a voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Sabemos que são muitos esses obstáculos, porém a primeira atitude a ser tomada para a execução desse árduo trabalho vem de dentro de cada um: a conversão. Sem conversão não é possível fazer mudança alguma. Quem está satisfeito ou conformado com a situação não quer mudança. Conversão não apenas no sentido pessoal, individual, mas também no sentido de mudança de estruturas, e isso exige comprometimento.

    Na primeira leitura, o profeta Isaías se limita a dar a boa notícia daquele dia tão sonhado. O dia em que de um tronco, aparentemente seco, surgirá um broto. Esse broto se transformará numa árvore exuberante porque nele está o espírito do Senhor. Que tronco e broto são esses? É uma referência direta ao descendente de Davi, Jesus, que nasceria num lugar insignificante, no qual ninguém depositava mais esperança, mas promoveria grandes mudanças porque teria atitudes inusitadas que romperiam com costumes excludentes, como, por exemplo, não julgar as pessoas ou situações pela aparência ou por ouvir dizer, mexeria com a terra somente pela força da sua palavra, destruindo os males e suas causas. Suas ações seriam justas porque ele estaria revestido de justiça. Elas provocariam grandes transformações, trazendo a paz, a concórdia, a harmonia entre todos. Seria o fim do dano e da morte.

    Assim sendo, Paulo, na Carta aos Romanos, na segunda leitura de hoje, afirma que tudo o que outrora foi escrito, foi escrito para nossa instrução, para nos orientar, para mostrar como podemos fazer que esse tempo novo, tão desejado, de fato aconteça. O que Isaías anuncia nos traz conforto espiritual, esperança – e é exatamente para isso, afirma Paulo. É para que tenhamos firme esperança. Sem uma esperança firme, não haverá empenho na promoção desse mundo harmônico.

    Para que isso de fato venha a ser realidade, a liturgia de hoje apresenta a figura de João Batista. Com sua atitude radical e enérgica, ele rompe o sistema vigente. Vai para o deserto, se veste e se alimenta de modo despojado, e prega um batismo de conversão. Quem recebia o batismo de João assumia mudar de vida, ter outras atitudes, ver o mundo com um novo olhar. Porém, não basta ser batizado: é preciso, antes, ter se convertido. É o que ele diz aos fariseus e saduceus que vinham receber o batismo sem se converter. O batismo não é um mero ritual, mágico, de aparência. É preciso uma mudança interior. E essa mudança é preciso comprovar através de ações. Mostrar os frutos dessa conversão é necessário. Quem não mostrar frutos coerentes com a conversão não merece receber o batismo.

    É hora, portanto, de fazer um profundo exame de consciência e começar as mudanças com uma boa confissão. Uma confissão que seja resultada do arrependimento pelos erros cometidos e do propósito de mudança. Procure nestes dias o padre de sua paróquia e faça uma boa confissão. Prepare-se para o Natal do Senhor preparando o seu coração. Com um coração limpo dos pecados e com o propósito de ser melhor, não repetindo mais os erros, o Natal começa a acontecer, de fato. Então, aquele mundo anunciado por Isaías começa a deixar de ser apenas um sonho para ser realidade. Se a humanidade se convertesse para o bem, não haveria tanta violência e desrespeito à vida.

    3º Domingo

    & Is 35,1-6a.10 | Sl 145(146) Tg 5,7-10 | Mt 11,2-11

    Este terceiro domingo do Advento, também chamado de domingo da alegria, nos convida a perceber quais são os sinais de alegria que temos à nossa volta, na nossa realidade, nessa caminhada até o Natal do Senhor. Quem nos ajuda a descobrir esses sinais são dois importantes profetas, Isaías e João Batista, e o próprio Jesus.

    Encontrar esses sinais é como encontrar um oásis no deserto, isto é, é motivo de júbilo. Uma alegria discreta que vai crescendo até explodir em manifestações de contentamento sem limites. As razões disso tudo? Os textos de hoje nos apontam. Porém temos que interpretá-las de acordo com a nossa realidade, hoje.

    Isaías, na primeira leitura, fala das transformações do mundo com a vinda do Salvador. É, em primeiro lugar, uma transformação de pessoas, de sentimentos e atitudes pessoais que possibilitarão a transformação do mundo: mãos e joelhos enfraquecidos ganharão força, se firmarão. Isso mostra o fim da dependência, da submissão, da escravidão. As pessoas poderão caminhar com as próprias pernas e construir com as próprias mãos. É o símbolo da liberdade. As pessoas deprimidas criarão ânimo, perderão o medo. Tudo aquilo que deprime e amedronta as pessoas terá um fim. O que hoje mais deprime e amedronta as pessoas? Os olhos dos cegos se abrirão, os surdos ouvirão, os coxos andarão e os mudos falarão. Quais são as coisas que, hoje, tornam as pessoas cegas e as impedem de ver com os próprios olhos? Podemos fazer uma lista enorme. A mesma coisa se pode dizer dos surdos, dos aleijados e dos mudos. São muitas as coisas que ensurdecem as pessoas, paralisam e deixam mudas, basta olhar a política, a educação, os meios de comunicação tendenciosos que veiculam ideologias dominantes que fazem as pessoas agir como alguns querem que elas ajam. Quanta libertação, quanta vida o texto de Isaías promete. A mesma coisa promete o evangelho, porém num contexto distinto. São, portanto, muitos os motivos de alegria anunciados nesse terceiro domingo. A chegada do Senhor promete grandes transformações. Mas é preciso, como diz Tiago na segunda leitura, ter paciência, saber esperar o tempo certo, como o agricultor espera a semente germinar, crescer e dar frutos. É, portanto, uma espera ativa. Embora o agricultor não tenha como abreviar o tempo de crescimento da semente, ele precisa cultivá-la para que ela chegue a dar frutos. A mesma coisa vale para a vinda do Senhor e seu Reino. Ao querermos esse mundo anunciado por Isaías, João Batista e Jesus, é preciso esperar ativamente, fazendo as coisas acontecerem a partir do nosso compromisso.

    O texto do evangelho de hoje apresenta João na prisão. A prisão de João nada mais é que as consequências da sua missão. Preparar a chegada de Jesus custou-lhe muito, inclusive a sua própria liberdade. Mas nem por isso ele desistiu. Quem confia não desiste diante dos obstáculos. Segue em frente e não sossega enquanto não vê seu sonho tornar-se realidade. Na liturgia de hoje, a maior alegria de João Batista é ver seu sonho se tornando realidade, seu trabalho dando fruto: o Messias esperado chegou. Ele quer ter certeza disso e envia discípulos para averiguar, perguntar se ele era mesmo o Messias. E o que os discípulos de João encontram? Provas concretas da presença do Messias. Não por teoria, mas pelas obras que estavam acontecendo. Jesus pede que os discípulos voltem e digam a João o que viram e ouviram: cegos recuperando a visão, paralíticos voltando a andar sem dificuldade, leprosos curados, surdos escutando, mortos que ressuscitam e os pobres evangelizados, isto é, tratados com dignidade, respeito, sendo incluídos na sociedade. Não dá para ter dúvidas. É o Messias.

    Quando eles voltam, Jesus se encarrega de exaltar a figura de João Batista, destacando suas qualidades, sua força e perseverança em anunciar esse tempo novo. João é engrandecido por Jesus, e Jesus completa que no Reino dos céus todos serão muito importantes. O menor será maior que João.

    Temos, assim, na pessoa de João Batista, o resumo das alegrias anunciadas nesse terceiro domingo do Advento: a primeira delas é a de ser reconhecido por Jesus. É muito bom quando nosso trabalho, nossos esforços são reconhecidos. Ainda mais quando esse reconhecimento vem de Deus. É uma grande alegria. A segunda alegria consiste em ter vencido a batalha e não ter se deixado levar pelas críticas, pelos obstáculos e acusações. E a terceira é o fato de ver a missão cumprida. O mestre anunciado chegou.

    Que a liturgia de hoje nos faça ver os sinais de esperança, nos ajude a ter firmeza e perseverança e continuar o caminho rumo ao Natal do Senhor.

    4º Domingo

    & Is 7,10-14 | Sl 23(24) Rm 1,1-7 | Mt 1,18-24

    Neste quarto domingo do Advento, às vésperas do Natal, a liturgia nos convida a olhar para dois personagens muito importantes na história da salvação: José e Maria. Ambos nos ajudam a preparar melhor o Natal do Senhor, com atitudes que são modelo de humildade, fidelidade e de justiça, elementos essenciais para que o Natal não seja apenas mais uma festa de fim de ano.

    Para ajudar nesses procedimentos, temos a leitura do profeta Isaías, que nos fala de esperança através dos sinais que Deus vai colocando na nossa vida. Sem sinais, nem sempre há esperança, e sem esperança, nem sempre temos atitudes tão sensatas e nobres como essas que vimos no evangelho de hoje e na segunda leitura.

    Isaías fala de sinais. Que sinais são esses? Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel. Um sinal no mínimo estranho e confuso, porém grandioso. Os sinais nem sempre são entendidos nos seus significados reais, mas sempre têm algo a nos indicar. O grande apelo deste domingo é que estejamos atentos aos sinais dessa presença de Deus conosco. Esses sinais podem ser estranhos, inusitados, simples; seja lá o que e como for, é preciso saber interpretá-los e ver o que Deus quer de nós com eles. Todos os dias, Deus emite inúmeros sinais na nossa vida, mas nem sempre percebemos. Às vezes a nossa insensatez, nossa falta de fé e de justiça nos impede de percebê-los.

    Paulo, na Carta aos Romanos, na segunda leitura de hoje, fala da obediência na fé. A mesma fé que levou José a aceitar Maria como esposa depois do anúncio do Anjo de que ela estava grávida. Não foi uma decisão fácil. Só alguém de muita fé e profundamente justo é capaz de uma atitude dessa natureza. O texto destaca essa grande virtude de José, a justiça. Uma justiça que supera a dos mestres da lei e dos fariseus. Uma justiça guiada pela fé e pela certeza de que Deus estava com ele.

    O evangelho deste domingo traz o sim de José. Estamos mais acostumados a ouvir e refletir sobre o sim de Maria, mas hoje é o sim de José que ecoa em nossos ouvidos. O sim que ele deu ao Anjo, isto é, a Deus, confirmou o sim de Maria. Desse modo, vemos como ambos, José e Maria, estão sintonizados. Ambos tiveram dúvidas, receio, medo, insegurança e outros sentimentos humanos quando o Anjo lhes anunciou a gravidez. Porém, ambos, pela fé, por serem pessoas de Deus, tiveram a atitude mais acertada, aceitando fazer a vontade de Deus. Somente quem tem fé consegue, em situações difíceis como essa, ouvir e aceitar que é Deus quem fala. Deus fala de diferentes maneiras em nossa vida. Constantemente ele envia seus anjos para anunciar o que devemos fazer, mas nem sempre estamos abertos a acolher ou entender isso. Anjos podem ser pessoas, situações e acontecimentos da nossa vida. Todos são portadores de alguma notícia e nos pedem uma atitude.

    Para ouvir e entender a voz de Deus, é preciso que sejamos como José, pessoa justa. Quem é justo não tem maldade no coração. Quem é justo quer o bem dos seus irmãos. José, por ser justo, pensava em deixar Maria em silêncio, sem fazer nenhum alarde, sem escândalos, sem expô-la à humilhação pública como era costume na época. Mas, mesmo assim, essa não era uma atitude correta. Era um gesto humano apenas, de um homem bom que, sem entender o que estava acontecendo, pensava estar agindo da melhor maneira. É nesse momento que entra a ação do Anjo. Os anjos de Deus vêm sempre na hora certa; se formos pessoas boas, sensíveis, de fé, vamos também captar no momento exato essa presença, esse sinal de Deus.

    Assim, o que nos pede a liturgia de hoje é sensibilidade para perceber os sinais de Deus. O maior sinal é Jesus. Não há sinal maior do que ele. A liturgia deste fim de Advento anuncia a vinda desse sinal. Como está o nosso procedimento? José, quando entendeu o sinal, fez conforme o Anjo havia pedido, mudou seus pensamentos e aceitou Maria como esposa. E nós, se temos os sinais desse Anjo que anuncia a chegada do Senhor, devemos também mudar nossos pensamentos, nossas ações e acolhê-lo como José acolheu Maria e o Filho de Deus que ela trazia em seu ventre. Nós mostramos que acolhemos Jesus não apenas por palavras, mas, sobretudo, por atos. Que as nossas ações revelem Jesus para os nossos semelhantes. É isso que pedem as leituras deste domingo.

    Desse modo, o sim de José e de Maria nos coloca diante do presépio com o coração cheio de expectativas e esperanças. Queremos que o Emanuel, o Deus conosco, nos faça cada dia mais sensíveis aos sinais que Deus aponta em nossas vidas, para podermos também, a exemplo de ambos, José e Maria, dizer sempre sim a Deus e ser coerentes até o fim. O sim de José e Maria possibilitou que Jesus nascesse para a humanidade. O nosso sim a Deus possibilitará que Jesus continue presente entre nós. O sim de José e Maria representou um compromisso com Deus e com a humanidade. Nosso sim também representa compromisso semelhante. Somente quem diz sim a Deus consegue dizer não às coisas que não são de Deus. Para celebrar verdadeiramente o Natal do Senhor, é preciso dizer sim a ele e não às coisas que desagradam a Deus. Um sim a Deus significa um não às coisas do mundo.

    TEMPO DO NATAL

    (cor: branca)

    Missa da noite (24 de dezembro)

    & Is 9,1-6 | Sl 95(96) | Tt 2,11-14 | Lc 2,1-14

    Celebramos, hoje, a grande e esperada festa do nascimento de Jesus. A segunda maior festa do nosso calendário cristão. A primeira é a Páscoa. Para esse momento importante, nos preparamos durante quatro semanas. Foram semanas em que a liturgia insistiu no aspecto da conversão como o meio mais eficaz para a preparação. Sem conversão, não é possível ter acesso aos mistérios do Natal do Senhor. Só um coração convertido à simplicidade dessa festa consegue vislumbrá-la naquilo que ela tem de essencial: o nascimento do Salvador. Deus que se faz gente, um de nós, para que possamos ter acesso a ele. Ele se faz um de nós da maneira mais simples que se possa imaginar. Nasce numa situação inusitada, num contexto de peregrinação, igual ao dos povos nômades do deserto, dos migrantes e andarilhos de hoje. Nasce numa estrebaria porque não havia lugar para ele nas hospedarias. Nasce embaixo das pontes, nas favelas, nas ruas porque não há lugar para ele nas maternidades, nos hospitais, nos nossos lares. Não havia e ainda não há lugar para ele. Não há lugar para ele nos banquetes que se promovem nessa noite. Muitos nem se lembram de que a razão da festa é o nascimento de Jesus. Pensa-se em tudo, menos no essencial: Jesus.

    Deus nos surpreende. Ao vir morar entre nós Deus tem um único objetivo: a nossa salvação. Para ser salvo precisamos conhecê-lo, ter acesso a ele. Se ele tivesse nascido num palácio, só os nobres o conheceriam. Os pobres jamais viriam a Deus porque não há lugar para os pobres nos palácios. Lá eles não adentram. Mas Jesus, não. Ele nasce numa estrebaria. Abaixo da linha de pobreza. Nessas condições, todos podem se achegar até ele, principalmente os pequenos, os marginalizados, figurados nos pastores que foram os primeiros a receber a notícia do nascimento do Salvador. Os pastores conhecem muito bem o que é uma estrebaria. Para conhecê-lo, os nobres terão que se curvar, descer até o nível dos pequenos, senão nunca o verão. Natal é, portanto, a festa da humildade. Nada de luxo e ostentação de poder. O luxo, a ostentação de riquezas, os banquetes não condizem com o verdadeiro sentido do Natal do Senhor. Quem só se preocupa com a festa pode celebrar qualquer coisa, menos o Natal do Senhor.

    A primeira leitura, do profeta Isaías, o profeta da esperança que nos acompanhou durante todo o tempo do Advento, fala que agora, com o nascimento do Menino, o filho que nos foi dado, tudo o que significava opressão e morte teve um fim. Com tintas fortes ele pinta o quadro desse tempo de horror que chega ao fim com o nascimento de Jesus: acabou a escuridão. As sombras da morte, que a todos assustavam, tiveram um fim. Não há mais jugo oprimindo o povo. As cargas pesadas foram tiradas de seus ombros. A arrogância, o orgulho dos fiscais que exploravam o povo também teve fim. Os sinais de morte, como, por exemplo, as botas de tropa de assalto, os trajes manchados de sangue, tudo foi queimado, destruído para dar lugar à paz, à alegria e à felicidade para todos. É tempo de alegria, de festa, como se festeja uma batalha que foi vencida. Como os ceifeiros festejam o fim de uma colheita exuberante. O nascimento do Salvador traz esse tempo novo, e o profeta nos convida para a festa, a alegria. Somos convidados a engrossar o coro dos anjos e cantar: Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados.

    A segunda leitura da Carta a Tito pede que nos coloquemos diante do presépio e nos perguntemos: o que ele tem a nos ensinar? Em seguida vem a resposta: ele nos ensina a abandonar a impiedade, a insensibilidade de nosso coração, e a sermos mais generosos, mais humildes, mais humanos, mais fraternos. Ensina-nos a abandonar as paixões mundanas, aquelas coisas que nos desgastam tanto e que, na verdade, não têm nenhum sentido perante a grandeza do mistério de Deus. Ensina-nos a viver de modo equilibrado, justo, com piedade. Enfim, nos ensina a viver de modo puro, sempre praticando o bem. A celebração, a vivência do Natal, consiste nisso tudo.

    O evangelho fala do contexto do nascimento para que não esqueçamos a humildade e a simplicidade dessa festa. Para que nenhuma outra coisa ofusque o essencial, ele nasce desprovido de aparatos técnicos e luxo. Apenas uma faixa o envolve. É essa faixa que vai envolvê-lo, anos mais tarde, quando, ao ser retirado da cruz, for colocado na sepultura. Um nascimento desprovido de qualquer outro aparato para que se evidencie a criança, o Salvador. Ele é o mais importante. O resto é mero detalhe. Quem recebe primeiro a notícia do nascimento são os pastores, os mais excluídos dos excluídos. São eles os primeiros agraciados com esta Boa Notícia: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. É a síntese, o essencial da festa do Natal. Acreditar nisso é o suficiente para que nossa vida mude totalmente. Conhecê-lo, na sua simplicidade, faz toda a diferença. Como aos pastores, os anjos dizem para nós nesta noite: não tenham medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo.

    O que ainda nos amedronta e impede de encontrar com Jesus na sua simplicidade? Talvez a sua própria simplicidade. Quantos de nós continuamos a procurar Jesus nos lugares onde ele, de fato, não está, e por isso não o encontramos. Às vezes, até nas nossas igrejas o procuramos de modo errado, esperando encontrá-lo de outras formas que não condizem com o que ele é. Quantos festejarão o Natal, porém continuarão vazios da presença de Jesus, como o presépio sem o Menino?

    Para encontrá-lo, é preciso que se dissipe do nosso coração o orgulho, o preconceito, os medos que nos paralisam, a falta de justiça e de amor ao próximo, o egoísmo, a ignorância, enfim, como diz a Carta a Tito, as paixões mundanas e a impiedade.

    Que possamos, a partir dessa noite santa, nos curvar diante das manjedouras desse mundo para visualizar o Salvador. Ouçamos a voz do anjo que continua a ecoar em nossos ouvidos: não tenham medo.

    Missa do dia (25 de dezembro)

    & Is 52,7-10 | Sl 97(98) Hb 1,1-6 | Jo 1,1-18 ou 1,1-5.9-14

    Celebramos na noite que passou o nascimento de Jesus. A luz que veio ao mundo, anunciada pelos profetas. Hoje, celebramos o Natal, o cumprimento da promessa de Deus. Nasceu para nós o Salvador, o Príncipe da paz, a luz das luzes.

    As nossas casas, a cidade, continuam iluminadas pelas luzes natalinas. São sinais exteriores de que estamos vivendo um tempo especial. A luz que brilha hoje ofusca todas as outras luzes. É a luz eterna, a luz de Deus. É de luz que fala a liturgia desse dia de Natal.

    A primeira leitura, extraída do livro do profeta Isaías, fala da beleza dos pés de quem anuncia e prega essa luz, figurada na paz. Nasceu aquele que é o Príncipe da paz. É a sua paz que devemos agora anunciar. Uma paz que significa salvação porque Deus agora reina no mundo, através de seu Filho, Jesus. É tempo de alegria. Não uma alegria superficial, passageira, mas uma alegria visceral, duradoura. Deus, através da vinda de seu Filho, consolou seu povo, devolveu-lhe a esperança, resgatou-nos do pecado. É Deus mostrando seu poder e sua misericórdia, diz o profeta Isaías. Deus revelando o quanto nos ama a ponto de vir até nós de forma tão acessível. Aquilo que ele prometeu, por palavras, se concretiza.

    O salmo de hoje canta a realização das promessas: os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus. Deus realiza prodígios, é a vitória. As forças da morte foram vencidas. São as razões da nossa alegria. É preciso manifestar essa alegria de alguma forma. O salmo pede que cantemos a Deus um canto novo, que cantemos salmos ao som da harpa, da cítara suave. Harpas são instrumentos natalinos. Os sons de harpa nos remetem a esse tempo mágico do Natal. São, portanto, muitos os motivos dessa manifestação de alegria que pede o Natal: a salvação, a justiça, o amor sempre fiel de Deus agora é realidade. Todo o resguardo do tempo do Advento explode agora numa grande festa. Os sinais dessa alegria devem estar por toda parte nas nossas liturgias de Natal e nos símbolos que usamos nas celebrações, como, por exemplo, nos instrumentos musicais, nas flores, na cor branca ou dourada, no presépio, com a presença do menino Jesus, nas luzes etc. É tempo de alegria.

    A segunda leitura fala dessa alegria, mostrando Deus, que fala conosco através de seu Filho. Ele falou e fala de muitas maneiras, mas agora fala por Jesus e em Jesus. É Deus que se fez um de nós para que pudéssemos ter acesso a ele. A vinda do Filho significa, segundo a Carta aos Hebreus, o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele, o Filho, é maior que todos os anjos. É Deus, na sua segunda pessoa, presente no mundo. Todos devem adorá-lo. Adorar a Jesus significa cumprir a sua Palavra, viver os seus ensinamentos, conformar a vida de acordo com seus preceitos de amor e de justiça.

    O evangelho desse dia de Natal fala do verbo que se fez carne e habitou entre nós. Deus, que no princípio era a Palavra, agora se concretiza na pessoa de Jesus, luz do mundo. Para que essa luz chegasse até nós foi preciso um tempo de preparação, simbolizado no tempo da gravidez de Maria, no tempo do Advento e no tempo em que João preparou os caminhos do Senhor. João é tido como um homem enviado por Deus para preparar essa chegada que hoje celebramos. Veio como testemunha da luz. Sua proposta era a conversão. Sem conversão, não será possível ter acesso, conhecer a Deus através de seu Filho.

    João vem anunciar essa grande luz para a humanidade. Luz no sentido de dissipar as trevas, o poder da morte ou tudo aquilo que representasse escuridão na vida do povo. Por essa razão, a luz é tema central da liturgia desse dia de Natal. Cristo como luz do mundo, como diz a antífona da comunhão: Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.

    Ao acolher essa luz como luz para a nossa vida, nós nos tornamos também filhos de Deus. Renascemos do próprio Deus. Assim, o que era Palavra passa a ser carne, se concretiza na nossa vida. Cada vez que recebemos a comunhão, ele entra, literal e simbolicamente, na nossa vida e passa a fazer parte de nós.

    Cabe, agora, a cada um de nós, a exemplo de João Batista, anunciá-lo ao mundo. Recebemos essa infinita graça de Deus, que foi conhecê-lo, através do seu Filho. Nossa missão, portanto, é anunciá-lo, como pede a primeira leitura.

    Sagrada Família de Jesus, Maria e José

    [1]

    & Ec 3,3-7.14-17a | Sl 127(128) Cl 3,12-21 | Mt 2,13-15.19-23

    A liturgia deste domingo nos coloca diante da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, e pede que, a partir dessa família, olhemos para a nossa e vejamos como ela está. Quais são os valores que temos e quais são as coisas a que não damos valor? Como anda o nosso relacionamento familiar? Existe amor, respeito, compreensão? Existe temor de Deus, configurado na prática religiosa, na participação nas missas, na oração em família, na ajuda mútua? O que precisamos melhorar na nossa família?

    Para responder a essas e outras perguntas, temos as leituras de hoje, que nos dão profundos ensinamentos.

    A primeira leitura é do livro do Eclesiástico. O livro do Eclesiástico faz parte dos livros sapienciais da Bíblia. Ali está reunida uma parte do conhecimento do povo daquela época, as experiências vividas, comprovadas, tidas como certas porque foram testadas no dia a dia. Não são apenas teorias. É conhecimento empírico. Em vista disso, elas têm muito a nos ensinar ainda hoje.

    O primeiro ensinamento que encontramos é que Deus honra os pais nos filhos. Filhos são tidos como bênçãos de Deus e por essa razão devem ser tratados com todo carinho e cuidado. Se os pais devem cuidar bem dos filhos, seus maiores tesouros, o mesmo devem fazer os filhos. É preciso honrar os pais, isto é, respeitá-los. Esse é um dos mandamentos de Deus. Honrar pai e mãe. Honrar os pais é algo tão nobre, tão importante que quem o faz recebe o perdão de Deus pelos seus pecados. É, portanto, um dever, uma obrigação de todos os filhos, porém devemos fazer isso não apenas porque é dever, mas porque há amor no nosso coração. O amor é a medida de todas as coisas, e dentro da família isso não é diferente. Ao contrário, é fundamental. Quem ama honra, respeita, perdoa, busca a harmonia. Quem repeita a mãe, diz o texto, é como quem ajunta tesouros. O mesmo ocorre com quem respeita o pai. Quem age assim terá, na velhice, o mesmo tratamento, o mesmo respeito e carinho dos filhos, e, assim, sucessivamente, a honra e o respeito vão passando de geração para geração. Quando os membros da família perdem o respeito de um para com o outro, a sociedade perde o respeito. Quem não consegue respeitar, honrar o sangue do seu próprio sangue dificilmente conseguirá amar e respeitar os que não são da sua família. Quem ama cuida, diz o provérbio popular. Esse provérbio está presente na expressão ampara o teu pai na velhice e não lhe cause desgosto enquanto ele vive. Quem ama seus pais cuida deles enquanto eles vivem, mesmo que tenham perdido a lucidez. Um dos grandes desafios da família é manter o cuidado e o amor quando os pais estão envelhecidos e sem memória. É muito mais cômodo colocá-los em alguma instituição que cuida de idosos do que tê-los por perto, em casa, e tratá-los com amor. Só os que amam verdadeiramente conseguem ficar com os pais e tratá-los bem até o fim de suas vidas. Quem não ama maltrata, humilha e, assim, peca contra Deus. Porém, os que são compreensivos, pacientes e tratam com carinho seus pais serão lembrados diante de Deus e terão seus pecados perdoados, insiste o texto da primeira leitura.

    O salmo de hoje canta o temor a Deus, que significa não o medo de Deus, mas o amor a ele. Quem ama a Deus verdadeiramente, dá demonstração disso no amor ao próximo, no amor dentro de casa, uns para com os outros. Quem ama a Deus age sempre com segurança, consegue suportar as adversidades da vida, como vemos na família de Nazaré apresentada no evangelho de hoje.

    A Carta aos Colossenses destaca o amor que Deus tem por nós. Quem reconhece esse amor age diferente, começando a demonstrar isso dentro de casa. Quem reconhece o amor de Deus se reveste de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência. Quem reconhece o amor de Deus na sua vida suporta todas as dificuldades dentro da família e sabe perdoar, contornar, resolver a situação da melhor maneira possível. Suportar uns aos outros, como diz a carta, significa ser paciente e compreensivo. Significa entender os limites do outro e saber que os outros também são pacientes com os nossos limites. A família é, portanto, lugar de perdão. Toda vez que tivermos dificuldade, dentro de casa, de perdoar, vamos lembrar quanto Deus nos ama e nos perdoa. O destaque dessa segunda leitura é o amor que deve existir dentro dos nossos lares, porque só quem ama é capaz de perdoar. O amor era, é e continuará sendo o vínculo da perfeição dentro das nossas famílias. Família que ama é família em que a paz reina. Família que ama é família unida. Família que ama vive a Palavra de Deus. Família que ama é família feliz, mesmo que haja desavenças e dificuldades como há em qualquer família. Família que ama coloca Deus em primeiro lugar dentro de casa. Nas famílias cujos membros se amam, as esposas são solícitas com seus maridos, os maridos dão provas desse amor a suas esposas. Os filhos obedecem aos pais e os pais não ameaçam nem intimidam seus filhos. Assim, os filhos obedecerão a seus pais não porque têm medo deles, mas porque os amam e os respeitam.

    O evangelho, em pleno ciclo do Natal, coloca-nos diante de uma família cheia de dificuldades, de desafios e obstáculos a serem enfrentados, superados. Só o amor a Deus e o amor entre eles podem fazer com que José e Maria enfrentem com valentia e coragem as dificuldades da vida. Depois de ter tido um parto numa estrebaria porque não havia lugar para eles nas hospedarias, o casal se vê diante da perseguição ao recém-nascido. Herodes ameaça de morte o Menino. José e Maria precisam fugir para o Egito para fugir de Herodes. O Menino acaba de nascer e já é um exilado. Isso lembra as tantas famílias de hoje que são perseguidas pela violência, pelas drogas e por tantas causas que as expulsam de suas casas, de suas terras, e precisam viver escondidas para poder sobreviver. Somente o temor de Deus, o amor que existe entre eles os faz fortes para lutar pela defesa da vida. Obedecem a Deus e nos dão um exemplo muito importante para as nossas famílias, hoje. Não importa o que a nossa família esteja passando, o que importa é o amor que existe dentro dela. Se houver amor a Deus e ao próximo dentro de nossos lares, todas as dificuldades e obstáculos serão vencidos. É o que nos ensina a liturgia de hoje, da Sagrada Família de Jesus, Maria e José.

    2º Domingo depois do Natal

    & Eclo 24,1-4.12-16 | Sl 147 Ef 1,3-6.15-18 | Jo 1,1-18 ou 1,1-5.9-14

    A liturgia deste domingo faz uma espécie de memória teológica da presença de Deus entre nós. Estamos ainda no contexto do Natal do Senhor, e a liturgia celebra este mistério: o verbo que se fez carne e habitou entre nós. Assim, as leituras de hoje contextualizam esse processo, memória do Natal e de tudo o que esse tempo desdobra.

    A primeira leitura, do livro do Eclesiástico, fala dessa presença de Deus entre nós, usando uma linguagem comparada, ou um símbolo: a sabedoria. A sabedoria é a revelação de Deus ou do seu projeto de vida entre nós. A sabedoria aqui não é Deus, mas algo de Deus, uma espécie de Espírito de Deus, que ajuda na obra da criação. O texto diz que ela estava junto de Deus e o acompanhou na obra da criação, sendo, por fim, entregue a nós, seres humanos, criados à sua imagem e semelhança. Desse modo, a criação do ser humano, da humanidade, é a representação do ápice da sabedoria de Deus. Ele nos criou para darmos continuidade às obras de sua criação. Temos, portanto, essa parcela divina, que é a nossa capacidade de criar e recriar as coisas, os dons que Deus nos confiou. Com a nossa inteligência, ou sabedoria, dom de Deus, temos a responsabilidade de continuar a obra de sua criação. Vemos, portanto, que essa sabedoria está presente em tudo e em todos, mas nem sempre sabemos fazer uso dela. Como não somos deuses, mas apenas imagem e semelhança de Deus, falhamos na continuidade da obra da criação e até mesmo atrapalhamos esse projeto quando nos desviamos dos seus caminhos. Porém, o mais importante é saber que possuímos um tesouro incomensurável e que, se soubermos trabalhá-lo, lapidá-lo, podemos crescer sempre mais em sabedoria e nos tornar santos como nosso Pai celeste é santo. É essa sabedoria herdada de Deus que nos aproxima dele. Nossa missão neste mundo é manter esse elo entre nós, humanos, e Deus. É o que nos pede a primeira leitura ao tratar da sabedoria de Deus como sinal da sua presença entre nós.

    A segunda leitura, da Carta aos Efésios, fala dessa mesma sabedoria, porém como uma bênção. Paulo louva a Deus porque nos abençoou com toda bênção espiritual, através de Jesus Cristo. Assim, sabedoria não é apenas inteligência, algo ligado à razão, mas a dimensão espiritual que existe em nós. Vemos, assim, os dois principais elementos que nos diferenciam dos animais: a razão e a fé. O ser humano é dotado de razão e fé, e isso nos torna seres muito próximos de Deus. Próximo no sentido de filiação mesmo, através de seu Filho, Jesus. É isso que enfatiza a Carta aos Efésios no trecho escolhido para a liturgia de hoje. Paulo recorda que fomos escolhidos por Deus antes de tudo, antes da criação do mundo. Embora o livro do Gênesis mostre que a humanidade foi uma das últimas obras da criação, isso não significa que sejamos menos importantes, ou que as coisas foram criadas por ordem de importância. Ter sido criado por último significa o ápice da criação, a completude do Deus criador. Assim, antes de criar o mundo, ele nos escolheu, afirma o Apóstolo Paulo nessa carta. Ser escolhidos antes de Deus criar o mundo significa que temos uma missão importante na obra da criação. Somos responsáveis pelo mundo, continuadores da missão criadora de Deus e da missão de Jesus Cristo, a qual temos visto explicitamente nos evangelhos, sobretudo na parte que corresponde ao chamado e envio pelos seus discípulos. Desse modo, Deus nos predestinou a sermos filhos adotivos, diz Paulo, e isso significa não apenas continuidade da missão, mas uma profunda responsabilidade na obra da criação. Essa responsabilidade é revelada na fé e no amor que temos uns pelos outros, diz a Carta aos Efésios. Essa fé e esse amor revelarão em nós o rosto de Deus. Paulo, nas suas orações, agradece a Deus pelo fato da comunidade dos efésios ter revelado essa fé e esse amor. Isso é sinal de que sua missão não foi em vão. A missão de Jesus neste mundo não terá sido em vão se nós, cristãos, continuarmos vivendo o que ele viveu e ensinou. Que Deus nos dê sempre um espírito de sabedoria para que possamos, como cristãos, revelar Deus aos nossos irmãos. Somente assim vamos conhecê-lo profundamente. É esse o desejo de Paulo, Apóstolo, à comunidade dos efésios. Esse deve ser também o desejo de todo discípulo missionário de Jesus Cristo. Nisso todos reconhecerão que somos de Deus, que somos de fato sua imagem e semelhança e que o Verbo de Deus continua habitando entre nós, como mostra o evangelho de hoje.

    O evangelho de hoje é o início do Evangelho de São João. Ele fala da criação e revelação de Deus. Mostra que no começo existia somente a Palavra, o Verbo, e que a Palavra era Deus. Algo muito próximo da primeira leitura, que usa, em vez de verbo, o termo sabedoria. João mostra que tudo foi criado por meio dela, a Palavra, o Verbo de Deus. É na Palavra que estava a vida, e a vida era a luz. Assim, nessa linguagem profundamente teológica, João fala de Jesus, do Verbo que se fez carne e habitou entre nós, mistério que celebramos recentemente no Natal. Cristo, o Verbo encarnado de Deus, habitou entre nós e em nós, como luz. Luz que veio para dissipar as trevas. Por essa razão falamos tanto de luz no tempo do Natal. Falamos da luz, destacamos a luz, iluminamos nossas casas, nossas ruas, o presépio, com muitas luzes. Deus é luz, Jesus é luz. Essa luz que resplandeceu nas trevas deve estar acesa em nossos corações. Eis o grande apelo do Natal do Senhor. De nada adianta enfeitarmos nossas casas com muitas luzes se o nosso coração permanecer nas trevas. A luz que ilumina nosso coração é o amor, a misericórdia, a compaixão. São esses sentimentos tão humanos que nos tornam divinos. São esses sentimentos tão simples que nos tornam filhos de Deus, irmanados com Jesus. Somente o amor é capaz de dissipar as trevas do ódio.

    João Batista foi essa voz que anunciou no meio das trevas a luz de Cristo. A voz que clama no deserto, diz o texto bíblico sobre João Batista. Que deserto? O deserto do pecado, da maldade humana, das tentações do maligno. Podemos fazer aqui uma lista de situações que representam os desertos dos nossos tempos. É em meio a esses desertos, essa escuridão que João foi chamado a anunciar a luz de Cristo. Isso nos faz lembrar a noite do Sábado Santo, quando, com as luzes da igreja apagada, o sacerdote entra com o Círio Pascal aceso e anuncia: Eis a luz de Cristo. Assim foi a voz de João Batista no deserto. Ele não era a luz. Era apenas anunciador e portador da luz. Porém, aquele que anuncia, que porta a luz, também é iluminado por ela e pode até ser confundido com a luz. Foi o que aconteceu com João Batista. Ele não era a luz, mas apenas testemunha da luz. Ele veio para dar testemunho da luz e em nenhum momento aproveitou disso para usurpar o lugar da luz, isto é, de Jesus. Cumpriu com humildade a sua missão de ser testemunha, anunciador da luz que viria com Jesus. Ainda hoje, pessoas que anunciam com fervor a Cristo acabam por ser confundidas, reverenciando, seguindo como uma espécie de ídolo. Se essa pessoa não tiver clareza do seu papel de anunciador de Cristo, poderá querer ocupar o lugar de Cristo e confundir as pessoas em vez de orientá-las. Por essa razão, temos que ter muito cuidado. Anunciar Cristo é colocar-se, a exemplo de João Batista, no serviço a Deus com humildade, sem se ensoberbecer pelo fato das pessoas enxergarem, na sua pessoa, um representante de Deus. Temos muitos padres e pregadores populares, que arrastam multidões, e sobre esses recai uma grande responsabilidade de não querer ser igual ou maior que o próprio Cristo. Que tenhamos sempre diante de nós o exemplo de João Batista, do Apóstolo Paulo e, sobretudo, do próprio Jesus Cristo, que se fez, na humildade, um de nós e serviu a todos, começando pelos que mais precisavam. É essa nossa missão e é esse o grande ensinamento da liturgia deste domingo.

    Que sejamos fiéis a Deus e ao nosso compromisso cristão de continuarmos nossa missão de anunciar Cristo, que chegou neste Natal e permanece entre nós. Ele iluminou nossa vida, e essa luz precisa continuar iluminando a todos, principalmente os que estão nas trevas. Eis a nossa missão: levar essa luz que é Cristo a todos os que ainda não foram iluminados por ela.

    Domingo da Epifania do Senhor

    & Is 60,1-6 | Sl 71(72) Ef 3,2-3a.5-6 | Mt 2,1-12

    Celebramos, hoje, a Epifania do Senhor. Epifania significa manifestação de Deus aos povos, ao mundo. A liturgia nos convida a perceber como Deus se manifesta, hoje, entre nós. Quais são os sinais dessa manifestação? Como estamos reagindo diante deles? O que eles nos ensinam? As leituras propostas para esse domingo nos dão a resposta. Antes, porém, vale lembrar a importância dessa festa no calendário litúrgico.

    A Epifania era, até recentemente, uma festa popular, com importância similar à festa do Natal. As famílias se reuniam, celebravam juntas, trocavam presentes. Era algo grandioso, tanto no sentido religioso quanto no folclórico e social. Hoje

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