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A metafísica de Plotino
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A metafísica de Plotino
E-book270 páginas5 horas

A metafísica de Plotino

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Sobre este e-book

Na história da difusão do platonismo – sempre mais ou menos impregnada de aristotelismo –, Plotino ocupa uma posição singular, não apenas em relação a seus predecessores, que ele supera com seu poder de síntese e suas audácias especulativas, mas também em relação a seus sucessores, que, sobre vários pontos (como no caso do argumento causa sui, desenvolvido a respeito do Uno, da assimilação da matéria ao mal radical), se distanciarão dele. Mestre mal apreciado ou mal compreendido, iniciador em parte traído, Plotino legou à posteridade uma herança imensa, cujo crédito se atribuiu praticamente por inteiro a Platão. Mas evidentemente as implicações disso ressoam até hoje, com ganhos para a aventura do platonismo, apesar de peripécias inúmeras e variadas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mar. de 2015
ISBN9788534940986
A metafísica de Plotino

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    Pré-visualização do livro

    A metafísica de Plotino - Jean-Marc Narbonne

    CapaRosto

    ÍNDICE

    Capa

    Rosto

    Prefácio à segunda edição francesa

    Prefácio

    Introdução

    A CONCEPÇÃO ARISTOTÉLICA DO SER

    O SER E O POSSÍVEL

    1. Possibilidade cosmológica

    2. Possibilidade ontológica

    3. Possibilidade noológica

    A CONCEPÇÃO PLOTINIANA DO SER

    O exemplo do Uno

    A liberdade do Uno

    O exemplo da matéria

    Uma matéria flexível

    Uma matéria impassível

    Nihil negativum versus nihil positivum

    1º. O necessitarismo

    2º. A des-realização do sensível

    NAS ORIGENS DA CONCEPÇÃO PLOTINIANA DO SER

    Plotino, ou a transposição estoica do platonismo

    A doutrina dos dois atos

    A ἕξις estoica e sua apropriação plotiniana

    Agir ou ser

    HISTÓRIA E METAFÍSICA

    METAFÍSICA E POSSIBILIDADE

    Conclusões

    Apêndices

    Apêndice I

    Irrealidade da matéria e realidade do mal: acerca de uma objeção possível à tese do poder absoluto do Uno

    Uma matéria engendrada ou não engendrada?

    Apêndice II

    Henôsis e Ereignis: observações acerca de uma interpretação heideggeriana do Uno plotiniano

    Introdução

    O Uno plotiniano segundo R. Schürmann

    Ensaio de caracterização do Uno plotiniano

    Bibliografia (Principais obras consultadas)

    Index locorum

    Índice dos autores medievais e modernos

    Sobre o autor

    Coleção DIDASKALÍA

    Ficha catalográfica

    Notas

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    PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO FRANCESA

    Ocrescente interesse dos especialistas e dos estudantes pelo pensamento neoplatônico e por Plotino em particular explica que, alguns anos após sua aparição, o presente volume seja beneficiado com uma segunda edição. Nosso projeto inicial era destacar à atenção do público alguns pontos salientes da filosofia de Plotino, ou aqueles que nos pareciam manifestar melhor que outros sua originalidade a uma época cujo espírito não mais os reconhece. Na história da transmissão do platonismo – sempre mais ou menos penetrado de aristotelismo –, Plotino ocupa uma posição singular não apenas em relação a seus antecessores, que ele ultrapassa por sua capacidade de síntese e suas audácias especulativas, mas também em relação a seus sucessores, que em muitos aspectos dele se distanciarão (é o caso do argumento causa sui desenvolvido acerca do Uno ou da assimilação da matéria ao mal radical). Mestre mal amado ou mal compreendido, iniciador em parte traído, Plotino lega à posteridade uma imensa herança, da qual Platão, em seu lugar, recebeu quase todo o crédito. Mas isso foi evidentemente um ganho para a grande aventura do platonismo, de peripécias numerosas e variadas, que desdobra suas consequências até hoje.

    Algumas das visões expressas neste livro passaram por uma evolução, sob o impulso de novas pesquisas. Foi assim que, do problema da originalidade de Plotino, passamos ao problema da especificidade do projeto neoplatônico como tal, notadamente por oposição à ontologia de tradição aristotélica e à interpretação proposta por Heidegger.[1] Esta segunda investigação, mais ampla, mas que de modo algum desmente as principais aquisições da primeira, permite-nos apreciar ainda melhor o estatuto da intuição mestra de Plotino em relação ao Uno transcendente, a mesma que, associada à exegese do Parmênides de Platão, alimentará toda a reflexão posterior da escola neoplatônica.

    Decidimos não modificar – à parte as correções cosméticas usuais – o conteúdo da primeira edição deste livro, que tem sua própria história, e que se defenderá bem – ou mal – por si só. Acrescentou-se agora um estudo que nos parece auxiliar a melhor situar o lugar do Uno plotiniano como princípio na história das ideias e nos debates filosóficos contemporâneos.[2] Pareceu-nos, entretanto, oportuno retornar a um ponto da exposição primitiva justamente em relação ao argumento causa sui. Ainda hoje reivindicamos para Plotino a paternidade dessa noção, cujo mérito J.-L. Marion, em reação a este livro e a um estudo que publicamos anteriormente,[3] atribui a Descartes.[4] O caso, não é preciso reafirmar, é difícil em razão da natureza complexa do próprio conceito, que implica a existência (para poder se criar) e a não existência (para ter se criado) simultâneas de uma mesma realidade. Plotino nela acreditou? Descartes pode nela ter acreditado mais que Plotino? É preciso crer mais ou menos intensamente em um conceito para dele se fazer um inventor legítimo, sobretudo quando é precisamente de legitimidade que ele sofre de modo irreparável? Sempre ocorre que Plotino desenvolve o argumento sobre a causa de si não simplesmente para refutá-lo, mas para, graças a ela, deixar entrever a incomensurável potência do Uno, dela forjando o sintagma, na medida em que o Uno é formalmente afirmado αἴτιον ἑαυτοῦ (VI 8 [39], 14, 41).[5]

    Québec, janeiro de 2001.

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    PREFÁCIO

    Esta obra não é um livro sobre a filosofia de Plotino, ao menos no sentido clássico do termo. Não serão encontradas, apresentadas segundo uma ordem sistemática e dispostas umas em relação às outras, as grandes articulações de sua filosofia. Partes inteiras de seu sistema não serão abordadas, e muitas figuras de seu pensamento, negligenciadas. De igual modo, não se trata de um estudo de detalhe, reservado aos especialistas, visando esclarecer tal ou tal ponto de sua doutrina. Destinado a um público mais amplo, a todos aqueles que se interessam pela história do pensamento em geral, tenta destacar a especificidade do pensamento de Plotino. Visamos a um fim único: demarcar o lugar da reflexão plotiniana na história das ideias e no desenvolvimento do pensamento grego.

    Diferentes facetas de sua filosofia são estudadas e analisadas apenas na medida em que servem a esse fim. Sem conhecer o detalhe de seu sistema, sem ser derrotado pelas sutilezas argumentativas e terminológicas do filósofo, o leitor terá uma ideia daquilo que Plotino tornou possível, daquilo que ele trouxe à história da filosofia. Tudo aquilo que apresentava um obstáculo à exposição foi, na medida do possível, deixado de lado. Apesar da complexidade do tema, reduzimos as discussões técnicas ao mínimo. Todas as passagens gregas[1] ou latinas são traduzidas, assim como, na maior parte, os comentários em inglês ou alemão.

    A ideia deste livro germinou-se progressivamente após nossas investigações sobre o problema da matéria no pensamento de Plotino. Estávamos tocados pela onipresença da matéria na estrutura metafísica do sistema plotiniano. Ora, a matéria é um ser em potência, um δυνάμει ὄν, isto é, algo cuja estrutura ontológica é inacabada, de todo fixada, e que requer, portanto, a mudança. Sua presença em todos os níveis de realidade distintos por Plotino revelava, portanto, o caráter evidentemente dinâmico de seu sistema, o fato de que ele permanece em cada uma de suas partes animado de uma potência capaz de operar transformações múltiplas nas diferentes regiões do ser.

    Esse dinamismo pareceu-nos novo, revelando em Plotino uma concepção de ser distinta daquela que encontramos em Platão e Aristóteles. Ela permitia supor outro princípio na base de seu sistema, um poder de ação novo, diferente daquele que a tradição grega nos havia dado a conhecer até então. Confirmava tal impressão o fato de que, na outra ponta da estrutura do ser, a matéria sensível conhecia uma espécie de inverso, visto que se encontrava desprovida de qualquer poder, privada de modo definitivo de qualquer função.

    O ser, tomado em sentido amplo, era em Plotino aparentemente portador de uma nova estrutura, testemunhando uma capacidade de transformação e de produção inusitadas, da qual seria necessário avaliar o estatuto e explicar a origem.

    O livro de A. Faust, Der Möglichkeitsgedanke. Systemgeschichtliche Untersuchungen, forneceu-nos o quadro geral da interpretação que buscamos para situar a reflexão de Plotino na história do pensamento grego e em seu prolongamento no seio da escolástica medieval e na tradição do idealismo alemão.

    No caminho, o encontro do livro de P. Hadot, Porfírio e Vitorino, foi decisivo. Dessa obra retomamos a tese mestra da transposição estoica do platonismo. P. Hadot mostrou a importância dessa transposição para compreender a metafísica porfiriana e, em geral, neoplatônica. Esse modelo se revela de igual modo importante na elaboração do pensamento de Plotino. Encontramos a peça que faltava em nosso edifício. Graças a ela, o movimento do pensamento plotiniano podia ser restituído de modo harmonioso e natural.

    O comentário de G. Leroux ao tratado Sobre a liberdade e a vontade do Uno foi também de grande utilidade na compreensão das origens desse escrito excepcional na obra de Plotino. Enfim, dois estudos notáveis de J. Whittaker nos permitiram melhor considerar a evolução de alguns conceitos-chave nas especulações pré-plotinianas.

    Nossos amigos L. Brisson e A.-Ph. Segonds contribuíram com suas observações eruditas para melhorar alguns aspectos do livro e nos auxiliaram na correção da versão final.

    Agradecemos à Université Laval, que nos forneceu excelentes condições de pesquisa, bem como ao Fundo para a formação de pesquisadores e auxílio à pesquisa (F.C.A.R.), que nos forneceu uma generosa subvenção.

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    INTRODUÇÃO

    Não pretendemos, com o título de A metafísica de Plotino , exumar algum antecedente plotiniano do debate que deveria nascer em seguida, e que persiste ainda hoje, acerca do verdadeiro objeto da Metafísica de Aristóteles. Esse objeto não era tema de dúvida para Plotino nem para os comentadores gregos de Aristóteles em seu conjunto, [1] e, notadamente, para Alexandre de Afrodísia, do qual, como sabemos por Porfírio, Plotino fazia ler os comentários em seus cursos. [2]

    Nossa intenção é antes exibir, tomando alguns exemplos como apoio, o que constitui o próprio fundo do ser para Plotino. Em outros termos, tentar mostrar em que consiste, em última instância, a textura mesma do real. Esse empreendimento é metafísico no sentido em que requer um dos caracteres tradicionalmente reconhecidos nesse tipo de investigação, que é a busca das causas do ser propriamente dita, isto é, a etiologia.[3]

    Com isso esperamos demarcar de modo mais preciso o lugar de Plotino na história do pensamento. A questão, incessantemente retomada, de saber onde terminam o platonismo e o aristotelismo de Plotino e onde começa o plotinismo propriamente dito receberá um novo esclarecimento caso seja mostrado, como cremos poder fazer aqui, o que o ser é em seu fundo, em seu princípio, concebido de modo diferente por Plotino em relação a Platão ou Aristóteles. E se o fundo, se o princípio, logo, se a fonte mesma do ser como causa é diferente para ele, com efeito é possível sustentar que há uma metafísica propriamente plotiniana, ou, caso se prefira, um momento plotiniano da metafísica na história das ideias.

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    A CONCEPÇÃO ARISTOTÉLICA DO SER

    Pode-se, sem dúvida, a fim de melhor ressaltar a posição particular de Plotino, partir de uma declaração de Aristóteles acerca da substância, na medida em que, conforme ele próprio afirma, a substância é quase igual ao ser. [1] No último capítulo do livro Z da Metafísica, consagrado à elucidação do problema da substância, Aristóteles chama nossa atenção acerca do seguinte:

    A substância é um princípio e uma causa: tal deve ser nosso ponto de partida. Ora, perguntar-se o porquê é sempre questionar por que um atributo pertence a um sujeito. Com efeito, investigar por que um homem músico é homem músico ou é investigar, como acabamos de dizer, por que o homem é músico, ou é investigar algo além disso. Ora, investigar por que algo é ele mesmo é nada investigar. É preciso, com efeito, que o fato, ou a existência de algo, seja já conhecido – por exemplo, que a Lua sofre eclipse –, mas o fato de que o ser seja ele mesmo é a única razão e a única causa a ser dada em resposta a qualquer questão do tipo: porque o homem é homem, ou o músico, músico. A menos que prefiramos responder: é porque cada ser é indivisível em relação a si mesmo, o que não é outra coisa que afirmar sua unidade; esta é, em sua concisão, uma resposta geral, que se aplica a qualquer coisa (1041a 9-20, trad. Tricot).

    Sublinhamos, nesse extrato, as passagens que apresentam o que poderíamos chamar de nervo central do argumento. Investigar por que algo é ele mesmo, diz Aristóteles, é nada investigar. Se, com efeito, investigar algo é investigar por que um atributo pertence a um sujeito, pode-se perguntar por que este homem é músico, por que tal animal é homem, mas não se pode perguntar por que tal homem é tal homem, isto é, por que este homem em ato (como sujeito) é este homem em ato (como atributo). O reconhecimento mesmo da existência desta substância homem pressupõe o reconhecimento do princípio de identidade, segundo o qual este homem é aquilo que ele é, isto é, segundo o qual A é A. Não se pode, portanto, investigar por que este homem é este homem assim como não se pode investigar por que A é A. Eis a razão pela qual Aristóteles sublinha em outro lugar que a existência de uma substância jamais pode ser demonstrada, mas que é mais objeto de intuição ou de percepção.[2]

    A existência não se postula, ela é um dado,[3] e não se pode demonstrar esse dado sem ser conduzido a investigar sua causa fora de si mesmo, seu princípio fora dele; ora, cada ser é uno com sua essência, isto é, com sua quididade.[4] De resto, é isso que, em outro contexto, conduzirá Aristóteles a enunciar que nada é anterior a si mesmo.[5] Em outros termos, não é possível dar conta do caráter A de A sem separar A de si mesmo, isto é, sem transformar A em não A. Cada substância é para si mesma sua própria causa, ou ainda, para que aqui não seja introduzido no seio da substância uma divisão que, precisamente, Aristóteles procura evitar, digamos de modo mais exato, que cada substância é em si princípio e causa.

    A substância, como ser em ato, como atualidade (ἐνέργεια), é, assim, uma manifestação (ἐνάργεια) do ser, portanto, não pode ser demonstrada. O que é em ato, com efeito, constitui-se como um cume na estrutura aristotélica do ser, e tanto não há ato de um ato como substância da substância ou causa da causa. O que existe possui em si sua razão de ser, ou, mais exatamente, é em si mesmo razão de ser, e não deve, portanto, prestar contas de sua existência.

    Esta é a razão pela qual a questão que pode ser qualificada como metafísica por excelência: Por que há o ser e não o nada?,[6] se é que teve seu sentido reconhecido por Aristóteles, dele provavelmente não recebeu senão uma resposta lapidar: Por que há algo? Por que aquilo que existe é, ou seja, é aquilo que é? – Mas por que aquilo que é, é o que é em si mesmo?. Tal questão, que significa, em última instância, perguntar por sua razão de ser, provavelmente não teria sido tratada por Aristóteles de modo diferente daquela que pretende demonstrar que a natureza existe, o que é uma empreitada que ele julgava ridícula, na medida em que tal questão supõe que aquilo que é em si mais manifesto, mais evidente (φανερός), possa ser estabelecido a partir daquilo que é menos.[7]

    É possível esclarecer ainda de outra maneira a questão aristotélica do ser, desta vez introduzindo o problema da geração. Aquilo que é produzido, declara Aristóteles – por exemplo, no sentido daquilo que é engendrado –, produz-se sempre a partir de um corpo já em ato, de uma realidade já existente, caso contrário viria do nada, isto é, do vazio. Essa regra segundo a qual há sempre o já-existente-em-ato, não é senão a formulação positiva do princípio enunciado com frequência de modo negativo, segundo o qual do nada, nada provém (γένεσις οὔθ’ ἁπλῶς οὐθενός),[8] e que constitui, como se sabe, um dogma fundamental do pensamento grego.

    O Ser, em seu ponto de partida, é sempre ato, positividade, ou, para dizê-lo como Aristóteles, um ato é sempre preexistente a outro ato, até que se chegue ao ato do primeiro motor eterno,[9] ele mesmo, enquanto primeiro e causa para todo o resto, não sendo posterior a nenhum outro.

    Tendo isso sido estabelecido no que concerne a Aristóteles, trata-se agora de tentar compreender por que Plotino, que, entretanto, retoma tal divisão bipartida da realidade em ato e em potência, foi conduzido a ultrapassá-la em direção a outra perspectiva. Constrangido, em certo sentido, a modificá-la até fazê-la dizer aquilo que de modo algum poderia dizer, isto é, que seu primeiro princípio, o Uno – que em seu sistema é a realidade em ato por excelência – engendra-se a si mesmo, é causa de si!

    Aristóteles havia sublinhado que nada é anterior a si mesmo.[10] Investigar por que algo é ele mesmo, por que algo é aquilo que é, conforme ele declara, é nada investigar! Ora, na história da filosofia, é a partir de Plotino que se torna legítimo perguntar acerca do que faz com que algo seja ele mesmo. Em outras palavras, interrogar acerca do que torna possível a posição mesma da existência, ou, caso se prefira, a própria existência, visada em sua positividade primeira. Além disso, a dificuldade é explicar por que, para Plotino, o Uno torna-se causa de si, como pode trazer a si mesmo à existência, de onde provém tal poder, tal possibilidade nova, de engendrar-se a si mesmo.

    Para compreender a transformação da própria noção de Ser que tal doutrina pressupõe, é necessário, em primeiro lugar, tentar retraçar o desenvolvimento do pensamento grego acerca do Ser, em sua relação a um conceito que, nesse trajeto, exerce um papel fundamental, qual seja: a noção de dýnamis, isto é, de potência ou de possibilidade. A nova compreensão de potência que emerge como pertencente ao Uno, na medida em que ele pode engendrar-se a si mesmo, em que pode trazer a si mesmo à existência, deve poder igualmente ser comparada àquilo que, na tradição da qual Plotino é tributário, já aparecia como considerável, isto

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