O texto literário em sala de aula

De Carlindo de Lira Pereira

Em nossa tradição escolar o texto literário tem ocupado um espaço marginal no processo de ensino-aprendizagem; quando muito, tem servido como pretexto para o ensino de gramática. Para Lajolo (1993, p.52) "um texto não deve pretexto para nada".
Este trabalho tem como objetivo oferecer ferramentas indicadoras de um olhar com uma nova perspectiva para o texto literário didático em sala de aula.

• Idioma: Português
• Editora: Viseu
• Data de lançamento: 1 de nov. de 2019
• ISBN: 9788530012816

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Pereira.

Apresentação

O professor de Literatura do Ensino Fundamental vê-se diante de um labirinto de informações pouco questionadas, mas seguidas à risca conforme orientação dos autores dos livros didáticos. Propondo uma metodologia sugestiva, que amenize sua inquietação, esta obra faz um exame de algumas concepções de literatura discutidas amplamente no universo acadêmico e mostra a relação entre leitor, Língua(gem) e Literatura, bem como, faz um levantamento das práticas utilizadas, ainda hoje, no ensino do texto didatizado; desvela-se daí as concepções de Língua(gem) e Literatura implícitas, apontando a dicotomia língua versus literatura, que recai no reducionismo do texto literário à pura gramaticalidade normativa. Por fim, esta obra sugere procedimentos que podem ser utilizados em sala de aula numa abordagem em que o professor, diante das propostas dos livros didáticos comumente utilizados em sala, interfira com um viés inovador no estudo do texto literário realizado pelo aluno.

Carlindo de Lira Pereira

Arapiraca (AL), 2019

É através da literatura que se manifesta todo o potencial criativo de que pode ser portador o falante da língua. Para dar vida a um cenário e transmitir de maneira compreensível o desenrolar dos eventos para um interlocutor ausente e idealizado, o escritor necessita lançar mão de recursos léxico-gramaticais que permitam explicitar verbalmente o mundo interno e o mundo externo dos seus personagens. Na literatura as palavras funcionam como matéria-prima da criação artística nos seus mais diferentes gêneros.

Lúcia Lins Browne Rego

A solução dos problemas humanos terá que contar sempre com a literatura, a música, a pintura, enfim, com as artes. O homem necessita de pão e de liberdade. As artes existirão enquanto o homem existir sobre a face da terra. A literatura será sempre uma arma do homem em sua caminhada pela terra, em sua busca de felicidade.

Jorge Amado

Introdução

O sistema educacional brasileiro tem passado por mudanças e reformas, certamente com o objetivo de melhorar sua qualidade face às novas exigências colocadas pelo desenvolvimento social e tecnológico.

Tendo em vista a melhoria do ensino de Língua Portuguesa, Gramática e Literatura nas salas de aulas brasileiras – que, na maioria das vezes, é descontextualizado, compartimentalizado e baseado no acúmulo de informações – a Lei de Diretrizes e Bases da educação - LDB (Lei 9.394/96), trouxe inovações norteadoras. Surgiu, na sequência, o ENEM como atual critério avaliativo para ingresso na universidade brasileira; mudanças substanciais na metodologia e na abordagem do texto literário mostram-se necessárias ao pautar um ensino significativo na sala de aula, fundado na contextualização, na interdisciplinaridade e na transdisciplinaridade, tentando tornar obsoleta a concepção de que os conhecimentos são compartimentalizados. Tudo isso está definido nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que enfocam, entre outras coisas, os diversos contextos da vida do aluno e trazem orientações centradas no ensino para o desenvolvimento das respectivas competências e habilidades.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação anterior, as disciplinas Língua Portuguesa e Literatura vinham dicotomizadas, assim como os livros didáticos; as escolas ainda dispunham de um professor para cada disciplina, como se Língua(gem)/Literatura, estudos gramaticais e produção de texto não tivessem relação entre si e fossem corpus de conhecimento complementares, não variantes de uma mesma realidade linguística. Numa dimensão diferente, a mais recente Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) dá um tratamento mais orgânico essas áreas, conduzindo seus saberes a uma perspectiva maior, no sentido do conceito do que é a língua(gem), que desponta como espaço Dialógico em que as relações situacionais, contextuais e a históricas da produção do texto integram-se numa abordagem linguística repleta de camadas complexas e numa perspectiva aberta à pluralidade de sentidos conexos e, por vezes, desconexos.

Diante dessa nova realidade, ninguém pode duvidar da importância para nós, professores de Língua(gem)/Literatura do Ensino Fundamental, da necessidade de conhecer e aplicar, em sala de aula, uma didática mais fundamentada em metodologias e técnicas de ensino que despertem nos alunos satisfação e necessidade de investigação de uma ordem mais profunda das possíveis camadas significativas presentes em