Um Olhar Junguiano Para o Tarô de Marselha
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Um Olhar Junguiano Para o Tarô de Marselha - Carlos Alberto de Oliveira Araujo
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
À Maria Helena, esposa e companheira de muitas batalhas...
Agradecimentos
Ao me dirigir em agradecimentos a todos aqueles que de alguma maneira estiveram presentes na elaboração desta obra, reporto-me em especial atenção à minha esposa, Maria Helena, pois sem o seu constante incentivo e muita paciência, este livro não ganharia forma.
À amiga Natalia Castanha, que de psicóloga virou fotógrafa e me garantiu as ilustrações que embelezam o livro.
E também a cada participante do grupo de estudo que me levou a pesquisar sobre o tema. Afinal, a gente sabe por onde tem que começar, mas nunca imagina aonde vai chegar...
Não estou [...] me dirigindo aos felizes possuidores de fé, mas às muitas pessoas para quem a luz se apagou, o mistério desapareceu e Deus está morto. Para a maioria dessas pessoas, não há retorno e nem sequer se sabe se retornar é o melhor caminho. Para obter uma compreensão dos assuntos religiosos, provavelmente tudo o que nos resta, nos dias de hoje, é a abordagem psicológica. Eis porque tomo dessas formas de pensamento que se tornaram historicamente fixas e tento derretê-las outra vez e colocá-las em moldes da experiência imediata.
(C. G. Jung)
PREFÁCIO
Era fim do ano de 2019 e precisávamos encontrar um tema para o Café com Jung
, uma atividade do Tear Junguiano, em Mogi das Cruzes (SP), para o ano seguinte. O tema escolhido foi O Tarô de Marselha e sua linguagem simbólica
e o nome do Carlos surgiu como sendo o da pessoa mais preparada para levar aquela discussão a cabo. Durante todo o ano de 2020 tivemos encontros quinzenais, nos quais discutimos o entrelaçamento dos arcanos maiores do Tarô de Marselha e a individuação de Carl Gustav Jung. Carlos trouxe nessa explanação autores como Erich Neumann, James Hillman, Sallie Nichols, Nathan S. Salant, além, é claro, do próprio Jung. Tudo isso de uma forma muito leve, gostosa e muito organizada, o que nos facilitou e muito o acompanhamento do raciocínio desenvolvido ali.
A cada encontro ele trazia um texto novo e desprendidamente deixava um arquivo em PDF conosco. Mal sabíamos que nessas reuniões estávamos acompanhando a gestação de um livro, deste livro! Trata-se de uma obra que acompanha a cada carta dos arcanos maiores do Tarô de Marselha a representação imagética do desenvolvimento da consciência na jornada de individuação.
A princípio o autor discute todo o ritual sincronístico que ocorre no encontro entre o consulente e as cartas e explica que esse ritual não é mágico, mas psicológico. A sabedoria medieval contida na marginalidade das cartas
em encenações arquetípicas
, daí a importância desse entrelaçamento de Tarô e Psicologia Analítica.
Ao fazermos a análise dos 22 arcanos maiores podemos perceber o quanto o místico conversa com o psicológico e essa conversa é bastante esmiuçada pelo autor nesta obra.
Neste livro, somos convidados a percorrer a jornada de individuação por meio do Mapa da Alma que esses arcanos maiores, em sua ordem numérica, representam:
I – O Mago é o começo de tudo, onde podemos verificar todo início do processo de individuação.
II – A Papisa traz a terra com seu princípio feminino, o seu vaso que contém.
III – A Imperatriz com a abundância criativa da terra fértil cultivada, com seu sofrimento e sua ira, assim também com o acolhimento e ternura.
IV – O Imperador sendo o solitário organizador com seu cetro e altivez, com firmeza e ordem.
V – O Papa, O Sumo Sacerdote com sua Cruz de Malta iniciática. Com ele chegamos à organização; ao poder de uma sabedoria divina; a ponte entre a sabedoria divina e o humano para nos mostrar o sentido da vida.
VI – O Enamorado com O Anjo do Ar mostra a escolha de coisas opostas, exclusivas e o livre arbítrio. Chegamos à consciência dos conflitos, como coloca o autor, traz a tragédia
e o dilema
.
VII – O Carro, chegaram os novos caminhos! Como a carruagem de Hades que carrega a jovem Coré e a transforma em Perséfone, a Rainha absoluta dos ínferos, novos caminhos transformam o sujeito e exigem força e enfrentamento de obstáculos.
VIII – A Justiça, com seu olhar direto e o enfrentamento do herói com as forças das justas medidas. Ela fala sobre o certo e o errado, pede sabedoria, cautela, imparcialidade na busca do equilíbrio.
IX – O Eremita, em seu isolamento, o prudente com sua lanterna que ilumina caminhos numa busca íntima por respostas e atitudes mais sábias.
X – A Roda da Fortuna trazendo o par de opostos em movimento constante, mostra a vida em constante alternância. O Tear das Moiras na roca do destino. Começo, meio, fim, começo, meio… indefinidamente.
XI – A Força com seu equilíbrio, força visceral, domínio, resistência e persistência. Cumplicidade entre as figuras da mulher e do leão.
XII – O Enforcado é o momento da espera, um momento de sacrifício, de aguardo, sujeição, penetração no seu interior, refletir e aguardar.
XIII – A Morte, renascimento com mudança total, trazendo a decadência, regeneração, transformação, mudança que vai necessitar do desprendimento com a saída do velho para surgir o novo.
XIV – A Temperança pedindo paciência, espera, calma para a chegada do novo que desponta numa ampliação de consciência com fluxo de vida, transmutação.
– O Louco, um arcano que não tem número, não tem sequência, está em todos os lugares. Tem a impetuosidade e o entusiasmo, como um coringa se encaixando aqui e ali em aventuras. O viajante livre ousado que se joga no novo, mostra e abre caminhos.
XV – O Diabo traz a luz e a treva numa dualidade inebriante, tentação com sua possessão, aprisionamento e servidão. O sombrio que também pode virar luz.
XVI – A Torre traz o desequilíbrio com a mudança radical, trazendo desconstrução de valores estabelecidos.
XVII – A Estrela aponta o caminho da evolução espiritual, o vir a ser numa energia iluminada, inspiração, orientação, o brilho no céu com as esperanças renovadas.
XVIII – A Lua com seus ciclos nos lembra das alternâncias com mistério, fascínio, encantos, ilusões e desilusões, revelando imagens da alma com magnetismo.
XIX – O Sol traz abundância, brilho, discernimento, clareza, lucidez e harmonia.
XX – O Julgamento e o soar da trombeta do anjo que traz a ressurreição, revelação impossível de ser ignorada, nada será como antes.
XXI – O Mundo traz a proteção do mergulho e da volta, completude, integração em seu fim de jornada, trazendo conexão e pertencimento.
Por fim, temos um apêndice que é uma proposta a uma vivência do tema discutido até então, o que faz com que o livro não nos deixe apenas na exploração intelectual do assunto.
Este livro tem uma importância muito grande, pois temos aqui uma interpretação ímpar da junção de dois temas já bastantes trabalhados, porém de forma separada. Carlos consegue fazer essa costura de forma criativa e bem argumentada.
Boa leitura!
Maria Helena F. Maia
Psicóloga clínica junguiana com especialização pela PUC – São Paulo
Formação em Sandplay, pelo Núcleo de Sandplay da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (S.B.P. A), e em atendimento de Casais e Família, pelo Núcleo de Casal e Família também da S.B.P.A. Especialização em Atendimento de Família pelo Instituto Sedes Sapientiae, e é uma das fundadoras do Tear Junguiano (Núcleo de Estudos em Psicologia Analítica de Mogi das Cruzes), na qual é a atual coordenadora de supervisões.
APRESENTAÇÃO
Antes de apresentar o livro para meus leitores(as), eu gostaria de fazer algumas considerações pessoais que achei pertinentes para este momento.
Quando me dispus a fazer uma análise das imagens dos arcanos maiores do Tarô de Marselha com os pressupostos teóricos da Psicologia Analítica de Jung, a minha intenção foi a de buscar uma maneira de introduzir, mesmo que sem toda a profundidade que esse assunto mereceria, um olhar para a teoria junguiana capaz de provocar uma curiosidade, bem como também de levantar um interesse, principalmente para os leigos, estudantes ou recém-formados em Psicologia, de estudar toda essa estrutura organizada por Jung para descrever os processos psicológicos em analogia com outras formas de expressões da reflexão humana trazidas em imagens, mitos, lendas ou outras expressões culturais que se atualizam através das gerações.
Nesse sentido, a teoria desenvolvida por Jung ganha uma grande relevância em face de sua capacidade de diálogo ampliado entre os vários segmentos do conhecimento humano. O pensamento científico proposto por Jung identifica e se atualiza nas mais diversas formas de manifestações do comportamento humano em um mundo psicológico no qual encerramos nossas vidas. As imagens oferecidas pelo Tarô de Marselha fazem parte desse arsenal imagético pelo qual todas as possibilidades de relações humanas são consteladas enquanto uma maneira humana de expressão no mundo.
Essa análise é somente um pequeno recorte nas amplificações possíveis que o assunto comporta, mas espero que seja o suficiente para despertar uma curiosidade e um interesse sobre o assunto.
Não me coloco nesta exposição enquanto um psicólogo especialista na teoria junguiana, mas como um pesquisador atrevido a fazer amarrações entre pensamentos e imagens dentro de um limitado campo de pesquisa entre autores e livros concernentes à Psicologia Analítica.
A simbologia analisada pelas discussões levantadas pelo estudo proposto identifica na Psicologia Junguiana uma ferramenta reflexiva importante para adentrarmos nas manifestações humanas inconscientes com as quais nossa limitada consciência adquire possibilidades para se desenvolver.
Posto isso, faço uma breve apresentação para que o leitor(a) possa saber o que esperar dessas análises.
Com esta obra, pretendo entrelaçar uma sabedoria medieval, contida na marginalidade das cartas em contraposição ao poder doutrinário católico vigente na Europa Ocidental, com os pressupostos que Carl Gustav Jung, precursor da Psicologia Analítica, elaborou sobre a origem da consciência e o desenvolvimento da personalidade.
Na época em que surgiram essas cartas, os chamados alquimistas já traduziam em seus textos as grandes transformações da matéria, obtidas em seus laboratórios, em analogia aos propósitos existenciais do ser humano e suas relações com o espírito, o corpo e a alma. Jung bebeu muito dessa seara, e junto a outras fontes de conhecimento — filosofia, mitologia, religião, antropologia… — procurou dar respaldo científico às suas concepções e pressupostos psicológicos.
Seu entendimento sobre arquétipos alcançou essas imagens, desenhadas em lâminas de baralho, enquanto expressões universais que atravessam o ser humano dando significados à sua existência, o que Jung chamou de processo de individuação.
O que proponho com esta obra é brincar com essas analogias. Brincar no seu sentido mágico, criativo, que tem o poder de provocar reflexões e análises ao trazer o poder