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Contatos imediatos
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E-book194 páginas2 horas

Contatos imediatos

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Sobre este e-book

O homem sempre sonhou em encontrar vida fora do planeta Terra. Um misto de excitação e medo permeia a humanidade em um sonho que pode vir a se tornar um grande pesadelo. O cinema e a literatura sempre abrangem a temática, criando um universo fantástico, e muitas vezes conspiratório, que conta a relação humana com os inúmeros avistamento de OVNIs e os possíveis casos de abdução e contatos com seres de outros planetas.

Essa antologia reúne histórias de autores contemporâneos relatando avistamentos, abduções e contatos imediatos de terceiro grau. Mergulhe neste universo de ficção científica e se prepare para encontrar um novo mundo. Existe vida fora da Terra? Eles estão entre nós?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de mai. de 2019
ISBN9786580275052
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    Contatos imediatos - Janaina Storfe

    coletivo

    A caçada

    Ricardo Borges

    O jipe da Toyota saltava sobre as pedras de quartzo e batia forte nos buracos da estrada, espalhando lama enquanto varava o escuro da noite em meio aos relâmpagos e às rajadas de vento da tempestade tropical.

    No banco dos passageiros, o jovem astrofísico Felipe Carvalho segurava o tablet com uma das mãos e se agarrava a maçaneta da porta com a outra, numa vã tentativa de se manter sobre o assento enquanto era jogado em todas as direções. Sem disfarçar seu nervosismo por conta da velocidade excessiva, lançou um olhar de soslaio para o lado, onde um homem corpulento, de barba eriçada e aspecto raivoso debruçava-se sobre o volante e apertava os olhos, tentando compensar a miopia e discernir algo através do aguaceiro parcialmente iluminado pelos faróis potentes. Concluiu que a obsessão de Pe. Miguel pelos fenômenos que rondavam sua paróquia rural parecia finalmente tê-lo transformado em outra pessoa.

    Ao redor, o interior já compacto do jipe parecia ainda mais claustrofóbico com a quantidade de objetos espalhados por todos os lados, principalmente sobre o banco traseiro. Caixas metálicas, instrumentos delicados de medição e recipientes para coleta de amostras chacoalhavam num tumulto incessante.

    Cerrando os dentes, Pe. Miguel fez uma curva drástica para a esquerda, empurrando o jovem contra a porta.

    — Como estão as leituras? — perguntou, com os olhos fixos na estrada.

    — Perdemos três antenas até agora, todas as outras enlouqueceram — respondeu Felipe com o nariz enfiado na tela, onde um mapa geológico mostrava alguns pontos piscando em azul, enquanto uma janela lateral rodava informações sem cessar, em constante atualização. — Os sensores estão pipocando.

    — Ainda no mesmo lugar?

    — Como assim?

    — A fonte, Felipe — disse o padre com impaciência —, está no mesmo lugar?

    — Aham... — respondeu o estudante de doutorado numa voz distante, enquanto repassava alguns dados que pareciam mais aberrantes que o normal, só para ter certeza de que estava enxergando bem. — Pasto do Sr. Damião e floresta vizinha. Parece...

    — Pedra da Bruxa — cortou o padre num tom de sentença, parecendo corrigir um eufemismo inapropriado para a situação.

    Como se aproveitasse uma deixa, o contador Geiger acoplado ao painel começou a apitar com entusiasmo crescente, atraindo olhares de soslaio e preocupação. Quando Felipe desceu os olhos para a tela e tocou um dos ícones que piscavam em busca de atenção, percebeu que estava tremendo de nervoso.

    Quase ao mesmo tempo, ouviram outro apito vindo de algum lugar atrás deles. Pe. Miguel quis saber o que era, mas o jovem nem precisou se virar para identificar a origem.

    — É o sensor de Argônio.

    — Pegue as máscaras – ordenou o padre.

    Enquanto Felipe dobrava o corpo para trás em busca das máscaras de gás, a estrada inclinou-se para cima e os conduziu rapidamente para dentro de uma névoa fantasmagórica.

    — Chegamos — avisou Felipe sentado novamente em seu lugar, segurando as máscaras com uma das mãos enquanto conferia o GPS.

    — Ali está uma de suas antenas — disse Pe. Miguel ao desligar o motor, apontando uma comprida haste de metal fincada no pasto próximo a estrada.

    — Uma das que queimaram.

    — Vamos até o mirante — disse o sacerdote já colocando a máscara e abrindo a porta do carro.

    Sem argumentos, Felipe pegou sua lanterna no porta-luvas, colocou a máscara e saiu para a chuva.

    Ele ainda estava dando a volta no carro quando Pe. Miguel, bem mais intrépido, já saíra da estrada, passara sob a cerca de arame e subia o pasto a passos largos.

    Felipe se lembrara das vezes que subira até a pedra chata no pico do morro, uma pedra cujas origens do nome de perdiam nos séculos de lendas e histórias daquela região erma da selva amazônica. Pedra da Bruxa.

    Ele subiu pelo terreno íngreme até que o vapor de sua respiração se condensou e escorreu pelo interior da máscara. Minutos depois, quando a inclinação do terreno desapareceu e o capim deu lugar à pedra nua, o jovem estacou de súbito, só então, que se dando conta de que algo estava errado.

    Lá embaixo, a grande planície coberta de capim e cortada por um rio sinuoso estendia-se por centenas de quilômetros até uma cadeia de montanhas que delimitava o horizonte. A essa hora da noite tal paisagem estaria totalmente oculta pela escuridão, porém Felipe percebeu, boquiaberto, que uma luminosidade quente parecia descer em camadas das nuvens acima do vale, deixando visíveis detalhes tão incríveis que ele se sentiu imerso em uma experiência de realidade aumentada.

    — Meu Deus, isso é...

    Viu então Pe. Miguel, imóvel, arquejante, perigosamente próximo à borda do precipício, uma das mãos apoiada no joelho, a outra segurando nos galhos de uma árvore raquítica que crescera precariamente em uma rachadura na pedra. Ao ver que o padre havia tirado a máscara, primeiro Felipe pensou que ele estivesse passando mal, mas ao se aproximar percebeu que o homem tinha uma expressão estranha, confusa, com o olhar fixo em alguma coisa na planície lá embaixo.

    — Não tenho certeza se aquilo... — balbuciou erguendo o braço.

    Felipe acompanhou com o olhar e a princípio não viu nada, mas seus olhos se arregalaram quando distinguiram um ponto escuro se movendo contra a gramínea clara do vale.

    Lá embaixo, em campo aberto, uma figura humana corria a toda velocidade.

    — Do que diabos ele está fugindo? — perguntou Felipe com um engasgo, talvez tentando escapar de uma constatação óbvia.

    — Acho que daquilo que viemos encontrar — respondeu Pe. Miguel em tom neutro, não deixando oportunidades para fugas de qualquer tipo.

    — Está indo direto para o rio...

    Os dois ficaram parados por alguns segundos e então, após olhar as nuvens acima, Pe. Miguel começou a correr na direção em que tinham vindo.

    — Aonde vai?! — gritou Felipe surdamente dentro da máscara, tentando vencer o barulho da chuva e dos trovões.

    — Precisamos da câmera térmica! — gritou o padre mal se dando ao trabalho de virar a cabeça enquanto desaparecia no torvelinho de água.

    — O quê?! Com essa chuva?! — gritou de volta Felipe enquanto disparava atrás dele.

    — Precisamos...

    Pe. Miguel foi interrompido pelo estopim ensurdecedor de uma explosão muito próxima e antes que ele ou Felipe pudessem proteger os ouvidos, foram arremessados vários metros morro abaixo pela onda de impacto que desceu a encosta.

    Felipe rangeu os dentes enquanto se contorcia no capim alto, apertando as orelhas com as mãos o mais forte que conseguia, enquanto o chão vibrava abaixo dele. A névoa branca agora brilhava num laranja vivo que parecia vir de todas as direções, junto com um tipo de calor que descia pulsando em ondas. Acima deles, o céu pareceu se incendiar.

    Estou sonhando, pensou Felipe. Vou acordar a qualquer momento.

    Então ouviu Pe. Miguel chamando seu nome, parecendo estar muito longe por causa do barulho da chuva.

    — Padre?! Estou aqui! — gritou para o vento enquanto vasculhava o chão em busca da lanterna que perdera na confusão e que aparentemente se apagara na queda. E quase morreu de susto quando Pe. Miguel o agarrou pelo ombro e o puxou para trás, fazendo-o cair sentado próximo a um arbusto.

    — O quê... — começou a dizer em tom de protesto quando o sacerdote o calou sem a menor cerimônia, arrancando sua máscara e tapando sua boca com a mão.

    — Eles estão aqui — sussurrou ao ouvido do jovem numa voz tão repleta de pavor que fez seu sangue gelar. Quando olhou para trás e encontrou o rosto enxágue do homem, viu que Pe. Miguel estava tomado pelo mais absoluto terror. — Fique abaixado e olhe na direção da floresta.

    Tremendo, Felipe tornou a olhar para frente, na direção de um pasto vizinho, coberto por floresta em sua parte mais baixa. O que ele percebeu primeiro nessa paisagem estática foi o estouro de uma boiada com vinte ou trinta cabeças de gado, que até então pareciam ter se reunido para se proteger da tempestade próximo às árvores.

    — Continue olhando — disse Pe. Miguel atrás dele. — Eles vão deixar a mata.

    Felipe ia fazer uma pergunta, mas se esqueceu completamente dela quando viu algumas silhuetas deixando a linha das árvores e subindo pela crista do pasto nu. Seus músculos se enrijeceram tanto que começaram a doer.

    — Está vendo agora? — perguntou Pe. Miguel, retesando o corpo em sincronia.

    Felipe ajeitou os óculos e tirou o cabelo que caía na frente dos olhos.

    Apenas com dificuldade ele poderia descrever o que viu a seguir. Se por um lado eram perfeitamente distintos contra a luz fulgurante do céu, por outro havia a desvantagem da enorme distância que os separava. Felipe viu três silhuetas esguias e com formas vagamente humanas deixando a floresta. O mais estranho, porém, é que aquelas pessoas, se é que eram pessoas, além de serem anormalmente altas, pareciam estar de pé sobre algum aparelho portátil, algo impossível de se imaginar, mas que a despeito disso as fazia flutuar pouco acima da crista do pasto, deslizando rumo ao topo. Era quase possível distinguir uma forma triangular onde deviam estar os pés.

    Felipe piscou os olhos, mas apesar do absurdo, era perfeitamente nítido que se moviam sem tocar o solo.

    — Estão flutuando... — murmurou vagamente, incapaz de acreditar em si mesmo.

    Os seres seguiram um atrás do outro até o alto, depois sumiram de vista ao descerem pelo outro lado, justamente onde o fulgor alaranjado parecia tão intenso a ponto de não dar pra saber se vinha de cima ou de baixo.

    — Está entendendo o porquê do nome deste lugar? — murmurou Pe. Miguel, também perdido em seus próprios pensamentos.

    Depois disso, Felipe e Pe. Miguel puderam ver, ainda mais assombrados, uma imensa forma escura e oval subindo por detrás do morro, tão grande que revolvia as nuvens em torno de si, rasgando-as e fazendo-as rodopiar em movimentos estranhos.

    — Os relâmpagos se foram. — comentou o sacerdote longos minutos depois. Colocou-se de pé e olhou em volta, deixando as palavras escaparem no ar úmido como se não tivessem destinatário. A chuva também havia parado. — Agora você acredita em mim?

    Sentado na grama molhada, Felipe tentou dizer algo, mas as palavras não saíram. Seu rosto lívido estava ainda iluminado pelo laranja sobrenatural que queimava acima das nuvens.

    A caçadora de vaga-lumes

    M. Sardini

    A família Le Roux era desprovida de posses, para não dizer que flertava com a miserabilidade. Mãe de cinco filhos, a viúva Justine desdobrava-se todos os dias preparando brioches, que dispunha cuidadosamente em uma cesta de vime e vendia de porta em porta por toda a vizinhança da pequena cidade.

    Os filhos mais velhos a ajudavam, tanto na cozinha quanto nas vendas, bem como cuidavam da casa e da irmã caçula, Cosette. A família quase nunca tinha comida suficiente e habitava uma minúscula e improvisada moradia. No inverno, dormiam todos amontoados em uma mesma cama, a fim de manterem-se aquecidos, e frequentemente as crianças trajavam roupas grandes ou pequenas demais, frutos de doações.

    Os membros da cidade, comovidos com a situação da jovem mãe, reuniram-se certo dia na igreja matriz e resolveram dar um presente para a família: naquele ano, Justine e seus filhos passariam a noite de Natal em um chalé, na beira do lago, com direito a uma farta ceia.

    O chalé, que pertencia à igreja, não era dos mais luxuosos, mas seguramente era o maior esplendor e abundância que a família Le Roux já havia visto. Não era grande, mas acomodava todos e era bastante aconchegante, com uma lareira no centro do cômodo principal, e uma bela vista para o lago, que se encontrava parcialmente congelado. Do lado de fora, preso ao fim de um curto píer, havia uma singela embarcação.

    Ao chegar no local, Justine e os filhos deram uma volta pelo chalé, observando, maravilhados, tudo o que poderiam desfrutar naquela feliz noite. A caçula, inquieta, embrenhou-se por um dos cômodos, que dispunha de duas camas e uma escrivaninha levemente empoeirada.

    — Este será o meu quarto, mamãe. — gritou. — Este será o meu quarto de Natal!

    Imediatamente passou a revistar todo o recinto, abrindo as gavetas da velha escrivaninha.

    A primeira delas não continha nada além de pó, assim como a segunda. A terceira, no entanto, continha um pequeno pedaço de papel todo amassado. Curiosa, Cosette desembrulhou-o, apertando os olhos contra as tremidas letras gravadas no papel.

    — Lê para mim, por favor? — pediu, ávida, correndo na direção de um de seus irmãos.

    O menino segurou o papel um pouco confuso.

    Eles aparecem quando as luzes se apagam. — Devolveu o papel à Cosette. — Onde você achou isso?

    — Na escrivaninha! — ela respondeu, animada, dobrando novamente o papel e guardando em seu bolso.

    Seu irmão não deu muita importância, deslumbrado demais com o restante do chalé. Ela prosseguiu, apontando para o bolso:

    — O que significa?

    Eles aparecem quando as luzes se apagam? Sei lá. Devem ser vaga-lumes. — respondeu o garoto, pensando por um instante.

    — Vaga-lumes! — Cosette repetiu, sorrindo.

    Próximo à meia noite, Justine arrumou uma belíssima mesa com tudo o que os membros da igreja haviam lhe dado. Torradas, queijos, um suculento peru recheado com marrons, acompanhado por batatas gratinadas. E de sobremesa, a tradicional bûche de noel. Antes da ceia, fizeram uma oração em voz alta, todos de mãos dadas ao redor

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