A Caixa de Stephen King
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Sobre este e-book
O mestre do terror, Stephen King, encontrou uma caixa cheia de contos e manuscritos que pertenciam ao seu pai. Desde então, ninguém descobriu o que havia dentro ou se isto influenciou realmente King em sua obra. Esta é uma homenagem a Stephen King e suas histórias. No conto “A caixa de contos”, Steve encontra a caixa mencionada e, a medida que cresce desde sua infância até ser adulto, tem sonhos recorrentes e prediz os acontecimentos que se transformam nos livros que escreveu até alcançar o sucesso. No conto “O Coveiro”, um coveiro a ponto de se aposentar, com aspecto abatido e ossudo, após mais de 40 anos enterrando os mortos de Boad Hill, nunca se perguntou quando chegaria sua hora de morrer, nem sequer quem o enterraria. E não é bom pensar demais nos mortos. No conto “A garota 10”, um homem casado tem vários affaires com diferentes mulheres, até que um dia é apresentado à garota 10. Uma modelo de escultural beleza, de longas pernas e grandes olhos com um brilho verde neles. Mas após ir para um quarto com ela, descobre a verdade, que ela muda de pele e tem garras em suas mãos. No conto “Maçãs podres”, Tom amava suas árvores frutíferas, sobretudo as macieiras quando na primavera era um festival de cores. Encantava-lhe suas maçãs e todo dia oficiosamente comia duas delas. Até que um dia se encontra cansado e, no lugar de suas unhas, percebe como crescem raízes e suas articulações ficam rígidas. No conto “Na boca do verme”, um agiota do século XVIII reconta toda noite seu dinheiro... E mais, muito mais...
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A Caixa de Stephen King - Claudio Hernández
A caixa de Stephen King
Claudio Hernández
Primeira edição eBook: janeiro, 2017.
Título original: La caja de Stephen King.
Título em Português: A caixa de Stephen King
Tradução para o Português: Vinicius José Moreira Peixoto
© 2017 Claudio Hernández.
© 2017 Arte de Capa: Iván Ruso, 2017.
contato: https://www.facebook.com/KAOS1973ISV web: http://irs1973.blogspot.com.es/
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta publicação, incluindo sua arte de capa, pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer maneira ou por qualquer meio, seja ele eletrônico, químico, mecânico, ótico, de gravação, pela Internet ou por fotocópia, sem a prévia permissão do editor ou do autor. Todos os direitos reservados.
Este livro é dedicado ao meu sogro, que sempre foi e sempre será meu pai, desde o céu até onde quer que ele esteja, necessito que ele siga ao meu lado nesta vida tão dura.
Índice
Introdução
A caixa dos contos
O coveiro
A garota 10
Maçãs podres
Na boca do verme
O papão está sob os lençóis
Tudo que foi perdido
É hora de se despedir
Nunca pronuncie meu nome
Epílogo
Introdução
Stephen King começou a escrever na tenra idade de oito anos, eu, influenciado por seus trabalhos, comecei a escrever minhas próprias histórias trinta anos mais tarde. Creio que compartilhamos uma mesma razão pela paixão da escrita. É conhecer o medo em todos os seus ângulos. Ao longo dos anos seguintes e durante toda minha vida, analisei cada um de todos os trabalhos de Steve e cheguei à conclusão do que nos torna todos seus fãs, é que Steve é o rei da literatura de terror psicológico. Stephen King é um homem muito inteligente, que conhece bem as pessoas e seu interior. Se Steve não fosse escritor, seguramente seria psiquiatra. Pelo menos é o que eu acredito. Suas primeiras histórias são as que nos mais chamam a atenção. São histórias com sentimento e com um alto grau de fantasia, assim como seus primeiros livros. Minhas histórias são um tributo ao rei e um reconhecimento do que ele poderia ter encontrado nesta caixa perdida de manuscritos que pertenceu ao seu pai, Donald Edwin King, e dos quais nunca se revelaram seus conteúdos. Por acaso o pequeno Steve, com treze anos, escolheu algumas destas histórias para reescrevê-las? Certamente não, mas foi influenciado por elas e isto marcou sua vida para sempre. Quando eu tinha treze anos, caiu em minhas mãos a antologia de contos Night Shift
e fiquei claramente influenciado. Após ler o livro inteiro, pus-me a escrever minhas próprias histórias, influenciado em todo momento pelo mestre King. Suponho que isto significa que provavelmente eu seja o fã número um de Stephen King. Ou talvez signifique que sou um fanático por Stephen King.
O próprio King reconheceu muitas vezes que escreveu contos e novelas influenciado por alguém ou mesmo pensando em uma pessoa. Como é o caso de Dolores Claiborne
, que escreveu pensando na atriz Kathy Bates. Imaginou como poderia reagir esta mulher caso seu escritor preferido tivesse deixado de escrever sobre sua personagem favorita. King pensou nela. E eu penso em King quando escrevo, é um impulso, não posso me livrar dele.
Stephen King foi magistralmente influenciado pelos quadrinhos da DC dos anos cinquenta. Além disso, ficou fascinado pelas histórias de H. P. Lovecraft, Edgar Allan Poe, Ray Bardbury e até mesmo Richard Matheson. Ficou influenciado por eles. Por suas histórias, por suas narrativas, por seus estilos. E o cinema também o influenciou. O pequeno Stevie escrevia suas próprias versões dos filmes ao voltar para casa. Eu comecei a escrever quando li Massa Cinzenta
, Primavera Vermelha
, Eu sei o que você precisa
ou A máquina de passar roupa
, todos eles pertencentes ao livro "Night Shift" (Sombras da Noite). Fiquei fascinado por suas histórias, como ele pelas de H. P. Lovecraft. E que também poderia estar influenciado por outros escritores, como Clive Barker (Livros de Sangue), aos quais também é adepto Stephen King.
Influências e o incontrolável Richard Bachman, uma pessoa reticente a aceitar a sociedade na qual havia vivido. Com a qual muitas coisas, segundo ele, estava contrariado. Stephen King escreveu sempre sob suas influências e com sua especialidade para nos mostrar a parte escura das coisas e das pessoas, dentro do medo e da paranoia com dois nomes distintos.
Não sou o único que escreve por influências. No ano de 2003, Ridley Person, amigo de Stephen King, escreveu o guia The Diary of Ellen Rimbauber
(O Diário de Ellen Rimbauber). Não é uma exceção, é apenas mais um exemplo. O próprio Stephen King se inspirou em um Hotel no qual se hospedou, chamado The Montressor Hotel. E Montressor é uma clara referência a uma história de Edgar Allan Poe intitulada O Barril de Amontillado
. E isto lhe serviu para o conto que estava escrevendo.
Também foi muito influenciado pela morte. No ano de 1967, vendeu seu primeiro conto Chão de Vidro
, no qual uma mulher morre em seu quarto. E também esteve muito influenciado pelo medo, basta ver a experiência ruim que teve quando assistiu uma das cenas do filme Bambi, quando este se vê rodeado pelo fogo. A mim, também me passou o mesmo quando vi Carrie
pela primeira vez. A vingança final sobre o cenário do baile de formatura, na qual Carrieta White desata sua fúria, isso me espantou.
E depois, veio The Shining
(O Iluminado). Por isso, escrevo contos e novelas de terror, e com estes contos quero render meu tributo ao rei, apesar da redundância. Parece paranoico fazer isto? Não quero me desculpar por misturar nossas vidas tão separadas. É um absurdo escrever este livro? Querer utilizar sua influência para poder publicar meus contos? Não, ele forma parte de mim há muitíssimos anos, assim como a muitos constantes leitores de King, mas minha paixão me levou mais longe. Muito mais longe
Claudio Hernández
A caixa dos contos
Se Stephen King tivesse a oportunidade de eleger quais contos ele gostaria de ter encontrado na caixa que encontrou no sótão, sem dúvida alguma elegeria os seus. Mas nada sabemos o que encontrou neste dia Stephen King, ou ao menos com minuciosa certeza os detalhes. Destacava-se um livro de contos de H. P. Lovecraft. Mas havia manuscritos e muitas folhas soltas que formavam vários contos. Havia material suficiente para publicar por um bom tempo. E nunca saberemos se, além da influência, Stephen King pegou algo mais daquele conteúdo da caixa. Esta é a história de Steve, um menino que, desde o encontro da caixa, vê como sua vida muda por completo e, com o passar do tempo, vê como tudo muda ao seu redor. Cada história tem uma influência sobre Steve. Os pesadelos são recorrentes e logo descobre o poder da precognição e da habilidade de conhecer o interior das pessoas. As iniciais encontradas em uma das abas da caixa, DEK
, têm lhe intrigado desde o primeiro momento e tudo parece girar em torno dos contos que encontrou na caixa. Junto aos manuscritos, há cartas de repúdio e uma cruz em cada canto. A partir daí, todas as coisas que lhe sucedem não são casuais e as coisas cotidianas não são o que parecem. Até que sua vida termina em um trágico desfecho. É então quando se revela a verdadeira identidade de sua história.
1
––––––––
Com treze anos de idade, Steve encontra uma caixa repleta de manuscritos, no sótão da casa de sua tia. Está de passagem e é uma das muitas casas em que viveria até a idade adulta, muito mais adiante. Então, recordará sua infância e o que sentiu ao encontrar a caixa, que rapidamente lhe deu o nome de Inícios
. Steve se aproxima da caixa de papelão amarelo e empoeirada, disposta como uma forma sinistra na penumbra. Aproxima-se lentamente, mas sem titubear. E pensa que, de repente, poderia sair dali um enorme rato com longos dentes e um rabo como o cabo de uma escova. Steve se aproxima de todas as formas. Um pouco mais. Está em silêncio e de seus lábios convulsos não sai nem um sibilo, seus olhos, abertos como pratos, vasculham na penumbra ao redor da caixa. Não há nada. Apenas esta caixa. Aproxima-se mais até ela e, então, seu coração começa a palpitar com desmesurada rapidez, em uma onda crescente. Cada vez mais. Começa a sentir calor. As primeiras gotas de suor aparecem em sua testa e uma delas se introduz em seu olho direito. De forma impulsiva, leva sua até ali e bate em seus enormes óculos de armação de osso, que quase caem ao chão, estão coladas com fita adesiva. Aproxima-se mais e mais. O galopante coração parece bater agora em sua própria mão. E toca a caixa, primeiro com a ponta do dedo indicador, depois, com todos os dedos. A caixa está fechada. Steve curva seus lábios, traga o ar e o expulsa em um potente sopro. O pó sai voando como uma tempestade de areia para todos os lados. Então, vê as iniciais D.E.K. em uma das abas da caixa.
- Quê?
Steve assopra mais uma vez para eliminar o pó restante que cobre a caixa. Agora, seu coração estala dentro de seu peito.
O que será, amigo Steve? Tenha cuidado com o que encontrar dentro dela. Uma voz interior o sacode.
Agora, com as duas mãos, começa a abrir a caixa de papelão. E dentro, vê algo. Não é aterrador, não são ratos e nem sequer serpentes, nem moedas como se lembrou, enquanto olhava o interior da caixa, umas moedas que um amigo seu escondeu no sótão de sua casa para protegê-las de seu irmão mais velho. Recordou também que soltou a lata de moedas quando escutou de seu irmão que no bosque havia um garoto morto. Mas logo, as lembranças se diluem ao olhar de novo para o interior da caixa. Papéis amarelados, amassados e amarrados com uma fina corda. Eram manuscritos. Folhas soltas numeradas. Todas as folhas tinham texto. Muito texto e, à primeira vista, todos tinham uma nota adjunta que dizia, a duras penas se lia: desculpe-nos, tente outra vez
.
Steve tirou todos os manuscritos da caixa enquanto observava as folhas, havia palavras interessantes como garras como espátulas
, e se transformou em um monstro
e morte
. Era oito e meia da manhã e os primeiros raios de sol se atreviam a passar pelos buracos da parede de tábuas. O pulso do coração galopante deu um salto de entusiasmo. Steve gostava daquelas palavras e logo supôs que eram histórias de terror ou talvez de ficção científica. E transcorreu a manhã no sótão, lendo aquelas velhas páginas amareladas e rasgadas, enquanto os raios de sol se moviam dentro do sótão, formando diferentes formas de sombra. E, já com o pulso estabilizado, ainda que extasiado ou emocionado, perguntava-se que diabos significavam aquelas iniciais. D.E.K.
- O rosto mais horrível que se pudera ver antes – sussurrou Steve.
E seguiu lendo frases escabrosas, horríveis algumas e atrativas para ele, outras.
Havia encontrado uma caixa cheia de contos de terror e novelas de ficção científica. Algo que o entusiasmava.
2
Passar os dias lendo os manuscritos encontrados, na penumbra de seu quarto, era tudo o que melhor poderia lhe acontecer, já que, na escola secundária, era objeto de todo o tipo de piadas e isso pesava muito sobre ele. Steve, um garoto de treze anos que havia aprendido a arte de amar a leitura e a escrita, era verdadeiramente um garoto solitário aos olhos do mundo. Suas palavras, quando falava, quase não se escutavam. Falava pouco. Melhor sussurrava e podia contar nos dedos da mão quantos amigos tinha. Ele e sua nova descoberta ocupavam grande parte de sua vida agora.
Esquivo na escola, fechava seus olhos sob as grossas lentas de seus óculos quando lhe diziam palavrões. Sua miopia era evidente e caminhava quase encurvado devido à sua magreza e altura. Seu cabelo negro, esmagado sobre o crânio, como uma massa gelatinosa, mostrava todo tipo de formas em seu penteado. E todas as coisas, segundo ele, não aconteciam porque sim, mas porque tinham algum sentido. Um significado. Descobriu isso à medida que lia os contos perdidos daquela caixa, cujas iniciais ainda lhe surpreendiam.
3
Enquanto saboreava o cigarro em uma longa tragada, Steve olhou de relance o final de um dos contos.
- Adorei! – disse de repente, enquanto deixava as folhas amareladas sobre a cama.
- Do que trata? – interessou-se seu irmão.
- De um homem que infla ao beber cerveja e se transforma em uma massa disforme que devora gatos – apressou-se em contar Steve, com um brilho não usual em seus olhos.
- Humm, parece bom – respondeu Ben, com a mente em outro lugar.
- É fantástico! Tudo o que estou lendo é fantástico. Fala de máquinas que ganham vida, de um assassino em série, de um povo controlado por crianças – Steve estava entusiasmado e sua voz ficava cada vez mais grave -. Também há alunos que morrem e regressam da morte!
- Sempre gostou dos contos de terror, né? Irmãozinho – sua voz soava distante.
Steve levou uma mão até o olho direito para se livrar de uma remela e retirou os óculos com sumo cuidado. Não disse nada. Apenas se livrou da remela com o dedo indicador e piscou ligeiramente. Depois, colocou de novo os óculos e ficou pensativo, com a bochecha apoiada em um de seus punhos. Reinou o silêncio por um longo tempo. Ben estava agora olhando através do vidro da janela que estava sujo. Lá fora, nevava copiosamente e os flocos de neve explodiam contra o vidro, fazendo-se em pedaços. Talvez, desenhando formas impossíveis.
De repente, a voz de Steve soou rouca, mas forte.
- Algum dia serei um escritor profissional e comprarei para mim um enorme carro – fez um tanto de gestos com as mãos e deixou cair os braços. Também deixou cair o cigarro consumido ao chão e o amassou com o pé esquerdo.
Ben se virou até e assentiu com a cabeça.
4
Os pesadelos eram sim recorrentes e os trabalhos para conseguir algo mais em uma casa pobre eram simplesmente embaraçosos. Steve teve que, junto com outro amigo da escola, cavar durante uma semana várias covas onde seriam enterrados os caixões. Steve não os viu e por isso perguntou à sua mãe se havia visto morrer alguém de verdade.
- Duas vezes – respondeu ela.
Steve fincou os cotovelos sobre a mesa e abriu mais os olhos.
- E o que viu? – lhe interrogou imediatamente, com um brilho não usual em seus olhos.
Sua mãe moveu a cabeça de um lado para o outro e levou uma mão a ela, como que para sustenta-la.
- Nada – respondeu com um sibilo