Sobre moeda e inflação: Uma síntese de diversas palestras
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Sobre moeda e inflação - Ludwig von Mises
Coleção Von Mises
01 - As Seis Lições: Reflexões sobre Política Econômica para Hoje e Amanhã
02 - O Contexto Histórico da Escola Austríaca de Economia
03 - O Conflito de Interesses e Outros Ensaios
04 - Lucros e Perdas
05 - O Cálculo Econômico em uma Comunidade Socialista
06 - Liberdade e Propriedade: Ensaios sobre o Poder das Ideias
07 - A Mentalidade Anticapitalista
08 - O Marxismo Desmascarado: Da Desilusão à Destruição
09 - O Livre Mercado e seus Inimigos: Pseudociência, Socialismo e Inflação
10 - Sobre Moeda e Inflação: Uma Síntese de Diversas Palestras
11 - Caos Planejado: Intervencionismo, Socialismo, Fascismo e Nazismo
12 - Crítica ao Intervencionismo: Estudo sobre a Política Econômica e a Ideologia Atuais
13 - Intervencionismo: Uma Análise Econômica
14 - Burocracia
15 - Os Fundamentos Últimos da Ciência Econômica: Um Ensaio sobre o Método
16 - Liberalismo: Segundo a Tradição Clássica
17 - Problemas Epistemológicos da Economia
18 - Governo Onipotente: A Ascenção do Estado Total e da Guerra Total
19 - Socialismo: Uma Análise Sociológica e Econômica
20 - Teoria e História: Uma Interpretação da Evolução Social e Econômica
21 - Nação, Estado e Economia: Contribuições para a História e a Política de Nossa Época
22 - Ação Humana: Um Tratado de Economia
23 - Notas e Recordações
24 - Teoria da Moeda e dos Meios Fiduciários
25 - Planejando para a Liberdade: Deixe o Sistema de Mercado Funcionar – Uma Coletânea de Ensaios e Conferências
sobremoeda_rostoImpresso no Brasil, 2017
Título original: Ludwig von Mises on Money and Inflation: A Synthesis of Several Lectures
Copyright © 2010 by Ludwig von Mises Institute
Copyright do texto de George Reisman © 2007 by Ludwig von Mises Institute
Copyright do texto de Murray N. Rothbard © 2011 by Ludwig von Mises Institute
Os direitos desta edição pertencem ao
Instituto Ludwig von Mises Brasil
Rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, 1098, Cj. 46
04.542-001. São Paulo, SP, Brasil
Telefax: 55 (11) 3704-3782
contato@mises.org.br · www.mises.org.br
Editor Responsável | Alex Catharino
Curador da Coleção | Helio Beltrão
Tradução | Evandro Ferreira e Silva
Tradução da apresentação e do posfácio | Claudio A. Téllez-Zepeda
Revisão da tradução | Márcia Xavier de Brito
Revisão ortográfica e gramatical | Carlos Nougué & Márcio Scansani
Revisão técnica | Alex Catharino
Preparação de texto | Alex Catharino & Claudio A. Téllez-Zepeda
Revisão final | Alex Catharino, Márcia Xavier de Brito & Márcio Scansani
Produção editorial | Alex Catharino & Márcia Xavier de Brito
Capa e projeto gráfico | Rogério Salgado/Spress
Diagramação e editoração | Spress Diagramação
M678s
Mises, Ludwig von
Sobre moeda e inflação: uma síntese de diversas palestras / Ludwig von Mises; tradução de Evandro Ferreira e Silva - 1ª edição. - São Paulo: LVM, 2017; Coleção von Mises.
272 p.
Tradução de: Ludwig von Mises on Money and Inflation: A Synthesis of Several Lectures
ISBN 978-85-93751-09-7
1. Ciências Sociais. 2. Economia. I. Título. II. Silva, Evandro Ferreira e.
CDD 300
Reservados todos os direitos desta obra.
Proibida toda e qualquer reprodução integral desta edição por qualquer meio ou forma, seja eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução sem permissão expressa do editor.
A reprodução parcial é permitida, desde que citada a fonte.
Esta editora empenhou-se em contatar os responsáveis pelos direitos autorais de todas as imagens e de outros materiais utilizados neste livro.
Se porventura for constatada a omissão involuntária na identificação de algum deles, dispomo-nos a efetuar, futuramente, os possíveis acertos.
photo_sobre_moedaSumário
Nota à Edição Brasileira
Alex Catharino
Apresentação à Edição Brasileira
Um Tributo a Mises no Centésimo Aniversário de Seu Nascimento
George Reisman
Prefácio à Edição Brasileira
Mariana Piaia Abreu
Introdução
Bettina Bien Greaves
Sobre Moeda e Inflação:
Uma Síntese de Diversas Palestras
Capítulo 1
A Cooperação Humana
Capítulo 2
O Meio de Troca – Dinheiro
Capítulo 3
O Papel dos Tribunais e dos Juízes
Capítulo 4
O Ouro como Dinheiro
Capítulo 5
A Inflação do Ouro
Capítulo 6
Inflação
Capítulo 7
A Inflação Destrói a Poupança
Capítulo 8
Inflação e Controle Estatal
Capítulo 9
Dinheiro, Inflação e Guerra
Capítulo 10
O Aspecto Constitucional da Inflação
Capítulo 11
O Capitalismo, os Ricos e os Pobres
Capítulo 12
A Depreciação da Moeda em Épocas Passadas
Capítulo 13
Muitos Acreditam que se Deveria Aumentar a Quantidade de Moeda em Circulação
Capítulo 14
Dois Problemas Monetários
Capítulo 15
Financiamento de Dívida e Expansão do Crédito
Capítulo 16
Expansão do Crédito e Ciclo Econômico
Capítulo 17
Balança de Pagamentos, a Paridade do Poder de Compra e o Comércio Exterior
Capítulo 18
Liquidez Interbancária; Reservas Bancárias
Capítulo 19
Precisa o Mundo de um Banco Mundial e de Mais Dinheiro?
Capítulo 20
Conclusão
Posfácio à Edição Brasileira
A Teoria Austríaca da Moeda
Murray N. Rothbard
Nota à Edição Brasileira
Olivro Sobre Moeda e Inflação: Uma Síntese de Diversas Palestras de Ludwig von Mises (1881-1973) foi traduzido por Evandro Ferreira e Silva a partir da edição norte-americana do volume Ludwig von Mises on Money and Inflation: A Synthesis of Several Lectures , organizado por Bettina Bien Greaves e publicado, em 2010, pelo Ludwig von Mises Institute. A obra reúne uma parcela signinicativa das palestras ministradas pelo economista austríaco durante a década de 1960 na sede da Foundation for Economic Education (FEE), na cidade de Irvington-on-Hudson, no estado de Nova York, que foram taquigrafadas e transcritas pela própria organizadora da coletânea, que na condição de assistente do professor Mises esteve presente em todas estas apresentações.
Na presente edição brasileira foram acrescidos mais alguns textos escritos por outros autores. Incluímos as traduções, elaboradas Claudio A. Téllez-Zepeda, de uma breve biografia intelectual de Ludwig von Mises escrita por George Reisman, escrita em 1981 na ocasião do centenário do economista austríaco, e um ensaio de Murray N. Rothbard (1926-1995) sobre a teoria monetária austríaca, que foi publicado originalmente na coletânea The Foundations of Modern Austrian Economics (Kansas City: Sheed Andrews and McMeel, 1976. p. 160-84) editada por Edwin G. Dolan, sendo reimpresso tanto em The Logic of Action One: Method, Money, and the Austrian School (Cheltenham: Edward Elgar, 1997. p. 297-320) quanto em Economic Controversies (Auburn: Ludwig von Mises Institute, 2011. p. 685-707). Incluimos também na edição brasileira um prefácio escrito com exclusividade por Mariana Piaia Abreu.
Por fim acreditarmos ter sido necessário incluir, além das notas de rodapé originais elaboradas por Bettina Bien Greaves, mais algumas de nossa autoria, devidamente sinalizadas como Notas do Editor (N. E.).
Não poderíamos deixar de expressar aqui, em nome de toda a equipe do IMB e da LVM, o apoio inestimável que obtivemos ao longo da elaboração da presente edição de inúmeras pessoas, dentre as quais destaco os nomes de Llewellyn H. Rockwell Jr., Joseph T. Salerno e Judy Thommesen do Ludwig von Mises Institute.
Alex Catharino
Editor Responsável da LVM
A aptidão específica que distingue o homem do animal é a cooperação. Os homens cooperam entre si. Isso significa que, em suas atividades, são capazes de prever que determinadas ações da parte de outras pessoas surtirão certos efeitos que contribuirão para a produção dos resultados a que eles mesmos estão visando com seu trabalho.
Apresentação à Edição Brasileira
Um Tributo a Mises no Centésimo Aniversário de Seu Nascimento
George Reisman
Odia 29 de setembro de 1981 correspondeu ao que seria o centésimo aniversário de Ludwig von Mises (1881-1973), economista e filósofo social, que faleceu em 10 de outubro de 1973. Mises foi meu professor e mentor, bem como fonte de inspiração para a maior parte do que sei, considero ser importante e digno de valor nas áreas que me permitem entender os eventos que moldam o mundo em que vivemos. Desejo aproveitar esta oportunidade para render-lhe homenagem, visto que, creio, merece ocupar um lugar de destaque na história intelectual do século XX.
Mises é importante porque seus ensinamentos são necessários para a preservação da civilização material. Conforme mostrou, a base dessa civilização reside na divisão do trabalho. Sem maior produtividade do trabalho, que se torna possível pela divisão do trabalho, a grande maioria da humanidade simplesmente morreria de fome. A existência e o bom funcionamento da divisão do trabalho, no entanto, depende de maneira vital das instituições de uma sociedade capitalista, isto é, do governo limitado e da liberdade econômica, a propriedade privada da terra e de todas as demais posses, das trocas e da moeda, da poupança e do investimento, da desigualdade econômica e da concorrência, bem como do lucro que motiva as instituições que por toda parte estão sob ataque há várias gerações.
Quando Mises entrou em cena, o marxismo e outras seitas socialistas desfrutavam praticamente de um monopólio intelectual. Grandes equívocos e inconsistências nos trabalhos de Adam Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823) e seus seguidores possibilitaram aos socialistas afirmar que a economia clássica era a verdadeira aliada deles. Os escritos de William Stanley Jevons (1835-1882) e dos primeiros economistas austríacos, Carl Menger (1840-1921) e Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) não eram abrangentes o bastante para proporcionar um contrapeso efetivo aos socialistas. Frédéric Bastiat (1801-1850) tentou fazer isso, porém morreu muito cedo e, de qualquer maneira, provavelmente também carecia da profundidade teórica necessária.
Assim, quando Mises entrou em cena, praticamente não havia oposição intelectual sistemática ao socialismo ou mesmo uma defesa do capitalismo. Literalmente, as muralhas intelectuais da civilização se encontravam sem defesas. O que Mises empreendeu e que resume a essência de sua grandeza foi, exatamente, construir uma defesa intelectual do capitalismo e, portanto, da civilização.
O principal argumento dos socialistas era que as instituições do capitalismo serviam apenas aos interesses de um punhado de exploradores rudes e monopolistas, e operava contra os interesses da grande maioria da humanidade, à qual o socialismo serviria. Enquanto a única resposta que outros poderiam dar era fazer planos para retirar um pouco menos da riqueza dos capitalistas do que os socialistas exigiam, ou exortar a respeito dos direitos de propriedade, apesar da incompatibilidade com o bem-estar da maioria das pessoas, Mises desafiou os pressupostos básicos de todos. Mostrou que o capitalismo funciona para o autointeresse material de todos, até mesmo dos que não são capitalistas e dos, assim chamados, proletários. Em uma sociedade capitalista, conforme expôs Mises, a propriedade privada dos meios de produção serve ao mercado. Os beneficiários físicos da fábricas e usinas são todos os que compram seus produtos. Ademais, juntamente com o incentivo dos lucros e perdas, e a liberdade para competir que encerra, a existência da propriedade privada assegura um fornecimento cada vez maior de produtos para todos.
Assim, Mises mostrou que clichés tais como a pobreza causa o comunismo
absolutamente não têm sentido. O que causa o comunismo não é a pobreza, mas sim a pobreza acrescida da crença equivocada de que o comunismo é a cura para a pobreza. Se os revolucionários mal-orientados dos países atrasados e dos vizinhos mais pobres entendessem economia, qualquer desejo que pudessem ter de combater a pobreza os faria defender o capitalismo.
O socialismo, conforme Mises apresentou, em sua maior contribuição original para o pensamento econômico, não somente acaba com o incentivo dos lucros e perdas, mas também torna o cálculo econômico, a coordenação econômica e o planejamento econômico impossíveis, resultando, portanto, no caos. O socialismo significa a abolição do sistema de preços e da divisão intelectual do trabalho; significa a concentração e descentralização de todos os processos decisórios nas mãos de uma agência: o Comitê de Planejamento Central ou o Ditador Supremo.
O planejamento de um sistema econômico transcende a capacidade de qualquer consciência individual: o número, variedade e localização dos diferentes fatores de produção, as várias possibilidades tecnológicas que se abrem, e as diversas permutas e combinações possíveis do que poderia ser produzido com isso, constituem informações que ultrapassam em muito o poder até mesmo do maior dos gênios para reter isso na mente. O planejamento econômico, mostrou Mises, requer a cooperação de todos os que participam do sistema econômico. Isso pode existir somente sob o capitalismo, em que, todos os dias, homens de negócios planejam com base nos cálculos de lucros e perdas; trabalhadores, com base nos salários; e consumidores de acordo com os preços dos bens de consumo.
As contribuições de Mises ao debate entre o capitalismo e o socialismo, o principal tema da época moderna, são avassaladoras. Antes de seus escritos, as pessoas não percebiam que o capitalismo apresenta planejamento econômico. Aceitavam de maneira acrítica o dogma marxista de que o capitalismo é uma anarquia da produção, ao passo que o socialismo representa o planejamento econômico racional. As pessoas estavam (e a maior parte ainda está) na posição da personagem Monsieur Jourdan, na peça Le Bourgeois gentilhomme [O Burguês Ridículo] de Molière (1622-1673), que nunca se deu conta de que tudo o que estivera falando por toda a vida era prosa, dado que, ao viverem em uma sociedade capitalista, as pessoas estão literalmente cercadas por planejamento econômico e, mesmo assim, não percebem que existe. Todos os dias, há incontáveis homens de negócios que planejam expandir ou realizar contratos com suas empresas, que planejam introduzir novos produtos ou descontinuar antigos, abrir novos ramos ou fechar alguns existentes, modificar seus métodos de produção ou continuar com os do presente, contratar trabalhadores adicionais ou dispensar alguns dos atuais. Todos os dias, há incontáveis trabalhadores planejando aprimorar suas habilidades, mudar de ocupação ou lugar de trabalho, ou deixar as coisas como estão; e consumidores planejando comprar casas, carros, equipamentos de som, bifes ou hambúrgueres, como usar os bens que já possuem, por exemplo, ou optar entre dirigir para o trabalho ou ir de trem.
Mesmo assim, as pessoas se recusam a chamar todas essas atividades de planejamentos
e reservam o termo para os esforços débeis de um punhado de funcionários do governo que, tendo proibido o planejamento de todos os demais, acreditam poder substituir o conhecimento e a inteligência de dezenas de milhões de pessoas pelo seu próprio conhecimento e inteligência. Mises identificou a existência do planejamento sob capitalismo, que se baseia nos preços (cálculos econômicos) e que estes servem para coordenar e harmonizar as atividades dos milhões de planejadores separados e independentes.
Mostrou que cada indivíduo, preocupado em obter receita ou renda e em limitar os gastos, é levado a ajustar seus planos particulares aos planos de todos os demais. Por exemplo, o trabalhador que decide se tornar um contador e não um artista, por valorizar a renda mais alta a ser obtida como contador, modifica seu plano de carreira em resposta aos planos de outros que pagam por serviços de contabilidade em vez de pinturas. O indivíduo que decida que uma casa em determinada vizinhança é muito cara e que, portanto, desiste do plano de morar nessa vizinhança, encontra-se, de maneira semelhante, engajado em um processo de ajuste de seus planos aos planos de outros; porque o que torna a casa muito cara são os planos dos outros que desejam comprá-la e que estão dispostos a pagar mais. Acima de tudo, Mises demonstrou que todos os negócios, ao procurar auferir lucros e evitar perdas,