Católico sereno e forte: A graça que nos fortifica
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Católico sereno e forte - Pe. Zezinho SCJ
SCJ
Capítulo 1
O ouvir e o ver
Em todos os tempos, a religião valorizou os atos de ouvir e ver. Os profetas falavam e o povo ouvia. O povo não sabia ler, mas os gestos e os sinais que viam nos templos contribuíam para o aumento da fé. Também as esculturas e todos os trabalhos de ornamentação do templo serviam para esse fim.
Com o advento do Cristianismo não foi diferente. As estátuas pagãs foram sendo substituídas por imagens de heróis da fé, e as Igrejas foram, com o tempo, enchendo-se de símbolos bíblicos no lugar dos símbolos mitológicos gregos ou latinos.
De certa forma, símbolos, desenhos, pinturas, imagens e frases coladas ao longo das paredes dos templos e nos telhados representavam a maneira do povo de ver Jesus. Muitos que não sabiam ler viam, por meio desses símbolos, a presença do Livro Santo e, nele, a presença de Jesus. Era toda uma Igreja educada para o visual e para o auditivo – a maioria das pessoas nem sequer imaginava ser possível ler.
A alfabetização em massa, que só ocorreu nos últimos séculos, e a disseminação da escola tornaram possível a leitura dos livros santos e, com ela, o hábito de ler. Os cristãos não apenas viam Jesus por meio dos símbolos, pinturas e imagens, mas agora liam a palavra de Deus pessoalmente, enquanto também ouviam sua explicação. Já viviam a experiência de ver, ler e ouvir.
Com o advento do telefone fixo, da telefonia móvel e da televisão, o fiel pôde ler, ver, ouvir, interagir e tornar a palavra de Deus uma experiência do cotidiano. Assim também aconteceu com a internet. A palavra de Deus está lá no meio virtual. Todo fiel pode se tornar um evangelizador em grande escala se souber utilizá-la.
Se por um lado isso facilita a evangelização, por outro a submete a riscos ainda maiores do que no tempo dos hereges e heresiarcas dos séculos III, IV, V, que desafiavam a formulação de um código de doutrinas católico. Imagino que, se Montano, Ário, Nestório, Donato e centenas de outros disseminadores de doutrinas pessoais tivessem acesso à internet, à televisão e ao rádio, praticamente não teríamos tido o desenrolar do cristianismo. Seria um Cristo visto de maneira ariana, nestoriana, montanista ou donatista.
Aqui e acolá teimosamente subsistem os resquícios infiltrados nas Igrejas através de novos profetas e novos revelados, que, de certa forma, repetem suas teses e ideias. A heresia é disfarçada, mas ela continua!
Estamos repletos de cátaros e de circunceliões, de cristãos que se proclamam mais puros e se creem chamados a renovar a Igreja de Cristo, enquanto se mostram intolerantes no diálogo, incapazes de voltar atrás e seguros de que Deus está dizendo toda a verdade apenas para sua pequena Igreja ou ao seu pequeno grupo. São exclusivistas, excludentes e, o que é pior, acham que estão vendo além...
Quando a Igreja propõe que os fiéis vivam o queremos ver Jesus
, está propondo uma linguagem transversal e ampla, porque ver Jesus
é mais do que ouvi-lo e ouvir sobre ele. Detectar a presença dele no mundo, sobretudo nos outros, é fundamental para se viver a fé cristã.
Se não sou capaz de ler nas entrelinhas, se não sou capaz de interpretar os sinais do Céu e do mundo, se não sou capaz de ver a graça de Jesus agindo no outro, certamente não sou capaz de ver Jesus em ação. E, sendo incapaz de ver a ação de Jesus, dificilmente verei Jesus em meu coração ou em minha mente.
Queremos ver Jesus
é mais um chamado à solidariedade e à importância de conviver com o outro, em quem Jesus se manifesta. Seus sinais estão por toda parte, e, se eu rejeitar os sinais que estão nos pobres, nos ricos misericordiosos, nos pecadores, nos irmãos que pensam diferente, então estarei rejeitando o próprio Jesus. Ele deixou bem claro em Mt 7,21-28 que não reconheceria como seus os que não fossem capazes de ler e praticar os sinais da sua presença.
A era visual
A nossa é uma era voltada fortemente para os olhos. O pecado nos dias de hoje entra muito mais pelos olhos do que pelas leituras e pelo ouvido. A televisão, os livros, as revistas, os outdoors se tornam onipresentes e quase que onipotentes. É quase impossível sair de casa sem se deparar com algum retrato de moça nua, de corpos nus, de provocação ao sexo, de exacerbação da libido em cada banca de revista, em cada outdoor que vemos, até sem querer ver. E, se ligarmos a televisão de manhã, de tarde ou de noite, haverá sempre uma cena de alcova ou de nudez.
O convite para o pecado carnal e para o prazer sem responsabilidade é permanente. Depois, há os convites para gastar, comprar, endividar-se. Há a tentação do dinheiro, do luxo, da riqueza, que não podemos sequer adquirir, quanto menos ostentar. E estão lá convidando também para a festa da vida e, praticamente, nos ensinando a rejeitar a cruz.
Não faltam as Igrejas que, com seu visual e pregação, quase nos fazem esquecer os pobres, os miseráveis e os mendigos. E não faltam os pregadores capazes de omitir a dor do mundo, preocupados apenas em exaltar e louvar ao Senhor. Mas está aí o visual para quem quiser ver.
Se eu limitar meu trajeto pelos outdoors cheios de moças nuas ou pelos programas de televisão, terei uma visão de quem não vê Jesus; mas se meus olhos forem comigo aonde se sofre, nos lugares onde há pobres, crianças e enfermos, se eu levar meus olhos a creches, asilos, hospitais e bairros de periferia, talvez eu veja outro espetáculo – e ali estarei também vendo Jesus –, dessa vez de maneira muito mais profunda e pura. Ele nos dirá: O que fizerdes a um desses pequeninos, a mim é que o fareis.
A Igreja, agora que tem em mãos a televisão e excelentes revistas, além de toda uma possibilidade de encher suas igrejas de outdoors, tem também uma grande oportunidade de mostrar, para os olhos do povo, a realidade da palavra de Deus. Certamente os católicos poderão ver muito mais Jesus a partir do momento em que transformarmos nossa mídia em veículo da fé.
Capítulo 2
A fé que passa pelos olhos
Eu disse no capítulo anterior que hoje o pecado entra mais pelos olhos do que pelo ouvido. Reafirmo essa declaração e assino embaixo. Nosso tempo tornou-se a era do deleite dos olhos: as praias, a indústria da moda, as lojas, os outdoors , a televisão, as revistas. Todos trabalham com formas e sugestões. O estético superou o ético.
Nudez que dá lucro
Ouvimos a toda hora artistas dizendo que posaram nuas em função da estética, atores, atrizes e modelos a dizer que o corpo é instrumento de trabalho e com ele ganham seu dinheiro. Não faltam as que afirmam ter comprado um apartamento para a mãe, quando posaram nuas para revistas masculinas.
Voltamos à era de superexaltação do corpo, como ocorreu na Era Renascentista,