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A ontologia em debate no pensamento contemporâneo
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A ontologia em debate no pensamento contemporâneo
E-book503 páginas10 horas

A ontologia em debate no pensamento contemporâneo

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Sobre este e-book

Este livro tem por objetivo retomar a metafísica, o que certamente constitui uma tarefa das mais urgentes do pensamento contemporâneo, pois todo teórico em filosofia pressupõe, normalmente de forma implícita, certa visão metafísica como pano de fundo de seu trabalho. Ele trata fundamentalmente de questões que correspondem, "repensadas", ao que a tradição trabalhou com o título de "metafísica geral ou universal" (ontologia geral) – uma teoria do ente enquanto tal. O livro não apresenta todo o espectro de questões que constituem a metafísica num sentido integral, o que implicaria ainda as metafísicas especiais (ontologias especiais) enquanto teorias dos entes de diferentes domínios a partir de Heidegger, e, para além dele, uma teoria do Ser. A ontologia, enquanto teoria do ente, se posiciona no contexto de uma concepção abrangente de filosofia em que ela se constitui como um momento central. O objetivo deste livro é debater onde ela se situa, qual sua tarefa específica e como ela deve ser articulada a partir do intenso debate que hoje acontece; portanto, seu interesse não é apenas interpretativo, mas sistemático.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de fev. de 2015
ISBN9788534941334
A ontologia em debate no pensamento contemporâneo

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    A ontologia em debate no pensamento contemporâneo - Manfredo Araújo de Oliveira

    CapaRosto

    Índice

    Capa

    Rosto

    Prefácio

    1. Status e desafio da ontologia no pensamento contemporâneo

    2. Teoria da substância enquanto categoria ontológica fundamental

    2.1 Substância enquanto substrato (sujeito)

    2.1.1 Substância enquanto substrato como categoria ontológica fundamental

    2.1.2 As aporias da noção de substrato segundo A. Denkel

    2.2.2.1 O substrato enquanto princípio de individuação é uma noção logicamente inadequada

    2.2.2.2 Como pode a hipótese do substrato evitar essa redução?

    2.2 A estrutura ontológica dos particulares concretos: M. Loux

    Introdução

    2.2.1 A teoria da substância enquanto substrato

    2.2.1.1 A articulação teórica da noção de substrato

    2.2.1.2 O caráter problemático da noção de substrato

    2.2.2 Teoria dos feixes

    2.2.2.1 A teoria dos feixes enquanto proposta alternativa à teoria do substrato

    2.2.2.2 Objeções à teoria dos feixes

    2.2.2.2.1 O discurso sujeito-predicado

    2.2.2.2.2 A identidade dos indiscerníveis

    2.2.3 A proposta alternativa de reconstituição de uma teoria da substância

    2.3 Substância entendida como existência independente

    2.3.1 Reformulação do conceito de substância em Espinosa

    2.3.2 Substância e independência ontológica em E. J. Lowe

    a) Propriedades e dependência ontológica

    b) Propriedades essenciais e eventos

    c) Assimetria e dependência existencial

    d) Dependência existencial enquanto dependência-identidade

    3. A ontologia monocategorial: a teoria dos tropos de K. Campbell

    3.1 Ontologia monocategorial enquanto filosofia primeira

    3.1.1 A ontologia clássica aristotélica duocategorial: substâncias e propriedades

    3.1.2 Problemas dessa ontologia

    3.1.2.1 Problemas com a substância

    3.1.2.2 Problemas com Universais

    3.1.2.3 Problemas com a inerência

    3.1.2.4 Problemas com a dependência mútua

    3.2 Propostas anteriores de ontologia monocategorial

    3.3 A ontologia alternativa monocategorial: teoria dos tropos

    3.4 O problema dos universais

    3.4.1 O papel dos universais numa ontologia

    3.4.2 A análise da predicação

    3.5 A teoria dos tropos enquanto teoria dos entes: as ontologias regionais

    3.5.1 O mundo do indivíduo

    3.5.1.1 O materialismo com os tropos

    3.5.2 Dualismo de tropos

    3.5.3 O ser individual

    3.5.4 O mundo social

    3.5.4.1 Fatos sociais e aspectos da vida

    3.5.4.2 A questão causal

    3.6 Algumas objeções gerais à teoria dos tropos

    3.6.1 O problema da espaço-temporalidade

    3.6.2 Conceitos estendidos de dimensionalidade

    3.6.3 Particularidade pura ou limitada

    3.6.4 A paridade dos tropos com as substâncias

    3.6.5 Argumentos de Hochberg

    3.6.6 A crítica de Moreland

    3.6.7 Simplicidade e individuação

    3.6.8 A objeção de tropos trocados

    3.6.9 Similaridade exata

    3.6.10 Referência abstrata

    3.6.11 Leis da natureza e indução

    3.7 Problemas da teoria dos tropos segundo Peter Simons

    3.7.1 Relação de copresença

    3.7.2 Natureza não substancial dos tropos

    3.7.3 Teoria nuclear como proposta alternativa

    3.8 Críticas à teoria dos tropos por Chris Daly

    3.8.1 A questão da semelhança

    3.8.2 A infiltração da instanciação

    4. A ontologia de acontecimentos (eventos) e processos

    4.1 A proposta de uma ontologia de acontecimentos

    4.2 Ente (matemática, ontologia) e acontecimento (filosofia) no pensamento de A. Badiou

    4.2.1 A matematização da ontologia

    4.2.2 A filosofia enquanto teoria do acontecimento

    4.3 A tese do primado do acontecimento na filosofia do Acaso de K. Utz

    4.3.1 A questão central da filosofia

    4.3.1.1 O paradigma do saber fundamental no pensamento ocidental

    4.3.1.2 A reviravolta paradigmática: dos fundamentos para as ordenações de relações

    4.3.1.3 A lógica como a metafísica depois da virada paradigmática

    4.3.1.4 A pergunta pela determinação como a nova pergunta fundamental da filosofia

    4.3.2 O acaso (a coincidentia) como categoria central para pensar a determinação

    4.3.2.1 O dilema da determinação

    4.3.2.2 Argumento formal (lógico-semântico)

    4.3.2.3 O acaso como condição de possibilidade da compreensão da determinação

    4.3.2.4 A relacionalidade

    4.3.2.5 A filosofia do acaso enquanto nova metafísica

    4.3.2.6 O caráter sistemático da metafísica e seus limites

    4.3.2.7 A ontologia como primeiro momento do desdobramento sistemático da filosofia do acaso

    4.4 As filosofias do processo: a versão de N. Rescher

    4.4.1 A virada processual: a nova proposta de ontologia geral

    4.4.2 As ontologias regionais

    4.4.2.1 A filosofia da natureza

    4.4.2.2 A filosofia da mente: psicologia filosófica

    4.4.3 Processo e o problema dos universais

    4.4.4 Processo e metafilosofia

    5. A ontologia como uma dimensão da filosofia sistemático-estrutural

    5.1 A centralidade da linguagem e a nova proposta de articulação da teoria filosófica

    5.1.1 A filosofia transcendental pré-linguística: o mundo se nos dá em intuições puras: a fenomenologia husserliana

    5.1.2 A posição da filosofia sistemático-estrutural

    5.2 O lugar sistemático da ontologia numa teoria filosófica

    5.3 Traços básicos da nova semântica e da nova ontologia

    5.3.1 A semântica enquanto dimensão fundamental da linguagem

    5.3.2 A interconexão recíproca entre semântica e ontologia

    5.3.3 A semântica e a ontologia composicionais

    5.3.4 Um passo importante, embora insuficiente, para a elaboração da nova semântica e da nova ontologia: a eliminação dos termos singulares em Quine

    5.3.5 Traços básicos da semântica alternativa: a semântica contextual

    5.3.5.1 Elementos de uma teoria da sentença

    5.3.5.2 O princípio do contexto

    5.3.6 A ontologia contextual: o mundo enquanto a totalidade dos fatos primos configurados com extrema variedade e complexidade

    5.3.5.6 A teoria da verdade enquanto dimensão conclusiva da semântica e da ontologia contextuais

    5.3.5.6.1 A caracterização da ideia básica de verdade: a dimensão semântica

    5.3.5.7 A dimensão ontológica da verdade

    5.4 Visão de conjunto da proposta da filosofia sistemático-estrutural

    Sobre o autor

    Coleção

    Ficha catalográfica

    Notas

    PREFÁCIO

    Este livro assume como seu objetivo retomar a metafísica, o que certamente constitui uma tarefa das mais urgentes do pensamento contemporâneo, pois todo teórico em filosofia pressupõe, normalmente de forma implícita, certa visão metafísica como pano de fundo de seu trabalho. Talvez o melhor exemplo disso hoje seja a visão puramente materialista do real normalmente aceita pela maioria dos filósofos analíticos, mas não explicitada e justificada. Ele tratará fundamentalmente de questões repensadas que correspondem ao que a tradição trabalhou com o título de metafísica geral ou universal (ontologia geral), numa palavra, uma teoria do ente enquanto tal.

    Portanto, ele não apresenta todo o espectro de questões que constituiriam o que se pode chamar de metafísica num sentido integral, que implicaria ainda as metafísicas especiais (ontologias especiais), enquanto teorias dos entes em diferentes domínios e a partir do grande passo de Heidegger, e, para além dele, uma teoria do Ser, ou, na linguagem de Puntel, uma metafísica primordial. Sua tarefa específica consiste em tematizar o que todos os entes têm em comum e que justifica sua inclusão na totalidade dos entes, que é precisamente o ser primordial: por essa razão mesma, o ser primordial não pode ser um ente.

    Este livro tem, então, o propósito de tematizar o que a tradição, através de sua história, considerou o cerne da filosofia, a questão ontológica, apresentando-a nos quadros teóricos das discussões contemporâneas. O capítulo introdutório pretende situar a ontologia no contexto da filosofia ocidental e sua história e apresentar os traços gerais do pensamento contemporâneo em relação a seu objeto e seu sentido.

    A forma de conhecimento que posteriormente foi nomeada metafísica surgiu como gênero peculiar de investigação teórica com a pergunta pré-socrática pelo princípio de inteligibilidade da totalidade do real. Foi radicado neste horizonte da tradição, e, em confronto com ele, Aristóteles concebeu a ideia de um saber que põe a pergunta pelo ente enquanto ente e pelos atributos que lhe pertencem em virtude de sua própria natureza, e que na modernidade recebeu a denominação de ontologia geral. Ele o apresenta como o conhecimento fundamental precisamente enquanto um saber que tem a tarefa de pesquisar o que todos os outros saberes humanos implicitamente pressupõem, ou seja, a concepção da estrutura de tudo o que é. Dessa forma, ele rearticula a pretensão originária da filosofia de desenvolver uma compreensão racional da totalidade do real.

    Essa pretensão foi depois, de diferentes formas, considerada ilusória e inalcançável, o que provocou, frente a seu projeto teórico, uma profunda suspeita ainda hegemônica no pensamento contemporâneo. No entanto, pode-se dizer que houve recentemente uma retomada de questões ontológicas, sobretudo na filosofia analítica, com o tratamento de muitas questões, sem que isso tenha levado, de modo geral, a uma busca de interconexões entre essas questões e ainda estejamos hoje longe de um acordo a respeito de uma definição das tarefas da ontologia.

    Fala-se recentemente de uma virada ontológica da filosofia, o que certamente abre novos horizontes e desafios para o pensamento filosófico. Os três capítulos seguintes apresentam com intenção sistemática os três quadros teóricos fundamentais de articulação da ontologia hoje: a ontologia da substância, a ontologia dos tropos e a ontologia dos acontecimentos/processos.

    No segundo capítulo apresenta-se a proposta de muitos filósofos de articular sua concepção de mundo pensando-o constituído como um conjunto de entidades que se configuram como casos de propriedades e relações que ocorrem em lugares e tempos particulares, precisamente enquanto propriedades e relações de entidades subjacentes. Na filosofia contemporânea esse modelo ontológico põe as categorias de substância e atributos (propriedades e relações) no centro de suas considerações a partir de três concepções principais de substância: substrato, particular concreto e entidade ontologicamente independente. Procura-se com esta exposição apontar as razões do caráter insustentável dessa concepção em virtude de suas consequências inaceitáveis.

    No capítulo terceiro, apresenta-se a tese básica das ontologias que rejeitam a categoria de substância: as coisas singulares concretas e toda espécie de entidade complexa se constituem como um feixe (bundle) de determinadas espécies de entidades. Por essa razão, essas teorias são denominadas teorias dos feixes.

    Há propostas divergentes a respeito dos feixes. É possível distinguir pelo menos três versões dessas teorias: a) a teoria dos tropos; b) a teoria que interpreta as coisas individuais como feixe de qualidades, que são enfeixadas mediante a relação de copresença; c) a teoria que interpreta as coisas individuais como feixe de universais imanentes. Apresenta-se aqui a teoria dos tropos de Campbell pelo fato de ele ter articulado uma tentativa de repensar toda a filosofia a partir da categoria dos tropos, na convicção de que, no último nível, o universo possui uma estrutura comum.

    No capítulo quarto, mostra-se que as ontologias de processos e acontecimentos estão, em primeiro lugar, preocupadas em responder à questão sobre que entidades há, com o propósito de defender a tese de que o mundo não se compõe só de entidades estáticas. Isso significa que elas são, dessa forma, também uma maneira de contraposição à ontologia da substância. Hoje as ontologias dos acontecimentos e processos avançaram no sentido de manifestar a pretensão de articular uma alternativa completa tanto às ontologias da substância como às ontologias dos tropos.

    No capítulo quinto, apresenta-se a proposta da filosofia sistemático-estrutural de Puntel, enquanto articulação de uma elaboração teórico-filosófica que abre espaço para situar o lugar teórico de uma ontologia numa teoria filosófica, para uma crítica fundamental a respeito da pertinência e da abrangência das três propostas ontológicas anteriormente apresentadas e para a exigência de uma reconfiguração da estrutura teórica da ontologia.

    Puntel parte de uma tese básica: o empreendimento teórico, que já no início de uma tradição de mais de dois mil anos se denominou filosofia, sempre se interpretou, a partir de sua intenção, de sua autocompreensão e de suas produções, como um saber abrangente e de caráter universal, o que não é mais o caso no pensamento contemporâneo, que antes se caracteriza por seu caráter fragmentário.

    Seu objetivo fundamental é retomar esse caráter sistemático da filosofia, ou seja, articular a teoria filosófica como uma teoria da totalidade do Ser, como uma concepção global da realidade. A filosofia se revela, então, como a ciência universal, no sentido de que ela tematiza as estruturas universais do universo do discurso, o dado abrangente de tudo o que pode ser seu objeto, ou seja, de tudo o que é linguisticamente articulado ou articulável. Daqui parte o filósofo sistemático que conduz todos os dados a uma teoria global.

    Filosofia é entendida aqui, portanto, estritamente enquanto teoria, de forma que, antes de tudo, é necessário esclarecer a dimensão teórica em geral e a concepção de uma teoria filosófica em particular. Teoria é aquela forma de discurso metódico e rigorosamente ordenado, que se constitui estritamente de sentenças declarativas. Toda teoria só é compreensível e avaliável no contexto de um quadro teórico, que constitui o espaço de compreensão de qualquer coisa; do contrário, tudo permanece vago e indeterminado. A cada quadro teórico pertencem, enquanto momentos constitutivos: uma linguagem, com sua sintaxe e sua semântica; uma ontologia; uma teoria do Ser; uma lógica; e uma conceitualidade, com todos os componentes que constituem o aparato teórico.

    O eixo de uma teoria filosófica é constituído pelas estruturas semânticas, porque sua especificidade é a configuração da relação linguagem-mundo: as expressões linguísticas significam e expressam algo. A linguagem aqui é compreendida como a dimensão expressante do real, o que é implicado na tese ontológica da expressabilidade do real, o pressuposto básico de qualquer empreendimento teórico. Linguagem é sempre linguagem de algo, e o mundo é sempre mundo que se expressa na linguagem, a instância de sua expressabilidade. Assim, as estruturas semânticas exercem o papel mediador entre as estruturas formais, as mais abstratas, e as estruturas ontológicas, as mais determinadas. Elas constituem a dimensão estrutural fundamental e incluem tudo aquilo que, na linguagem filosófica usual, é hoje designado por conceitos como linguagem, aparato conceitual, aparato teórico, instrumental teórico, que constituem abreviações cômodas de estruturas. O universo do discurso implica diversos níveis de estruturas.

    A sistemática estrutural oferece oportunidade para a discussão de duas questões de importância central para toda a proposta: a) a crítica à semântica tradicional, que Puntel denomina composicional, e a proposta de uma semântica alternativa, por ele chamada contextual, baseada numa compreensão forte do princípio do contexto elaborado por Frege; b) a crítica à ontologia tradicional correspondente à semântica composicional, a ontologia substancialista, e a proposta de uma ontologia alternativa, uma ontologia contextual que tem no conceito de fato primo sua categoria fundamental. O cume da semântica estrutural é a articulação da teoria da verdade enquanto teoria da inter-relação entre as três formas de estruturas fundamentais.

    Daí o axioma básico dessa teoria: semântica e ontologia são dois lados de uma mesma medalha. Entre elas reina conformidade perfeita, isto é, conformidade entre uma linguagem semanticamente estruturada e o nível ontológico, o que significa dizer que as sentenças da linguagem atingem realmente as coisas em si mesmas: estruturas semânticas plenamente determinadas são idênticas ao plano ontológico.

    Nesse contexto, Puntel articula não só uma crítica radical à semântica e à ontologia da tradição (a ontologia da substância), mas também às suas propostas alternativas (as ontologias dos tropos e dos acontecimentos/processos) apresentadas nos capítulos anteriores. Elemento fundamental dessa crítica se radica na tese da centralidade da linguagem na filosofia, o que significa dizer que não se pode articular uma ontologia sem referência à linguagem e na centralidade da semântica na linguagem, de tal modo que uma semântica plenamente determinada é uma ontologia.

    A situação teórica em que nos encontramos, fundamentalmente marcada pelos diferentes quadros teóricos das ciências particulares e das diferentes propostas de articulação da filosofia, traz a ela a exigência de, em primeiro lugar, mostrar o domínio específico de seu quadro teórico: o Ser enquanto tal e em seu todo. Assim, o pensar, junto aos fatores estruturais de uma teoria e o universo ilimitado do discurso em seus diferentes campos, seria a primeira tarefa de uma filosofia à altura das exigências teóricas de nosso tempo. É o que substitui as metafísicas especiais (ontologias especiais) da tradição.

    A isso se segue a tarefa mais alta que é pensar as conexões entre esses campos estruturados especificamente e a dimensão das estruturas fundamentais. Essa seria a expressão à altura de nossa consciência teórica atual a respeito da questão que marcou toda a história do pensamento ocidental e que foi nomeada e articulada de diferentes formas, a saber, a questão da unidade entre ser e pensar, espírito e mundo, linguagem e mundo, teoria e realidade.

    A ontologia enquanto teoria do ente não esgota necessariamente a tarefa da filosofia, mas se posiciona no contexto de uma concepção mais abrangente de filosofia em que ela se constitui como um momento central de sua articulação. O objetivo deste livro é debater onde ela se situa, qual sua tarefa específica e como ela deve ser articulada a partir do intenso debate que hoje acontece; portanto, seu interesse não é apenas interpretativo, mas sistemático.

    Trata-se, pois, não apenas de interpretar textos, mas de elaborar uma consideração sistemática das questões, o que significa dizer que se leva em consideração que, neste nível, o que está em jogo em primeiro lugar são as proposições que são articuladas a respeito da realidade. Por essa razão, o cerne da preocupação aqui não é apenas sua compreensão, mas analisar sua verdade ou seu nível de verdade, uma vez que todo enunciado teórico é proposto no interior de e em conformidade com um determinado quadro teórico.

    Assim, a verdade de toda sentença e de toda proposição implica uma relatividade intrínseca a um quadro teórico, o que se pode exprimir com a tese de grau de verdade: cada quadro teórico bem formado e constituído possui uma referência ontológica e, assim, um grau determinado de verdade. Daí o propósito deste livro: examinar os quadros teóricos fundamentais do pensamento contemporâneo no sentido de avaliar sua configuração e seus argumentos, na busca de um quadro teórico mais abrangente, capaz de englobar, nas condições teóricas em que hoje nos situamos, os quadros teóricos inferiores e, dessa forma, se mostrar mais adequado para a efetivação da tarefa filosófica em questão: a articulação da ontologia.

    Capítulo 1

    STATUS E DESAFIO DA ONTOLOGIA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO

    Aquela forma de conhecimento que posteriormente foi nomeada metafísica, um termo que hoje é ambíguo, pois foi empregado em diferentes sentidos ao longo da tradição do pensamento ocidental,[1] surgiu como gênero peculiar de investigação teórica com a pergunta pré-socrática pela άρχή πάντων, ou seja, pelo princípio de inteligibilidade da totalidade do real. Numa palavra, em sua intenção e sua autocompreensão, esse programa teórico que aqui surgia manifestava pretensão de ser um saber global, o que se contrapõe à tendência hegemônica no pensamento contemporâneo.[2] Tratava-se, portanto, de um saber com abrangência temática universal, cujo objeto é a totalidade do ser, e com o objetivo de explicitar as conexões fundamentais entre todas as esferas do real. Para Lima Vaz, trata-se aqui, acima de tudo, da busca por princípios de inteligibilidade que possam conferir ordem à multiplicidade. Estava em questão, portanto, um movimento de unificação do ser em seu todo.[3]

    Foi radicado nesse horizonte da tradição, e em confronto com ele, que Aristóteles, na obra que postumamente foi intitulada Metafísica, concebeu a ideia de um saber cujo objeto não é esta ou aquela realidade singular que encontramos no mundo de nossa experiência considerada em sua singularidade, nem, como na teoria de Platão, a essência universal captada como a priori em relação a qualquer experiência, mas aquilo que levanta a pergunta pelo ente enquanto ente e pelos atributos que lhe pertencem em virtude de sua própria natureza (τό ὸν ή ὸν, Met. IV 4, 1, 1003 a 21).[4] Ele o apresenta como o conhecimento fundamental, visto que é um saber que tem a tarefa de pesquisar o que todos os outros saberes humanos implicitamente pressupõem para poderem efetivar seu objetivo teórico próprio, ou seja, a concepção da estrutura de tudo o que é.[5]

    O que aqui está em jogo não é a aspiração inatingível, para um espírito finito, de um saber de todas as coisas, mas dos princípios de compreensão de tudo o que de alguma forma pode ser conhecido. Trata-se, assim, de uma ciência dos princípios que são comuns a todos os entes e necessários para a compreensão (Met. IV 3, 1005 b 10), portanto, do que hoje chamamos de ontologia geral, uma vez que trata unicamente do ente enquanto tal. Como ciência primeira, constituiu-se na tradição do pensamento ocidental como o núcleo, a disciplina de base de toda a filosofia.

    Através dos séculos, ela se foi configurando na forma de dois projetos fundamentais, segundo Beierwaltes:[6] o de Platão que, sobretudo na versão de Plotino, constitui-se como henologia, que pensa o ser em seu todo como uma realidade diferenciada em si a partir do princípio Uno (todo ente é ente através do Uno, toda filosofia é retorno de qualquer entidade ao fundamento de unidade);[7] e o de Aristóteles enquanto ontologia, teoria do ente enquanto ente, embora haja no próprio Aristóteles uma tensão profunda entre duas concepções de filosofia primeira – como ciência do ente enquanto ente e como ciência do theós (teologia).

    Essa distinção teve e tem uma grande história, em muitas formas. Na realidade, o que depois foi denominado metafísica continha fundamentalmente os seguintes temas: a) o estudo dos primeiros princípios e as primeiras causas de todas as coisas; b) a ciência do ente enquanto ente; c) o estudo da substância; d) a investigação sobre o motor imóvel.[8] Esses modelos básicos se configuraram de formas diferenciadas nos diferentes sistemas metafísicos da tradição, e, para M. Loux, explicam-se pelas diferentes metodologias e diferentes objetos dessa disciplina .[9]

    Na passagem da Idade Média para a Modernidade essa tradição continuava presente não na forma de uma apresentação sistemática, mas somente em seus comentadores, dentre os quais se destacavam Tomás de Aquino e Escoto.[10] No século XVI, uma primeira exposição sistemática abrangente da filosofia escolástica foi articulada por Suarez, nas Disputationes metaphysicae de 1597. Fundamental nessa proposta é a distinção entre metafísica geral ou ontologia[11] (Wolff vai denominá-la mais tarde, como Aristóteles, filosofia primeira, e Baumgarten, metafísica universal), que trata das propriedades comuns a todos os entes, e a metafísica especial, que trata de três entes específicos: a cosmologia, que considera o universo (o cosmos, os entes infra-humanos); a psicologia, que trata da alma humana; e a teologia natural, que trata do ente supremo.

    Essa estruturação da metafísica influenciou profundamente o pensamento moderno através de Wolff, no século XVII, e Baumgarten, no século XVIII. Em primeiro lugar, para Wolff é fundamental que a filosofia tenha clareza metodológica, de tal modo que o material por ela tratado possa ser tido como verdadeiro. Ele vai encontrar na matemática o método que permite conhecer o uso correto da razão. Isso significa dizer que através do método matemático se pode chegar a conceitos claros, distintos e completos, de forma que a partir deles se pode deduzir necessariamente tudo mais; portanto, o método da filosofia é o método dedutivo, o que implica que a lógica é a primeira parte do sistema a ser exposta.

    Nessa ótica, a ontologia é entendida como a ciência do ente enquanto ente. Ela é, assim, uma consideração dos predicados do ente enquanto ente, ou seja, das propriedades mais universais do ente, e enquanto tal é compreendida como a disciplina filosófica fundamental. Seguindo a tradição da escolástica tardia (Escoto e Ockham), o ente é aqui entendido univocamente, e todo o empreendimento se apoia no princípio de não contradição, do que se deduz o princípio de razão suficiente. O universo é uma coleção de entes, cada um portador de uma essência própria, apreensível por meio de conceitos claros e distintos. Essa forma de articular a ontologia se tornou dominante na Alemanha dessa época.

    A tradição da metafísica clássica foi reestruturada na modernidade na medida em que o racionalismo moderno, em sua versão propriamente filosófica nos grandes sistemas metafísicos anteriores a Kant, instaura no seu centro uma nova concepção da razão como princípio do mundo. Numa palavra, ele repõe, num outro contexto teórico, reinterpretando-a, a tese platônica básica de que a verdadeira compreensão da realidade se efetiva por meio de conceitos e ideias que apreendem o ser próprio de tudo, a realidade como ela é em si mesma, isto é, em suas notas essenciais, e não simplesmente em sua relação ao sujeito, como era o caso no novo tipo de saber que se estava gestando enquanto saber dos fenômenos.

    Nessa perspectiva, ele manifesta a pretensão de desenvolver uma compreensão racional da totalidade do real. O pressuposto de fundo é o mesmo da tradição: o real é conceitualmente estruturado, é racional, inteligível. Por essa razão, o pensamento humano se revela como a instância exigida para a expressão dessa inteligibilidade universal; portanto, é capaz de dizer o que a totalidade do real é em si mesma, e isso na forma de um sistema axiomático-dedutivo.

    Essa pretensão da metafísica, tanto clássica como moderna, foi de diferentes formas considerada ilusória e inalcançável, o que provocou, frente a seu projeto teórico, uma profunda suspeita ainda hegemônica no pensamento contemporâneo. Pode-se dizer que a assim chamada destruição e desconstrução dessa forma de metafísica encontrou uma primeira elaboração na modernidade no pensamento de Kant, no horizonte aberto pelos empiristas modernos que, por sua vez, levaram às últimas consequências teses básicas da virada escolástica tardo-medieval[12] para a experiência como fundamento de todo conhecimento. A transformação de ótica da realidade começou com D. Escoto[13] e G. de Ockham no fim da Idade Média.[14] Escoto[15] afirma, por exemplo, que a inteligência já presente na intuição é idêntica às produções cognitivas que Aristóteles atribui propriamente à razão.

    Isso transforma radicalmente a concepção do conhecimento e de seu objeto. A coisa singular é, enquanto tal, o que é primariamente cognoscível, pois as determinações abstrato-comuns que se atribuem ao singular, as determinações do pensamento, contêm o singular, enquanto algo cognoscível, apenas de modo muito imperfeito, enquanto que, ao contrário, o singular na intuição sensível contém em si plenamente a cognoscibilidade das determinações comuns. Assim, a característica básica da inteligência humana é a intuição e não a abstração: num conhecimento intuitivo o ser humano capta plenamente o singular, e por essa razão o singular e o sensível constituem o objeto do conhecimento espiritual, e não o universal, como afirma a tradição. Estabelece-se aqui, portanto, uma clara primazia do singular frente ao universal, tanto epistemológica como ontologicamente.

    Objeto da metafísica é o ente enquanto ente, considerado em sua universalidade independentemente das diferentes formas de sua efetivação, o que conduz a um conceito unívoco de ente sem qualquer determinação maior. Isso significa eliminar as diferenças entre os entes e o conceito metafísico da analogia que fora central na consideração de Tomás de Aquino.[16] A tarefa central da metafísica consiste agora em articular um conceito de ente que é condição de possibilidade de todas as outras afirmações sobre as entidades, e não apenas sobre as entidades atuais, mas também sobre as puramente possíveis. Esse conceito unívoco de ente é pressuposto irrecusável para o conhecimento filosófico de Deus, uma vez que, partindo necessariamente do ser contingente, sem esse conceito se cairia inevitavelmente em equivocidade.

    Segundo A. Schmitt,[17] a compreensão de Escoto pertence ainda hoje às convicções fundamentais a respeito da relação do universal com o singular ou individual. O individual é aquilo que não pode ser captado por nenhum conceito universal; ele é em princípio sempre mais do que se pode saber sobre ele através de nossos conceitos, até porque as determinações universais do pensamento são abstraídas das coisas singulares. Nesse caso, então, o conhecimento mais seguro e mais fundamental é o conhecimento direto e imediato do singular. G. de Ockham[18] vai assumir plenamente esta tese básica de Escoto. Para ele, essa imediatidade, através da qual nós, num primeiro ato, captamos a totalidade de uma coisa singular, é o começo absoluto de todo conhecimento e o fundamento de qualquer ato cognoscitivo posterior.

    O novo em Escoto é a valorização da intuição enquanto uma faculdade que é capaz de captar seu objeto em sua determinidade plena, na qual posteriormente o pensamento se deve orientar e medir. Para Lima Vaz, essa nova metafísica significa "a recuperação da primazia da essência e a consequente representação do mundo como estrutura ordenada das essências..."[19]; portanto, uma ruptura radical com a metafísica do "esse" foi articulada por Tomás de Aquino, e vai desembocar numa grande sistematização na obra de Suarez.

    O pensamento moderno não vai pôr em questão essa nova valorização da intuição, ocorrida no pensamento tardo-medieval, que conduz à tese fundamental de que é a experiência imediata, sensível e concreta que garante a objetividade de nosso conhecimento das coisas do mundo. Por isso, são as coisas singulares que constituem a instância de medida de todo pensamento abstrato, cuja tarefa primeira consiste justamente em abstrair delas suas determinações. Com isso, dá-se origem a uma completa disjunção entre o universal e o singular: o singular é somente singular, é o que é, no sentido estrito. O universal é algo apenas ideal e abstrato. Uma vez que o universal não fala mais do ser, então a lógica não tem mais nada a ver com a metafísica.

    É essa tese básica que vai constituir o fundamento da demarcação desse pensamento diante da escolástica aristotélica da Idade Média e desembocar em Hume na crítica radical de toda a tradição metafísica que, para ele, não passa de sofisma e pura ilusão, visto que as únicas fontes seguras do conhecimento humano são a observação e a experiência, ou seja, o método das ciências da natureza. Dessa forma, todo nosso pensamento se constitui de representações sensíveis, e uma captação conceitual de essências e leis não é mais possível. Nosso conhecimento se restringe a relações entre ideias (relations of ideas) e fatos (matters of fact). É a partir daqui que vai emergir o problema central do pensamento moderno: o problema da certeza. Se pensamento e ser nada têm a ver um com outro, então se estabelece a dicotomia radical que ainda hoje nos marca e que impede, em princípio, uma consideração do todo da realidade como pretendeu o pensamento da tradição: o abismo entre, de um lado, pensar, teoria, linguagem, sujeito e, do outro, ser, realidade, mundo, objeto.

    Frente a esse giro para a experiência e para o singular e a afirmação da dicotomia que daqui decorre, a tese central de Kant é de que, na realidade, os sistemas metafísicos da modernidade não foram capazes de problematizar a postura de base do pensamento clássico, uma vez que eles também pressupõem o realismo conceitual, ou seja, a tese da identidade entre pensar e ser, condição sem a qual é impossível um discurso racional sobre o ser.

    Kant acolhe o debate sobre os pressupostos fundamentais da metafísica na versão articulada por Hume e assume igualmente o procedimento metodológico utilizado por ele para a discussão das questões filosóficas. O elemento novo diante da tradição é que a busca de uma resposta à questão da relação entre pensar e ser se faz através de uma reflexão epistemológica e não lógico-ontológica, precisamente porque se parte da dicotomia entre pensar e ser.

    Essa modificação de postura provoca uma reviravolta profunda na compreensão do tipo de teoria que a filosofia pretende ser,[20] uma vez que essa alteração implica o trânsito de uma teoria do ente (ontologia) para uma teoria do conhecimento (epistemologia) enquanto o cerne da nova concepção do que seja uma teoria filosófica (KrV B XVI, XVII). Altera-se, com isso, a própria tarefa básica da filosofia que consiste agora em demarcar o que se pode apresentar ao espírito humano no seio do quadro categorial de que ele é detentor (KrV B 91/ A 66 e ss.). Numa palavra, a preocupação fundamental da filosofia se centraliza agora na demonstração desse quadro categorial que subjaz a todo e qualquer saber da experiência humana, uma vez que dele resulta a estruturação conceitual dos dados de nossa percepção.[21]

    Para esse pensamento, justamente nisto é evidente a diferença de tipo de teoria entre a filosofia e as ciências empíricas, cuja pretensão é a descrição e a explicação dos fenômenos: a filosofia se situa no nível da legitimação dos conhecimentos empíricos, e enquanto tal ela é uma reflexão epistemológica, isto é, uma teoria das estruturas cognitivas do sujeito enquanto possibilitadoras do conhecimento objetivamente válido dos fenômenos. A consequência imediata dessa tese é que a validade objetiva do conhecimento que pretende transcender a esfera sensível se revela ilusória, o que impossibilita a pretensão da metafísica[22] de aplicar as categorias de nosso entendimento a objetos que ultrapassam a experiência (KrV B XV).

    Permanece até hoje a repercussão dessa reviravolta epistemológica na filosofia ocidental. Apesar de outras formas de desconstrução marcarem o contexto filosófico contemporâneo, suas afirmações básicas, contudo, continuam radicadas na dicotomia entre pensar e ser da filosofia moderna. O positivismo lógico, por exemplo, do início do século XX, foi de grande importância para o aprofundamento da convicção da impossibilidade da metafísica. R. Carnap[23] tem uma posição muito especial, quando comparada com os outros membros do Círculo de Viena. No cerne de seu pensamento há uma diferenciação básica entre dois níveis que perpassa todas as suas fases, embora em formas bem diferentes: a diferenciação entre forma e conteúdo. É esse hilemorfismo que está na base de sua crítica à metafísica.

    A obra A sintaxe lógica da linguagem[24] significa um giro grande em relação ao que Carnap havia pensado antes em relação à forma e ao conteúdo. Forma é entendida agora em perspectiva exclusivamente sintática, na base da diferenciação entre linguagem objetal e metalinguagem. A linguagem com que se fala se chama metalinguagem ou linguagem sintática; a linguagem sobre que se fala, linguagem-objeto (linguagem objetal). Uma sintaxe lógica é uma teoria formal das formas linguísticas de uma linguagem, ou seja, a apresentação sistemática das regras formais que valem para uma linguagem e o desdobramento das consequências a partir dessas regras. Uma teoria ou uma regra são formais quando não se leva em consideração o significado dos signos ou o sentido das expressões.

    Como se relacionam, então, sintaxe e lógica? A sintaxe de uma linguagem estabelece as regras

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